Arrocho do
governo Lula deverá chegar a R$ 70 bi em
2 anos, com limitação do abono e imposto para ricos
O
pacote de contenção de gastos do governo Luiz Inácio Lula da Silva deverá prever uma economia de R$ 70 bilhões nas
contas públicas em 2025 e 2026.
A proposta será anunciada na
noite desta quarta-feira (27) em um pronunciamento em rede nacional do ministro
da Fazenda, Fernando Haddad.
Na
gravação, Haddad não deve entrar num detalhamento profundo das medidas, que
serão esmiuçadas amanhã, em entrevista coletiva. O ministro, no entanto, deve
apresentar uma ideia geral do pacote e antecipar alguns pontos fundamentais.
As
duas medidas vista pelo governo como mais impopulares para os eleitores de Lula
têm relação com o reajuste do salário mínimo e o abono salarial (veja mais
abaixo). Por outro lado, alguns tópicos têm apelo popular, no entendimento do
governo, como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda.
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Salário mínimo
O
reajuste do salário mínimo estará limitado a 2,5% ao ano, além da inflação. Na
regra de hoje de reajuste, o aumento é calculado considerando o INPC de 12
meses (dezembro do ano anterior a novembro do ano vigente) somado ao aumento do
PIB do ano retrasado.
Isso
quer dizer que, se o PIB neste e nos próximos anos crescer mais de 2,5%, o
reajuste com as novas regras será menor do que o previsto atualmente.
Outra
medida impopular será uma restrição maior ao benefício do abono salarial, uma
espécie de 14° salário pago a trabalhadores que recebem até dois salários
mínimos por mês - R$ 2.824. A proposta que o governo vai enviar ao Congresso
autoriza o abono para quem recebe até R$ 2.640.
Além
disso, o pacote prevê que, num prazo de alguns anos, o abono seja pago para
quem receber até um salário mínimo e meio por mês.
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Faixa de isenção do IR
Temendo
a reação da própria base e do seu eleitorado mais pobre, Lula determinou a
Haddad a inclusão de medidas para compensar os pontos impopulares. O governo,
portanto, vai encaminhar ao Congresso uma proposta para dar isenção no Imposto
de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
A
medida foi uma das principais promessas de campanha, mas a equipe econômica
sempre encontrou dificuldades para viabilizá-la. O impacto nas contas públicas
deve ficar entre R$ 35 bilhões a R$ 50 bilhões. Para compensar a perda de
arrecadação, o governo irá propor o aumento de imposto para quem recebe mais de
R$ 50 mil por mês.
Haddad
não deve mencionar no pronunciamento como será feita essa taxação, mas, segundo
fontes do Planalto, deverá ser em cima de lucros e dividendos.
O
ministro vai reforçar ainda a necessidade de combater fraudes na concessão de
benefícios sociais, como o Bolsa Família e o BPC (Benefício de Prestação
Continuada). Segundo auxiliares de Lula, o governo fará um chamado para que os
beneficiários atualizem os seus cadastros, caso não tenham feito nos últimos 24
meses.
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Aposentadoria de militares
Haddad
também irá mencionar as medidas que alteram as regras da aposentadoria dos
militares. O governo vai estabelecer uma idade mínima, que deve ser de 55 anos,
com uma regra de transição, que prevê o escalonamento das aposentadorias. Outra
medida é acabar com as pensões por morte ficta, quando a família de um militar
expulso das corporações recebe uma pensão.
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Supersalários
O
ministro vai abordar no pronunciamento o fim dos supersalários do funcionalismo
público. Esse ponto estará no conjunto de propostas que o governo enviará ao
Congresso. O pacote vai envolver ao menos uma Proposta de Emenda Constitucional
(PEC), um Projeto de Lei Complementar (PLP) e outros projetos de lei.
