quarta-feira, 20 de novembro de 2024

César Fonseca: 6x1 põe em xeque modelo neoliberal destruidor de direitos sociais

6x1(seis dias de trabalho, um de descanso) põe em causa a superexploração do trabalho no regime ultra neoliberal que tem por objetivo acumular renda e destruir direitos sociais.

O mundo real não estava nas cogitações do discurso neoliberal que a própria esquerda consumia com sua política de conciliação de classes.

De repente, terremoto.

A luta social está nas ruas fazendo renascer a luta de classe na batalha principal do confronto histórico permanente entre capital x trabalho: a redução da jornada de trabalho com preservação do poder de compra dos salários.

O assunto é velho na luta social brasileira, desde 1943, na Era Vargas, que criou a CLT.

Nos sindicatos, no Congresso e nas federações patronais e laborais o assunto redução da jornada de trabalho não morre.

Ao contrário, no domínio econômico da financeirização, que piora a qualidade de vida dos trabalhadores, diminuindo salários, quanto mais a tecnologia avança, cada vez mais a luta de classe se acirra por conta dos estragos do modelo econômico neoliberal produzidos na classe laboral.

A destruição da produtividade está relacionada não à maior ou melhor qualificação do trabalho, mas à insuficiência dos salários.

O poder de compra cadente dos salários reduz a taxa de lucro dos empresários na economia de mercado graças à redução do consumo.

Sem consumo não há economia competitiva no cenário do subconsumismo.

Os empresários correm atrás dos subsídios do Estado para compensar a queda da taxa de lucro produzida pelos baixos salários.

A realidade maior não é discutida na grande mídia corporativa: crescimento exponencial da exploração do trabalho por meio da redução dos salários.

A uberização é sinônimo de precarização.

A REALIDADE NA RUA

O projeto 6x1 coloca em discussão essa realidade que diz tudo para os trabalhadores, porque eleva o poder de conscientização política.

A exploração explodiu na consciência política do trabalhador: ele está esgotado de trabalhar seis dias por semana por baixo salário e descansar apenas um dia a critério do empregador.

A controvertida palavra de ordem VAP – Vida Além do Trabalho – que elegeu o vereador do PSOL carioca, Rick Azevedo, inspirou a PEC da Deputada Erika Hilton(PSOL-RJ), responsável por mudar a qualidade do debate político,

Virou atrativo tanto para a esquerda quanto para a direita, centro e ultraradicais anti-trabalhadores, fascistas.

A classe empresarial brasileira, dominada pela direita conservadora, entrou em transe.

Do ponto de vista empresarial, a proposta representa mais custo e menos lucros, mas para os trabalhadores significa renda que vai se reverter para a economia capitalista brasileira, dominada pela insuficiência histórica crônica de consumo.

A polaridade política e ideológica tende a aumentar quanto mais avança a desigualdade social.

A desigualdade expõe o esgotamento do modelo neoliberal, que passou a predominar de forma absoluta depois do golpe do impeachment contra Dilma Rousseff, em 2016.

Ele produziu, com Temer e Bolsonaro, a reforma trabalhista anti Vargas, contestada agora nas ruas pelo movimento contra o 6X1.

O trabalhador, sob canga neoliberal, está se vendo claramente superexplorado pelo excesso de trabalho somado com salário baixo.

A LUTA PELO DESCANSO

A qualidade de vida piorada pela exploração neoliberal, a nova escravidão financeira, jurista, especulativa, esgota o bolso e a cabeça dos trabalhadores.

Por isso, o movimento para mudar a jornada de trabalho ganha cores políticas, porque, afinal, representa ameaça aos poderes mancomunados com o neoliberalismo cuja consequência é a pressão grevista, que pode crescer.

A disputa da renda no cenário da luta de classe brasileira, no momento, está totalmente aberta, sem controle efetivo do Estado.

A razão desse acirramento o próprio presidente Lula acaba de expor de forma clara e contundente.

