'Faíscas
não faltam': 3ª Guerra Mundial está a caminho?
Com
muitas nações nucleares, qual a possibilidade de um dos muitos conflitos atuais
resultar em uma guerra mundial? Ou já é possível dizer que já vivemos um
conflito de escala global? À Sputnik Brasil especialistas em geopolítica
destacam os caminhos que nos levarão para o possível fim da humanidade.
Ao
Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e
Marcelo Castilho, analistas debateram essas questões.
Em
entrevista ao programa, Luiz Felipe Osório, professor de relações
internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e autor do livro
"Imperialismo, Estado e Relações Internacionais", afirma que o
cenário atual é fruto de uma "crise do imperialismo".
O
imperialismo, explica o pesquisador, é uma forma de estruturação da geopolítica
internacional onde é criada no direito internacional, através dos desbalanços
de poder, gerando uma hierarquia entre as nações.
Modo
de organização política do capitalismo, o imperialismo passa por uma crise
devido à própria evolução do modo de produção capitalista, Osório explica.
"Percebemos
pelo menos duas características que vão acirrando o clima hostil que vemos no
mundo", afirma o professor. "O primeiro é uma questão da
desterritorialização da acumulação."
"E
o segundo aspecto é que há uma ausência cada vez maior de instrumentos para o
Estado intervir na economia. O Estado fica cada vez mais impotente para
corrigir distorções econômicas."
Juntos,
esses dois aspectos levam a uma financeirização das economias nacionais e a
consequente concentração de renda em determinadas camadas e determinados
países. "Todo esse cenário vai levando a um acirramento dos ânimos, a uma
crise, e que a alternativa tem sido cada vez mais beligerante."
Ao
mesmo tempo, os complexos militares-industriais se tornam uma forma dos países
realizarem uma política industrial. "Gerando cada vez mais a necessidade
de emprego dessas armas pelo mundo."
"Ainda
não estamos na Terceira Guerra Mundial, mas estamos em um clima muito
propício."
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As 'faíscas' do incêndio global
A
história revela que guerras podem acontecer por variados motivos, incluindo os
mais banais lembra Osório. "Às vezes uma faísca já é suficiente para haver
uma grande escalada. E faíscas não estão faltando por aí."
Dentre
elas, o especialista em relações internais aponta para pelo menos quatro
disputas, deflagradas ou não, que podem agir como catalisadores de uma nova
guerra mundial.
São
eles o conflito ucraniano, a escalada israelense no Oriente Médio, o uso de
Taiwan como um protetorado pelos Estados Unidos e a separação da Coreia.
Ao
último ponto, o professor sublinha que a guerra civil no país não terminou
apesar de ambos os lados estarem em um armistício há 71 anos, desde 1953.
"E essas tensões vêm aumentando nos últimos anos."
"O
tempo vai passando e nos parece que é normal haver duas Coreias, mas é uma
situação de completa artificialidade. A Coreia tem uma história milenar e nunca
foi dividida em duas a não ser de 1950 em diante."
Já
em relação a Taiwan, o professor declara que os Estados Unidos fomentam uma
postura independentista da ilha como forma provocar o governo da China, que tem
uma postura inegociável quanto sua soberania e quanto à sua política de Uma Só
China. "É um dos três pontos focais dentro do debate geopolítico
mundial."
Os
outros dois são os conflitos abertamente deflagrados: o ucraniano e o
israelense.
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Dissuasão russa foi exitosa
Em
primeira vista, o conflito ucraniano pode parecer o que apresenta maiores
riscos de escalonamento a conflito mundial, uma vez que Kiev é utilizada como
ponta de lança pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para criar
um "atoleiro" para os russos, descreve Osório.
Exemplo
disso foi a recente autorização do presidente norte-americano, Joe Biden, para
que a Ucrânia possa usar os mísseis balísticos estadunidenses em ataques no
interior da Rússia. A iniciativa, dada no crepúsculo de sua presidência,
"parece que é aquele final de festa em que o convidado insiste em não ir
embora e quer causar tumulto", diz o especialista.
No
entanto, a Rússia não se acovardou e sua resposta, com o lançamento do míssil
hipersônico Oreshnik, "deixou todo mundo, principalmente a Europa
Ocidental, muito apavorado".
"O
silêncio da grande mídia, dos grandes monopólios de mídia já assinalam como que
essa reação da Rússia foi exitosa."
