sexta-feira, 29 de novembro de 2024

'Faíscas não faltam': 3ª Guerra Mundial está a caminho?

Com muitas nações nucleares, qual a possibilidade de um dos muitos conflitos atuais resultar em uma guerra mundial? Ou já é possível dizer que já vivemos um conflito de escala global? À Sputnik Brasil especialistas em geopolítica destacam os caminhos que nos levarão para o possível fim da humanidade.

Ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, analistas debateram essas questões.

Em entrevista ao programa, Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro "Imperialismo, Estado e Relações Internacionais", afirma que o cenário atual é fruto de uma "crise do imperialismo".

O imperialismo, explica o pesquisador, é uma forma de estruturação da geopolítica internacional onde é criada no direito internacional, através dos desbalanços de poder, gerando uma hierarquia entre as nações.

Modo de organização política do capitalismo, o imperialismo passa por uma crise devido à própria evolução do modo de produção capitalista, Osório explica.

"Percebemos pelo menos duas características que vão acirrando o clima hostil que vemos no mundo", afirma o professor. "O primeiro é uma questão da desterritorialização da acumulação."

"E o segundo aspecto é que há uma ausência cada vez maior de instrumentos para o Estado intervir na economia. O Estado fica cada vez mais impotente para corrigir distorções econômicas."

Juntos, esses dois aspectos levam a uma financeirização das economias nacionais e a consequente concentração de renda em determinadas camadas e determinados países. "Todo esse cenário vai levando a um acirramento dos ânimos, a uma crise, e que a alternativa tem sido cada vez mais beligerante."

Ao mesmo tempo, os complexos militares-industriais se tornam uma forma dos países realizarem uma política industrial. "Gerando cada vez mais a necessidade de emprego dessas armas pelo mundo."

"Ainda não estamos na Terceira Guerra Mundial, mas estamos em um clima muito propício."

<><> As 'faíscas' do incêndio global

A história revela que guerras podem acontecer por variados motivos, incluindo os mais banais lembra Osório. "Às vezes uma faísca já é suficiente para haver uma grande escalada. E faíscas não estão faltando por aí."

Dentre elas, o especialista em relações internais aponta para pelo menos quatro disputas, deflagradas ou não, que podem agir como catalisadores de uma nova guerra mundial.

São eles o conflito ucraniano, a escalada israelense no Oriente Médio, o uso de Taiwan como um protetorado pelos Estados Unidos e a separação da Coreia.

Ao último ponto, o professor sublinha que a guerra civil no país não terminou apesar de ambos os lados estarem em um armistício há 71 anos, desde 1953. "E essas tensões vêm aumentando nos últimos anos."

"O tempo vai passando e nos parece que é normal haver duas Coreias, mas é uma situação de completa artificialidade. A Coreia tem uma história milenar e nunca foi dividida em duas a não ser de 1950 em diante."

Já em relação a Taiwan, o professor declara que os Estados Unidos fomentam uma postura independentista da ilha como forma provocar o governo da China, que tem uma postura inegociável quanto sua soberania e quanto à sua política de Uma Só China. "É um dos três pontos focais dentro do debate geopolítico mundial."

Os outros dois são os conflitos abertamente deflagrados: o ucraniano e o israelense.

<><> Dissuasão russa foi exitosa

Em primeira vista, o conflito ucraniano pode parecer o que apresenta maiores riscos de escalonamento a conflito mundial, uma vez que Kiev é utilizada como ponta de lança pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para criar um "atoleiro" para os russos, descreve Osório.

Exemplo disso foi a recente autorização do presidente norte-americano, Joe Biden, para que a Ucrânia possa usar os mísseis balísticos estadunidenses em ataques no interior da Rússia. A iniciativa, dada no crepúsculo de sua presidência, "parece que é aquele final de festa em que o convidado insiste em não ir embora e quer causar tumulto", diz o especialista.

No entanto, a Rússia não se acovardou e sua resposta, com o lançamento do míssil hipersônico Oreshnik, "deixou todo mundo, principalmente a Europa Ocidental, muito apavorado".

"O silêncio da grande mídia, dos grandes monopólios de mídia já assinalam como que essa reação da Rússia foi exitosa."

