“Eleição
de Trump antecipa o que pode acontecer no Brasil em 2026", diz Nicolelis
síveis
repercussões no Brasil. Nicolelis, que acompanha de perto a política americana
desde que se mudou para o país em 1989, afirmou que o resultado das eleições
representa um choque profundo, tanto para os americanos quanto para os
observadores internacionais. “É um grande choque. Amigos meus, cientistas,
falando em ir embora dos Estados Unidos. Metade do país ainda não acredita no
que aconteceu”, disse ele.
O
neurocientista destacou um aspecto pouco discutido pela grande imprensa, mas
amplamente notado nas redes sociais americanas: a queda expressiva na votação
democrata. “De 15 a 20 milhões de votos democratas sumiram. Trump teve 3
milhões de votos a menos, mas Kamala Harris teve cerca de 20 milhões de votos a
menos que Joe Biden em 2020. Esses votos não aparecem em lugar nenhum”,
observou Nicolelis. Ele comentou a curiosidade de ver um aumento significativo
na votação antecipada pelo correio, enquanto muitos relatos surgiram sobre
votos que não foram registrados.
Nicolelis
também mencionou as diferenças fundamentais entre o sistema eleitoral dos
Estados Unidos e o do Brasil. “Nos EUA, não existe uma justiça eleitoral
centralizada, e a porcentagem de votos eletrônicos é mínima. Aqui no Brasil, o
resultado é muito mais rápido, enquanto lá, como vimos em 2020, pode levar
quase uma semana”, explicou, destacando o caráter fragmentado do processo
eleitoral americano.
<><> Impactos e paralelos com o Brasil
Para
o cientista, a reeleição de Trump e o cenário que a acompanha são um reflexo de
mudanças profundas na sociedade americana e um prenúncio de desafios que podem
se estender ao Brasil. “Essa eleição é os americanos falando para nós: ‘Eu sou
vocês amanhã’. O que aconteceu lá, em termos de desinformação, uso de redes
sociais e estratégias de manipulação, é algo que pode se repetir em outros
lugares”, alertou Nicolelis. Ele apontou para o papel de Elon Musk e sua
plataforma, que teria sido usada para promover desinformação e favorecer Trump,
ao mesmo tempo que minimizava suas falhas e gafes de campanha.
Nicolelis
não poupou críticas à coordenação da extrema-direita global, que ele considera
mais eficiente e operacional do que geralmente se reconhece. “Foi uma vitória
acachapante, comparável a algumas vitórias da direita em eleições municipais no
Brasil que setores da esquerda consideraram triunfos. Isso mostra que a
coordenação da extrema-direita mundial é muito mais forte do que se admite
aqui”, afirmou.
<><> O futuro da democracia liberal
Para
o neurocientista, as eleições de 2024 nos Estados Unidos são um sinal claro de
que conceitos como democracia, direitos humanos e liberdades individuais estão
sendo substituídos por outras narrativas abstratas que minam a coesão social.
“Hoje, os Estados Unidos talvez sejam um dos países mais divididos do mundo”,
observou Nicolelis, ressaltando a importância de entender como essa
fragmentação social e política pode ecoar em outros países, incluindo o Brasil.
Nicolelis
concluiu destacando que a vitória de Trump representa não apenas um desafio
interno para os Estados Unidos, mas um potencial desastre global. “O que
aconteceu nessa eleição mostra que o mundo enfrenta uma era em que a
desinformação e as estratégias digitais de manipulação se tornaram armas
poderosas nas mãos de movimentos políticos que buscam manter e ampliar seu
poder”, disse ele, prevendo tempos difíceis para a governança democrática em
escala global.
¨ Trump terá 'superpoderes' com maioria na Câmara e no Senado?
As eleições americanas de 5 de novembro resultaram não apenas na vitória do republicano Donald
Trump, que
deverá voltar à Casa Branca quatro anos após o fim do seu primeiro mandato, mas
também na dominância de seu partido no Senado e, possivelmente, na Câmara dos
Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil).
Até o fechamento desta reportagem, várias disputas continuavam sem
resultado final, mas os republicanos já tinham consolidado a maioria no Senado,
com 52 das 100 cadeiras.
Na Câmara, os republicanos já conquistaram 211 das 435 cadeiras, à
frente das 199 dos democratas. O partido que conquistar no mínimo 218 assentos
vai controlar a Câmara.
