quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Agência da UE aprova novo tratamento contra o Alzheimer

A busca por um tratamento eficaz contra o Alzheimer tem ocupado pesquisadores há décadas, mas os avanços até agora têm sido tímidos. E embora a cura ainda esteja longe, uma nova droga promete retardar a evolução da doença em seu estágio inicial: o Lecanemab, um anticorpo monoclonal.

O medicamento atua se ligando aos amiloides, reduzindo a formação de placas da proteína anormal no cérebro de pacientes com Alzheimer.

Nos Estados Unidos, o tratamento foi aprovado em 2023 pelo órgão regulador responsável, a FDA. Na União Europeia, foi primeiro barrado em julho de 2024 pela EMA, que alegou alto risco de efeitos colaterais graves, mas acabou liberado nesta quinta-feira (14/11) após reavaliação – embora somente para pacientes com risco menor.

Segundo reportagem publicada pelo jornal americano New York Times, o medicamento, vendido sob o nome Leqembi, tem benefício limitado: desacelera o declínio cognitivo em pacientes por cerca de cinco meses. Ao mesmo tempo, pode causar inchaços e hemorragias cerebrais graves.

Especialistas ouvidos pelo NYT também disseram temer que os riscos associados ao uso desse tipo de droga anti-amiloide ainda não sejam totalmente compreendidos.

A comercialização do Leqembi na UE ainda depende do aval da Comissão Europeia.

<><> Por que o tratamento contra o Alzheimer ainda patina?

Cerca de 55 milhões de pessoas no mundo sofrem alguma forma de demência, categoria que inclui o Alzheimer. Destas, dois terços vivem em países em desenvolvimento. Com o envelhecimento da população, espera-se que esse número chegue a 139 milhões até 2050, com crescimento particularmente significativo na China, Índia, América do Sul e na África Subsaariana.

O desenvolvimento de medicamentos eficazes é desafiador porque muitos processos cerebrais relacionados ao Alzheimer ainda não são totalmente compreendidos, incluindo a razão pela qual as células cerebrais morrem em pessoas com a doença.

<><> Cientistas conseguiram evitar morte de células no cérebro

Pessoas com Alzheimer têm um acúmulo de proteínas anormais no cérebro – conhecidas como amiloide e tau. Mas até recentemente não se sabia qual era a relação direta entre essas proteínas.

Pesquisadores belgas e britânicos acreditam ter desvendado esse mistério. Um estudo publicado na revista científica Science aponta um elo direto entre proteínas anormais que se acumulam no cérebro e a necroptose, um tipo de morte celular.

A necroptose normalmente atua em processos de defesa imunológica ou inflamatórios, eliminando células indesejadas para permitir a formação de novas células.

Quando o fornecimento de nutrientes é interrompido, as células incham e suas membranas plasmáticas se rompem, o que leva à inflamação e morte dessas células.

Segundo o estudo, pacientes com Alzheimer têm células cerebrais inflamadas por causa do acúmulo de amiloides anormais entre os neurônios, que alteram sua química interna.

Esses amiloides formam "placas", enquanto a proteína tau se acumula em feixes fibrosos, ou "emaranhados". Isso leva as células cerebrais a produzir uma molécula chamada MEG3 – que, ao ser bloqueada pelos pesquisadores, salvou os neurônios da morte.

O experimento utilizou células cerebrais humanas transplantadas para o cérebro de camundongos, que haviam sido geneticamente modificados para produzir grandes quantidades de amiloide anormal.

"É a primeira vez que temos uma pista sobre como e por que os neurônios morrem na doença de Alzheimer. Faz 30, 40 anos que se especula muito, mas ninguém conseguiu identificar os mecanismos exatos", afirmou Bart De Strooper, um dos autores do estudo e professor do Dementia Research Institute do University College London.

<><> Esperança para novos medicamentos

Os pesquisadores da KU Leuven, na Bélgica, e do Dementia Research Institute britânico esperam que essas descobertas possam abrir novos caminhos para o desenvolvimento de medicamentos contra o Alzheimer.

