Estados
Unidos: ainda mais ao conservadorismo
Ao final da corrida à Casa Branca, pesquisas indicavam
proximidade entre a candidatura de Donald Trump e a de Kamala Harris, ainda que
nos estados pendulares a vantagem se inclinasse para a oposição. Depois da
apuração, a surpresa, no entanto, ao se constatar a vitória republicana com
relativa facilidade no colégio eleitoral: 312 a 226 votos, embora na sociedade
a distância tenha sido bem menor: cerca de dois pontos percentuais.
Malgrado o controvertido currículo de Trump, onde consta uma
condenação e vários processos em andamento, a população aceitou chancelar seu
retorno a Washington para quatriênio a partir de janeiro de 2025. Durante a
acirrada campanha, o realce em temas de política exterior recaiu no Oriente
Médio e no leste da Europa, em decorrência de duas confrontações em aberto e
sem possibilidade de encerramento à vista.
Na região médio-oriental, a diretriz republicana deve manter-se
na mesma rota da dos democratas, ao passo que na Europa, não, ao se reduzir de
maneira gradativa o auxílio financeiro e militar à Ucrânia, desde que a Rússia,
por seu turno, altere sua postura com os Estados Unidos e com a China.
Na América Latina, uma questão importante refere-se à imigração,
defronte a perspectiva de que a Casa Branca, sob novo mandato, adote a
deportação em massa, ao invés da tentativa da regularização de milhões de
emigrados na busca de vida mais próspera e estável para si e suas famílias. A
restrição se estenderia também às trocas comerciais, ao elevar impostos de
importação, com o propósito de resguardar corporações nacionais e na retórica
postos de trabalho.
Com isso, manifesta-se a resposta populista de Donald Trump,
avalizada nas urnas pela segunda vez em menos de uma década, de que a
globalização, delineada pelos próprios Estados Unidos, já não corresponderia
aos anseios e desígnios do país, dada a incontestável ascensão econômica da
China, com inevitável impacto na distribuição do poder planetário.
Na percepção de parcela da sociedade norte-americana, a nova
ordem mundial, marcada pelo otimismo extremo no nascimento no início dos anos
90, não desaguaria em maior prosperidade, apesar do advento da enorme riqueza
proporcionada pela recente transformação tecnológica, porém, em desigualdade
materializada com grande intensidade na classe trabalhadora.
Concernente ao Brasil, o convívio bilateral não deve sofrer
modificação específica, apesar da declaração do presidente Lula da Silva
favorável a Kamala Harris a poucos dias da eleição, ao ter afirmado ser sua
vitória mais positiva para a democracia daquela nação.
A estrutura sociopolítica dos dois países não permite abalos profundos no dia a
dia em vista de preferências dos dirigentes máximos ou de suas agremiações
partidárias. O relacionamento comercial entre os dois é um dos três principais
do Brasil, ao lado da China e da União Europeia.
2024 registra o bicentenário do começo da convivência dos dois
povos. Em período tão longo, eventuais atritos ocorreriam, mas não a ponto de
romper de forma definitiva a relação. Por exemplo, três anos apenas do
reconhecimento da independência do Brasil, os dois governos teriam discordância
quanto à circulação no rio da Prata. Isso não impediria, contudo, a assinatura
no ano seguinte de tratado de comércio e de navegação.
Ocasionais modificações decorrerão do posicionamento
multilateral da Casa Branca diante de seus aliados e dos organismos
internacionais, não de ação singular contra o Planalto, até em função do peso
do Brasil na região.
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Quem é RFK Jr.,
antivacina e membro da família Kennedy nomeado por Trump para chefiar Saúde
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na
quinta-feira (14/11) que vai nomear o controverso Robert F. Kennedy Jr. como
secretário de Saúde e Serviços Humanos do seu governo.
O advogado de 70 anos é membro da família Kennedy e,
conforme Trump indicou em uma mensagem no X (antigo Twitter), vai buscar
"garantir que todos estejam protegidos dos produtos químicos nocivos, dos
poluentes, dos pesticidas, dos produtos farmacêuticos e dos aditivos
alimentares que contribuíram para a avassaladora
crise de saúde neste país".
A nomeação, que necessita da confirmação do Senado, é uma das
mais controversas feitas pelo presidente eleito.
