José Luís Fevereiro: ‘Lula na encruzilhada’
Lula foi eleito em
2022 numa frente ampla que ia da esquerda até a parte da Faria Lima, mais
exatamente a Febraban.
O mesmo acordo, “com o
STF com tudo” que tirou Lula de Curitiba e anulou suas condenações fajutas,
viabilizou a sua candidatura em defesa das liberdades democráticas e contra
Bolsonaro.
A Democracia Liberal
não é apenas um conjunto de regras para arbitrar as disputas entre classes
sociais, mas também para arbitrar os conflitos intra classes sociais. Bolsonaro
era disfuncional para isso e parte da burguesia brasileira decidiu se livrar dele.
O acordo com Lula, a
Frente Ampla, não era apenas colocar Geraldo Alckmin na sua roupagem de
simpático médico do interior como vice. Alckmin era o símbolo de um acordo.
Lula obtinha um
expressivo impulso fiscal garantido pela PEC da transição que somava quase 200
bilhões de reais ao já turbinado orçamento de 2022 com a PEC eleitoral de
Bolsonaro, revogava-se o teto de gastos, mas em contrapartida se aprovaria um
novo arcabouço fiscal que garantiria novas amarras ao gasto público a serem
usadas quando o desemprego baixasse a patamares que elevassem o poder de
barganha do trabalho em relação ao Capital , viabilizando ganhos reais de renda
além do crescimento da produtividade, reduzindo desta forma a participação dos
lucros na renda nacional.
Parte da esquerda
achou boa ideia a Frente Ampla e agora manifesta seu espanto quando a Banca
cobra o cumprimento do acordado. Desde 2023 que se sabe que o arcabouço fiscal
não se sustentaria sem o pleno enquadramento aos seus limites do conjunto dos
gastos contidos no orçamento. A quebra dos pisos constitucionais da saúde e
educação, a limitação da política de valorização do salário mínimo e os gastos
previdenciários acabariam sendo colocados na mesa.
Lula tentou
administrar essa situação empurrando com a barriga se possível até depois de
2026. Só que o desemprego caiu ao menor patamar desde 2013 e o trabalho
recuperou condições de barganha em relação ao Capital. A burguesia cobra para
já o cumprimento do pactuado.
A Faria Lima em si não
tem voto, mas os aparatos mediáticos que se alinham com ela, como a Globo, por
exemplo, formam opinião e foram importantíssimos na eleição de Lula. E a Faria
Lima tem força para chantagear o governo pressionando o câmbio e contando com a
colaboração do Banco Central.
Por outro lado, uma
investida do governo Lula cortando renda dos mais pobres, tornando mais rígidos
os critérios de acesso ao BPC, alterando a política de valorização do salário
mínimo, e mexendo nos pisos da saúde e educação, atingirá diretamente a sua base
social.
Nestas horas é
importante lembrar que o Partido Democrata acaba de perder as eleições, não
porque Trump tenha aumentado sua votação (perdeu mais de 1 milhão de votos em
relação a 2020), mas porque mais de 10 milhões de eleitores de Biden em 2020
desistiram de votar este ano.
Lula tem dois caminhos
pela frente. Manter o pacto da Frente Ampla e garantir mais tempo de trégua com
seus aparatos mediáticos (nenhuma garantia de apoio em 2026, porque seguem
sonhando com um candidato dos seus sem a disfuncionalidade de Bolsonaro) , pagando
o enorme preço da perda de confiança e de motivação de parcela importante da
base social que o elegeu com consequências eleitorais dramáticas em 2026; ou
romper esse pacto, enfrentar os riscos inerentes a essa ruptura, governar os
dois anos restantes sob fogo de barragem da mídia e sob a chantagem dos
mercados, mas manter coesa e mobilizada a sua base social.
Em qualquer cenário,
perder as eleições em 2026 será uma forte possibilidade. Mas se for para perder
que seja defendendo os seus porque isso constrói melhores condições para o
futuro. Melhor o risco de uma derrota eleitoral que o risco de uma derrota eleitoral
com cara de derrota histórica.
• Corte de gastos fiscais: Governo Lula
levará medida impopular a Legislativo e Judiciário
Sem divulgação do
corte de gastos e em meio às expectativas da equipe econômica, o presidente
Lula decidiu levar a medida para a mesa do Legislativo e do Judiciário,
tornando-a uma decisão coletiva.
