quarta-feira, 20 de novembro de 2024

PF prende militares suspeitos de planejar golpe de Estado e morte de Lula; o que se sabe

A Polícia Federal realizou, na manhã desta terça-feira (19/11), uma operação para cumprir mandados de prisão e busca e apreensão contra suspeitos de integrar uma organização criminosa que, em 2022, teria planejado um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Conforme informações da PF, o grupo elaborou o plano intitulado "Punhal Verde e Amarelo", que previa o assassinato de Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).

Também constava no esquema a prisão e execução de um ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que vinha sendo monitorado.

¨      'Kids pretos': quem são os presos

Segundo a apuração do site G1, cinco pessoas foram presas com autorização do STF, incluindo quatro militares do Exército, vinculados às forças especiais e conhecidos como "kids pretos": o general de brigada da reserva Mario Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira. Além deles, foi preso o policial federal Wladimir Matos Soares.

Mario Fernandes atuou como secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro. Ele também exerceu a função de assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), mas foi afastado do posto por determinação do STF.

Além de solicitar a prisão preventiva, uma petição enviada ao Supremo Tribunal Federal, que tem como relator o ministro Alexandre de Moraes, determina a realização de buscas e apreensões relacionadas a outros investigados.

Entre as medidas cautelares pedidas estão a proibição de contato entre os investigados, inclusive por advogados; a proibição de saída do país, com entrega de passaportes em 24 horas; e a suspensão do exercício de função pública. Também foi requisitado o envio de ofícios ao Exército e à Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, além do levantamento de sigilo e monitoramento.

A operação, batizada de "Contragolpe", é parte de um inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado e ações antidemocráticas que marcaram o período eleitoral de 2022, culminando nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023.

De acordo com a Polícia Federal, o plano "Punhal Verde e Amarelo" previa um ataque no dia 15 de dezembro de 2022.

Segundo a petição enviada ao STF, a Polícia Federal indicou que a investigação envolve a atuação de uma organização criminosa com diversas frentes, incluindo ataques a opositores, instituições e ao sistema eleitoral, além de uma tentativa de golpe de Estado e a violação do Estado Democrático de Direito.

O documento descreve, em trecho atribuído à Polícia Federal:

"As ações operacionais identificadas tinham como finalidade assegurar a prisão da referida autoridade, caso o Golpe de Estado se consumasse, ou, de maneira alternativa, a sua execução."

"Com planejamento, coordenação e execução típicos de uma operação militar especial, as ações demonstram um detalhado plano de atuação que envolve técnicas de anonimização, monitoramento clandestino e emprego ilícito de recursos públicos."

Também foram investigadas ações contra as vacinas da Covid-19 e medidas sanitárias, e o uso indevido da estrutura estatal para ganhos pessoais, como o uso de cartões corporativos para despesas pessoais, falsificação de dados de vacinação e o desvio de bens de alto valor.

A petição se concentra na tentativa de golpe de Estado. A Procuradoria-Geral da República se posicionou favoravelmente à adoção das medidas cautelares solicitadas.

Os militares foram detidos no Rio de Janeiro, onde participavam da segurança do encontro de líderes do G20. As prisões foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes e realizadas antes das 6h50 desta terça.

A investigação avançou após a análise de arquivos eletrônicos obtidos com militares investigados, incluindo materiais apagados dos dispositivos do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que foram recuperados pela PF.

Há previsão de que o inquérito seja concluído ainda este ano. Mauro Cid deve prestar novo depoimento nesta terça-feira (19/11).

¨      Reunião na casa de Braga Netto discutiu plano para executar Lula, Alckmin e Moraes, aponta PF

O plano de execução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, foi discutido no dia 12 novembro daquele ano na casa do general Walter Braga Netto, informa a jornalista Andréia Sadi, do G1. Braga Netto foi o candidato a vice na chapa com Bolsonaro nas eleições presidenciais.

A Polícia Federal colheu depoimentos que comprovam o encontro, confirmado pelo braço direito de Bolsonaro, Mauro Cid, em sua delação. Materiais apreendidos com o general de brigada Mario Fernandes corroboram com a informação.

Segundo as investigações, Braga Netto foi um dos mais envolvidos no roteiro da tentativa de golpe de Estado após ser derrotado nas eleições de 2022. Além de ser vice na chapa com Bolsonaro, o general foi ministro da Defesa e ministro-chefe da Casa Civil durante o governo do ex-presidente.

Na manhã desta terça-feira, a PF prendeu Mario Fernandes e outros três militares do grupo de elite conhecido como “kids pretos” por participação de um plano denominado “Punhal Verde e Amarelo”, para matar Alckmin e Lula no dia 15 de novembro de 2022.

