sábado, 30 de novembro de 2024

Moisés Mendes: Renato Portaluppi é a face do ativismo de extrema direita infiltrado no futebol

Tem pouca ou nenhuma relação com as coisas do futebol a ameaça que o técnico do Grêmio dirigiu a jornalistas, na quarta-feira. Mas com certeza há conexão da ameaça com as mais cruéis práticas de facções criminosas e da extrema direita bolsonarista.

Renato Portaluppi disse o seguinte em Belo Horizonte, em entrevista coletiva depois do jogo em que o Grêmio empatou com o Cruzeiro em 1 a 1, a respeito de queixas dele e da direção sobre o que seriam ‘notícias mentirosas’ divulgadas por repórteres que cobrem o clube:

"Se continuarem mentindo, eu vou dar os nomes aos bois. Eu vou atacar. Vou chamar de mentiroso. Vou chamar de covardes, que estão se aproveitando da situação do Grêmio. Vocês também têm família, vocês também têm filhos no colégio, vocês também andam por aí. E o torcedor conhece alguns de vocês. Vocês querem que a gente passe por dificuldades, alguns de vocês vão começar a passar também? Eu não tenho medo de ninguém da imprensa".

O trecho é reproduzido na íntegra, para que não falem de frases fora do contexto. Esse é o contexto. Um ativista bolsonarista assumido, irritado com jornalistas que não o bajulam, volta a exibir sua condição de ativista e ameaça os filhos dos repórteres.

Nenhuma surpresa. Portaluppi é o intocável de um clube que assumiu suas feições supremacistas, desde o momento em que decidiu transformar o sujeito em mito local. Em julho de 2019, ele disse em entrevista ao falar de Bolsonaro:

"Votei nele. É meu presidente. O Bolsonaro e o Sergio Moro são pessoas do bem que querem o bem do Brasil. Na minha opinião, quem é contra esses caras é contra o crescimento do Brasil”.

Achou-se no direito de julgar: quem não torcesse pelos times do extremismo e do lavajatismo estava contra o Brasil. Em setembro de 2022, em vídeo, reafirmou que votaria de novo em Bolsonaro:

“Não podemos deixar que o Brasil caia no abismo, como os nossos países vizinhos. Então, no próximo domingo, tem que ser 22. Tem que ser Bolsonaro, para que nosso país continue em boas mãos. Deus, pátria e família".

Dividiu a torcida do Grêmio, mas seguiu em frente, sempre com declarações que, no tom de voz e até no sotaque acariocado, imitavam Bolsonaro. A fala de quarta-feira, que deve ter sido bem acolhida por milicianos, e não por torcedores, tem todos os ingredientes dessa imitação.

Por que tanta desenvoltura? Porque o Grêmio o transformou em estátua. Chegou a mandá-lo embora e a contratar Roger Machado, no final de 2022, mas logo se desfez do hoje técnico do Internacional. Declarações antirracistas de Roger causavam desconforto no clube que mostra poucos negros nas arquibancadas da sua arena.

Esse Grêmio antes aberto às diferenças, que teve a primeira torcida organizada gay do mundo, entre 1977 e 1983, está contaminado pelo bolsonarismo. Sempre sob a liderança de Portaluppi, que retornou no final do mesmo ano em que demitiram Roger, pouco antes da eleição em que Lula derrotou Bolsonaro.

Portaluppi passou a impor todas as suas vontades e a mandar no clube. Queria ser o técnico da Seleção, com o aval de Bolsonaro. Deu tudo errado. Sua performance recente é de fracassos, com um período de exceção de vitórias asseguradas pelo craque uruguaio Luis Suárez em 2023.

O técnico que não estuda nem treina e empurra o time para a segunda divisão é um caso exemplar das figuras e das situações que estão muito além do futebol e das questões clubísticas.

Portaluppi é a expressão da tentativa de sobrevivência da retórica e das ações identificadas com o extremismo bolsonarista em todas as áreas. Há Portaluppis por toda parte.

Estão vivos e atuantes e ainda desfrutam do sentimento de que a impunidade dos seus líderes irá prevalecer. Mas sabem que não dispõem mais do poder desfrutado quando eram amigos de Bolsonaro e de seus cúmplices agora indiciados como golpistas.

Os estragos que Portaluppi causou à imagem do Grêmio ultrapassam os limites do clube. São equivalentes, no ambiente do futebol e mesmo fora dele, aos danos causados pelo bolsonarismo ao Brasil.

 

•                        Bolsonarista tem nova prisão decretada após quebrar tornozeleira e desafiar Moraes

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou nesta quarta-feira (27) a prisão do bolsonarista radical Roque Saldanha, radialista de Governador Valadares (MG), por violação de medidas cautelares.

