Como
países regulam acesso de crianças e adolescentes a redes sociais
A
decisão da Austrália de proibir redes sociais para crianças e adolescentes
menores de 16 anos é a primeira do mundo a ter esse alcance. O projeto passou
pelo Senado e ainda precisa ser revisado na Câmara, mas o governo já sinalizou
que ele será aprovado.
Com
a mudança, plataformas como Instagram, Facebook, TikTok, X, Snapchat e Reddit
deverão criar mecanismos para impedir o acesso de crianças e adolescentes.
A
proibição total de redes sociais abaixo de uma determinada idade, como fez a
Austrália, é apenas uma das abordagens que têm sido adotadas pelo mundo. Outros
governos têm apostado em meios diferentes para regular esse acesso.
A
maioria exige autorização dos pais para usarem redes sociais. Mas há ainda o
modelo do estado de Nova York, nos Estados Unidos, que exigiu mudanças no
funcionamento das plataformas para crianças e adolescentes..
• Proibição para crianças
e adolescentes
✋ Pelo projeto aprovado na Austrália, as plataformas terão um ano
para implementarem uma forma de impedir o acesso de crianças e adolescentes.
Após esse prazo, em caso de descumprimento, elas poderão ser multadas em até 50
milhões de dólares australianos (cerca de R$ 195 milhões).
Nem
todas as plataformas estarão sujeitos à nova regra. O YouTube, por exemplo, não
precisará da verificação de idade porque parlamentares australianos avaliaram
que ele inclui conteúdo educativo. Aplicativos de mensagens e jogos online
também ficaram de fora da regulamentação.
Nos
Estados Unidos, a Flórida aprovou em março uma lei estadual que proíbe crianças
menores de 14 anos de acessarem as redes sociais – adolescentes de 14 e 15 anos
precisam do consentimento dos pais para acessarem as plataformas.
A
regra está sendo contestada na Justiça pela Netchoice, organização que
representa as gigantes da tecnologia, sob a alegação de que viola a liberdade
de expressão de crianças e adolescentes.
O
mesmo argumento foi usado pela Netchoice ao questionar uma lei do estado
americano de Utah que também pretendia exigir a verificação de idade em redes
sociais. A organização conseguiu bloquear a regra na Justiça em setembro.
• Exigência de autorização
dos pais
A
União Europeia exige que plataformas tenham autorização dos pais para
processarem dados de menores de 16 anos. Esse limite pode ser alterado nos
países que integram o bloco, mas não pode ficar abaixo dos 13 anos de idade.
A
Alemanha, por exemplo, exige o consentimento para os menores de 16 anos, mas
outros países têm regras mais brandas. Na França, a obrigação só vale para
menores de 15 anos. Na Itália, para menores de 14 anos. E, na Bélgica e na
Noruega, para menores de 13 anos.
O
governo norueguês apresentou em outubro uma proposta para ampliar a exigência
de autorização dos pais para menores de 15 anos. O país também disse que
começou a trabalhar em uma proibição geral de redes sociais para crianças e
adolescentes, mas a proposta ainda não foi apresentada.
<><>
Proibição de algoritmos para menores de idade
O
estado de Nova York aprovou uma lei que exige consentimento dos pais para
menores de 18 anos usarem plataformas com algoritmos de recomendação. Sem
autorização, eles só poderiam usar as redes com postagens na ordem cronológica.
A
chamada Lei da Suspensão da Exploração de Feeds Viciantes para Crianças (Safe,
na sigla em inglês, ou "Seguro") busca evitar algoritmos que prendem
usuários com sugestões de conteúdo que mais interessam aos usuários.
A
regra, que entrará em vigor em 2025, também proíbe o envio de notificações no
celular de crianças e adolescentes entre 0h e 6h, criando uma espécie de hora
de dormir para os aparelhos.
• E o Brasil?
O
Brasil discute um projeto para proteger crianças e adolescentes na internet. A
proposta foi aprovada na Comissão de Direito Digital do Senado e, se não houver
recursos para votação no plenário, seguirá diretamente para análise na Câmara
e, então, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O
texto determina, entre outros pontos, que redes sociais adotem o dever de
cuidado para menores de idade. O conceito prevê a adoção de medidas para evitar
danos aos usuários e permite responsabilizar empresas que se omitirem.