Na semana passada, às
vésperas da divulgação da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do
Banco Central, que divulgaria os principais indicadores econômicos do mês, o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou frear as expectativas de um aumento
excessivo da Selic, pressionado pelo mercado.
O anúncio do corte de
gastos e ajuste fiscal da equipe econômica de Lula se deu em meio às
expectativas que antecediam a esta reunião do Copom, que ocorreu na última
quarta-feira (06).
Na ocasião, o Comitê
decidiu pelo aumento da Selic, mas em um patamar considerado “moderado” diante
da pressão de investidores por um maior aumento: elevou a taxa básica de juros
de 10,75% ao ano para 11,25%.
Ainda, a reunião
trouxe outros cenários pessimistas para o governo Lula, ainda que com as
chances de cortes fiscais: uma inflação medida pelo IPCA de 4,6% em 2024, acima
do teto da meta, mas com redução para 3,9% em 2025 e 3,6% até o primeiro
trimestre de 2026.
Apesar da redução do
IPCA a médio prazo, as estimativas do Banco Central aumentaram em comparação à
reunião anterior, de setembro, quando a autoridade monetária previa um IPCA de
4,3% em 2024, 3,7% em 2025, e 3,5% no primeiro trimestre de 2026.
Apesar de pequenos, os
aumentos das expectativas ocorreram foram interpretados como uma pressão do
mercado à equipe econômica do governo para a promessa de corte de gastos.
No comunicado
divulgado na semana passada, o Banco Central deixou claro que acompanhava as
medidas do governo e que estas irão influenciar nos índices:
“A percepção dos
agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os
preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco
e a taxa de câmbio”, escreveu a instituição.
“O Comitê reafirma que
uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com
a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal,
contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos
prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política
monetária”, continuou.
Podendo afetar a
imagem do governo Lula junto à população, já se sabe que as medidas de cortes
fiscais propostas pela equipe de Haddad e da ministra do Planejamento, Simone
Tebet, serão impopulares. Mas é com base nestes cortes que o mercado e a
autoridade monetária vem pressionando para alegar a redução dos juros no país.
Neste embate, o
presidente Lula já afirmou, em mais de uma ocasião, que não cederá a pressões
do mercado e que as medidas tomadas terão como base as necessidades de
sustentabilidade econômica do país.
Nesse sentido, Haddad
já teria convencido o presidente a adotar alguns dos cortes. O ministro tem
afirmado que a palavra final é do presidente.
Mas com o resultado do
Copom, Lula voltou a falar que não se influenciará pelo mercado: “Eu vejo o
mercado falar bobagem todo dia, não acredite nisso, eu já venci eles [o mercado
financeiro] e vou vencer outra vez”, disse Lula, em entrevista à RedeTV, neste
domingo (10).
Ainda pressionado por
alas da esquerda e por movimentos sociais contra os cortes de gastos, e diante
do peso desta medida, o presidente Lula decidiu colocar a decisão em mãos
“compartilhadas”, ou seja, com os demais Poderes da República.
Ainda no final da
última semana, Haddad revelou a estratégia que será adotada pelo presidente:
Lula disse ao ministro que levaria a proposta da equipe econômica aos
presidentes da Câmara e do Senado, o Legislativo.
Diante do atraso do
anúncio dos cortes fiscais, ao longo da última semana, o ministro disse que o
presidente só divulgaria o plano após conversar com Arthur Lira e Rodrigo
Pacheco.
Neste domingo (10), na
entrevista à emissora, o presidente ainda afirmou que quer levar o texto ao
Judiciário, tornando o projeto uma decisão “coletiva”:
“É uma
responsabilidade do Poder Executivo, é uma responsabilidade do Poder
Judiciário. E quero saber se eles são dispostos a fazer corte de gastos naquilo
que é excessivo. Eu quero saber também se o Congresso está disposto a fazer um
corte nos gastos, porque daí fica uma parceria e uma cumplicidade para o bem”,
disse Lula.
O presidente ainda
destacou que a responsabilidade atual é uma herança do governo de Jair
Bolsonaro, que destinou boa parte do Orçamento público do país a emendas
parlamentares.
“Se as pessoas
tivessem essa vontade [de fazer corte de gastos] no governo anterior, a gente
não tinha a situação que a gente herdou”, afirmou.
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Brasil deve crescer 3,10% do PIB em 2024 e registra queda de 0,2% da dívida
pública
O mercado financeiro
brasileiro manteve a previsão de crescimento do produto interno bruto (PIB) do
país em 3,10% para 2024, conforme informa o relatório semanal Focus, divulgado
pelo Banco Central após consulta a dezenas de instituições financeiras do país,
ao passo que a dívida pública registrou contração em 2024.