<><> Oriente Médio e a influência de atores nucleares

Ao Mundioka, a pesquisadora associada do Centro de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo, Luciana Garcia, ressalta ainda que, dentro das perspectivas futuras estabelecidas pelo futuro presidente dos EUA, Donald Trump, os norte-americanos devem abandonar o conflito ucraniano. "Então a situação tende a se acalmar."

Por outro lado, seja pelo lado da Casa Branca, seja pelo lado do Reichstag, sede do Parlamento alemão, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, parece ganhar carta-branca para continuar sua política beligerante e de expansão do conflito pelo resto do Oriente Médio.

"As políticas dos Estados Unidos vão nesse sentido de acirrar cada vez mais o conflito no Oriente Médio", diz a pesquisadora.

"Primeiro que o governo de Israel é um governo extremista, com uma retórica bélica, que nunca aceitou a existência de um Estado palestino na região."

E também que, ao longo da história, o governo de Netanyahu fortaleceu o Hamas, movimento palestino religioso, em detrimento da Autoridade Palestina, representação mais secular do povo. "Então a gente tem duas autoridades bastante problemáticas, com pouca probabilidade de diálogo."

Nesse sentido, cada lado com sua política intransigente é apoiado por atores nucleares, seja Israel com suas armas atômicas, os Estados Unidos e o próprio Irã, sobre o qual a pesquisadora de estudos judaicos considera possuir armamentos nucleares, "apesar da retórica dos Aiatolás".

"Então", diz Garcia, "é muito preocupante o envolvimento de todos esses atores e a forma como o conflito vem se deflagrando com o passar do tempo".

"Ainda não estamos vivendo a Terceira Guerra, mas ela pode romper a qualquer momento porque temos muitos atores envolvidos que detêm armas nucleares."

 

¨      O sistema imperialista precisa de uma 3ª Guerra Mundial. Por Eduardo Vasco

Após Olaf Scholz telefonar a Vladimir Putin (algo que nenhum líder ocidental havia feito em cerca de dois anos), sinalizando uma rara disposição ao diálogo com os russos, Volodimir Zelensky acusou o chanceler alemão de abrir a “caixa de Pandora”.

A ação de Berlim certamente não foi sem motivos. Os alemães – os grandes prejudicados pelo confronto com Moscou – perceberam que recairão sobre eles todas as consequências de um possível afastamento dos Estados Unidos da guerra na Ucrânia quando Donald Trump tomar posse.

E a ligação de Scholz para Putin (em 15/11) se deu uma semana após a eleição de Trump (em 06/11). Dois dias depois da chamada entre os dois líderes, no dia 17, foi revelado que Joe Biden autorizou a Ucrânia a utilizar os mísseis de longo alcance ATACMS contra o território russo. Em seguida, os britânicos também autorizaram o uso dos Storm Shadow por Kiev.

Os ATACMS e os Storm Shadow, finalmente, foram assim disparados desde a Ucrânia contra as regiões russas de Bryansk e Kursk em 19 de novembro.

Cutucou-se o urso com uma vara curta.

A Rússia mostrou que não está para brincadeira. No dia 21, ela revelou ao mundo o seu poderoso míssil hipersônico de médio alcance Oreshnik, que atingiu a cidade ucraniana de Dnipropetrovsk. O Oreshnik viaja a uma velocidade de Mach 10, voando nada menos do que 3 km por segundo e pode atingir qualquer capital europeia em poucos minutos.

Essa ameaça se tornou ainda mais perigosa depois que Putin anunciou uma revisão da doutrina militar russa, que agora permite o ataque a instalações militares de países que autorizem o uso de suas armas para atacar a Rússia. É precisamente o caso de EUA e Reino Unido.

Trata-se de uma escalada sem precedentes desde o início da intervenção russa na Ucrânia, há quase três anos. Levando em consideração que agora se abriu plenamente a possibilidade de um confronto direto entre Moscou e a OTAN com o bombardeio de outros países, há quem fale até mesmo no início eventual de uma 3ª Guerra Mundial. Desse ponto de vista, as tensões são comparáveis apenas à da Crise dos Mísseis de 1962.

