quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Palestina: O horror em primeira pessoa

Em 7 de outubro de 2023, enquanto Atef Abu Saif nadava no Mar Mediterrâneo, ele notou foguetes e explosões soando em todas as direções. Ele havia dormido na casa de sua irmã Halima, em Beit Lahia, na Faixa de Gaza. Ele interpretou os foguetes como manobras de treinamento do exército israelense. Suas companhias – o cunhado, o irmão e o filho Yasser, de 15 anos, que tinha decidido viajar da Cisjordânia para visitar os avós – não demoraram muito para perceber que algo grave estava acontecendo. Saíram da praia de carro em direção à cidade de Gaza. Poucas horas depois de chegar à Casa de Imprensa, Atef já sabe que uma guerra brutal fora desencadeada. Começa a escrever. “Narrava os acontecimentos e fazia crônicas para mim mesmo, pensando que um dia, como romancista, usaria o material. Eu não queria escrever um livro. Mas uma semana depois do início da guerra, percebi que poderia morrer”, assegura o escritor, em entrevista concedida ao CTXT durante a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), no Rio de Janeiro.

Atef Abu Saif – autor de cinco romances, dois livros de contos e dois de ensaios – propôs-se a registar compulsivamente a ferocidade do ataque israelense contra a população civil. Escrevia no computador, no celular. Gravava mensagens em árabe e inglês que enviava aos seus editores. Às vezes, caminhava três quilômetros até conseguir wi-fi um posto da Cruz Vermelha. Outras vezes, arriscava aproximar-se dos tanques israelense para captar um sinal, “algo perigoso” que tinha de fazer por causa da sua “responsabilidade como escritor”. “Os meios de comunicação ingleses e árabes não me deram muito espaço. Então, resolvi anotar tudo. A cidade de Gaza estava sendo assassinada e com ela a nossa memória. Disse a mim mesmo, se eu morrer, quero ser lembrado. Senti que poderia morrer a qualquer momento”, diz Atef.

Até cruzar a fronteira egípcia com seu filho Yasser para retornar à sua casa na Cisjordânia, Atef escreveu diariamente durante noventa dias. O resultado é Quero estar acordado quando morrer. Diário de um Genocídio, livro de caráter urgente lançado por uma aliança internacional de editoras que o publicou em julho “simultaneamente para denunciar a situação da população palestina e pedir um cessar-fogo”: Blackie Books (espanhol e catalão); Berria (Basco), Comma Press (Reino Unido), Beacon Books (Estados Unidos) e Jacana (África do Sul) em inglês; Angústúra (islandês), Noura Books (indonésio), Chiheisha Publishing (japonês), Società Informazione (italiano), Elefante (português), Second Thesis (coreano) e Pinar Publications (turco). “Através da escrita, podemos manter os lugares vivos, podemos lembrar as ruas que agora estão em escombros, as casas que agora foram destruídas”, escreve Atef no livro.

·        “Não somos números” 

Atef nasceu em 1973 no campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza. Desde a primeira Intifada, ele tem fragmentos de balas no corpo. “Eu tinha quinze anos quando os soldados israelenses atiraram em mim e incrustaram esses fragmentos no meu fígado. O cirurgião britânico acalmou minha mãe e disse: seu filho sobreviverá. Cada vez que encontro a morte diante de mim, no meio da rua, tento reunir coragem e me convencer de que vou sobreviver, assim como o cirurgião inglês disse à minha mãe que eu faria. Mas desta vez é diferente. Eu sei que não posso mentir. Vejo isso em todos os lugares, é a morte, posso sentir isso. Posso tocá-la”, escreve ele. Na guerra de 2014, Atef publicou o artigo We are not numbers, que acabou se tornando o slogan da Autoridade Nacional Palestina e promovendo o projeto wearenotnumbers.org, no qual escritores tornam visíveis as vidas dos palestinos ocultadas pelos números. “Os números escondem nossas vidas. Para os assassinos não somos seres humanos. Nossas memórias e histórias não existem. Somos números. Se você ler que quinze palestinos morreram num ataque israelense, isso significa quinze vidas, quinze histórias de amor. Quinze memórias da juventude. Quinze casas. Quinze sentimentos de perda. Quinze palestinos que esperam na fila da padaria para alimentar a sua família”, afirma Atef com firmeza.