RFK Jr., como é conhecido, é sobrinho do ex-presidente assassinado JFK (John
F. Kennedy) e filho do senador Robert F. Kennedy, que também foi assassinado. Mas sua
popularidade se deve mais à sua polêmica posição antivacinas e ao fato de ter propagado várias teorias da conspiração.
Ele chegou a concorrer como candidato independente à presidência
nas eleições deste ano, mas
alguns meses antes da votação, cancelou sua campanha e passou a apoiar Trump.
O presidente eleito, que vai iniciar seu mandato em 20 de
janeiro, prometeu que seu secretário de Saúde vai defender os interesses dos
cidadãos contra "o complexo industrial de alimentos e as companhias
farmacêuticas que se envolveram em farsas e desinformação".
Ele disse que sua meta seria "acabar com a epidemia de
doenças crônicas e fazer com que os Estados Unidos voltem a ser grandes e
saudáveis novamente".
Kennedy Jr. agradeceu a nomeação com uma mensagem no X, na qual
prometeu "varrer a corrupção e acabar com os conflitos de interesse
generalizados em nossas agências governamentais de saúde", com o objetivo
de "fazer com que os americanos voltem a ser as pessoas mais saudáveis do
mundo".
<><> De adversário a aliado de Trump
Nascido em 1954 em Washington D.C., Robert F. Kennedy Jr. é
filho do ex-procurador-geral e senador Robert F. Kennedy — e sobrinho do
ex-presidente John F. Kennedy.
Com reputação de rebelde na família, RFK Jr., como é conhecido,
teve problemas com a Justiça na juventude e, durante anos, usou cocaína e
heroína.
Depois de mais de 40 anos de carreira como advogado na área do
direito ambiental, ele gerou polêmica nos últimos anos por sua posição crítica
em relação às vacinas — e por liderar
movimentos que questionam a regulamentação e a segurança dos produtos
farmacêuticos.
RFK Jr. chegou a concorrer à Presidência nas eleições deste ano
como candidato independente, depois de ter disputado inicialmente as primárias
democratas.
Sua campanha foi marcada por histórias bizarras que foram parar
no noticiário, incluindo a de que, em 2014, ele desovou um filhote de urso
morto atropelado por um carro no Central Park de Nova York.
Por fim, retirou sua candidatura e anunciou apoio a Trump em
agosto, depois de atribuir seu fracasso à "censura da mídia" e aos
esforços de seu antigo partido, o Partido Democrata, para frustrar sua
campanha.
Desde então, prometeu "fazer com que os Estados Unidos
voltem a ser saudáveis", como diz seu lema, sob a Presidência de Trump.
<><> Ativista antivacinas
Em 2007, RFK Jr. fundou a organização Children's Health Defense,
uma entidade dedicada a denunciar o que considera práticas nocivas da indústria
farmacêutica.
A ONG é considerada por parte da comunidade científica como uma
fonte perigosa de desinformação sobre vacinas.
Ele publicou vários livros, incluindo The Real Anthony
Fauci ("O verdadeiro Anthony Fauci", em tradução livre, uma
referência ao líder da força-tarefa de combate à covid-19 nos EUA) e A
Letter to Liberals ("Uma Carta aos Liberais", em tradução
livre).
Em seus textos, apresenta argumentos controversos sobre supostos
efeitos negativos das vacinas e conflitos de interesse no sistema de saúde
americano.
Uma das alegações falsas que ele tem repetido durante anos é a
de que existe uma relação
entre o autismo e as vacinas, o que
foi rejeitado por uma série de estudos realizados por cientistas conceituados.
Além de Anthony Fauci, Kennedy também concentrou sua atenção em
figuras públicas como Bill Gates e Joe Biden, a quem ele acusa de
manipular informações sobre a pandemia de covid-19 a favor de interesses
privados.
Em 2021, RFK Jr. foi o produtor executivo de Vaxxed 2:
The People's Truth, sequência do documentário Vaxxed, dirigido
pelo ex-médico Andrew Wakefield, conhecido como precursor do movimento
antivacinas.
A postura em relação às vacinas gerou polêmica não apenas no
meio científico, mas também dentro da sua própria família.
