quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Branko Marcetic: Trump está montando um governo de, por e para os ricos

Após uma derrota eleitoral desmoralizante, o Partido Democrata está mergulhado em debates e acusações enquanto tenta descobrir o que realmente quer ser nos próximos anos: um partido de trabalhadores ou de CEOs e bilionários. O lado de Donald Trump, enquanto isso, já decidiu: vai com os CEOs e bilionários. Tudo o que estamos vendo sobre os planos do novo governo por meio de pessoas de dentro deixa bem claro que este será um governo de, por e para grandes empresas.

Os assessores de Trump disseram à Axios que, no primeiro dia, o novo presidente vai promover “uma agenda favorável aos negócios de cortes de impostos, desregulamentação e expansão da produção de energia” e “preencherá seus altos escalões com bilionários, ex-CEOs, líderes de tecnologia e legalistas”. Há planos em andamento para reduzir ainda mais as taxas de impostos corporativos, desregulamentar uma variedade de setores como criptomoedas, inteligência artificial e grandes bancos, e expulsar a presidente antimonopólio da Federal Trade Commission, Lina Khan, para abrir caminho para mais uma vitória corporativa.

Isso não é nenhuma surpresa, já que Trump já entregou as rédeas de sua presidência para a elite empresarial. A transição de Trump está sendo liderada por dois doadores milionários para sua campanha: Linda McMahon, que como ex-CEO da World Wrestling Entertainment acumulou um longo histórico enganando trabalhadores (e pode ser recompensada ainda mais com o posto de Secretária de Comércio), e o CEO da empresa de negociação Cantor Fitzgerald, Howard Lutnick, que cortou financeiramente as famílias de seus funcionários mortos no ataque de 11 de setembro apenas um dia depois de chorar na televisão sobre suas mortes. O recém-nomeado chefe de gabinete de Trump é um lobista corporativo que trabalhou para empresas de tabaco, seguros e carvão. Alguns gestores de fundos de hedge estão concorrendo para ser seu secretário do tesouro.

“O que está sendo sinalizado é um programa de austeridade implacável para os pobres e a classe média.”

Esses são apenas alguns dos bilionários e executivos que silenciosamente moldam a futura presidência de Trump nos bastidores, incluindo o ultra-capitalista Marc Andreessen e o ex-presidente da Marvel Entertainment, Ike Perlmutter. Mas um nome merece menção especial: o bilionário Elon Musk.

Musk é mais um megadoador da campanha de Trump que agora está tendo o favor retribuído pelo presidente eleito. Ele será encarregado, ao que parece, de cortar US$ 2 trilhões de suposto desperdício e fraude do governo, uma ideia que foi pessoalmente endossada por Trump em público. O que está sendo sinalizado é um programa de austeridade implacável para os pobres e a classe média, um que Musk admitiu aberta que mergulhará os americanos em “dificuldades” e uma crise econômica “severa”, mesmo que o governo enriqueça os ultra-ricos.

Não é de se admirar, então, que os dez homens mais ricos do mundo já tenham aumentado sua riqueza em US$ 64 bilhões com a vitória de Trump na última terça-feira, o que fez o mercado de ações ferver com antecipação para a elite empresarial?

Com a eleição garantida, Trump e sua equipe nem se preocupam mais em fingir que passarão os próximos quatro anos lutando contra a elite econômica em nome do trabalhador americano oprimido. Em vez disso, eles vão, muito abertamente, unir forças com essa elite para seguir uma agenda que empobrecerá ainda mais os muitos eleitores que depositaram sua confiança em Trump para tirá-los das atuais dificuldades econômicas.

A reformulação da marca do velho Partido Republicano como o “partido dos trabalhadores” sempre foi uma farsa, especialmente vindo de um líder cuja principal realização legislativa no primeiro mandato foi um corte massivo de impostos para os ricos. Tudo sugere que eles estão prestes a tornar essa “reformulação de brading” mais uma piada.

<><> Governo Trump não deve impactar muito as lutas contra mudanças climáticas, diz prefeita de Phoenix

Entre os diversos desafios a serem enfrentados pelo Grupo dos Vinte, o G20, na luta contra mudanças climáticas, os Estados Unidos esbarram na agenda anticlimática do presidente eleito Donald Trump.

Contudo, segundo pontuado neste domingo (17) por Kate Gallego, que é prefeita de Phoenix, no Arizona, e vice-presidente do C40, isso não será um empecilho.