Quero estar acordado quando morrer é uma crônica detalhada. À medida que os dias de guerra passam, a Faixa de Gaza torna-se um cemitério a céu aberto. As crianças escrevem seus nomes na pele de seus corpos para que suas famílias possam encontrar seus corpos caso morram. Os edifícios caem “como colunas de fumaça”. A cidade de Gaza é transformada num “lixão de borracha e escombros”. A comida é escassa. As filas se multiplicam. Uma para água. Outra para pão. Outra para carregar celulares. Os cadáveres estão se acumulando por toda parte. Nas ruas, “crianças confusas, homens irritados, mulheres cansadas”. Ovelhas e cabras famintas vagam pela cidade. As pessoas não andam, elas correm. Um homem usa sapatos femininos porque “são mais confortáveis”. Zumbido de drones. Estrondos constantes de explosões. As bombas destroem hospitais, escolas, campos de refugiados, o Centro Cultural al-Shawa, os Centros de Imprensa. Os mísseis destroem sete padarias, mercados e barracas de vendedores ambulantes. Uma noite, Atef vai dormir sem ter comido nada. Às vezes ele cai na cama depois de trinta e seis horas sem pregar o olho. Tentar salvar vidas é mais importante que dormir.

Ao longo do diário, o leitor toma conhecimento da destruição da Cidade de Gaza. Muitos moradores estão mortos sob os escombros, sem possibilidade de resgate. “Tudo ao nosso redor está morto e silencioso. Há apenas corvos e um ou outro cachorro perdido vasculhando os escombros. Os israelenses querem que toda Gaza tenha esta aparência. Insuportável. Infernal. O objetivo é sempre nos nos fazer retroceder no tempo, fazer com que a cidade pareça pobre e feia novamente”, escreve Atef. “Quando eu estava escrevendo o livro, Gaza era um ser violado, cortado em pedaços. A partir de hoje, a cidade de Gaza não existe. Não há um único apartamento em Gaza onde você possa ficar. Quero dizer, tem janelas, portas, paredes. Tudo foi total ou parcialmente destruído”, diz Atef. No livro, ele descreve a destruição de seu bairro, dos becos e passagens de Jabalia, como “o fim de um filme de guerra”. “Até os israelenses admitem que a sua ênfase está agora no ‘dano’ e não na ‘precisão’”, escreve ele. Sua cidade natal, onde escreveu sua primeira história sobre um velho que adorava contar histórias, mas havia esquecido todos os finais, está completamente destruída.

A fuga a pé que Atef faz com o filho para sair do norte de Gaza em direção ao sul, atravessando a nova “cortina de ferro” desenhada por Israel, é uma das cenas mais duras do diário: “Espalhados ao acaso, em ambos os lados do caminho, há dezenas e dezenas de cadáveres. Apodrecendo. Derretendo, ao que parece, no chão. O cheiro é horrível. Uma mão se estende em nossa direção da janela de um carro incendiado, como se estivesse me implorando por alguma coisa. Corpos sem cabeça aqui. Cabeças decepadas ali. Membros e partes de corpos jogados fora e abandonados à própria sorte. Não olhe, digo novamente a Yasser. Continue andando, filho.

·        Destrua a cultura

No dia em que os soldados israelenses invadiram o apartamento histórico de Atef em Gaza, ficaram chocados com a sua coleção de três mil livros. Um dos soldados arrancou da parede uma reprodução da Mona Lisa de Leonardo da Vinci. “Eles não gostam da ideia de que temos educação, que temos uma cultura, que somos cultos. Quando Napoleão Bonaparte ocupou a Palestina, usou o palácio Pasha durante três dias como escritório, mas o exército israelense destruiu-o com tanques”, diz ele num tom desolado. Atef Abu Saif, ministro da Cultura entre 2019 e abril de 2024, denuncia como Israel destruiu intencionalmente qualquer manifestação cultural em Gaza. Numa entrevista em fevereiro de 2024, já alertava sobre a destruição de doze museus e da Biblioteca Municipal de Gaza, uma das maiores coleções de documentação sobre a vida em Gaza e na Palestina antes da criação de Israel em 1948. “Por que bombardearam a igreja mais antiga de Gaza, a terceira mais antiga do mundo? Por que estão destruindo o porto fenício ou os templos de cinco mil anos de antiguidade? Por que ninguém menciona uma palavra sobre tudo isso? Eles não estão apenas assassinando pessoas e um lugar, mas também a história. Israel quer eliminar a nossa história e memória. Além disso, não é a nossa história, é a história da humanidade”, afirma o escritor.