A estrutura produtiva brasileira, dominada pela elite econômica neoliberal, afirmou, é subsidiada pelo Estado sem correspondência no desenvolvimento econômico sustentável.

São mais de R$ 500 bilhões em isenções fiscais, subsídios e históricas doações do Estado ao capital para evitar sua bancarrota produzida pelos baixos salários vigentes no mercado.

Isso sem falar nos R$ 800 bilhões correspondentes aos juros sobre a dívida pública bombeada pelos juros mais altos do mundo.

O capitalismo brasileiro não produz consumidores, mas sub consumidores, subconsumo, que não garantem a taxa de lucro esperada pelo capitalista.

Por isso, o capitalista, atacado pelo vírus do subconsumismo nacional, toma do Estado R$ 500 bilhões em subsídios para compensar a queda da taxa de lucro devido à insuficiência do poder de compra da população afetada pela superexploração do trabalho.

REFORMA TRABALHISTA VIRA EMPECILHO

A reforma trabalhista reduz os custos do trabalho, mas do ponto de vista da economia como um todo, diminuiu o poder de compra da população.

A demanda global cai porque a renda cai com a reforma neoliberal Temer/Bolsonaro.

Quem ganha é o capital porque reduz custo de contratação e manutenção de mão de obra, elevando a mais valia – trabalho não pago – sobre o trabalhador, raiz do subconsumismo.

O poder de compra subjugado na exploração do trabalhador cobra agora reparação no protesto contra a escala 6x1.

O movimento 6x1 é um grito agudo contra a superexploração do trabalho e o privilégio dos ricos subsidiados pelo Estado para garantir a sobrevivência deles no rastro da miséria dos trabalhadores.

MOBILIZAÇÃO PARLAMENTAR

De repente, todos os partidos aceleram o debate do assunto no Congresso para que não seja engolido pela pressão popular nas ruas e redes sociais.

A mobilização popular contra o 6X1 no feriado de Proclamação da República foi um alerta que tende a crescer.

O trabalhador despertou para a urgência de interromper a superexploração salarial denunciada na PEC da deputada Erika Hilton.

E os capitalistas diante da disposição dos trabalhadores já querem confinar o assunto no âmbito parlamentar, onde a coisa não andaria para esvaziar o movimento no trâmite legislativo, dominado pela direita e ultradireita reacionárias.

O fato, no entanto, é que se as ruas enchem de manifestantes fazendo barulho crescente, muda radicalmente o cenário da disputa eleitoral em 2026.

Nasce outra dinâmica política impulsionada pelo protesto contra a desigualdade social, ampliando o movimento 6x1 em todo o país, a se expressar em escalada cibernética.

Os trabalhadores entram na era cibernética para alcançar suas reivindicações, copiando as aulas da direita na disseminação de fake News.

O projeto é uma obra política aberta pela qual vai se movimentar nas ruas e nas redes entidades civis, militares e religiosas, de agora em diante, ganhando corpo.

Como se trata de uma causa mobilizadora, como demonstra a excitação partidária no Congresso e o atrativo da mídia eletrônica em geral, direita, esquerda, centro etc., ninguém quer ficar de fora.

 

•                                    Escala 6×1 é avanço, mas pode ser apropriada pela direita

Para debater a viabilidade e os impactos do fim da jornada de escala de trabalho 6×1, que foi um dos principais assuntos da semana e ganhou amplo apoio popular, o programa Nova Economia da última quinta-feira (14) contou com a participação de José Dari Krein, professor do Instituto de Economia da Unicamp, e Wellington Damasceno, advogado e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

O docente da Unicamp comemorou que a temática se tornou uma possibilidade de ter uma situação ofensiva a fim de restabelecer questões fundamentais para a sociedade, depois de uma série de derrotas sociais enfrentadas pelo trabalhador, entre elas a retirada de direitos, todas favoráveis apenas às empresas.

Dari afirmou ainda que o fim da escala 6×1, em que os trabalhadores trabalham seis dias por semana e têm direito de descansar em apenas um, poderia beneficiar a economia.