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Deputados de extrema
direita recolhem assinaturas para PEC de
corte de gastos alternativa à do governo, com mais arrocho
Os
deputados Pedro Paulo (PSD-RJ), Kim Kataguiri (União-SP) e Julio Lopes (PP-RJ)
começaram nesta quarta-feira a recolher assinaturas para protocolar uma PEC “alternativa” ao corte de gastos do governo.
Para
ser apresentada formalmente, são necessárias pelo menos 171 assinaturas dos 513
deputados.
A
proposta prevê uma trava para os ganhos acima do teto do funcionalismo público,
o que não existe atualmente, e propõe desvincular benefícios previdenciários do
salário mínimo.
“Esta
PEC da soberania e do equilíbrio fiscal será em algum momento do Brasil
implementada. [...] Quanto mais tempo levarmos para implementar isso, mais
grave serão as medidas necessárias para sanear o país”, afirmou Lopes.
Segundo
os parlamentares, o texto foi construído após a apresentação de uma projeção
feita por servidores da Câmara sobre o crescimento das despesas no Orçamento da
União ao longo dos próximos anos.
“A
gente precisa estabilizar a dívida pública, que cresceu desde dezembro de 2022
até agora, mais 7% por cento do PIB. Nós precisamos fazer com que a política
monetária dialogue com a política fiscal”, disse Pedro Paulo.
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Supersalários
Hoje,
servidores públicos não podem ter vencimentos acima do salário de um ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF), que é de R$ 44.008,52.
Na
prática, no entanto, esse teto é extrapolado, porque não são computadas as
parcelas de caráter indenizatório.
A
PEC limita o somatório de todas as parcelas de caráter indenizatório a 30% do
subsídio mensal de magistrados do STF e proíbe o pagamento retroativo dessas
parcelas.
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Emendas parlamentares
O
texto propõe uma correção do valor total previsto para emendas parlamentares
correspondente ao percentual máximo das despesas primárias discricionárias
(não obrigatórias) do Poder Executivo.
Esse
percentual, pelo projeto, seria definido em lei complementar, que deve ser
aprovada pelo Congresso.
Nesta
terça-feira, no entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma lei que já prevê regras para a correção do valor
anual das emendas parlamentares.
Em
acordo costurado com o Supremo, a regra prevê que o limite das emendas
individuais e de bancadas estaduais deve seguir as regras do Novo Arcabouço
Fiscal a partir de 2026. As emendas de comissão serão corrigidas pela inflação.
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Piso da saúde, educação e Fundeb
A
PEC revoga o dispositivo que obriga a União a aplicar, no mínimo, 15% da
receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro em ações e serviços
públicos de saúde.
Conforme
o texto, o mínimo que a União deverá aplicar em saúde deverá ser definido em
lei complementar.
O
texto retira ainda a obrigatoriedade da União de aplicar pelo menos 18% do
arrecadado com impostos em educação e define que o patamar mínimo seja definido
por projeto de lei complementar.
A
complementação mínima da União para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb),
atualmente em 23% do fundo, também deixa de existir e passa a ser definida por
lei complementar.
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Salário mínimo
O
texto discutido pelos parlamentares prevê a criação de uma câmara setorial
permanente para formular uma política de valorização do salário mínimo a fim de
alcançar um "desenvolvimento socioeconômico de longo prazo".
Também
estabelece que o mínimo será corrigido somente pela inflação entre 2026 e
2031. Após esse período, o presidente da República poderá enviar um
projeto para revisar os mecanismos de correção, seguindo as regras do arcabouço
fiscal.
A
proposta diverge do que é atualmente discutido pela equipe econômica do governo
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O
Planalto avalia vincular a correção do salário mínimo à inflação mais a
variação fiscal do arcabouço – entre 0,6% e 2,5%.
Um
dos autores, o deputado Kim Kataguiri afirma que, se levada à frente, a
proposta do governo pode tornar inviável, até 2028, o pagamento da
aposentadoria via Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do Benefício de
Prestação Continuada (BPC), atualmente vinculados ao salário mínimo.
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Previdência e BPC
O
texto desvincula do salário mínimo benefícios previdenciários do Regime Geral
de Previdência (RGPS), BPC e abono salarial.
Atualmente,
a Constituição garante que nenhum benefício que substitua o salário de
contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior
ao salário mínimo.
No
caso do BPC, a Carta Magna determina o pagamento de um salário mínimo de
benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de se manter ou ser mantido por sua família.
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Corte de gastos na
Defesa não afeta Lula, pois militares têm 'gordura' para queimar, diz analista
Em
entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam se a inclusão da Defesa nas
medidas de corte de gastos pode afetar a relação dos militares com Lula,
especialmente após vir à tona o plano de assassinato do presidente, envolvendo
generais da reserva.
Em
sua meta para zerar o déficit fiscal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
solicitou ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a inclusão do Ministério da
Defesa nas medidas de corte de gastos.
Na
mira do governo está a previdência dos militares, que no ano passado, segundo
relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), causou um déficit de R$ 49,7
bilhões aos cofres públicos.
As
mudanças se dariam em quatro eixos: aumentar de 50 para 55 anos a idade mínima
para um militar ser transferido para a reserva; banir a chamada morte ficta,
quando um militar que, por algum motivo, foi expulso da corporação é equiparado
a um militar morto, podendo assim manter o pagamento de pensão a seus
familiares — nesses casos, a morte ficta seria substituída pelo auxílio
reclusão; restringir a transferência de pensão, limitando o benefício a
cônjuges e filhos, e proibindo a transferência aos pais ou irmãos; e levar os
militares a contribuírem com 3,5% de suas remunerações para o Fundo de Saúde
até janeiro de 2026.
Também
estão sendo discutidas formas de alterar a pensão vitalícia concedida a filhas
de militares. O benefício foi extinto em 2001, sendo mantido a militares que
entraram na corporação até o ano 2000.
As
medidas ainda estão sendo discutidas entre as pastas da Fazenda e da Defesa,
mas os militares já sinalizaram que aceitariam mudanças em alguns benefícios.
Em
entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam como as mudanças propostas
podem afetar a relação de Lula com militares, sobretudo após a descoberta do
plano de assassinato, envolvendo militares, de Lula, seu vice, Geraldo Alckmin,
e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Marcus
Ianoni, chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal
Fluminense (UFF), considera que as mudanças não vão acirrar a relação do
governo com as Forças Armadas, pois são medidas que atingirão vários setores.
"E
no caso dos militares, [as medidas de corte] estão sendo negociadas com eles
pelo ministro da Defesa", avalia.
Por
sua vez, Adriana Marques, professora do curso de defesa e gestão estratégica
internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora
do Observatório do Ministério da Defesa (OMD) e do Laboratório de Estudos de
Segurança e Defesa (LESD), afirma que "as Forças Amadas foram muito
eficientes no sentido de garantir o máximo de benesses financeiras que puderam
acumular durante o governo [do ex-presidente Jair] Bolsonaro".
"Então
eles têm bastante 'gordura' para queimar. Pelo que eu vi até agora das
sugestões da contribuição, do sacrifício que eles dizem que vão dar para esse
ajuste fiscal do governo, as coisas que eles concordaram em cortar, na verdade,
são coisas que não deviam existir, que nenhuma outra profissão, nenhum outro
tipo de servidor público tem esse tipo de benefício. Por exemplo, o fato de a
pessoa ser expulsa da corporação e a sua família continuar recebendo um salário
que é muito maior do que o da maioria da população brasileira", observa.
Nesse
contexto, ela acrescenta que os militares vão manter muitos benefícios, abrindo
mão daqueles "que chocam mais a opinião pública", por isso a relação
com Lula não deve ser impactada.
"Isso
não vai impactar em nada na relação com Lula. Muito pelo contrário, eles vão
dizer que estão fazendo a parte deles, sem ter nenhuma perda salarial, nenhuma
perda significativa, ao passo que os outros servidores públicos todos foram
penalizados nos últimos anos com as reformas previdenciárias."