A
proposta inclui ainda a verificação de idade para impedir o acesso de menores
de idade a conteúdos pornográficos, a restrição do alcance de publicidade a
crianças e a exigência de derrubar mesmo sem ordem judicial conteúdos
identificados como de exploração e abuso sexual infantil.
<><>
O que dizem as plataformas?
As
principais redes sociais dizem que já proíbem em suas regras a criação de
contas por menores de 13 anos de idade, ainda que existam muitos casos de
crianças contornando essa regra.
Após
a aprovação da proposta na Austrália, um porta-voz da Meta, dona de Instagram,
Facebook e WhatsApp, disse que respeita a lei do país, mas que estava
"preocupado" com o processo, que "não considerou as evidências e
o que a indústria já faz para garantir experiências adequadas à idade".
"A
tarefa agora é garantir que haja uma consulta produtiva sobre todas as regras
associadas ao projeto de lei para garantir um resultado tecnicamente viável que
não coloque um fardo oneroso sobre pais e adolescentes e um compromisso de que
as regras serão aplicadas consistentemente em todos os aplicativos sociais
usados por adolescentes", afirmou, segundo a agência Reuters.
A
Snap, dona do Snapchat, afirmou que cumprirá as leis na Austrália, mas levantou
preocupações sobre a nova regra.
"Embora
haja muitas perguntas sem resposta sobre como essa lei será implementada na
prática, nos envolveremos de perto com o governo e o Comissário de Segurança
Eletrônica durante o período de implementação de 12 meses para ajudar a
desenvolver uma abordagem que equilibre privacidade, segurança e
praticidade", disse um porta-voz da empresa.
• Julgamento da
responsabilidade das redes sociais no STF; entenda o que está em jogo
O
Supremo Tribunal Federal (STF) julga a responsabilidade das redes sociais pelos
conteúdos publicados pelos usuários. Ou seja, na prática, vai definir em que
circunstâncias as big techs podem responder por danos de postagens dos
cadastrados em suas plataformas.
A
discussão envolve um ponto do Marco Civil da Internet — a lei de 2014 que
funciona como uma espécie de Constituição para o uso da rede no Brasil, ao
estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para usuários e empresas.
➡️A questão é saber se uma rede social pode ser condenada na
Justiça, por exemplo, ao pagamento de indenização por danos morais por não ter
agido para remover um conteúdo considerado ofensivo a direitos, com discurso de
ódio ou desinformação.
• Atualmente, a legislação
estabelece que as plataformas digitais só serão responsabilizadas se, depois de
uma ordem judicial específica, não tomarem providências para retirar o material
do ar.
A
Corte iniciou a análise do caso na última quarta-feira (27). Na ocasião, o
presidente Luís Roberto Barroso afirmou que a discussão é importante.
Lembrou
que o tribunal aguardou "por período bastante razoável" que a lei
fosse alterada pelo Congresso, mas que isso não aconteceu. "Chegou a hora
de decidirmos essa matéria", disse.
O
presidente também disse esperar que os relatores encerrem seus votos na próxima
semana e que o caso seja decidido ainda este ano. O ministro Alexandre de
Moraes salientou que é um dos temas mais importantes sob análise da Corte.
STF
começa a julgar as responsabilidades das redes sobre conteúdos que publicam
O
g1 explica o que o Supremo julga e quais são os próximos passos do julgamento.
<><>
O que o STF está julgando?
A
Corte se debruça sobre dois recursos que tratam da responsabilidade das
plataformas digitais diante de atos e conteúdos ilegais realizados por seus
usuários.
📲Entre eles, a publicação de conteúdo ofensivo ou fora da lei; e
a criação de perfis falsos de outras pessoas, usados para expor a vítima e para
a prática de outras ações ilícitas.
📲Na prática, a questão é saber se uma empresa desta área responde
e pode ser sancionada na Justiça porque não tomou providências diante destas
irregularidades.
O
que diz o Marco Civil da Internet?
Os
recursos trazem à mesa de debates um trecho do Marco Civil da Internet, a lei
que estabelece as regras gerais de funcionamento da internet no Brasil.
🔎A discussão envolve o artigo 19, que afirma: "Com o intuito
de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de
aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos
decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial
específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do
seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo
apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário".