“Temos de saudar que essa questão ganhou grandes dimensões dentro da sociedade brasileira, que as redes sociais estejam se manifestando, que as pessoas estejam percebendo de que a forma como o trabalho foi organizado nos últimos tempos é prejudicial para a grande maioria dos trabalhadores. Então, eu considero que o 6×1 é quase como, em 2013, mal comparando, obviamente, que são os contextos históricos, o 0,20 centavos. É uma certa explosão de uma situação de grito que as pessoas estão se manifestando querendo compartilhar melhor o trabalho com a vida pessoal, querendo que a vida não seja só trabalhar, querendo viver as outras dimensões da vida”, explica o professor.

Damasceno lembrou que a redução de jornada é uma reivindicação antiga do movimento sindical. “Na campanha salarial deste ano, a nossa categoria pautou a redução de jornada no estado de São Paulo e ela não teve repercussão, ela ficou muito limitada às negociações com as bancadas patronais e com as próprias empresas. Então, esse é um primeiro ponto muito importante da colocação dessa PEC e a repercussão que ela conseguiu ganhar.”

A discussão sobre a redução da jornada de trabalho representou ainda um avanço para os trabalhadores, de acordo com o sindicalista. “Desde o impeachment, o movimento sindical tem sido encurralado numa defensiva para tentar manter o mínimo da questão dos direitos, mas também do trabalho. A gente tem sido muito pressionado, não só os ataques que nós sofremos na reforma trabalhista, mas na sequência da reforma da previdência, veio a lei da terceirização e tinha a famigerada carteira verde e amarela, que não aconteceu como um todo, mas muita coisa foi implantada.”

<><> Terrorismo

Apesar do otimismo dos convidados e do apoio popular, a proposta não foi bem recebida em todos os setores. Grandes empresas estão, como lembra José Dari, fazendo um grande terrorismo em torno da temática, de que a redução da jornada de trabalho vai quebrar a economia do país e prejudicar trabalhadores e pequenas empresas.

 “Mas na hora da concorrência, por exemplo, o setor da farmácia, os grandes grupos não tiveram nenhuma dó de concentrar todo o mercado em torno desses grandes grupos nacionais e foram matando, acabando com todas as pequenas farmácias. Por exemplo, as mercearias com a questão dos supermercados, que são dois setores que utilizam muito fortemente jornadas 6 por 1”, continua o docente.

Já para Damasceno, um ponto de preocupação é o de que a proposta, que ganhou o apoio de diversos parlamentares conservadores e até do PL, seja cooptada pela direita.

“Temos até um receio disso não virar o que virou em 2013, que a direita capturou uma pauta, que era uma pauta do campo progressista, que era a tarifa zero, principalmente para os estudantes, a redução do valor da tarifa do transporte público, e virou o que virou, a pauta mudou completamente o que era, e a gente não avançou no transporte público, continua sendo um problema no Brasil, e outras pautas viraram até que culminou no golpe de Estado contra a presidenta Dilma”, relembra.

 O sindicalista aponta ainda que a adesão da direita à redução da jornada trabalhista é superficial, pois os mesmos deputados e senadores que se manifestaram pela mudança também já defenderam o empresariado e garantiram que o Brasil quebraria se a medida fosse aprovada.

“Quando eles viram que essa pauta deu força ao número de assinaturas,  à pressão popular, o quanto isso impactou nas redes sociais, começou um movimento de apropriação da pauta. E isso é um risco, porque esses meus deputados nunca defenderam, em nenhum momento das suas trajetórias, defenderam repressão jornada ou melhores condições para os trabalhadores. Muito pelo contrário, muitos deles  votaram a favor da reforma trabalhista, que retirou o direito dos trabalhadores, inclusive colocou jornadas alternativas, mas que prejudicaram ainda mais o trabalhador”, afirma.

 

Fonte: Brasil 247/Jornal GGN

 

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