Trump ultrapassou o mínimo de
270 votos do Colégio Eleitoral que precisava para ser eleito presidente,
conquistando, até agora, 295. Também se encaminha para ser o vencedor do voto
popular, com 50,7% até o fechamento da reportagem, à frente dos 47,7% de sua
adversária democrata, a vice-presidente Kamala Harris.
“A América nos deu um mandato poderoso e sem precedentes”, disse o
republicano quarta-feira (06/11), ao declarar a vitória.
O controle da Presidência e do Congresso pelo mesmo partido não é algo
inusitado. Segundo o instituto de pesquisas Pew Research Center, “o controle de
um único partido em Washington (na Casa Branca, no Senado e na Câmara) é
comum”, especialmente “no início de uma nova presidência”.
No total, desde o governo de Theodore Roosevelt (1901-1909), 16 dos
últimos 21 presidentes conseguiram o feito em algum momento de seus mandatos.
Entre eles, o atual presidente, o democrata Joe Biden, em seus primeiros
dois anos no poder, e o próprio Trump, quando tomou posse pela primeira vez, em
2017.
O democrata Barack Obama, antecessor de Trump que governou até o início
de 2017, também tinha a maioria nas duas Casas quando iniciou seu primeiro
mandato, em 2009.
No entanto, a situação de Trump deverá ser diferente da de seus
antecessores e mesmo de seu primeiro mandato.
“Há algumas coisas que mudaram”, diz à BBC News Brasil o cientista
político Ken Kollman, professor da Universidade de Michigan.
“Entre elas, a natureza do Partido Republicano. Não consigo pensar em
uma época em nosso país, desde antes do início do século 20, em que você
tivesse um partido tão controlado por uma única pessoa”, afirma Kollman,
referindo-se ao poder de Trump.
Caso a maioria na Câmara se confirme, o controle da Casa Branca e do
Congresso deve facilitar a implementação da agenda de Trump, que inclui desde a
promessa de deportações em massa de
imigrantes ilegais e
cortes de impostos até a expansão da extração de petróleo e a eliminação do
Departamento de Educação.
Mas, assim como ocorreu com outros presidentes antes dele, o controle do
Congresso não será o suficiente para garantir a aprovação de todas as suas
prioridades legislativas. Em vários casos será necessária maioria de 60 votos
no Senado, o que o partido não deve obter.
<><> Cenário diferente de 2017
Nos últimos dois anos, os republicanos já tinham maioria na Câmara, com
220 das 435 cadeiras. Os democratas controlavam o Senado, com 47 cadeiras e o
apoio de quatro senadores independentes — somando assim maioria de 51 votos, à
frente dos 49 republicanos.
Nestas eleições, candidatos republicanos retomaram o Senado não apenas
vencendo em Estados onde a cadeira em disputa já estava nas mãos do partido,
mas também derrotando democratas que buscavam a reeleição em Ohio e Montana.
Também venceram na Virgínia Ocidental, onde o governador republicano Jim
Justice conquistou a vaga do Senado deixada pela aposentadoria de Joe Manchin,
ex-democrata que virou independente neste ano.
Nos Estados Unidos, o mandato dos deputados federais é de dois anos,
enquanto os senadores servem por seis anos. A cada dois anos, há eleições para
todas as cadeiras da Câmara e um terço do Senado.
Os novos deputados e senadores serão empossados em 3 de janeiro, e o
presidente toma posse no dia 20 de janeiro.
Apesar de Trump já ter governado com maioria no Senado e na Câmara
quando iniciou seu primeiro governo, ele deverá encontrar agora um Congresso
bem diferente do que o recebeu oito anos atrás.
Na época, parte da bancada republicana e da liderança tradicional do
partido tinha uma posição de cautela ou até rejeição em relação a Trump, um
“outsider” ("alguém de fora", neste caso, da política) que havia
ingressado na política pouco tempo antes e chocou Washington ao vencer a
eleição de 2016.
Desde então, Trump transformou o Partido Republicano à sua imagem e é
hoje seu líder incontestável. Quase todos os parlamentares que inicialmente
resistiam a Trump mudaram de posição ou deixaram o Congresso, e o novo
presidente deverá ser recebido por uma bancada disposta a levar à frente sua
agenda.
A certa folga na margem de maioria no Senado significa ainda que Trump
poderá aprovar determinadas medidas mesmo se não tiver os votos de alguns dos
senadores considerados mais centristas, como Lisa Murkowski (Alasca) ou Susan
Collins (Maine), que várias vezes se desviaram da linha do partido.