"Nós já trabalhamos no final da gestão de Trump com a agenda climática. Conseguimos continuar durante a gestão Biden e Kamala. Não acredito que teremos problemas para trabalhar a pauta [climática]. O governo Trump não deve impactar muito nisso", arguiu ao ser questionada sobre dificuldades de enfrentamento das mudanças climáticas na gestão Trump.

A prefeita também pontuou que há outras formas de atuação para o combate às mudanças climáticas, entre elas doações filantrópicas, verbas universitárias e empresariais.

A resposta surge após o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ter nomeado, nesse sábado (16), Chris Wright como secretário de Energia. Encarregado de reduzir a burocracia do setor energético, o que o novo governo espera que aumente os investimentos em combustíveis fósseis, Wright é também um conhecido negacionista do clima.

Gallego integra o grupo Prefeitos do Clima, que, segundo ela, "está comprometido em atingir os objetivos do Acordo de Paris".

"A América [os Estados Unidos] está empenhada e, a nível local, as cidades liderarão o caminho para garantir a redução das emissões de gases com efeito de estufa", garantiu a democrata.

Yvonne Aki Sawyerr, copresidente do C40 e prefeita de Freetown, Serra Leoa, salientou que a posição do grupo do U20 é expor aos principais causadores dos desastres ambientais soluções que podem ser aplicadas e, além disso, buscar desses mesmos autores uma forma de subsidiar a verba para fazer o que "precisa ser feito".

Questionada sobre de onde viriam esses fundos, ela não hesitou em ponderar que "não será do dia para a noite" que essa verba irá surgir e que enxerga no G20 uma porta para conseguir esse dinheiro.

Para ela, discutir com prefeitos do G20 foram "dias absolutamente incríveis e realmente críticos. Porque estamos no meio de uma crise pandêmica, que é introspectiva, com um movimento contínuo para abordar a desigualdade".

O U20 é uma articulação do C40 Cidades, rede global de mais de 100 prefeituras para o enfrentamento às mudanças climáticas.

¨      MRE da Índia: eleição nos EUA mostra descontentamento dos norte-americanos com globalização

Os resultados da recente eleição presidencial dos EUA refletem a crescente insatisfação do eleitorado norte-americano com os efeitos da globalização, disse o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, em discurso na Cúpula de Liderança, organizada pelo jornal Hindustan Times.

Falando sobre a vitória de Donald Trump nas últimas eleições dos EUA, Jaishankar disse que os problemas que levaram Trump a ganhar seu primeiro mandato como presidente só se intensificaram nos últimos tempos.

"Acho que há um medo nos Estados Unidos de que a globalização seja prejudicial. Atualmente, a globalização não atende aos interesses dos Estados Unidos e, de muitas maneiras, é prejudicial a vários segmentos da sociedade americana", disse o ministro.

Em sua opinião, a globalização tornou os cidadãos dos EUA menos seguros tanto psicológica quanto conceitualmente, ou seja, em termos de como eles percebem sua nação.

"Acho que isso também os fez repensar os termos de engajamento com o mundo. Os Estados Unidos achavam que eram grandes o suficiente, que tinham poder e recursos suficientes para resolver qualquer problema global. Acho que essa era ficou no passado", opinou.

Donald Trump venceu as eleições presidenciais em 5 de novembro de 2024.

Ele se tornou o primeiro político norte-americano desde o século XIX a retornar à Casa Branca após um intervalo de quatro anos.

A posse do novo presidente deve ocorrer em 20 de janeiro de 2025.

¨      Dívida dos EUA atinge US$ 36 trilhões em meio ao declínio do dólar e ascensão do BRICS

Analistas financeiros dos EUA e banqueiros de Wall Street têm alertado há anos sobre a insustentabilidade a longo prazo do fardo da dívida do governo, com pagamentos de juros sobre a dívida nacional chegando perto de US$ 1 trilhão (R$ 5,7 trilhões) em 2024 – mais do que qualquer outra obrigação de gastos além da Previdência Social e Medicare.

A dívida nacional dos EUA ultrapassou a marca de US$ 36 trilhões (R$ 2 trilhões), com os dados do usdebtclock.org indicando que cada homem, mulher e criança nos EUA agora deve mais de US$ 106.600, enquanto os contribuintes devem o equivalente a mais de US$ 272.800.