Essa esperança é reforçada pelos avanços recentes, como o medicamento Lecanemab, que atua especificamente contra a proteína amiloide. Se medicamentos futuros conseguirem bloquear a molécula MEG3, poderá ser possível interromper o processo de morte celular no cérebro.

 

•                                    Perda de audição aumenta o risco de Alzheimer? Entenda

Nos últimos anos, diversos estudos estabeleceram uma ligação entre a perda auditiva e demências como o mal de Alzheimer. Os mecanismos dessa associação ainda não são tão claros, mas algumas hipóteses são consideradas por estudos.

"Por exemplo, uma possibilidade levantada pelas pesquisas é que os indivíduos com perda auditiva, por necessitarem de mais atenção para absorverem as informações, têm uma sobrecarga cognitiva, e, portanto, podem esgotar mais facilmente sua reserva cognitiva", diz Nathália Prudêncio, médica otorrinolaringologista e especialista em tontura e zumbido. "Além disso, estudos demonstraram que indivíduos com perda auditiva dedicam mais recursos neurais para facilitar o processamento auditivo em detrimento de outros processos cognitivos, como a memória de trabalho."

Existem ainda outros fatores de rotina também podem contribuir para esse fenômeno, segundo a especialista.

"Outra hipótese considerada por estudos é que a perda auditiva pode induzir mudanças detectáveis na estrutura cerebral, o que pode, por sua vez, aumentar o risco de demência", detalha a otoneurologista.

Ela acrescenta que o isolamento social, causado pela perda auditiva, também é um fator de risco para a demência. "A perda auditiva impõe ao paciente dificuldades na sua comunicação, principalmente em ambientes com um maior número de pessoas. É difícil para o paciente absorver e processar a informação auditiva. Por várias vezes, ele precisará pedir que as pessoas repitam o que falaram ou então vai fazer parecer que entendeu a informação para não incomodar. Por não conseguir interagir, o paciente passa a evitar esse tipo de situação. E alguns estudos demonstram que redes sociais precárias, apoio social reduzido e solidão aumentam o risco de demência", completa ela.

•                                    Tratamentos

Quando se fala em tratamentos para a perda auditiva, logo se imagina a necessidade do uso de aparelhos auditivos, mas, segundo Nathália, essa adoção deve ocorrer com base na necessidade de cada paciente.

"Não existe uma regra exata de quando se deve iniciar o uso de aparelho auditivo, mas hoje já sabemos que quanto antes adaptarmos o paciente ao aparelho auditivo mais fácil será esse ajuste e adaptação. Portanto, mesmo diante de perdas leves e moderadas já podemos considerar o uso de aparelhos auditivos, principalmente se o paciente já nota alguma dificuldade em ouvir ou algum outro sintoma da perda auditiva, como zumbido", pontua.

Essa tecnologia pode ser um ponto crucial para diminuir o risco de demência. "Os aparelhos são capazes de amplificar frequências auditivas que o paciente já não ouve bem, devolvendo os sons de forma adequada ao ouvido do paciente", declara a especialista.

"Alguns estudos observacionais sugeriram que os aparelhos auditivos podem atenuar o início da demência, possivelmente por meio da diminuição da carga cognitiva ou da correção da privação sensorial em pessoas com perda auditiva."

De forma geral, Nathália Prudencio ressalta a necessidade de prestar atenção aos sinais da perda auditiva, como forma de prevenir, ou tratar, muitas outras questões subjacentes que podem ter relação, como a demência.

"Por isso, é tão importante que os pacientes estejam atentos aos sinais, que incluem: dificuldade de entendimento da fala, necessidade de aumento do volume de aparelhos eletrônicos, zumbido e dificuldade em acompanhar uma conversa em ambientes com ruídos ou com várias pessoas conversando ao mesmo tempo", finaliza.

 

Fonte: DW Brasil/Homework

 

Nenhum comentário: