África do
Sul marcou posição como força diplomática do Sul Global em 2024, notam
analistas
Em
entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas apontam que a
África do Sul, por meio do BRICS, elevou o protagonismo no cenário externo em
2024, em uma estratégia similar à do Brasil, e destacam o que esperar da
presidência sul-africana no G20 em 2025.
A
África do Sul consolidou seu papel como voz ativa do Sul Global em 2024,
protagonizando momentos importantes na política internacional, como a denúncia
de genocídio perpetrado por Israel na Faixa de Gaza, protocolada na Corte
Internacional de Justiça (CIJ), e o apoio à proposta de paz sino-brasileira
para o conflito ucraniano.
O
país também assumiu a presidência do G20, transferida pelo Brasil, e no ano que
vem sediará a cúpula do evento.
Em
entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o
papel da África do Sul como principal força diplomática africana e o que
esperar da política externa do país em 2025.
Há
muito a África do Sul vem empenhada em promover uma nova ordem global
multipolar, conforme explica Marcos Paulo Amorim, professor substituto de
história da África da Universidade Estadual Paulista (Unesp), bolsista da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e doutor em
história social da África pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ele
frisa que foi durante a presidência da África do Sul no BRICS, em 2013, que foi
fundado o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), popularmente chamado de Banco do
BRICS, um mecanismo de enfrentamento ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário
Internacional (FMI). Foi também sob a presidência sul-africana que foi
consolidada a expansão do BRICS, em 2023, na cúpula de Joanesburgo.
"Então,
toda a África do Sul, nesse sentido, a meu ver, era bastante coerente com a sua
política internacional, e nas suas gestões do BRICS ela sempre se manteve
coerente com isso [a multipolaridade]", afirma Amorim.
Ele
destaca ainda que, em 2024, o país assinou um acordo de livre comércio com todo
o continente africano, rompendo barreiras alfandegárias do Norte ao Sul da
África, e fechou um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE), que tem
como foco tecnologias para a agroindústria, para o setor automobilístico e para
a produção de energia renovável.
"Procurou
nas suas parcerias com o golfo [Pérsico], com a China, com a Coreia, a expansão
do comércio e da tecnologia digital para o uso da mineração, [fechou] acordos
de geração de energia renovável com a Índia, acordos de livre comércio com a
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral… Realmente, [2024] foi um ano
muito positivo para a África do Sul nos acordos internacionais."
Amorim
afirma que, somado a isso, está a defesa enfática que a África do Sul passou a
fazer pela descolonização da região da Palestina, pelos povos do Saara
Ocidental e as tentativas de estabelecimento de missões de paz na Ucrânia e na
Rússia.
Ele
lembra que o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, sempre afirmou que a
África do Sul, justamente por sua experiência em violência e conflitos
vivenciados ao longo da história, tem capacidade de operar como árbitro nas
relações internacionais.
"A
África do Sul se coloca e sempre se colocou nesses espaços de justiça e da
promoção dos direitos humanos e, sobretudo, como a própria política externa e
internacional da África do Sul afirma, da descolonização do mundo. Então, sem
dúvida, isso garantiu 'musculatura' [nesse tema], e a África do Sul reconhece,
do ponto de vista internacional também, a sua autoridade para definir ou não o
que é apartheid", afirma o especialista.
Para
a presidência do G20 no ano que vem, Amorim afirma que é esperado que a África
do Sul promova maior representatividade de países africanos no cenário
internacional, continuando o esforço feito ao trazer a União Africana para o
grupo na cúpula deste ano.
"Acho
que a gente pode esperar também um foco muito maior nas questões de redução de
pobreza e desigualdade social. Também algo que a África do Sul pensa muito
ativamente, que é o desenvolvimento sustentável, um olhar mais apurado para
essa questão das mudanças climáticas. A África do Sul não exige apenas a
redução de carbono dos países em desenvolvimento. Ela força e já falou várias
vezes em criar mecanismos mais ativos de punir os países desenvolvidos pela
emissão de carbono."
África
do Sul é a maior concorrente do Brasil na liderança do Sul Global?
Amorim
afirma que a África do Sul e o Brasil são os países que mais se destacam no Sul
Global atualmente, mas por motivos diferentes. Segundo ele, enquanto a África
do Sul foca na busca por soluções tecnológicas e questões climáticas, o Brasil
mira a reforma da governança global, com foco especial nas agências reguladoras
e no sistema financeiro.
"Também
[há] o embate forte, que já vem desde o primeiro governo Lula, sobre as
reformas no Conselho de Segurança [da ONU]", afirma.
Pablo
Braga, professor de relações internacionais do Ibmec, avalia a África do Sul
mais como um ator que coopera com o Brasil na construção de uma agenda do Sul
Global do que como um concorrente.
"Essa
competição surge muito esporadicamente em alguns assuntos, mas, do ponto de
vista mais estratégico, são dois países que têm inserções internacionais não
necessariamente competitivas, principalmente porque o Brasil tem uma
perspectiva mais da América do Sul, e a África do Sul como um ator protagonista
na diplomacia do continente africano", observa.
Ele
acrescenta que a denúncia feita à CIJ sobre o genocídio em Gaza complementa a
agenda do Brasil, que também é crítico das ações de Israel no enclave.
"Então
a postura da África do Sul ganha um protagonismo porque é um país que procura
muito relacionar essa denúncia à própria história sul-africana de uma forte
ligação com a resistência palestina, desde a época do apartheid […] mas isso eu
não vejo como algo que contraria os interesses brasileiros. Pelo contrário,
acho que dá um lastro de juridicidade a essa posição do Brasil que, apesar de
não ter feito a denúncia, certamente apoia diplomaticamente ela."
Braga
destaca ainda que a África do Sul tem como estratégia usar o BRICS como
plataforma para projetar sua influência como liderança do Sul Global,
"estratégia que, inclusive, se assemelha muito à do Brasil".
"A
África do Sul aparece muito como um país que acaba meio que capitaneando as
demandas do continente africano, ou tenta se colocar como um representante
legítimo das aspirações desse continente no mundo."
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Presidente eleito do
Uruguai está 'otimista' em relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia
O
presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, afirmou nesta sexta-feira (29),
após uma reunião com o homólogo Luiz Inácio Lula da Silva, que está
"otimista" quanto ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE).
Discutido há décadas, o principal entrave para a conclusão das negociações é a
França, contrária por conta da pressão de agricultores.
"Na
próxima semana será realizada uma cúpula no Uruguai, onde um dos temas centrais
será a relação e os avanços na relação entre Mercosul e União Europeia. Eu
estou convencido de que a maior parte da reunião foi dedicada a analisar o
estado da situação e as possibilidades que temos. Como conclusão, somos
otimistas. Como Mercosul e como região, somos otimistas quanto à possibilidade
de continuar estreitando laços com outras regiões e, fundamentalmente, com a
Europa", afirmou Orsi em uma coletiva de imprensa.
A
reunião entre Orsi e Lula aconteceu em Brasília. O presidente uruguaio eleito
disse que foram analisadas as dificuldades históricas do Mercosul, mas garantiu
que o intuito de seu governo será "ser protagonista" no bloco e
"não perder a oportunidade em um mundo tão imprevisível e mutável".
"O
mundo de hoje nos exige estar muito atentos, e as relações entre os países da
região precisam ser mais fortes do que nunca, além dos governos ou dos
partidos", refletiu.
Orsi
explicou que, na reunião com Lula, foi feita uma atualização sobre os diversos
temas que envolvem os dois países e a região.
"Não
me resta outra coisa senão agradecer a hospitalidade de toda a sua equipe e,
claro, permanecemos em contato permanente para continuar aprofundando tarefas e
realizações que o presidente já havia se comprometido e que estão avançando,
relacionadas às nossas infraestruturas ligadas ao leste do Uruguai e ao Sul do
Brasil", concluiu.
O
presidente eleito viajou acompanhado pelo designado secretário da Presidência,
Alejandro Sánchez, o próximo ministro da Economia e Finanças, Gabriel Oddone, e
Álvaro Padrón, assessor em assuntos internacionais e membro do Instituto Lula,
uma organização sem fins lucrativos criada para ampliar a cooperação entre
Brasil, América Latina e África.
A
equipe de imprensa de Orsi destacou em uma mensagem aos meios de comunicação
que o presidente brasileiro expressou felicidade pela vitória do candidato da
Frente Ampla nas eleições e afirmou que Lula demonstrou "a convicção de
que o Uruguai é muito importante para o Brasil".
Mais
cedo, o doutor em relações internacionais Ignacio Bartesaghi disse à Sputnik
que o futuro governo uruguaio envia um sinal político à América Latina ao
escolher Lula como o primeiro presidente com quem se reunir internacionalmente
após sua vitória.
Já
o ex-vice-chanceler Ariel Bergamino (2017–2020) e o integrante da comissão de
Relações Exteriores da Frente Ampla, Sebastian Hagobian, opinaram à Sputnik que
Orsi apostará em uma aliança com o presidente do Brasil, que, por sua
proximidade ideológica, aparece como um parceiro-chave para o futuro governo
uruguaio.
No
domingo, Orsi venceu o segundo turno das eleições no Uruguai com mais de 49%
dos votos, contra 46% do oficialista Álvaro Delgado, candidato por uma coalizão
de partidos de centro-direita. O político assumirá o cargo em 1º de março de
2025.
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Bolívia vai assinar acordo com a China para exportar 9 mil toneladas de chia
por ano
A
Bolívia planeja assinar um acordo com a China para exportar cerca de 9 mil
toneladas por ano de chia — uma semente comestível rica em potássio e cálcio —,
confirmou o governo boliviano nesta quinta-feira (28).
"Na
sexta-feira (29) será assinado o protocolo de exportação de chia. A ministra
das Relações Exteriores, Celinda Sosa, será a signatária em nome da Bolívia e a
Alfândega Chinesa será a contraparte", explicou Hugo Siles, embaixador
boliviano em Pequim, durante entrevista ao canal estatal Bolivia TV.
A
Bolívia, atualmente, já vende cereais como quinoa, além de carne bovina e soja
para a China, e espera-se que a gama de produtos de exportação possa ser
ampliada.
"Há
uma expectativa muito grande da vinda da ministra das Relações Exteriores da
Bolívia a Pequim, o que significa um passo histórico para viabilizar o
protocolo de exportação de chia e viabilizar o imenso mercado que a China
possui", afirmou o diplomata.
Segundo
estimativas do embaixador boliviano, a China pode comprar 9 mil toneladas de
chia por ano.
"O
mercado chinês representa cerca de 9 mil toneladas por ano. O presidente Luis
Arce instruiu priorizar a autorização dos protocolos de exportação; neste caso,
o processo estava demorando por questões fitossanitárias", indicou.
Superalimentos
como chia e quinoa contêm maiores quantidades de nutrientes – como vitaminas,
minerais e antioxidantes – do que outros alimentos comuns, segundo a autoridade
boliviana.
Em
relação ao comércio internacional, em 2022 a Bolívia exportou mercadorias para
a China por mais de US$ 800 milhões (R$ 4,8 bilhões) e importou bens no valor
de mais de US$ 2,5 bilhões (R$ 15 bilhões), segundo dados do governo boliviano.
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Sahel: Chade rescinde
acordo de cooperação em defesa com a França
O
governo do Chade anunciou nesta quinta-feira (28) o fim do acordo de cooperação
no setor de defesa com a França, informou a chancelaria. No fim do ano passado,
Paris chegou a ter as Forças Armadas expulsas do Níger, movimento que foi
seguido por outros vizinhos.
"O
governo da República do Chade informa a comunidade nacional e internacional
sobre a rescisão do acordo de cooperação em defesa assinado em 5 de setembro de
2019 com a República Francesa", destaca o comunicado do ministério,
divulgado em suas redes sociais.
As
autoridades agradeceram à França pela cooperação e se declararam dispostas a
continuar um diálogo construtivo em busca de novas formas de parceria,
acrescenta o texto.
Além
disso, o comunicado sublinha que a decisão não coloca em dúvida as relações
históricas e os laços de amizade entre os dois países, apesar da suspensão da
parceria.
De
acordo com a nota, o Chade permanece comprometido em manter acordos
construtivos com a França em outras áreas de interesse comum, em benefício de
ambos os povos.
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Países do Sahel e o terrorismo
Os
países que fazem parte do Sahel, região africana que também compreende os
Camarões, Níger e Nigéria, enfrentam ataques do Boko Haram – o grupo é
considerado terrorista, sendo proibido na Rússia e em muitos outros países. Os
atentados do grupo contra civis, inclusive por meio do uso de crianças-bomba,
continuam sendo uma grande preocupação para o Chade.
A
adesão do Chade à Aliança dos Estados do Sahel (AES) "seria uma das
melhores alternativas para o país lidar com a eterna preocupação com a
segurança", disse Youssouf Adam Abdallah, especialista chadiano em
segurança internacional, defesa e cooperação africana, em uma entrevista à
Sputnik na última semana.
Ele
observou que a força militar conjunta para combater grupos terroristas, criada
pelo Níger, Mali e Burkina Faso em março, poderia ajudar ainda mais o Chade a
resolver os conflitos regionais.
Dado
que o país já é membro de várias outras confederações de segurança com o Mali,
Níger e Burkina Faso, "é, portanto, do interesse do Chade e do povo
chadiano que o Chade se junte à Força AES", afirmou o especialista.
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Lavrov chama
diretora-geral da UNESCO de cúmplice da guerra de informação
A
diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), Audrey Azoulay, é cúmplice da guerra de
informação contra a Rússia, afirmou o ministro das Relações Exteriores da
Rússia, Sergei Lavrov.
Anteriormente,
foi publicado um relatório no site da UNESCO, no qual, no Dia Internacional
pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, a organização conclama
todos os países a cumprirem seus compromissos para acabar com a impunidade pelo
assassinato de jornalistas.
De
acordo com o novo relatório da UNESCO, a impunidade continua alta, chegando a
85%. Esse número caiu apenas 4% em seis anos.
Durante
uma mesa redonda de embaixadores sobre a resolução da situação na Ucrânia, o
ministro Lavrov recordou um escândalo recente relacionado a esse relatório.
"Não
há uma única menção aos fatos bem conhecidos das mortes de jornalistas russos
nesse relatório, de modo que a sra. Azoulay, diretora-geral da UNESCO, é
cúmplice direta da guerra de informação contra a Federação da Rússia, contra a
verdade", afirmou ele.
Ele
acrescentou que o front midiático ainda tem sido uma parte importante da
campanha agressiva travada pelo Ocidente contra a Rússia e outros Estados da
maioria mundial que adotam uma linha independente em assuntos internos e
externos.
O
grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, por sua vez,
enviou uma carta à chefe da UNESCO em que pedia que a organização parasse de
silenciar as violações dos direitos dos jornalistas russos.
A
carta foi escrita por causa da ausência de qualquer menção no relatório
preliminar da UNESCO sobre a segurança dos jornalistas de uma série de mortes e
ferimentos de representantes da mídia russa.
Contudo,
Lavrov assegurou que nenhuma guerra de informação, mentiras e notícias falsas
vão ajudar Kiev a vencer, com todos os objetivos da operação militar especial
sendo finalmente realizados.
"Como
o presidente [russo Vladimir] Putin tem enfatizado repetidamente, sempre damos
preferência a meios pacíficos, políticos e diplomáticos, mas qualquer solução
para o conflito ucraniano não será duradoura e de longo prazo se suas causas
fundamentais não forem eliminadas", observou.
Essas
causas incluem, entre outras coisas, as tentativas de fazer aderir a Ucrânia à
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a violação sistemática dos
direitos das pessoas de língua russa na Ucrânia.
O
ministro chamou a atenção para uma iniciativa do líder chinês Xi Jinping
publicada em fevereiro de 2023 sobre segurança global, sugerindo que todos os
conflitos devem ser resolvidos com a eliminação de suas causas principais.
Fonte:
Sputnik Brasil
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