Sonho
destruído ou choque de realidade? O que tem feito brasileiros retornarem à
pátria
Criado
por uma lógica ocidentalista, o sonho de muitos é morar no exterior — seja
Europa ou Estados Unidos —, e, nos últimos tempos, a realidade tem dado um
choque nesses planos, em especial os brasileiros. Mas por qual motivo?
Para
entender melhor o fluxo de volta para casa que alguns brasileiros residentes no
exterior vêm fazendo, a Sputnik Brasil conversou com especialistas no assunto,
entre eles um que sentiu na pele o que é deixar a terra natal.
O
podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, conversou com o psicanalista
e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP)
Gabriel Binkowski. Segundo o estudioso, a migração está intimamente ligada ao
desejo humano de melhorar e transformar sua vida.
"A
migração acompanha aquilo que nos faz humanos, que é sonhar sempre com uma vida
melhor, com mais realização, com mais possibilidades", afirmou em
entrevista.
No
entanto, segundo reforçado pelo psicanalista, a decisão de emigrar também pode
ser motivada pela busca por melhores condições econômicas até a necessidade de
sobrevivência em contextos de repressão política, social ou religiosa.
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Imigração e dificuldades a bordo
A
fala de Binkowski destaca a universalidade da migração, apontando que até os
animais migrantes buscam melhores condições de vida. "Os seres humanos são
os únicos que podem experimentar o que chamamos de exílio, que envolve uma
conexão com a terra, a cultura e a língua", explica.
Para
ele, a migração, seja por escolha ou necessidade, é uma forma de resposta à
crise das condições de vida em muitos lugares onde a falta de perspectiva
coletiva leva muitos a buscarem uma nova realidade em outro país.
"Nos
últimos 15 ou 20 anos, vimos um aumento no número de pessoas migrando não só
por razões econômicas, mas também para viver sua sexualidade, praticar sua
religião ou exercer sua liberdade de maneira mais plena", disse.
Binkowski,
que também viveu a experiência de migrar, compartilhando sua vivência de sete
anos na França, observa que o retorno ao Brasil foi mais difícil do que sua
adaptação à vida em Paris.
"Eu
me lembro da sensação de ouvir o português e achar que alguém estava dentro de
mim, quase na minha intimidade, algo que eu não tinha antes desse
retorno", conta.
Ele
explica que, ao voltar, o imigrante precisa lidar com uma sensação de
"invasão" decorrente das expectativas de familiares e amigos, além da
frustração com a falta de progresso do país.
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Perspectivas positivas
Para
Lorena Ingrid, fotógrafa há mais de 10 anos e jornalista formada, a mudança
para a Irlanda, no entanto, não foi uma decisão fácil e nem planejada de forma
tradicional.
O
sonho de morar fora já estava presente há anos, mas foi durante a pandemia que
o impulso final aconteceu.
"Quando
a gente passou por aquele momento da pandemia, que eu acho que balançou muito
uma galera, e a gente viu o estrago que fez no mundo, no Brasil não foi
diferente... eu já estava com esse sonho antigo de sair, mas a pandemia foi o
maior impulso", conta.
A
dificuldade de se sentir realizada no Brasil, somada ao desejo de mudança, a
levou a tomar uma decisão ousada, sem avisar a família inicialmente.
"Eu
comecei tudo sozinha, fiz as pesquisas, tudo muito escondido. A pandemia veio e
realmente deu uma balançada, me levou a ter uma crise muito grande... foi um
momento de reflexão intensa, onde eu senti que não estava mais feliz ali, e
precisava ir além", revela Lorena, destacando que, muitas vezes, a busca
por felicidade envolve grandes transformações pessoais.
Para
Lorena, a adaptação à vida na Irlanda foi um processo gradual, mas ela nunca se
sentiu fora de lugar.
"Eu
sabia o que estava fazendo aqui, e nunca senti que não pertencesse. Deus foi
abrindo as portas, e eu fui fazendo minha parte", conclui, agradecendo
pela oportunidade de recomeçar e se reinventar.
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Sucesso espacial: com
alta demanda em Alcântara, Brasil mira em polo no Rio Grande do Norte
Após
o primeiro lançamento do foguete em parceria com a iniciativa privada no fim de
2022, o sucesso operacional da base de Alcântara, no Maranhão, já levou a
estrutura a empenhar 85% de sua capacidade operacional para o próximo ano. Com
o investimento especial em alta no país, a FAB volta a lançar equipamentos na
unidade do Rio Grande do Norte.