¨      Militares queriam envenenar Lula, Alckmin e Moraes e monitoraram passos de autoridades, diz PF

 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou pública nesta quinta-feira (19) a decisão que autorizou uma operação contra militares suspeitos de tramar um golpe de Estado e articular a prisão e a execução de LulaGeraldo Alckmin e do próprio ministro Moraes.

O documento cita, por exemplo, que os golpistas começaram a monitorar o deslocamento de autoridades ainda em novembro de 2022, antes da posse de Lula.

O monitoramento teve início após uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa Walter Souza Braga Netto, que foi candidato a vice de Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições do ano passado.

"As atividades anteriores ao evento do dia 15 de dezembro de 2022 indicam que esse monitoramento teve início, temporalmente, logo após a reunião realizada na residência de Walter Braga Netto, no dia 12 de novembro de 2022", diz a PF no documento.

A PF diz que, entre as ideias cogitadas pelo grupo, estava a de envenenar o ministro Alexandre de Moraes.

"Foram consideradas diversas condições de execução do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público. Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto", afirma trecho.

Para os investigadores, os envolvidos admitiam inclusive a possibilidade de eles morrerem no andamento da suposta operação golpista.

"Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de 'neutralizar' o denominado 'centro de gravidade', que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado", prossegue a PF em trecho citado por Moraes.

O grupo cogitou também "neutralizar" (assassinar) Lula e Geraldo Alckmin, então presidente e vice-presidente eleitos. Mais uma vez a hipótese de envenenamento foi levantada, segundo as investigações.

"Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", descreve a PF.

Ainda de acordo com os investigadores, para que a tentativa de golpe tivesse êxito, os suspeitos tratavam da necessidade de também assassinar o vice-presidente Geraldo Alckmin, que assumiria a Presidência da República em caso de morte de Lula.

"Já o codinome Joca, por sua vez, é uma referência ao citado vice-presidente Geraldo Alckmin. [...] Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de Geraldo Alckmin que a chapa vencedora estaria extinta".

<><> Segundo a PF, a organização era dividida em cinco núcleos:

  • ataques virtuais a opositores;
  • ataques às instituições (STF, Tribunal Superior Eleitoral), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral;
  • tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia; e
  • uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens, o qual se subdivide em: a) uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais; b) e inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina; c) desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao ex-presidente Jair Bolsonaro ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação com o fim de enriquecimento ilícito”.

<><> Exército acompanha operação

Em nota, o Exército confirmou que mandados foram cumpridos em Goiânia e no Rio de Janeiro e que quatro militares foram presos. Também citou que o capitão Lucas Guerellus foi alvo de buscas.

"O Exército Brasileiro segue prestando apoio às investigações em curso, bem como aos militares envolvidos e seus familiares", diz.

<><> PF recuperou arquivos eletrônicos

A PF chegou aos alvos desta terça ao analisar dados desses militares já investigados no inquérito.

Parte dos indícios veio, por exemplo, de material que já tinha sido deletado de aparelhos do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e foi restaurado pelos investigadores. Cid deve depor novamente à Polícia Federal nesta terça.

Outra parte, ainda maior, veio dos aparelhos celulares de outros militares.

Em fevereiro, uma operação também relacionada ao mesmo inquérito prendeu militares do Exército e um ex-assessor da Presidência e fez buscas contra uma série de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

¨      Plano era colocar Braga Netto e Heleno no comando

Os militares presos em operação da Polícia Federal (PF), nesta terça-feira (19), planejavam criar um "gabinete de crise" como resposta às mortes de Lula, à época presidente eleito do Brasil, e de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O plano previa um golpe no dia 15 de dezembro de 2022.

Investigação da PF aponta que os golpistas previam colocar os generais Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e de Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro (PL), como comandantes deste grupo de crise.

"O documento também coloca a necessidade de constituir um gabinete de crise para restabelecer a 'legalidade e estabilidade institucional'", diz trecho de documento do Supremo Tribunal Federal sobre o caso.

O plano previa envenenar Lula e Moraes e, em seguida, instituir o "Gabinete Institucional de Gestão da Crise". Havia, inclusive, uma minuta pronta para a sua criação, documento encontrado com o general Mário Fernandes, preso nesta terça.

Além do general Heleno e Braga Netto, a investigação da PF identificou que outros militares em sua formação, entre os quais o general Mário Fernandes e Filipe Martins, à época assessor de Bolsonaro.