Os dados mostram que a dívida federal em relação ao PIB situa-se agora em 122,85% - acima dos 55,36% no ano 2000 e 34,71% em 1980.

Contabilizando as dívidas nacional, local, estudantil, cartões de crédito e empréstimos pessoais, a dívida dos EUA é estimada em mais de US$ trilhões 102,63 (R$ 594,5 trilhões) - quase igualando o valor de US$ trilhões 105,4 (R$ 610,5 trilhões) de toda a economia global em 2023.

A dívida nacional dos EUA tem crescido nos últimos 45 anos graças em grande parte devido aos gastos militares e guerras fiscalmente irresponsáveis, à falta de responsabilidade no Congresso em equilibrar os orçamentos, ao poder de longa data do dólar, que permitiu aos Estados Unidos acumular grandes déficits comerciais com os países produtores e se envolver na impressão de dinheiro enquanto passava as consequências para o resto do mundo, e, mais recentemente, grandes resgates governamentais de grandes empresas e bancos durante a crise financeira de 2008 e a crise da COVID-19 de 2020.

Entretanto, as tendências recentes, incluindo a diminuição do uso do dólar americano no comércio mundial devido à percepção de esta moeda funcionar como arma contra países como a Rússia e o Irã; o aumento do poder industrial da China e a busca de laços comerciais fora da esfera de influência política e econômica dos EUA; e ainda a formação e o fortalecimento de instituições internacionais como o bloco BRICS, tudo isto tem servido para desafiar a ideia de que os líderes dos EUA podem fechar os olhos ao fardo da dívida para sempre.

•                                    Como a eleição de Trump irá afetar a vida das mulheres?

Mia e Molly não poderiam ser mais diferentes: a primeira é uma estudante engajada no movimento antiaborto da Flórida; a outra é uma mãe da Califórnia que, três dias após as recentes eleições nos EUA, atravessou o país com o filho até Washington, para protestar. O que une ambas e muitas americanas são as fortes emoções que a vitória de Donald Trump nas presidenciais e o que ela representará para os seus direitos como mulheres despertam.

"Estou feliz mesmo que Trump tenha ganhado, e ainda mais por Harris e Walz terem perdido", comenta Mia Akins ao telefone. A candidata democrata, Kamala Harris, e seu vice, Tim Walz, tinham se manifestado pelo direito ao aborto em âmbito nacional. E durante seu primeiro mandato, Trump nomeou três dos juízes da Suprema Corte que em 2022 derrubaram a lei nesse sentido.

Mia cursa o terceiro ano na Florida International University de Miami e é cofundadora do grupo da Students for Life of America (SFLA), uma organização nacional reunindo universitários que se opõem radicalmente ao aborto. O republicano não é "o candidato perfeito", reconhece a ativista, pois ele prefere deixar o assunto para os estados, em vez de apoiar a proibição geral. Mas ela está otimista: um governo trumpista "é algo com que a gente pode trabalhar".

<><> Direitos LGBTQ+ em risco

Pelo menos nesse ponto, Molly e o/a filha/o, Sammy, concordam com ela: Trump não é um candidato ideal. Numa iniciativa espontânea, ambos voaram da costa oeste para a leste, e no sábado seguinte ao pleito estavam sob o céu ensolarado de Washington portando cartazes de protesto improvisados.

Molly diz temer o que o futuro governo trará, também para os direitos de quem faz parte da comunidade LGBTQ+: "Estou preocupada que Trump vá tirar os direitos da comunidade LGBTQ, que vá restringir quem eles podem amar ou como podem ser." Seu/sua filho/a, Sammy, é não binário/a, não se considera homem nem mulher, tendo optado pelo pronome "they".

Sua família já sente efeitos reais: em 2025 Sammy está indo para a universidade, e aquelas situadas em estados de maioria eleitoral republicana estão descartadas. "Temo que os meus amigos que também são LGBTQ não vão poder entrar para a universidade dos seus sonhos, por medo de sofrerem ataques", revela Sammy. "Eu olho com bastante cuidado onde ficam as universidades para que me candidatei, como foi o resultado daquela zona eleitoral."

<><> Receios pela saúde da população feminina

Em 5 de novembro, o Partido Republicano não só conquistou a presidência, mas também a maioria no Senado, e tudo indica que a partir de 20 de janeiro haverá também maioria republicana na Câmara dos Representantes. Isso significa que a sigla conseguirá aprovar muitos de seus projetos com relativa facilidade.