Atef não hesita em descrever a guerra em Gaza como genocídio. “Até que ponto a guerra deve ser assimétrica para deixar de ser guerra. É apenas um massacre”, escreve ele. Ele acusa Israel, com o seu “exército selvagem e sangrento”, de limpeza étnica e terrorismo de Estado. “O genocídio, como nunca me canso de explicar aos europeus, não significa que se mata todo mundo, mas que se tem a intenção de o fazer. De acordo com o direito internacional, o genocídio impede a entrada de alimentos e medicamentos. Recordemos que no terceiro dia de ocupação, quando o norte de Gaza estava sendo evacuado, um ministro israelense disse que queriam construir ali um parque de diversões, uma espécie de Disneylândia para fazer churrascos. Eles ainda não tiraram essa ideia da cabeça”, sustenta Atef.

O escritor não hesita em responsabilizar os Estados Unidos e as potências ocidentais pelo genocídio. “Israel é seu filho mimado. Estamos pagando o preço pelos erros europeus da Segunda Guerra Mundial”, esclarece. No livro, Atef conta como, em 1948, o Estado judeu veio à tona, semeando o caos na Palestina: “800 mil árabes foram expulsos à força de suas casas, homens executados, mulheres estupradas, aldeias queimadas, cidades inteiras massacradas. O terror foi o que destruiu aquela metade da Palestina e o que deu origem ao novo país (…) A minha avó foi obrigada a deixar a sua linda casa em Jaffa, pensando que voltaria dentro de alguns dias. Isso foi há setenta e cinco anos.” A escalada bélica comandada por Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, é na sua opinião uma cortina de fumaça: “A expansão da guerra é uma forma de escapar à pressão de uma guerra civil. Quando iniciam uma guerra no Líbano, ninguém lhes pede que acabem com a guerra em Gaza. O objetivo da guerra é a própria guerra. Com o Irã tudo estará sob controle, o seu verdadeiro objetivo é Gaza.”

·        O futuro da Palestina

Atef, membro do partido político Fatah, herdeiro da antiga Frente Nacional de Libertação da Palestina, acredita que o futuro da Palestina não pode ser concebido excluindo o Hamas. “Não há futuro sem o Hamas. O povo decidirá se o Hamas geriu bem o 7 de Outubro e as suas consequências. As pesquisas dizem que os habitantes de Gaza estão descontentes com o Hamas. Eles estão pagando o preço e suas vozes não estão sendo ouvidas. Mas para a maioria dos palestinos em todo o mundo, mesmo que discordem de algumas ações, o 7 de Outubro é um ato heroico. Saberemos mais sobre tudo isso quando houver discussão aberta e eleições, algo que eles não estão permitindo”, afirma Atef.

A certa altura da entrevista, Atef abaixa o tom. O cansaço toma conta de seu rosto. Ele explica que viu sua família morrer nesta guerra. Mais de cem parentes assassinados. Seu pai morreu em abril, por falta de remédios. Ele confessa que poderia estar morto se tivesse aceitado o convite da meia-irmã. “Eu deveria ter passado aquela noite com eles. Ainda guardo o SMS em que ele me disse: Ei, meus sobrinhos estão aqui. Venha passar a noite conosco. Hoje, toda a família está morta”, confessa com resignação. Quando parece que está prestes a sair do prumo, Atef recupera o ânimo, como se estivesse agarrado ao salva-vidas de um trecho de seu próprio livro: “E quando você ouvir que outra pessoa morreu, significa que você, ao contrário, continua vivo”.

O ex-ministro se recompõe. Sorri. Tira forças da fraqueza. Reconhece que tudo contribui para parar o genocídio. Seu livro. Esta entrevista. A iniciativa judicial liderada pela África do Sul. Que a Espanha reconheça o Estado Palestino. As manifestações de apoio. “O mundo tem que romper a narrativa de Israel de que isto é legítima defesa”, escreveu em seu livro. “A questão não é estar com os palestinos ou com os israelenses – afirma com ânimo recobrado – mas consigo mesmo como ser humano. É a favor ou contra o genocídio? A favor ou contra o assassinato de crianças inocentes? Não estou pedindo que você esteja conosco, mas que esteja consigo mesmo, com sua ética.”