Além
do corte de gastos, o governo Lula também mira cessar a politização ideológica
nas Forças Armadas. Questionado sobre o fato, Ianoni afirma que a polarização
política promovida pela direita radical "se caracterizou, entre outros
elementos, pela demanda por uma maior participação militar na política".
Nesse contexto, os militares ganharam espaço na política impulsionados pela
retórica anticomunista, que "serviu de ideologia para esse apelo".
"Os
militares ganharam espaço na política sobretudo desde 2018, quando chegaram a
pressionar para que Lula não recebesse habeas corpus e, portanto, ficasse
impedido de concorrer às eleições presidenciais daquele ano. Em seguida, a
partir de 2019, muitos militares da reserva e até da ativa participaram no
governo Bolsonaro."
Ele
enfatiza que para frear a politização ideológica das Forças Armadas o governo
Lula formulou um projeto propondo que o militar da ativa que quiser disputar
eleições ou participar de algum cargo político, como ministro, por exemplo,
terá que ir para a reserva ou se desligar das Forças Armadas. Mas esse projeto,
acrescenta o especialista, "está parado, não foi para frente".
"Porém,
não cabe apenas ao Executivo frear a politização ideológica das Forças Armadas,
mas também ao Legislativo e ao Judiciário. Vejo que quem mais está tentando
enfrentar o ativismo político antidemocrático de alguns militares é o STF,
sobretudo agora com o relatório enviado a esse poder pela Polícia Federal, cujo
sigilo foi retirado e o documento de mais de 800 páginas foi enviado à PGR,
para que a denúncia dos indiciados seja ou não feita", afirma Ianoni.
Adriana
Marques afirma que essa tendência é uma conjunção de fatores, que remete ao
histórico de intervenções militares na política brasileira e à ascensão a
direita radical no Brasil e no mundo. Ela cita como exemplo o caso dos EUA,
onde militares, para assumir uma função pública, tinham que estar afastados da
profissão, aposentados, por pelo menos dez anos.
"Aí
você tem o governo [de Donald] Trump trazendo para o primeiro escalão do seu
governo uma série de generais da reserva, obviamente o que fez com que os
militares brasileiros se sentissem legitimados para também, com muita
desenvoltura, assumir cargos no governo, inclusive cargos para os quais eles
não tinham a menor qualificação. Talvez o exemplo mais lapidar seja o do
General Pazuello, que nunca tinha ouvido falar do SUS, mas achou que não tinha
problema nenhum, era competente para assumir o Ministério da Saúde. Ele e uma
série de outros militares que estão aí no inquérito do golpe."
Em
dezembro de 2022, antes da posse de Lula, mas já anunciado como futuro ministro
da Defesa, José Múcio Monteiro apontou a necessidade de despolitizar as Forças
Armadas. Para Marques, a tarefa que Lula passou para Múcio é de apaziguamento,
de acomodação do governo com as Forças Armadas, não de despolitização.
"Pelo
contrário, uma frase que ele [Múcio] já repetiu várias vezes, de que nós
devemos a nossa democracia às Forças Armadas, vai na contramão da ideia de
despolitização. Ele está apaziguando, acomodando. O que é uma estratégia que
foi utilizada por presidentes durante toda a Nova República, não tem nada de
novo nisso. O presidente Lula 3 está repetindo o Lula 1 e 2, que apaziguou
também [a relação] com os militares. Nós já vimos no que isso deu. A gente tem
800 e tantas páginas de argumentos para mostrar que essa política de
apaziguamento, de pacificação, de acomodacionismo, deu muito errado. Acho que
vale uma reflexão para os próximos governos, porque a gente não pode manter
esse mesmo padrão de relações civis-militares se a gente quiser ter uma
democracia estabelecida de fato no Brasil."
Fonte:
g1/Sputnik Brasil
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