Na terça-feira (26), Saldanha divulgou um vídeo nas redes sociais anunciando que quebrou sua tornozeleira eletrônica e que não usaria mais o aparelho. Ele ainda xinga Alexandre de Moraes com termos de baixo calão e desafia o ministro.

Roque Saldanha foi preso pela Polícia Federal em janeiro de 2023 no âmbito das operações da Polícia Federal (PF) contra os atos golpistas e ficou 10 dias detidos, sendo liberado com a condição de cumprir medidas restritivas, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica. Ele fazia publicações diárias nas redes sociais colocando em xeque o sistema eleitoral brasileiro, incentivava atos contra a democracia e ameaçava resolver tudo "na bala".

No vídeo que motivou a nova ordem de prisão, Saldanha mostra a tornozeleira eletrônica arrebentada e promete não cumprir determinações da Justiça, desferindo ofensas a Moraes.

“O senhor está sabendo que eu não posso usar isso mais [a tornozeleira] porque minha perna 'tava' toda ‘comida’, tem fotos e vídeos protocolados no processo. Estado Democrático de Direito do cu do senhor, da caçapa do seu cu, entendeu. Pega essa tornozeleira e abre seu cu e enfia lá dentro, rapaz. Eu sou homem. Se você quiser conversar só eu e o senhor, nós dois juntos. Você confia muito na Federal. Inclusive, esses delegados tem que tomar vergonha na cara, porque ficam trabalhando em prol de bandido do STF”, disparou o bolsonarista.

Moraes afirma, na nova ordem de prisão expedida contra Roque Saldanha, que o bolsonarista cometeu oito irregularidades referentes ao uso da tornozeleira eletrônica entre abril e maio deste ano. Neste momento, o bolsonarista é considerado foragido pela polícia.

 

•                        A pergunta de Moraes que fez Mauro Cid cair no choro em depoimento

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teria chorado diante de Alexandre de Moraes durante o último depoimento que prestou ao ministro, em 21 de novembro. As informações são da jornalista Juliana Dal Piva, do site "ICL Notícias".

Cid foi convocado a prestar um novo depoimento a Moraes após a operação da Polícia Federal (PF) do dia 19 de novembro que prendeu quatro militares das Forças Especiais (kids pretos) do Exército e um agente da própria PF envolvidos em um plano golpista para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio ministro do STF.

O ex-ajudante de ordens, que foi preso em maio de 2023 e solto cerca de um ano depois após firmar um acordo de delação premiada, corria o risco de perder o acordo de delação após o novo depoimento e voltar para a prisão. Isso porque Moraes e a PF desconfiavam que Cid sabia da trama de militares para assassinar autoridades e que teria omitido o fato em suas outras oitivas. Acontece que o plano golpista foi descoberto pelos investigadores em mensagens encontradas no celular do próprio tenente-coronel.

Durante mais de três horas de depoimento a Moraes, Mauro Cid, para manter seu acordo de delação premiada e não voltar à prisão, teria confirmado que sabia da trama de golpe envolvendo assassinato do presidente, vice e ministro do STF, e teria revelado, tal como já desconfiava a PF, que tanto Braga Netto quanto Bolsonaro sabiam e endossavam o plano criminoso.

Segundo a jornalista Juliana Dal Piva, foi no momento em que Moraes o confrontou com o plano de assassinatos que Mauro Cid caiu no choro.

Segundo investigadores da PF, o plano para golpista que previa assassinar Lula, Alckmin e Moraes teria sido discutido por militares na casa de Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro na eleição presidencial de 2022, em novembro daquele ano. Naquele mesmo mês, um arquivo com o detalhamento da "operação" golpista teria sido impresso no Palácio do Planalto e, depois, levado ao Palácio da Alvorada, residência da presidência da República que, à época, era ocupada por Bolsonaro. O relatório final da PF sobre caso dá conta, ainda, de que Braga Netto aprovou o plano e que Bolsonaro tinha conhecimento do mesmo.

•                        Bolsonaro indiciado

O relatório final da Polícia Federal (PF), encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR) propondo o indiciamento de Jair Bolsonaro e de outras 37 pessoas, traz com detalhes o envolvimento do ex-presidente na trama golpista.

A investigação da PF é taxativa no documento. "Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", diz trecho do relatório, sendo preservada aqui a grafia original.

O arcabouço probatório colhido pelos investigadores demonstra que o grupo investigado e liderado por Bolsonaro "criou, desenvolveu e disseminou a narrativa falsa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do País desde o ano de 2019". O objetivo seria sedimentar na população a falsa realidade de fraude eleitoral para que dois objetivos fossem alcançados posteriormente: "primeiro, não ser interpretada como um possível ato casuístico em caso de derrota eleitoral e, segundo e mais relevante, ser utilizada como fundamento para os atos que se sucederam após a derrota do então candidato".