La última página de Quiero estar despierto cuando muera corre por parte de los editores: “El 30 de diciembre, Atef y su hijo, que había cumplido dieciséis años tan solo dos días antes, lograron cruzar la frontera egipcia y ponerse a salvo. Muchos de sus familiares y amigos siguen atrapados en la Franja. La suegra de Atef, Haja, murió de frío en una tienda de Rafah mientras cerrábamos la maqueta de este diario. El genocidio dura ya 235 días”. Cuando CTXT publica este texto, el genocidio ya dura 398 días.

A última página de Quero Estar Acordado Quando Morrer é por parte dos editores: “Em 30 de dezembro, Atef e seu filho, que havia completado dezesseis anos apenas dois dias antes, conseguiram cruzar a fronteira egípcia e chegar em segurança. Muitos de seus familiares e amigos permanecem presos na Faixa. A sogra de Atef, Haja, morreu de frio numa loja em Rafah enquanto fechávamos a edição deste diário. O genocídio já dura 235 dias.” Quando o CTXT publica este texto, o genocídio já durava 398 dias.

¨      Papa pede investigação sobre relatos de "genocídio" em Gaza

papa Francisco mencionou pela primeira vez acusações de que haveria um "genocídio" na Faixa de Gaza e pediu uma investigação a respeito, em um livro a ser publicado do qual trechos foram divulgados neste domingo (17/11).

Um comitê especial da ONU publicou um relatório na quinta-feira no qual concluiu que os métodos de guerra empregados por Israel "correspondem às características do genocídio".

O relatório do comitê especial da ONU, criado em 1968 para investigar as práticas israelenses no território palestino ocupado, será apresentado à Assembleia Geral da ONU em Nova York na segunda-feira.

"O que está acontecendo em Gaza, que de acordo com alguns especialistas parece ter as características de genocídio, deve ser cuidadosamente investigado para determinar se ele se enquadra na definição técnica apoiada por juristas e organizações internacionais", disse o papa no texto.

Seu novo livro La esperanza no defrauda nunca (A esperança nunca decepciona, em tradução livre) será lançado na terça-feira na Itália, Espanha e América do Sul. Trechos foram publicados neste domingo pelo jornal italiano La Stampa.

<><> Israel reage: ofensiva em Gaza é "autodefesa".

O papa frequentemente se refere ao extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial e ao "genocídio" dos armênios sob o Império Otomano, dos tutsis em Ruanda e dos cristãos no Oriente Médio.

Francisco frequentemente lamenta as mortes de civis em Gaza, mas essa é a primeira vez que ele usa publicamente o termo "genocídio" no contexto das operações militares israelenses em território palestino.

A embaixada de Israel no Vaticano reagiu no domingo à publicação dos trechos do livro e disse que havia lançado uma ofensiva de "autodefesa" em Gaza em retaliação ao "massacre genocida de cidadãos israelenses" pelo grupo terrorista palestino Hamas em 7 de outubro de 2023.

"Qualquer tentativa de chamar essa autodefesa por qualquer outro nome equivale a isolar o Estado judeu", escreveu a representação diplomática na rede social X.

 

¨      Torcedores israelenses falavam sério quando gritavam “morte aos árabes”. Por David Broder

Após os acontecimento em Amsterdã, muitos comentaristas estavam notavelmente desinteressados ​​na verdade do que havia realmente acontecido. Os confrontos entre hooligans israelenses, torcedores holandeses e cidadãos locais, muitas vezes de minorias étnicas, se transformou rapidamente em um incidente internacional e era óbvio o suficiente qual lado a maioria dos nossos líderes e mídia escolheria. A linguagem do antirracismo e anti-semitismo foi mobilizada para nos dizer quem era culpado e quem era bonzinho.

Joe Biden descreveu uma onda de “ataques antissemitas… ecoando momentos sombrios da história”. O rei holandês falou sobre como seu país falhou com os judeus “durante a Segunda Guerra Mundial”. A palavra “pogrom” se espalhou pela mídia, com a maioria dos veículos suprimindo fatos básicos sobre os acontecimentos.