Segundo o boletim
Focus, o PIB do Brasil deve crescer 3,10% em 2024, a mesma percentagem esperada
na semana passada, após várias semanas consecutivas de revisões em alta.
A previsão para 2025,
por outro lado, subiu ligeiramente (de 1,93% para 1,94%), enquanto a para 2026
permaneceu estável em 2% durante meses.
Em relação à inflação,
os economistas consultados elevaram a previsão dos anteriores 4,56% para os
atuais 4,59%, a sexta semana consecutiva de aumentos.
Para 2025, a previsão
de inflação passou de 4,03% para 4,10%, enquanto para 2026 foi ligeiramente
modificada, de 3,61% para 3,65%.
Já a Dívida Bruta do Governo
Geral (DBGG) — que abrange o governo federal, os governos estaduais e
municipais, excluindo o Banco Central e as empresas estatais — como proporção
do PIB caiu de 78,5% em agosto para 78,3% em setembro, segundo o Banco Central.
O resultado é uma das
referências para avaliação, por parte das agências globais de classificação de
risco, sobre a capacidade de solvência do país. O resultado revela uma
tendência de queda no risco de calote por parte do Brasil.
Apesar da queda ante o
PIB, em reais, a dívida pública foi ampliada de R$ 8,898 trilhões para R$ 8,928
trilhões.
Em seu melhor momento,
em 2013, a dívida bruta chegou a 51,5% do PIB.
• O G20 e a política externa brasileira
contemporânea: entre esperanças e realidades. Por Renata B. Ferreira
Ao longo do presente
ano, muito se discutiu sobre o significado que a presidência do G20 teria para
o Brasil no ano de 2024 e para os rumos da política externa brasileira. E
porque essas questões envolvem planos de ação governamentais e instâncias de
cooperação internacional, muitas vezes, aos olhos do cidadão comum, esse debate
parece distante de sua realidade, aparentemente suscitando pouco ou nenhum
interesse. No entanto, desconsiderar esses temas é um grande engano, dado o
impacto que as discussões suscitadas pelo G20 podem gerar para a humanidade
como um todo.
Conhecido como Grupo
dos Vinte, o G20 surgiu depois de uma sequência de crises econômicas que
varreram o globo ao longo da década de 1990. Essas crises remeteram as
lideranças políticas a avaliarem o passado e observarem que as respostas dadas
pelos Estados após crises econômicas de efeitos globais anteriores – como a de
1929 – foram equivocadas e produziram grande sofrimento para as sociedades
envolvidas, justamente por não terem sido resultado de ações coordenadas para o
benefício de todos. Assim, no ano de 1999, criou-se um fórum multilateral
informal entre países industrializados e emergentes, composto, a princípio, por
ministros de finanças e presidentes de Bancos Centrais, com o foco nos debates
sobre questões econômicas e financeiras mundiais.
Com a crise econômica
mundial de 2008, no entanto, a primeira reunião de Cúpula com chefes de Estado
e de Governo do G20 foi realizada e de lá para cá os encontros não deixaram
mais de ocorrer e de crescer, sempre tratando de temas de estabilidade econômica
global. Essa instância da governança global, embora mantenha um caráter
informal, apresenta presidência rotativa anual e desempenha um papel hoje
central na discussão e na colaboração para a reforma da arquitetura de
governança mundial de modo a mantê-la antenada com as grandes questões
econômicas internacionais.
Atualmente, integram o
G20, além da União Europeia e da União Africana, os seguintes países: África do
Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China,
Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México,
Reino Unido, Rússia e Turquia. Esse grupo reúne dois terços da população
mundial, cerca de 85% do PIB global e 75% do comércio internacional. Vale
pontuarmos aqui que o atual formato do G20 já demonstra sua expansão de escopo,
pois o foco econômico dos anos 1990 acabou dando lugar a uma agenda mais ampla,
que passou a incluir outros temas relevantes para a população mundial como
educação, saúde, energia, meio ambiente, desenvolvimento sustentável,
agricultura, comércio etc.