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Oriente Médio e a influência de atores nucleares
Ao
Mundioka, a pesquisadora associada do Centro de Estudos Judaicos da
Universidade de São Paulo, Luciana Garcia, ressalta ainda que, dentro das
perspectivas futuras estabelecidas pelo futuro presidente dos EUA, Donald
Trump, os norte-americanos devem abandonar o conflito ucraniano. "Então a
situação tende a se acalmar."
Por
outro lado, seja pelo lado da Casa Branca, seja pelo lado do Reichstag, sede do
Parlamento alemão, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, parece
ganhar carta-branca para continuar sua política beligerante e de expansão do
conflito pelo resto do Oriente Médio.
"As
políticas dos Estados Unidos vão nesse sentido de acirrar cada vez mais o
conflito no Oriente Médio", diz a pesquisadora.
"Primeiro
que o governo de Israel é um governo extremista, com uma retórica bélica, que
nunca aceitou a existência de um Estado palestino na região."
E
também que, ao longo da história, o governo de Netanyahu fortaleceu o Hamas,
movimento palestino religioso, em detrimento da Autoridade Palestina,
representação mais secular do povo. "Então a gente tem duas autoridades
bastante problemáticas, com pouca probabilidade de diálogo."
Nesse
sentido, cada lado com sua política intransigente é apoiado por atores
nucleares, seja Israel com suas armas atômicas, os Estados Unidos e o próprio
Irã, sobre o qual a pesquisadora de estudos judaicos considera possuir
armamentos nucleares, "apesar da retórica dos Aiatolás".
"Então",
diz Garcia, "é muito preocupante o envolvimento de todos esses atores e a
forma como o conflito vem se deflagrando com o passar do tempo".
"Ainda
não estamos vivendo a Terceira Guerra, mas ela pode romper a qualquer momento
porque temos muitos atores envolvidos que detêm armas nucleares."
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O sistema imperialista
precisa de uma 3ª Guerra Mundial. Por Eduardo Vasco
Após
Olaf Scholz telefonar a Vladimir Putin (algo que nenhum líder ocidental havia
feito em cerca de dois anos), sinalizando uma rara disposição ao diálogo com os
russos, Volodimir Zelensky acusou o chanceler alemão de abrir a “caixa de
Pandora”.
A
ação de Berlim certamente não foi sem motivos. Os alemães – os grandes
prejudicados pelo confronto com Moscou – perceberam que recairão sobre eles
todas as consequências de um possível afastamento dos Estados Unidos da guerra
na Ucrânia quando Donald Trump tomar posse.
E a
ligação de Scholz para Putin (em 15/11) se deu uma semana após a eleição de
Trump (em 06/11). Dois dias depois da chamada entre os dois líderes, no dia 17,
foi revelado que Joe Biden autorizou a Ucrânia a utilizar os mísseis de longo
alcance ATACMS contra o território russo. Em seguida, os britânicos também
autorizaram o uso dos Storm Shadow por Kiev.
Os
ATACMS e os Storm Shadow, finalmente, foram assim disparados desde a Ucrânia
contra as regiões russas de Bryansk e Kursk em 19 de novembro.
Cutucou-se
o urso com uma vara curta.
A
Rússia mostrou que não está para brincadeira. No dia 21, ela revelou ao mundo o
seu poderoso míssil hipersônico de médio alcance Oreshnik, que atingiu a cidade
ucraniana de Dnipropetrovsk. O Oreshnik viaja a uma velocidade de Mach 10,
voando nada menos do que 3 km por segundo e pode atingir qualquer capital
europeia em poucos minutos.
Essa
ameaça se tornou ainda mais perigosa depois que Putin anunciou uma revisão da
doutrina militar russa, que agora permite o ataque a instalações militares de
países que autorizem o uso de suas armas para atacar a Rússia. É precisamente o
caso de EUA e Reino Unido.
Trata-se
de uma escalada sem precedentes desde o início da intervenção russa na Ucrânia,
há quase três anos. Levando em consideração que agora se abriu plenamente a
possibilidade de um confronto direto entre Moscou e a OTAN com o bombardeio de
outros países, há quem fale até mesmo no início eventual de uma 3ª Guerra
Mundial. Desse ponto de vista, as tensões são comparáveis apenas à da Crise dos
Mísseis de 1962.