<><> Entre as pessoas citadas na minuta, segundo a investigação, estão:

  1. André de Souza Costa, coronel da Polícia Militar do Distrito Federal, que atuou como Secretário Especial de Comunicação Social (SECOM), vinculada ao Ministério das Comunicações;
  2. Anderson Vilela, coronel da Polícia Militar do Distrito Federal, Secretário Especial Adjunto da SECOM;
  3. Hidenobu Yatabe, coronel reformado do Exército Brasileiro que foi Chefe de Assessoria da Presidência da Empresa brasileira de Comunicação (EBC);
  4. Flávio Botelho Peregrino, assessor especial de comunicação social, apontado em fontes abertas como braço direito do general Braga Netto em junho de 2022;
  5. Darlan Sena Messias Larsssen, tenente-coronel que atuou como assessor de comunicação da Casa Civil e do GSI;
  6. Nelson Lacava Filho, promotor de justiça militar do Ministério Público Militar;
  7. Adriano de Souza Azevedo, que atuou como assessor de planejamento e assuntos estratégicos da secretaria executiva do GSI (apontado como homem próximo ao General Heleno);
  8. Reginaldo Vieira de Abreu, de apelido "Velame", então chefe de gabinete de Mario Fernandes; e
  9. "Cel Kormann", que seria o coronel Jorge Luiz Kormann.

¨      Plano para matar Lula, Alckmin e Moraes ‘só não ocorreu por detalhes’, diz ministro

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta, comentou na manhã desta terça-feira (19) a operação da Polícia Federal (PF) contra uma organização criminosa que teria planejado um golpe de Estado após as eleições de 2022 para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e restringir a atuação do Poder Judiciário. Cinco pessoas foram presas, e o plano era envenenar o então recém-eleito.

Segundo Pimenta, o plano para matar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes (STF) “só não ocorreu por detalhes”.

“Estou muito inspirado sobre a participação do governo Bolsonaro no golpe, que tentaram executar no Brasil, impedindo a posse do presidente e do vice-presidente eleito, e isso só não ocorreu por detalhes. Eu me lembro desse período, que foi o período de uma tentativa de explosão de caminhão próximo ao aeroporto, e isso acabou culminando no 8 de janeiro”, declarou Pimenta.

Segundo o ministro, o plano para matar Lula e os ataques de 8 de janeiro se relacionam.

“São fatos que se relacionam entre si, e os personagens são os mesmos. Os mesmos personagens que financiaram a presença dos acampados na frente aos quartéis estão envolvidos também nesses episódios; o indivíduo que morreu em Brasília estava acampado na frente dos quartéis; as pessoas que participaram da tentativa de explosão de caminhão no aeroporto também estavam acampadas. Os financiadores, os que planejaram as ações, precisam responder por isso, e essa operação da Polícia Federal hoje é muito importante”, afirmou.

¨      Militares tentaram prisão clandestina de Moraes em 2022, diz PF

Mensagens obtidas pela Polícia Federal em celulares dos militares investigados por articular um golpe de Estado em 2022 indicam que, naquele ano, o grupo chegou a se posicionar nas ruas de Brasília para uma "ação clandestina" – que teria como alvo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

As mensagens constam na representação da Polícia Federal que levou às prisões de quatro militares do Exército e um policial federal nesta quinta, na operação Contragolpe. Os mandados foram autorizados por Moraes no inquérito que apura a tentativa de golpe de estado após as eleições de 2022.

Os militares, segundo a PF, usaram um chat privado no aplicativo Signal para evitar interceptação. O grupo de mensagens se chamava "copa 2022".

"As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo 'copa 2022' demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o Ministro Alexandre de Moraes", afirma a PF.

Pelo menos seis pessoas participaram do plano no dia 15 de dezembro de 2022, segundo a PF.

Às 20h33 daquele dia, um dos integrantes envia mensagem dizendo estar no estacionamento de um restaurante no Parque da Cidade, na área central de Brasília. "Estacionamento da troca da primeira vez", diz, como uma referência.

"Tô na posição", diz outro membro do grupo em resposta.

"Ok. Qual a conduta?", pergunta a pessoa que estava no estacionamento.

"Aguarde", diz um terceiro membro do grupo.

Os interlocutores também conversam entre si por ligações de áudio – o conteúdo não foi recuperado, mas imagens registram que os telefonemas ocorreram.

Às 20h57, um quarto membro do grupo envia: "“Tô perto da posição. Vai cancelar o jogo?"

Cerca de dois minutos depois, um quinto participante – apontado pela Polícia Federal como uma "liderança do grupo" – confirma o cancelamento da operação.

“Abortar... Áustria... volta para local de desembarque... estamos aqui ainda...", diz a mensagem.

 

Fonte: BBC News Brasil/Brasil 247/g1

 

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