Antes mesmo de se confirmar se os republicanos manterão a maioria na
Câmara, o atual presidente da Casa, Mike Johnson (republicano da Louisiana),
prometeu a “agenda mais agressiva da Era Moderna” nos primeiros 100 dias do
governo Trump e disse que os deputados da bancada estão “prontos para agir
imediatamente”.
<><> Gabinete e Judiciário
O Senado americano tem um mecanismo de obstrução chamado de
"filibuster", que só pode ser evitado com uma maioria de 60 votos.
Isso permitiria que, mesmo em minoria, os democratas tentem bloquear
determinadas propostas, já que os republicanos têm menos de 60 votos.
“O filibuster costumava se aplicar a quase tudo que o Senado fazia,
incluindo nomeações judiciais”, observa Kollman.
No entanto, isso mudou, e vários cargos do gabinete e do Judiciário que
precisam ser aprovados pelo Senado podem receber maioria simples.
Nesses casos, a maioria republicana poderá garantir a confirmação de
nomes para o gabinete de Trump, além de juízes federais e eventuais vagas na
Suprema Corte, que têm mandato vitalício.
“Não espero que ele tenha muitos obstáculos para nomear quem quiser”,
diz Kollman.
Em seu governo anterior, Trump indicou três membros para a Suprema
Corte, a mais alta instância da Justiça americana. Isso consolidou a maioria de
seis membros na “ala conservadora”, como são chamados os juízes indicados por
presidentes republicanos, e apenas três na “ala liberal”, composta por nomeados
por presidentes democratas.
A composição da Suprema Corte tem impacto em diversas questões que
afetam o país inteiro. Foi a maioria conservadora que, em 2022, levou à anulação de
uma decisão que por quase 50 anos garantiu o direito constitucional ao aborto
no país, deixando
cada Estado livre para adotar suas próprias proibições.
Neste ano, esta mesma maioria conservadora garantiu a decisão de que
ex-presidentes — como era o caso de Trump, acusado de tentar interferir no
resultado das eleições de 2020 — têm direito à imunidade
judicial em
acusações criminais por "atos oficiais" praticados durante o mandato.
Em caso de morte ou aposentadoria de algum dos membros atuais da ala
liberal, Trump poderia aumentar ainda mais a maioria conservadora na Corte.
Mesmo que uma eventual vaga seja na ala conservadora, o presidente poderia
nomear um juiz jovem, garantindo assim que a vaga permaneça do lado conservador
por vários anos ou décadas.
Trump também deve nomear juízes conservadores para tribunais inferiores.
Durante os quatro anos de seu governo anterior, o republicano conseguiu a
confirmação de mais de 230 juízes.
<><> Impostos
Em outras questões, porém, o filibuster pode ser um empecilho aos planos
do novo presidente.
“Há diferenças importantes entre a Câmara e o Senado”, diz à BBC News
Brasil o cientista político Adam Sheingate, professor da Universidade Johns
Hopkins.
“A Câmara é onde a maioria exerce controle em termos de definir a agenda
e aprovar legislação. Na maioria das circunstâncias, o partido majoritário
consegue o que quer."
“No Senado, a menos que o partido majoritário tenha 60 votos, o partido
minoritário tem a capacidade de bloquear ou atrasar a ação”, ressalta.
“Embora controlado pelos republicanos, é onde o Partido Democrata terá
mais oportunidades de atrasar ou mudar a agenda [de Trump].”
No entanto, certas questões fiscais e propostas vinculadas de alguma
maneira ao orçamento também podem ser aprovadas por maioria simples, graças a
um processo legislativo chamado de "Budget Reconciliation"
(reconciliação orçamentária).
Isso facilitaria a aprovação de uma das prioridades de Trump: a extensão
dos cortes de impostos implementados em 2017, uma das principais conquistas
legislativas de seu governo anterior. Além disso, ele prometeu ampliar isenções
fiscais, incluindo sobre gorjetas e horas extras.
Os cortes de 2017 devem vencer no próximo ano, e sua extensão
representaria uma vitória legislativa importante para Trump em seus primeiros
cem dias de governo.
Análises indicam que os cortes estimularam o crescimento econômico, mas
beneficiaram os mais ricos. Também projetam que poderiam aumentar a dívida do
país, que já é de aproximadamente US$ 36 trilhões (cerca de R$ 206 trilhões),
em mais de US$ 9 trilhões (mais de R$ 51 trilhões) na próxima década.