Em 1º de Dezembro de
2023, o Brasil assumiu a presidência do G20 e ele a exercerá até o dia 30 de
Novembro de 2024. Diante dessa responsabilidade, o governo brasileiro não só
buscou alinhar sua atuação com os pressupostos centrais de sua atual política externa
como procurou inovar no modo de produção dos debates feitos dentro do G20 no
país. Nesse sentido, os eixos temáticos considerados centrais para os debates
do G20 são: 1. a reforma da governança global, 2. as três dimensões do
desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental) e 3. o combate à
fome, pobreza e desigualdade. Essas são agendas orientadas pela perspectiva do
presidente Lula de que o G20 deve ambicionar pautas que sejam de interesse
global e não apenas das nações industrializadas e mais desenvolvidas.
Ainda, a inovação
proposta pelo governo brasileiro foi o G20 social, que representa um espaço de
participação da sociedade civil na elaboração de propostas para o G20 e que
reúne 13 grupos de engajamentos sobre temas como juventude, educação, mulheres,
trabalho, cidades, proteção dos oceanos etc. O objetivo do presidente Lula aqui
foi o de promover uma Aliança Global contra a fome e a pobreza e, através dela,
angariar recursos e conhecimentos para a implementação de tecnologias sociais e
políticas públicas comprovadamente eficazes para a redução da fome e da pobreza
no mundo, a exemplo do que foi proposto pelo presidente para o Brasil em suas
diferentes gestões.
Essa proposta deverá
ser lançada em paralelo à Cúpula do G20 durante o presente mês e estará aberta
à adesão não somente para os membros do G20, mas para todos os países
interessados. O governo brasileiro sabe, no entanto, que muitos são os
obstáculos à aceitação de suas propostas pelos demais membros do G20 e admite
que várias de suas pautas sociais podem não ser aprovadas. No entanto, diante
das duras realidades enfrentadas pelos povos no globo, o governo persiste na
esperança obstinada de que haja no futuro próximo uma governança global mais
equilibrada e justa para todos.
• Brasil é país que mais visita sites de
apostas e pode sofrer impactos na economia
O jogo on-line se
popularizou no Brasil após a legalização das apostas esportivas de cota fixa em
2018, colocando o país, com seus mais de 200 milhões de apaixonados por
futebol, como o sétimo maior mercado em termos de receita, de acordo com a H2
Gambling Capital.
Segundo depoimento
oferecido ao jornal Folha de S. Paulo, um brasileiro comum, de nome Cláudio,
atingido pelo câncer aos 30 e poucos anos, é um dos vários que se viciaram em
sites de aposta. O que era um passatempo passou a ser um vício.
Com perdas acumuladas
de R$ 200 mil (aproximadamente US$ 35 mil), ele deixou de pagar contas e teve a
eletricidade de sua casa cortada, diz o material.
A falta de
regulamentação favoreceu o crescimento de um vício generalizado, com potenciais
consequências para a maior economia da América Latina, alertam economistas e
profissionais da saúde.
Esse fenômeno ameaça
reduzir o consumo, especialmente entre a população de baixa renda, de acordo
com analistas e varejistas. A Associação Brasileira de Bancos também demonstrou
preocupações com o endividamento gerado pelas apostas on-line.
Roberto Campos Neto,
presidente do Banco Central, expressou sua preocupação com o aumento das
apostas, que pode começar a afetar o pagamento de empréstimos. "A relação
entre o aumento das apostas e a população de baixa renda tem sido forte",
disse ele recentemente. "Estamos começando a perceber que isso poderá
impactar os índices de inadimplência."
O país sul-americano
agora ocupa o primeiro lugar em visitas a sites de jogos de azar, com 15% do
total global em 2024, segundo a provedora de análises SimilarWeb.
<><> As
bets
O nome que se
popularizou no Brasil para definir as empresas vem do inglês e significa
aposta. Do famoso tigrinho divulgado às casas esportivas que se popularizaram
através do futebol, as bets utilizam um meio que facilita ainda mais a sua
propagação: o digital, diferentemente de cassinos, jogo do bicho e lotéricas,
em que é necessário ir até um local.
Dados divulgados pelo
Banco Central recentemente escancararam o problema social gerado pela livre
atuação das empresas no Brasil, que só agora começam a ganhar uma
regulamentação: cerca de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família já
desembolsaram em pagamentos via Pix até agosto R$ 10,5 bilhões do benefício
para pagamento de apostas.
Enquanto isso, as bets
também têm se apropriado cada vez mais de uma paixão nacional para lucrar: o
futebol.
Diversos times contam
com patrocínio master de casas de apostas, e outros chegaram a lançar as
próprias plataformas em parceria com as empresas.
Fonte: Outras
Palavras/Jornal GGN/Ascom Mackenzie
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