O
fato de a situação ter escalado tanto menos de duas semanas após a vitória de
Trump não é coincidência. Os detentores do verdadeiro poder nos EUA, o chamado
“Deep State” (Wall Street e o complexo industrial-militar) levam muito a sério
as palavras do republicano sobre encerrar a guerra na Ucrânia e retomar as
relações com a Rússia. É uma das coisas que eles mais temem.
E o
motivo disso foi explicado com muita honestidade recentemente na MSNBC. Com a
maior naturalidade do mundo, o almirante reformado James Stavridis recordou que
os Estados Unidos investem cerca de 40 bilhões de dólares por ano no
financiamento da guerra na Ucrânia.
“Todo
esse dinheiro é pago para os contratistas de defesa dos EUA, fazendo nossa base
industrial de defesa mais forte”, disse. E completou: “essa é uma alavancagem
fantástica. Você investe uma pequena quantia de dinheiro e obtém um efeito
enorme. É um grande negócio para os EUA”.
Mais:
a manutenção da guerra na Ucrânia é fundamental para a sobrevivência do sistema
imperialista apodrecido que é liderado por Washington. Há décadas que ele vem
experimentando um declínio acentuado, que se mostrou ainda mais irreversível
nos últimos anos, com os vexames no Afeganistão, na própria Ucrânia e na
Palestina.
Esse
declínio é acompanhado de um lento despertar das nações oprimidas pelo sistema
imperialista, expresso atualmente nas fenomenais (porém, aparentemente,
irrefreáveis) articulações entre os chamados países emergentes – dos quais a
Rússia é a grande líder, junto com a China – e seus anseios por uma nova ordem
mundial “multipolar”.
Já
tendo perdido a mais importante disputa presidencial da história americana, o
Deep State (o coração da máquina política do sistema imperialista) agora não
quer perder nem um pouco de seu poder. Por isso busca uma aliança com o
trumpismo, que já foi observada nas aproximações a Trump de setores
empresariais teoricamente hostis ao então candidato. E agora a tentativa de
aliança – uma busca por controlar os instintos mais isolacionistas e
prejudiciais ao domínio dos EUA – fica nítida a partir da composição do novo
governo, que está sendo montado.
A
maioria dos membros do alto escalão que foram nomeados por Trump é formada por
elementos vinculados ao establishment neoconservador, sejam eles os próprios
falcões imperialistas ou ao menos palatáveis à máquina de dominação do Estado
americano. Pouquíssimos são aqueles que, como Tulsi Gabbard ou Robert Kennedy
Jr., geram uma aversão do Deep State.
Mas,
pelo visto, a grande burguesia estadunidense não quer esperar o dia 20 de
janeiro e pagar para ver se seus prepostos no novo governo vão trabalhar
direito. Ela pressiona desde já, esticando a corda até quase o limite, para
obrigar Trump a acompanhá-la por esse caminho tortuoso que a maioria nos EUA,
inclusive pessoas próximas a Trump, não quer trilhar.
Em
toda a história, nenhum sistema em declínio (principalmente os impérios)
aceitou o seu triste destino. As grandes mudanças sempre vieram a partir de
enormes convulsões políticas, sociais e econômicas. Aqueles que acreditam em um
mundo multipolar harmonioso em que uma superpotência, ou mesmo um sistema
inteiro, será substituída através de uma transição indolor provavelmente estão
equivocados.
O
mais provável, ainda que possa não vir imediatamente, é a guerra mundial. O
lado positivo disso (para quem acredita que sempre há algo positivo nas
desgraças) é que, diferente das duas guerras mundiais anteriores, esta não será
entre potências imperialistas pela dominação do globo. A superpotência
imperialista americana tem sob as suas asas as potências europeias
enfraquecidas e subjugadas, suas aliadas de primeira hora na opressão dos
países pobres e “emergentes”. A guerra será contra estes.
Essa
é a verdadeira caixa de Pandora que pode estar se abrindo.
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Ucrânia ganhar poder
nuclear é 'loucura' e pode deixar o mundo à beira do desastre, diz Zakharova
Após
os Estados Unidos autorizarem o uso de mísseis de longo alcance pelo regime de
Kiev contra o território russo e até anunciar a entrega de minas terrestres, a
Ucrânia passou a pressionar pelo fornecimento de armas nucleares, conforme a
mídia norte-americana.