Página
virada: esse é o termo que define a retomada do Programa Espacial Brasileiro
após uma década de apagão orçamentário, quando apenas R$ 2 bilhões foram
empenhados ante R$ 5,7 bilhões previstos — o novo ciclo de investimentos
iniciados em 2022 segue de vento em popa.
Prova
disso é que a base de Alcântara, uma das mais promissoras do mundo por conta da
localização estratégica na linha do Equador, já está com 85% da capacidade
prevista para ser usada no próximo ano.
A
situação levou a Força Aérea Brasileira (FAB) a ampliar os lançamentos a partir
da Barreira do Inferno, em Parnamirim, no Rio de Grande do Norte.
Desde
o início da última semana, acontece nesta sexta-feira (29), na base, a primeira
fase da Operação Potiguar, que enviou ao espaço o foguete suborbital VS-30-V15,
que conta com tecnologia nacional produzida pelo Instituto Aeronáutico do
Espaço (IAE).
O
coronel aviador Christiano Pereira Haag, que é diretor da unidade, explicou à
Sputnik Brasil que o objetivo da ação é atender a crescente demanda do mercado
mundial no setor.
"Alcântara,
para o ano que vem, já está com 85% do seu slot ocupado, então a ampliação de
outro centro de lançamento vai ser primordial para o desenvolvimento do Brasil
no Programa Espacial Brasileiro. Esse foguete agora que estão lançando não tem
nenhum dinheiro de parceiros externos", explica.
Conforme
o coronel, o foguete consegue ultrapassar a barreira de 100 quilômetros de
altura e, antes de retornar para a Terra, entra em situação de microgravidade,
o que permite realizar diversos estudos.
"Em
lançamentos suborbitais, nós conseguimos fazer vários experimentos que ajudam a
melhorar o dia a dia das pessoas. Por exemplo, conseguimos validar tecnologias
espaciais, conseguimos fazer testes de remédios, testes de ligas metálicas,
entre outros", acrescenta.
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Quando começou o Programa Espacial Brasileiro?
Em
1961, o então presidente Jânio Quadros criava o grupo de organização da
Comissão Nacional de Atividades Espaciais (CNAE), que dava o pontapé ao
programa espacial do país. Atualmente, o Brasil se destaca no lançamento de
satélites, enviados ao espaço a partir de foguetes. O coronel aviador enfatiza
que a operação na Barreira do Inferno ajuda a desenvolver a tecnologia
nacional.
"O
centro da Barreira do Inferno sempre esteve ativo. Nós já lançamos mais de 3
mil engenhos espaciais, sendo que nos outros anos estávamos vocacionados para
detectar missões de rastreio. O que seria o rastreio? Seria o monitoramento de
foguetes e satélites lançados daqui ou de outros centros ao redor do
mundo", conta.
Além
disso, o projeto na unidade é um braço do Programa de Microgravidade da Agência
Espacial Brasileira (AEB). "Os testes em ambientes de microgravidade têm
impacto na vida dos brasileiros diretamente no dia a dia. São algumas
tecnologias que nós utilizamos e, muitas vezes, não sabemos como foi
criado", pontua.
Já
com relação à unidade no Rio Grande do Norte, o diretor lembra ainda que a
estrutura fica em uma área estratégica, próxima ao Aeroporto Internacional de
Natal e ao porto. "É um polo que facilita muito a integração de qualquer
ente que queira lançar da base por conta da facilidade logística. E também
estamos em um área marítima, o que dá mais segurança para a operação de
lançamento. Esse é um ponto importante, além da necessidade da FAB em ampliar a
capacidade brasileira a partir dessa estrutura que já estava instalada",
finaliza.
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Quanto o Brasil investe no programa espacial?
O
ciclo do programa espacial entre 2022–2031 traz diferentes realidades
orçamentárias para o período, que vai de R$ 1,2 bilhão a R$ 13,2 bilhões. O
plano ainda conta com dois projetos que envolvem parceiros internacionais:
China e Argentina.
Com
os chineses está em desenvolvimento o satélite CBERS-6: a metade brasileira do
equipamento é feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em
São José dos Campos. Ao todo serão investidos US$ 100 milhões (R$ 601 milhões)
no projeto, e a expectativa é de que seja lançado em 2028.
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Capital privado 'não
está à altura' de sanar Avibras e Estado tem que agir rápido, diz analista
A
Avibras Indústria Aeroespacial está passando por um momento um tanto delicado,
em meio a uma recuperação judicial. Só nos últimos 19 meses, a empresa não tem
conseguido honrar os holerites. Frente a isso, sindicatos metalúrgicos têm se
movimentado para tentar achar uma solução. O que paira nesse meio é a
possibilidade de um investimento privado.