 

•                        Bolsonarista perde cargo de confiança e processa Correios por "danos morais”

Quando Fabiano Silva dos Santos assumiu a presidência dos Correios, recebeu do governo anterior uma empresa devastada pelo assédio moral. Uma de suas primeiras ações foi criar uma série de medidas contra a prática, que se alastrava por todos os seus setores.

Nesta semana, a juíza Idalia Rosa da Silva, da 14ª Vara do Trabalho de Brasília, condenou a estatal a pagar uma indenização de R$ 100 mil a um funcionário que alega ter sofrido assédio moral. O reclamante, que é Agente de Correios – Atendente Comercial, ocupava no governo de Jair Bolsonaro (PL) posto de confiança e no início da atual gestão estava na função de Superintendente Executivo, também cargo de confiança. Ele afirma ter sido realocado sem ser avisado para uma agência em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. O sujeito diz também que a transferência se deu em retaliação.

O presidente da estatal respondeu à Fórum:

"Repúdio com veemência a tentativa de me vincular a qualquer ato de perseguição ou assédio. Nossa gestão tem compromisso com o corpo funcional da empresa. Devolvemos aos trabalhadores dos Correios mais de 40 cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho que foram retirados pela gestão bolsonarista. Na nossa gestão impera o diálogo, a inclusão e o combate a qualquer tipo de assédio e discriminação. Esse é o nosso compromisso e os crimes que identificarmos contra a nossa honra serão denunciados à Justiça; a liberdade de expressão é essencial para a democracia, mas quando as pessoas ultrapassam os limites com falsas acusações, precisam ser contidas pela Justiça", afirmou.

<><> Mensagem de WhatsApp falsa

Segundo informa a estatal, trata-se de um cargo de confiança que foi remanejado e voltou à sua função de origem, fato que é absolutamente normal em todo e qualquer órgão governamental. Assim que a juíza deu a sua sentença, que segundo os Correios, será objeto de recurso, uma informação falsa passou a circular em redes de WhatsApp afirmando que o presidente da estatal teria sido condenado por assédio moral. Nesta sexta-feira (29), o Estadão deu uma nota divulgando no título que o presidente foi acusado de assédio.

“A informação é mentirosa. O presidente da estatal não foi condenado nem é réu no processo judicial. E, ao contrário do alegado pelo autor, não houve perseguição”, afirma os Correios em nota.

<><> Alteração comercial

O autor da ação afirma também ter feito uma proposta de alteração comercial da empresa. O presidente dos Correios, no entanto, afirma desconhecer tal proposta. “A respeito da acusação de que o presidente teria “interesses pessoais” sobre o tema, o dirigente da estatal assim que tomou conhecimento da afirmação, acionou seus advogados para tomar as medidas judiciais cabíveis por crimes contra a sua honra”, diz a nota.

A nota afirma ainda que a política comercial da empresa “foi alterada pela atual gestão em 2024, cujo primeiro ato da presidência foi revogar uma cartilha assediosa – antes disso, os Correios estavam proibidos de fazer a alteração por força de um termo assinado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) pela gestão passada. A denúncia sobre a política comercial foi objeto de discussão no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Justiça Federal e as acusações foram julgadas improcedentes”.

<><> A Ação Trabalhista

A direção dos Correios lembra ainda que a ação foi movida contra os Correios e não contra o presidente da estatal. “Na ação”, segundo informe, “o autor buscava indenização no valor de R$ 670 mil por danos morais e materiais, por ter sido destituído de função de confiança. Em decisão de primeira instância, a Justiça indeferiu os pedidos do autor da ação para retornar à função que exercia, bem como negou o pedido de indenização por danos materiais, condenando os Correios a pagar apenas R$ 100 mil a título de dano moral, que será objeto de recurso. A Justiça ainda revogou decisão emergencial que havia determinado incorporação de função pelo autor”, encerra a nota.

<><> Medidas contra assédio

Veja abaixo a série de medidas adotadas pela atual gestão dos Correios contra todos os tipos de assédio na empresa:

- Criação de grupos de trabalho para combate ao assédio

- Assinatura de acordo com o Ministério Público do Trabalho para prevenir e punir o assédio na estatal

- Implantação de uma política inédita na empresa para combate ao assédio

- Reintegração de empregados que foram perseguidos e demitidos em gestões anteriores, por meio de cláusula inédita criada pela atual gestão no Acordo Coletivo de Trabalho

A atual gestão dos Correios protege as trabalhadoras e os trabalhadores, tendo recuperado mais de 40 cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho que foram extintas no governo anterior:

- Correios aprovam reajuste e benefícios para empregados em 2024

Assim, a verdade é que se existiu assédio, não foi na atual gestão, que protege trabalhadoras e trabalhadores, devolve direitos e combate todas as formas de assédio.

As cláusulas do acordo com o MPT foram todas cumpridas e podem ser consultadas nos sites da Justiça do Trabalho.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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