Para
a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria
Zakharova, o envio de armas nucleares pelo Ocidente ao regime de Vladimir
Zelensky é uma "loucura" e que ainda pode levar o mundo a uma total
catástrofe.
"Consideramos
isso uma loucura, promovida por certas partes do Ocidente e por uma
"turma" específica dentro do cenário político ucraniano. Essas ideias
são incentivadas, financiadas e usadas como um fator de manipulação, às vezes
até com um propósito motivacional. Não sei qual seria essa motivação — talvez
um caminho para o suicídio? De qualquer forma, monitoramos tudo isso. Essa
narrativa é uma ferramenta de propaganda ocidental, que periodicamente é
introduzida no regime de Kiev", declarou.
Além
disso, Zakharova lembrou que Kiev tenta enganar os militares e a população do
país com a promessa de que o apoio do exterior "virá" em meio ao
fracasso do país na operação militar especial russa. "Entendemos que isso
faz parte de uma campanha de propaganda com componentes políticos e um evidente
motor suicida", acrescenta.
A
representante oficial pontuou ainda que na Conferência de Segurança de Munique,
em fevereiro de 2022, Zelensky chegou a declarar publicamente que o país
poderia revisar a renúncia às armas nucleares e passou a usar essa narrativa
como "ferramenta de chantagem contra seus patrocinadores ocidentais".
"Um
exemplo recente foi na coletiva de imprensa após a reunião do Conselho Europeu,
em 17 de outubro deste ano, quando deixou claro que a segurança da Ucrânia só
poderia ser garantida ou pela adesão à OTAN [Organização do Tratado do
Atlântico Norte], ou pela posse de armas nucleares. Isso demonstra uma
ideologia extremista completamente desconectada da realidade, compartilhada
tanto por Zelensky quanto pelos que o apoiam. Não temos dúvidas de que o
'Ocidente coletivo' poderia permitir que a Ucrânia adquirisse armas nucleares.
Nossos oponentes já demonstraram várias vezes que não se deixam limitar por
tratados ou obrigações internacionais. No entanto, neste momento, não temos
dados concretos para compartilhar", destacou.
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Mísseis dos EUA no Japão
A
representante oficial da chancelaria russa também falou sobre a implantação de
mísseis de médio alcance dos Estados Unidos no Japão, o que representa um risco
à segurança russa. Caso a medida avance, Zakharova afirmou que o país seria
forçado a "tomar as medidas apropriadas para fortalecer suas próprias
capacidades de defesa".
Por
fim, Zakharova afirmou que a Rússia viu como positivo o acordo de cessar-fogo
entre Israel e Líbano. "Vemos positivamente quaisquer acordos, potenciais
ou concluídos, que parem o volante da violência, parem o derramamento de sangue
no Líbano, previnam uma expansão maior das hostilidades. Mas eles devem ser
válidos".
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Desesperado com poderio russo, Zelensky pede ao Ocidente novo sistema de defesa
aérea
Vladimir
Zelensky pediu nesta quarta-feira (27) aos países ocidentais que forneçam novos
sistemas modernos de defesa aérea, na sequência do lançamento de teste do
míssil russo Oreshnik.
Zelensky
disse que discutiu as opções de resposta aos testes do Oreshnik com o
secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark
Rutte.
"Falei
com Mark Rutte sobre os resultados da reunião do Conselho Ucrânia-OTAN de ontem
[26], convocada em resposta ao uso de um novo míssil balístico pela Rússia.
Discutimos a necessidade urgente de fortalecer a defesa aérea da Ucrânia,
focando sistemas específicos já disponíveis nos Estados-membros da OTAN",
disse Zelensky no X (antigo Twitter), sem especificar quais seriam.
Na
semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a Ucrânia atingiu
alvos nas regiões de Kursk e Bryansk, no dia 19 de novembro, usando mísseis
ATACMS, dos EUA, e Storm Shadow, do Reino Unido. Putin disse que a Rússia
testou com sucesso, na última quinta-feira (21), um novo míssil balístico de
alcance intermediário, o Oreshnik, em resposta às ações ucranianas incentivadas
pelo Ocidente. O míssil atingiu um complexo industrial e de defesa na cidade
ucraniana de Dnepropetrovsk.
Fonte:
Sputnik Brasil/Correio da Cidadania
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