O fato de a situação ter escalado tanto menos de duas semanas após a vitória de Trump não é coincidência. Os detentores do verdadeiro poder nos EUA, o chamado “Deep State” (Wall Street e o complexo industrial-militar) levam muito a sério as palavras do republicano sobre encerrar a guerra na Ucrânia e retomar as relações com a Rússia. É uma das coisas que eles mais temem.

E o motivo disso foi explicado com muita honestidade recentemente na MSNBC. Com a maior naturalidade do mundo, o almirante reformado James Stavridis recordou que os Estados Unidos investem cerca de 40 bilhões de dólares por ano no financiamento da guerra na Ucrânia.

“Todo esse dinheiro é pago para os contratistas de defesa dos EUA, fazendo nossa base industrial de defesa mais forte”, disse. E completou: “essa é uma alavancagem fantástica. Você investe uma pequena quantia de dinheiro e obtém um efeito enorme. É um grande negócio para os EUA”.

Mais: a manutenção da guerra na Ucrânia é fundamental para a sobrevivência do sistema imperialista apodrecido que é liderado por Washington. Há décadas que ele vem experimentando um declínio acentuado, que se mostrou ainda mais irreversível nos últimos anos, com os vexames no Afeganistão, na própria Ucrânia e na Palestina.

Esse declínio é acompanhado de um lento despertar das nações oprimidas pelo sistema imperialista, expresso atualmente nas fenomenais (porém, aparentemente, irrefreáveis) articulações entre os chamados países emergentes – dos quais a Rússia é a grande líder, junto com a China – e seus anseios por uma nova ordem mundial “multipolar”.

Já tendo perdido a mais importante disputa presidencial da história americana, o Deep State (o coração da máquina política do sistema imperialista) agora não quer perder nem um pouco de seu poder. Por isso busca uma aliança com o trumpismo, que já foi observada nas aproximações a Trump de setores empresariais teoricamente hostis ao então candidato. E agora a tentativa de aliança – uma busca por controlar os instintos mais isolacionistas e prejudiciais ao domínio dos EUA – fica nítida a partir da composição do novo governo, que está sendo montado.

A maioria dos membros do alto escalão que foram nomeados por Trump é formada por elementos vinculados ao establishment neoconservador, sejam eles os próprios falcões imperialistas ou ao menos palatáveis à máquina de dominação do Estado americano. Pouquíssimos são aqueles que, como Tulsi Gabbard ou Robert Kennedy Jr., geram uma aversão do Deep State.

Mas, pelo visto, a grande burguesia estadunidense não quer esperar o dia 20 de janeiro e pagar para ver se seus prepostos no novo governo vão trabalhar direito. Ela pressiona desde já, esticando a corda até quase o limite, para obrigar Trump a acompanhá-la por esse caminho tortuoso que a maioria nos EUA, inclusive pessoas próximas a Trump, não quer trilhar.

Em toda a história, nenhum sistema em declínio (principalmente os impérios) aceitou o seu triste destino. As grandes mudanças sempre vieram a partir de enormes convulsões políticas, sociais e econômicas. Aqueles que acreditam em um mundo multipolar harmonioso em que uma superpotência, ou mesmo um sistema inteiro, será substituída através de uma transição indolor provavelmente estão equivocados.

O mais provável, ainda que possa não vir imediatamente, é a guerra mundial. O lado positivo disso (para quem acredita que sempre há algo positivo nas desgraças) é que, diferente das duas guerras mundiais anteriores, esta não será entre potências imperialistas pela dominação do globo. A superpotência imperialista americana tem sob as suas asas as potências europeias enfraquecidas e subjugadas, suas aliadas de primeira hora na opressão dos países pobres e “emergentes”. A guerra será contra estes.

Essa é a verdadeira caixa de Pandora que pode estar se abrindo.

 

¨      Ucrânia ganhar poder nuclear é 'loucura' e pode deixar o mundo à beira do desastre, diz Zakharova

Após os Estados Unidos autorizarem o uso de mísseis de longo alcance pelo regime de Kiev contra o território russo e até anunciar a entrega de minas terrestres, a Ucrânia passou a pressionar pelo fornecimento de armas nucleares, conforme a mídia norte-americana.