A violência é ruim e não tem lugar dentro ou ao redor de um estádio de futebol. Felizmente, ninguém foi realmente “sequestrado”, como foi relatado inicialmente. Responder à provocação é frequentemente uma péssima ideia, e quaisquer casos de alguém sendo assediado por causa de sua nacionalidade ou religião devem ser examinados. Ainda assim, é difícil lembrar de uma ocasião semelhante em que hooligans apareceram procurando briga e depois são tratados como heróis. Foi isso que pelo menos várias centenas de torcedores do Maccabi Tel Aviv fizeram em Amsterdã.

Muitos passaram o último dia provocando brigas com pessoas que viam como muçulmanas, pedindo o assassinato coletivo de árabes, arrancando bandeiras da palestina e até protestando contra um minuto de silêncio pelas vítimas da enchente da semana passada em Valência, Espanha. Este último incidente, no estádio, foi transmitido ao vivo pela TV; toda a história foi amplamente documentada nas redes sociais bem antes de muitas das manchetes sensacionaistas e declarações políticas sérias.

“Os torcedores do Maccabi Tel Aviv mostraram aos telespectadores comuns e usuários das redes sociais quem eles realmente são.”

Muitos jornalistas ignoraram informações básicas sobre o que os torcedores israelenses fizeram em Amsterdã. Talvez isso tenha acontecido porque os hooligans estavam cantando a verdade e, consequentemente, revelaram o que realmente pensam sobre a guerra em Gaza, que os governos ocidentais apoiam e financiam.

Slogans como “Deixem as IDF [exército israelense] vencerem, fodam-se os árabes” não devem, neste momento, ser considerados piadas ou provocações extremistas. Esses slogans são a realidade do que Israel está fazendo e o que é apoiado pela maioria da sociedade israelense, exceto por uma corajosa minoria de críticos. Até mesmo uma figura como o ministro da defesa recentemente demitido Yoav Gallant — esta semana amplamente apresentado como um raro “moderado” no governo de Benjamin Netanyahu — rotulou os inimigos de Israel de “animais humanos” e insistiu que um “cerco completo” deveria cortar “eletricidade, combustível e comida” dos palestinos.

Um dos slogans mais vis cantados pelos torcedores do Maccabi Tel Aviv foi de que “não há escolas em Gaza, pois não há mais crianças”. Orgulhosa de sua intenção genocida, essa fala é parcialmente verdadeira. De acordo com a UNICEF, cerca de 625.000 crianças palestinas já passaram mais de um ano sem ir às aulas. Seiscentos e vinte e cinco mil. Quarenta e cinco mil alunos do primeiro ano, ou pelo menos crianças que deveriam estar no primeiro ano, não começaram o ano letivo em setembro; graças a Israel, milhares nunca começarão. Uma minoria de crianças está morta (pelo menos dezenas de milhares estão).

Mas Israel danificou ou destruiu cerca de 90% das escolas de Gaza. Com o bombardeio em massa de casas e a limpeza étnica de faixas inteiras de território, até mesmo os prédios que ainda estão de pé são usados ​​pelos deslocados como um simples refúgio.

Nossos líderes políticos poderiam ter dedicado mais palavras a esse vasto e inconcebível sofrimento. Talvez os jornalistas que se apresentam como combatentes contra as “notícias falsas” e a “desinformação” pudessem ter pesquisado outras fontes além das contas governamentais do Twitter/X.

Mas a boa notícia é que menos pessoas estão comprando a narrativa israelense. Só na semana passada, 100 funcionários da BBC criticaram as reportagens tendenciosas e infundadas de seu próprio empregador por repetirem sem crítica as alegações israelenses sobre a guerra e desumanizarem os palestinos. Mesmo na Alemanha, cuja classe política está entre as mais extremas do mundo em seu apoio a Israel, mais cidadãos não confiam nas reportagens da mídia sobre a guerra.

Os torcedores do Maccabi Tel Aviv mostraram aos telespectadores comuns e usuários das redes sociais quem eles realmente são. Ouça-os e acredite neles.

 

Fonte: Por Bernardo Gutiérrez, no CTXT - Tradução: Rôney Rodrigues, em Outras Palavras/DW Brasil/Jacobin Brasil

 

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