Alguns de seus familiares manifestaram publicamente sua
discordância, alegando que suas ideias e atividades na Children's Health
Defense tiveram consequências perigosas para a saúde pública.
Apesar deste histórico, Kennedy Jr. negou ser contra as vacinas
e, na semana passada, disse que, se Trump o nomeasse como responsável pela
saúde pública, não iria "tirar as vacinas de ninguém".
<><> Advogado na área ambiental
RFK Jr. também tem um longo histórico como ativista e advogado
do direito ambiental.
Desde a década de 1980, ele trabalhou como consultor e advogado
de organizações como a Riverkeeper e o Conselho de Defesa de Recursos Naturais
(NRDC, na sigla em inglês), defendendo os direitos ambientais de indivíduos e
grupos contra grandes empresas.
Em 1999, fundou a Waterkeeper Alliance, organização que reúne
centenas de grupos que lutam pela proteção de corpos d'água em todo o mundo.
Por meio de seu escritório de advocacia, o Kennedy & Madonna
LLP, assumiu casos importantes envolvendo contaminação ambiental.
Em 2007, foi indicado a "advogado do ano" pela
organização Public Justice depois de ganhar um processo de US$ 396 milhões
contra a empresa DuPont por contaminação na Virgínia Ocidental.
Também chama atenção o acordo de US$ 670 milhões que conseguiu,
em 2017, em um processo contra a Monsanto, depois que uma fábrica da
multinacional de agricultura e biotecnologia prejudicou a saúde de moradores em
Ohio e na Virgínia Ocidental.
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Trump promete acionar
militares para deportação em massa
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald
Trump, confirmou que planeja declarar emergência
nacional na segurança das fronteiras e acionar as Forças Armadas para executar
a deportação em massa dos imigrantes sem
documentação.
Em sua plataforma Truth Social, ele citou nesta segunda-feira
(18/11) a postagem de um ativista conservador de que ele iria "usar
recursos militares para reverter a invasão de Biden com um programa de
deportação em massa". "Verdade!", comentou Trump.
A imigração foi um dos temas centrais em sua campanha eleitoral,
em que prometeu deportar milhões e estabilizar a fronteira com o México, que um
número recorde de migrantes teria atravessado ilegalmente durante a presidência
do democrata Joe Biden.
Após um pico de 250 mil em dezembro de 2023, o número atual
de migrantes interceptados na tentativa de atravessar sem autorização a
fronteira do México é aproximadamente o mesmo que em 2020, último ano do
primeiro mandato trumpista.
Em seus comícios, o candidato republicano evocou repetidamente a
Lei dos Inimigos Estrangeiros (Alien Enemies Act), de 1798, como meio de
acelerar as deportações. No entanto, críticos objetam que ela é obsoleta, tento
sido empregada pela última vez durante a Segunda Guerra Mundial para
manter americanos de origem japonesa em campos de concentração sem o devido
processo legal.
<><> Trump e os estrangeiros que "envenenam o
sangue"
Além de distorcer estatísticas e dados sobre a política
migratória democrata, o magnata nova-iorquino não hesitou em empregar retórica
incendiária e xenófoba, com alarmes de que estrangeiros estariam "envenenando
o sangue" dos EUA, preparando uma invasão que
resultaria no estupro e assassinato de americanos.
Ao anunciar o futuro gabinete, ele tem destacado figuras
linha-dura, indicando seu ex-diretor interino de Imigração e Fiscalização
Aduaneira (ICE) Tom Homan como novo
"czar das fronteiras". Durante a Convenção Nacional Republicana de
julho, este declarara: "Eu tenho uma mensagem para os milhões de
imigrantes ilegais que Joe Biden soltou no nosso país: é melhor começarem a
fazer as malas."
Reagindo à recente postagem de Trump, a governadora do Arizona,
democrata Katie Hobbs, declarou-se disposta a colaborar com o futuro governo na
segurança das fronteiras em questões como o tráfico de opioides, porém não em
áreas que possam prejudicar as famílias locais, como a deportação em massa.
As autoridades americanas calculam em 11 milhões o número
de cidadãos vivendo no país sem a documentação exigida. Caso concretizado, o
programa de deportação de Trump deverá afetar diretamente cerca de
20 milhões de famílias.
Fonte: Correio da Cidadania/BBC News/DW Brasil
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