Contudo,
segundo um especialista ouvido pela Sputnik Brasil, embora haja interesse
privado em manter o funcionamento da empresa bélica, o resultado não é tão
fácil quanto parece.
"Não
acredito que o capital privado brasileiro esteja à altura da tarefa de sanear
todos os problemas da Avibras e recolocá-la como uma empresa competitiva e
estratégica. A empresa é de suma importância para a defesa do Brasil. Ela é um
grande laboratório, produziu grandes experiências ao longo destes últimos 50
anos, e ela precisa de uma atenção estatal", criticou o professor de
história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas), da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), João Cláudio Pitillo.
Os
funcionários da Avibras se reuniram com o Sindicato dos Metalúrgicos de São
José dos Campos, em São Paulo, na última quinta-feira (21), para discutir a
proposta apresentada pelo investidor brasileiro, cujo nome ainda não foi
revelado.
O
grande impasse é a situação dos trabalhadores que estão há 19 meses sem receber
salários e em greve desde setembro de 2022, por conta da crise financeira da
empresa. A reunião no sindicato não teve um acordo entre as partes.
Sobre
a problemática, o historiador acredita que uma "parceria público-privada
com o controle majoritário do Estado brasileiro" resolveria a maior parte
da situação, sem deixar o poder público de lado.
Afinal,
em suas palavras, a Avibras, "mesmo vendendo para outros países e
exportando bastante, é uma empresa estratégica para o Brasil".
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Papel importante na indústria bélica
Para
Pitillo, não há capital privado suficiente que sane os problemas financeiros,
principalmente a dívida trabalhista com os funcionários, que é muito grande; e,
segundo, a transforme de novo em uma empresa competitiva e de ponta e que
trabalhe para a defesa nacional.
"Sem
a presença do Estado, é muito temerário esse tipo de coisa [acordo e
participação privada]", arrematou.
As
plataformas de foguetes Astros 1 e 2, que abastecem o Exército Brasileiro, por
exemplo, estavam em desenvolvimento com a potência bélica brasileira. Mas,
segundo o historiador, o projeto mais impactante é o míssil de cruzeiro.
"O
Exército Brasileiro estava negociando um míssil tático de cruzeiro que tivesse
alcance de 300 km, e isso está praticamente paralisado. A Avibras tinha outros
projetos muito importantes e tinha um corpo técnico de expertise gigantesco.
[…] temos que observar que projetos importantes estão parados, uma produção
importante está parada e, o que é pior, essa fuga dos cérebros desse corpo
técnico da Avibras vai impedir que ela crie novos projetos", criticou à
Sputnik.
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Avibras: a situação da empresa
Dois
anos após ter problemas financeiros e protocolar sua recuperação judicial, em
2022, em julho deste ano foi finalmente aprovado o plano de restabelecimento da
Avibras, e com isso se iniciaram as conversas de venda da companhia de João
Brasil.
A
princípio, considerou-se a venda para a australiana DefendTex. A companhia, de
menor porte e que teria muito a ganhar com a compra, estuda comprar mais de 50%
das participações na empresa brasileira.
Outra
cotada para adquirir a Avibras foi a chinesa Norinco, que queria adquirir 49%
das ações. A venda, contudo, encontrou resistência em Brasília e sofreu
críticas até mesmo dos Estados Unidos, que alertaram que poderiam embargar a
venda de componentes caso a Avibras fosse controlada pela estatal chinesa.
Fundada
pelo engenheiro do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) João Verdi
Carvalho Leite, popularmente conhecido como João Brasil, e seus colegas, a
Avibras é uma importante companhia de defesa brasileira. É responsável pela
criação do lançador de foguetes Astros, a joia da coroa da empresa e um dos
melhores do mundo, capaz de alcançar alvos entre 10 km e 300 km com alta
precisão e letalidade.
Seu
desenvolvimento soberano é motivo de orgulho para as Forças Armadas, o
Ministério da Defesa e toda a Base Industrial de Defesa (BID).
O
lançador é, inclusive, protagonista do Programa Estratégico Astros 2020, do
Exército Brasileiro, que visa dotar a força terrestre de dezenas desses
lançadores. Iniciado em 2012, espera-se que o processo de fabricação e
aquisição se encerre em 2031.
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Posicionamento da Avibras
Questionada
pela Sputnik Brasil sobre os projetos interrompidos e as dívidas trabalhistas
pendentes, a Avibras disse que "prossegue em negociação com investidor
brasileiro com o objetivo de garantir a sua recuperação financeira de forma
sustentável e retomar as atividades o mais breve possível. Mais informações
serão divulgadas em momento oportuno".
Fonte:
Sputnik Brasil
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