Atualmente,
as redes só são obrigadas a remover um conteúdo com uma ordem judicial neste
sentido. E são punidas apenas se não cumprirem a decisão.
<><>
O que dizem participantes do processo?
Quem
questiona a validade do trecho do Marco Civil afirma que a regra representa uma
imunidade para as plataformas digitais.
Isso
porque, além de não serem obrigadas a agir para combater os danos antes de uma
decisão judicial, se elas atenderem à ordem da Justiça, não sofrem sanções.
Para
este grupo de instituições, nestas circunstâncias, o dano para quem é atingido
pelo conteúdo ofensivo se perpetua, já que é preciso ter recursos para acessar
a Justiça e aguardar um pronunciamento oficial para resolver a questão — o que
pode levar tempo.
Também
pontuam os efeitos desta regra para a garantia de direitos coletivos — como o
de crianças e adolescentes expostos a conteúdos irregulares nas redes.
Representantes
das plataformas digitais sustentam a validade do art. 19. Defendem o modelo
atual e argumentaram que as redes sociais se esforçam para retirar conteúdos
ilícitos, a partir das regras que já estabelecem para o funcionamento de seus
sites e aplicativos, chamadas de autorregulação.
Pontuam,
ainda, que há um risco de serem alvos de processos de usuários que tiveram
posts removidos.
<><>O
que os ministros declararam nas primeiras sessões de julgamento?
Até
o momento, só o relator Dias Toffoli apresentou parte de seu voto. Os ministros
ainda não divulgaram seus posicionamentos, mas participaram ativamente das
discussões nas primeiras sessões, quando os representantes dos especialistas
apresentaram suas exposições.
Na
primeira sessão, o presidente Luís Roberto Barroso ressaltou a importância do
tema. E informou que o tribunal aguardou uma mudança na lei pelo Congresso, que
não veio. Defendeu que chegou a hora de a Corte analisar o assunto e disse
esperar que a conclusão do julgamento seja ainda este ano.
Os
relatores — Dias Toffoli e Luiz Fux — pontuaram a relevância do caso. Para o
ministro Alexandre de Moraes, é um dos casos mais importantes a serem julgados
pelo Supremo neste ano.
Também
ao longo destas sessões, os ministros foram sinalizando as necessidades de
aperfeiçoamento do modelo de responsabilidade das redes.
Alexandre
de Moraes, por exemplo, falou da dificuldade de retirar do ar perfis fakes que
usam seu nome.
Em
outra sessão, o papel das redes sociais diante de conteúdos golpistas no 8 de
janeiro também foi tema de debate. Os ministros lembraram que transmissões ao
vivo dos atos antidemocráticos só foram retirados do ar com a intervenção
judicial.
<><>
Em que ponto está o julgamento?
Na
última quinta-feira (28), o ministro Dias Toffoli começou a apresentar seu
voto. Relator de um dos processos, ele deverá concluir seu pronunciamento na
próxima quarta-feira (4).
Na
sequência, o relator do outro caso, o ministro Luiz Fux, vai apresentar seu
voto no processo do colega. Em seguida, se posiciona quanto ao recurso que está
sob sua responsabilidade.
<><>
Por que o tribunal analisa o caso?
Porque,
pela Constituição, o Supremo Tribunal Federal tem a tarefa de se debruçar sobre
temas que envolvem direitos e princípios constitucionais. Neste caso, estão em
jogo direitos como liberdade de expressão, livre iniciativa, defesa do
consumidor, intimidade e imagem.
Os
processos chegaram na Corte em formato de recursos. Ou seja, começaram com
situações concretas na primeira instância da Justiça: o caso de uma mulher que
foi vítima de um perfil falso criado com seus dados; e o de outra mulher que
foi ofendida por uma página falsa, criada para difamar e expô-la.
Quando
chegaram ao Supremo, os ministros observaram que a questão vai além apenas
destes dois casos. E que é preciso discutir um entendimento a ser aplicado para
decidir casos semelhantes.
<><>
Quais os efeitos de uma decisão do Supremo?
Como
o tribunal entendeu que a questão é ampla, decidiram aplicar o sistema de
repercussão geral. Assim, uma decisão tomada por eles será aplicada em
processos que tramitam em instâncias inferiores e discutem a mesma questão.