"Normalmente dizemos que os mecanismos de controle do sistema impedem poder exagerado", explica a politóloga Laura Merrifield Wilson, da Universidade de Indianápolis. "Mas nós certamente veríamos no segundo mandato de Trump mais decisões conservadoras e restrições mais rigorosas no setor de saúde, sobretudo para as mulheres [se os republicanos também tiverem o controle da Câmara]. Aí o partido dominaria no nível federal, e na ala de esquerda [liberal], há receio de que a política do 'Project 2025' vire realidade."

Wilson se refere a um plano ultraconservador para o futuro dos Estados Unidos, traçado pelo think tank Heritage Foundation. As medidas previstas incluem a proibição de pílulas abortivas e a substituição de funcionários federais por trumpistas fiéis. O próprio presidente eleito não esteve envolvido nessa listagem, mas diversos adeptos seus, sim.

Por isso, no sábado após o pleito, Molly, Sammy e outros manifestantes se reuniram diante do prédio da Heritage Foundation. Continua ativa a iniciativa Women's March, que em 2017, no dia seguinte à posse de Trump, organizou uma marcha de protesto em Washington, reunindo quase meio milhão de participantes.

<><> Anos dourados para os opositores do aborto?

Agora porém, havia só umas poucas centenas de manifestantes, a maioria mulheres, protestando com música alta e bandanas verdes, onde se lia "Bans off our bodies" – proibições para longe dos nossos corpos. Segundo Tamika Middleton, uma das líderes da Women's March, o lema do grupo é "resistência feminista contra o fascismo".

"Estamos furiosas", comenta Erica, de 27 anos, que participa do protesto juntamente com a mãe, Mandy, e a filha Elani, de cinco anos. "Mas estamos aqui para mostrar à Elani que não se deve ficar sentada em casa, sentindo rava." A avó Mandy está apreensiva com o país em que a menina vai crescer: "Ela deveria ter os mesmos direitos ao aborto que nós tivemos."

Contudo, outras mulheres antecipam o futuro governo Trump com grande esperança, também pela geração futura. "Estou incrivelmente grata que Kamala Harris não tenha sido eleita para o cargo, com o extremismo do aborto dela", comenta Reagan Barklage, coordenadora nacional da Students for Life of America. "Espero que Trump consiga colaborar com o Congresso para proteger a vida das crianças."

Ela desejaria que ele regulamente mais rigidamente a prescrição de pílulas de aborto, e que "tome decisões sábias" ao nomear os juízes federais, que depois devem ser confirmados pelo Senado. Como os republicanos têm maioria nessa casa do Congresso, é bem provável que Trump consiga nomear um grande número de magistrados dispostos a restringir os direitos de aborto.

 

¨      Restrições russas de exportação de urânio podem atingir duramente setor energético dos EUA

As restrições temporárias à exportação de urânio enriquecido da Rússia para os EUA vão atingir a indústria energética americana, escreve o portal Daily Wrap.

"Esta medida poderia afetar seriamente o setor energético dos EUA, que é altamente dependente do urânio russo", afirma a publicação.

O artigo observa que a imposição de restrições pode forçar os EUA a buscar fontes alternativas de recursos, o que poderia afetar os preços da energia e a estabilidade do fornecimento.

Além disso, sendo um dos principais atores no mercado de urânio enriquecido, a Rússia tem um impacto significativo nas cadeias globais de fornecimento. As restrições à exportação também podem afetar outros países que usam urânio russo, forçando-os a reconsiderar suas estratégias energéticas, observa o portal.

O governo russo impôs restrições temporárias às exportações de urânio enriquecido para os EUA, com algumas exceções. Esta decisão foi tomada por ordem do presidente russo, Vladimir Putin.

Em maio, o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma lei que proíbe a importação de urânio de baixo teor de enriquecimento produzido na Rússia ou por qualquer uma das empresas registradas no país. O documento entrou em vigor em agosto e será válido até 2040. Ao mesmo tempo, a legislação dos EUA permite exceções e compras de matérias-primas russas até janeiro de 2028 se for do interesse nacional dos Estados Unidos.

 

Fonte: Tradução de Caue Seigner Ameni, para Jacobin Brasil/Sputnik Brasil/DW Brasil

 

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