Os republicanos podem tentar usar o Budget Reconciliation para aprovar
outras medidas relacionadas à economia, imigração e outros temas.
Em seu primeiro mandato, Trump tentou, sem sucesso, acabar com o
Affordable Care Act (ACA), a reforma da saúde sancionada por Barack Obama em
2010 e apelidada de "Obamacare”.
Os republicanos continuam querendo restringir o acesso ao ACA e outras
mudanças na lei.
“É possível que o Partido Republicano revogue o ACA usando esse
processo”, salienta Sheingate. “Resta saber se o Partido Republicano teria 50
votos [já que membros mais moderados poderiam se opor].”
<><> Ordens executivas
A desvantagem dos democratas significa que teriam dificuldade para
iniciar investigações sobre eventuais abusos de poder, como as que levaram aos
dois processos de impeachment contra Trump em seu primeiro governo.
No entanto, a margem de maioria republicana na Câmara será pequena,
impondo limitações já vistas nos últimos dois anos quando, apesar de controlar
a Casa, a bancada do partido ficou muitas vezes imobilizada por divisões
internas.
Em vários momentos, precisaram de apoio dos democratas para aprovar
propostas.
“Desde que foi eleito, em 2016, Trump consolidou seu controle sobre o
Partido Republicano. Se isso se traduzirá em uma bancada republicana mais
unificada, não tenho certeza”, observa Sheingate.
“Nos últimos anos, particularmente na Câmara, o Partido Republicano
algumas vezes teve dificuldade de se manter unido, porque há uma ala de extrema
direita”, afirma.
Nem todas as prioridades de Trump, entretanto, precisarão passar pelo
Congresso.
“O presidente pode fazer muito sem o Congresso”, ressalta Sheingate,
citando o exemplo do aumento de deportações ou mudanças em regulações.
Durante a campanha, Trump já disse que não precisa do Congresso para
certas propostas, como o aumento de tarifas sobre importações, e que, se o
Congresso não aprovar, exerceria sua autoridade executiva nesse caso.
Logo após a confirmação da vitória, seus assessores afirmaram em
entrevistas à imprensa americana que o novo presidente deverá recorrer a ordens
executivas para implementar imediatamente medidas relacionadas à imigração e à
extração de petróleo.
Muitas partes de sua agenda, porém, vão depender do Congresso.
“Certamente ajuda ter maiorias nas duas Casas. Mas no Senado, não basta
maioria, é preciso uma supermaioria para ter poder total”, salienta Sheingate.
“Trump não terá poder total.”
¨
diz ter conversado com Trump 3
vezes desde o fim das eleições nos EUA
Em comunicado, primeiro-ministro israelense diz que as conversas com o
presidente eleito dos EUA visavam fortalecer a "poderosa aliança"
entre os países.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que já
conversou com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, três vezes desde o fim
das eleições americanas, e que os dois estão em sintonia quanto ao Irã. A
declaração foi dada neste domingo (10), em um comunicado em vídeo.
"Falei com Donald Trump três vezes nos últimos dias. As conversas
tinham como objetivo fortalecer ainda mais a poderosa aliança entre Israel e os
EUA", disse Netanyahu no comunicado.
Ele acrescentou que concorda com Trump "sobre a ameaça iraniana em
todas os seus componentes e o perigo que representa" e "nas grandes
oportunidades que Israel tem diante de si na expansão da paz e em outras
áreas".
O primeiro-ministro israelense descreveu as tratativas com o americano
como "boas e muito importantes". No comunicado, ele também abordou o
que classificou como ameaças dirigidas a Israel, especificamente o processo na
Corte Internacional de Justiça (CIJ), que acusa o país de cometer genocídio em
sua ofensiva na Faixa de Gaza.
Também neste domingo, Israel realizou dois ataques com vítimas fatais,
na Síria e no Líbano. Na Síria, pelo menos cinco pessoas morreram e outras 25
ficaram feridas depois que forças israelenses atacaram um bairro ao sul da
capital Damasco.
Já no Líbano, um ataque israelense a um casa no assentamento de Almat,
na cidade turística de Biblos, deixou pelo menos 23 mortos, incluindo sete
crianças.
Fonte: Brasil 247/BBC
News Brasil/Sputnik Brasil
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