Ou
seja, os ministros vão elaborar uma tese, uma espécie do resumo de seus
entendimentos que serão usadas como guia pela Justiça brasileira.
• Governo romeno acusa
TikTok de promover candidatura da extrema direita em eleição presidencial
O
Conselho Supremo de Defesa da Romênia (CSAT) acusou nesta quinta-feira (28) a
plataforma de vídeos TikTok de ajudar a promover o candidato de extrema direita
pró-Rússia Calin Georgescu ao não rotular o conteúdo de sua campanha à
Presidência como propaganda política.
Paralelamente,
autoridades romenas denunciaram uma tentativa de manipulação do processo
eleitoral, e a agência reguladora de telecomunicações do país pediu a suspensão
completa da plataforma no país.
Georgescu,
um membro da extrema direita e fundamentalista cristão ortodoxo, admirador do
líder russo Vladimir Putin e de antigos fascistas romenos, era praticamente
ignorado pelo establishment político e pela mídia tradicional.
Ele,
porém, venceu o primeiro turno das eleições sem que as pesquisas notassem seu
avanço durante a campanha eleitoral. Segundo os levantamentos, o
ultradireitista somava apenas 5% das intenções de voto antes do pleito.
O
CSAT – um conselho de segurança liderado pelo presidente romeno, Klaus
Iohannis, inclui também os chefes dos serviços secretos, os militares e vários
ministros – instou as autoridades policiais e eleitorais a investigarem o caso.
A
comissão eleitoral da Romênia instruiu o TikTok a assegurar que os candidatos
se identificassem claramente usando códigos que revelam suas fontes de
financiamento. A falha da plataforma teria aumentado a visibilidade de
Georgescu e dado a ele uma vantagem injusta.
Georgescu
concorrerá no segundo turno das eleições contra a liberal-conservadora Elena
Lasconi no dia 8 de dezembro.
<><>
Ataques ao processo eleitoral
O
gabinete presidencial em Bucareste criticou nesta quinta-feira o fato o TikTok
não ter identificado Georgescu como um político em suas postagens na
plataforma.
Em
nota divulgada após a reunião do CSAT, o gabinete afirmou que o TikTok não
respeitou as regras legais que regem o processo eleitoral.
O
comunicado menciona ainda a ocorrência de "ataques cibernéticos com o
objetivo de influenciar a correção do processo eleitoral" na votação de
domingo, assim como "um interesse crescente" por parte da Rússia em
"influenciar a agenda pública na sociedade romena".
<><>
Agência reguladora pede suspensão do TikTok
Na
quarta-feira (27), o vice-diretor do órgão regulador de telecomunicações do
país, Ancom, disse que pretendia solicitar a suspensão do TikTok.
"Solicito
a suspensão do TikTok no território da Romênia até a conclusão da investigação
pelas instituições estatais sobre a manipulação do processo eleitoral do
primeiro turno das eleições presidenciais", disse Pavel Popescu.
Ele
acrescentou que estava pedindo a suspensão "com base em (...) algumas
evidências sobre a manipulação do processo eleitoral pela plataforma".
<><>
Tribunal ordena inédita recontagem de votos
O
Tribunal Constitucional da Romênia examina duas alegações de fraude eleitoral
no primeiro turno das eleições. A corte ordenou nesta quinta-feira uma
recontagem dos votos no primeiro turno das eleições para averiguar possíveis
irregularidades.
Por
unanimidade, os juízes da corte ordenaram que o departamento eleitoral central
da Romênia "reverificasse e recontasse todos os votos válidos e
inválidos" emitidos na votação de domingo (24). Uma recontagem completa
não tem precedentes na história pós-comunista da Romênia.
Ao
mesmo tempo, o Tribunal negou um pedido para a anulação do primeiro turno,
alegando que o requerimento teria sido enviado após o prazo legal.
<><>
O que diz o TikTok
O
TikTok negou ter agido para promover a candidatura de Georgescu. "É
absolutamente falso alegar que seu perfil recebeu tratamento diferente daqueles
dos demais candidatos", afirmou um porta-voz da plataforma.
Fonte:
g1/Deutsche Welle
Nenhum comentário:
Postar um comentário