Para a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, o envio de armas nucleares pelo Ocidente ao regime de Vladimir Zelensky é uma "loucura" e que ainda pode levar o mundo a uma total catástrofe.

"Consideramos isso uma loucura, promovida por certas partes do Ocidente e por uma "turma" específica dentro do cenário político ucraniano. Essas ideias são incentivadas, financiadas e usadas como um fator de manipulação, às vezes até com um propósito motivacional. Não sei qual seria essa motivação — talvez um caminho para o suicídio? De qualquer forma, monitoramos tudo isso. Essa narrativa é uma ferramenta de propaganda ocidental, que periodicamente é introduzida no regime de Kiev", declarou.

Além disso, Zakharova lembrou que Kiev tenta enganar os militares e a população do país com a promessa de que o apoio do exterior "virá" em meio ao fracasso do país na operação militar especial russa. "Entendemos que isso faz parte de uma campanha de propaganda com componentes políticos e um evidente motor suicida", acrescenta.

A representante oficial pontuou ainda que na Conferência de Segurança de Munique, em fevereiro de 2022, Zelensky chegou a declarar publicamente que o país poderia revisar a renúncia às armas nucleares e passou a usar essa narrativa como "ferramenta de chantagem contra seus patrocinadores ocidentais".

"Um exemplo recente foi na coletiva de imprensa após a reunião do Conselho Europeu, em 17 de outubro deste ano, quando deixou claro que a segurança da Ucrânia só poderia ser garantida ou pela adesão à OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], ou pela posse de armas nucleares. Isso demonstra uma ideologia extremista completamente desconectada da realidade, compartilhada tanto por Zelensky quanto pelos que o apoiam. Não temos dúvidas de que o 'Ocidente coletivo' poderia permitir que a Ucrânia adquirisse armas nucleares. Nossos oponentes já demonstraram várias vezes que não se deixam limitar por tratados ou obrigações internacionais. No entanto, neste momento, não temos dados concretos para compartilhar", destacou.

<><> Mísseis dos EUA no Japão

A representante oficial da chancelaria russa também falou sobre a implantação de mísseis de médio alcance dos Estados Unidos no Japão, o que representa um risco à segurança russa. Caso a medida avance, Zakharova afirmou que o país seria forçado a "tomar as medidas apropriadas para fortalecer suas próprias capacidades de defesa".

Por fim, Zakharova afirmou que a Rússia viu como positivo o acordo de cessar-fogo entre Israel e Líbano. "Vemos positivamente quaisquer acordos, potenciais ou concluídos, que parem o volante da violência, parem o derramamento de sangue no Líbano, previnam uma expansão maior das hostilidades. Mas eles devem ser válidos".

<><> Desesperado com poderio russo, Zelensky pede ao Ocidente novo sistema de defesa aérea

Vladimir Zelensky pediu nesta quarta-feira (27) aos países ocidentais que forneçam novos sistemas modernos de defesa aérea, na sequência do lançamento de teste do míssil russo Oreshnik.

Zelensky disse que discutiu as opções de resposta aos testes do Oreshnik com o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte.

"Falei com Mark Rutte sobre os resultados da reunião do Conselho Ucrânia-OTAN de ontem [26], convocada em resposta ao uso de um novo míssil balístico pela Rússia. Discutimos a necessidade urgente de fortalecer a defesa aérea da Ucrânia, focando sistemas específicos já disponíveis nos Estados-membros da OTAN", disse Zelensky no X (antigo Twitter), sem especificar quais seriam.

Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a Ucrânia atingiu alvos nas regiões de Kursk e Bryansk, no dia 19 de novembro, usando mísseis ATACMS, dos EUA, e Storm Shadow, do Reino Unido. Putin disse que a Rússia testou com sucesso, na última quinta-feira (21), um novo míssil balístico de alcance intermediário, o Oreshnik, em resposta às ações ucranianas incentivadas pelo Ocidente. O míssil atingiu um complexo industrial e de defesa na cidade ucraniana de Dnepropetrovsk.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Correio da Cidadania

 

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