Edmar
Bula: Como as eleições nos EUA moldam o futuro, as inovações e os
desafios globais?
A vitória de Donald Trump reflete o descontentamento de muitos
eleitores com o status quo e a desconexão percebida entre o sistema político e
a classe trabalhadora. Trump, branco e
rico, atraiu eleitores brancos sem diploma universitário, que se sentem
marginalizados pelas políticas progressistas e pela sua elitização. Sua
retórica populista e nacionalista, focada em imigração, segurança e economia,
ressoou com força em oposição aos democratas, especialmente entre aqueles que
se sentem inseguros economicamente e nostálgicos por uma estabilidade passada.
Considerando
o resultado da eleição, a América elegeu quem mais soube criar identidade e
pertencimento com a população em seu discurso, promovendo fortes conexões com
valores contemporâneos e sob a perspectiva da realidade social dos americanos.
Se é assim que funciona a democracia, Trump foi um mestre na comunicação, por
mais que eu ou você discordemos de suas propostas. Ele dialogou
democraticamente com diferentes tribos e ofereceu a elas o que queriam ouvir.
Kamala, por sua vez, carregou à exaustão todo o peso e significado da rejeição
ao atual governo. Sua imagem não se descolou de Biden, que ainda lhe emprestou
a crise imigratória e a inflação, âncoras que impediram a conquista de estados
fundamentais, alguns deles tradicionalmente democratas.
Além
disso, a relação polarizadora de Trump com a mídia fortaleceu a imagem de
“anti-establishment” e consolidou-o como o “defensor dos interesses do povo
comum”. Se foi esse povo que promoveu sua vitória em estados-chave e se o voto
do homem branco, mais velho e sem formação superior, o levou até a linha de
chegada, quem saiu vitorioso, na verdade, foi o pacote conservador, misógino,
racista e fundamentalista. A caixa de Pandora foi aberta e isso não é nada bom,
porque uma pequena minoria de grandes grupos (aqueles que, de fato, mandam no
mundo) com muito poder financeiro investe forte para garantir seus privilégios.
A caixa pertence a eles, mas as mazelas ficam para os habitantes do planeta.
O
resultado das eleições nos EUA também deve redefinir o futuro do ecossistema de
inovação, afetando áreas como tecnologia, energia limpa e biotecnologia. Uma
administração de Kamala provavelmente priorizaria investimentos em
sustentabilidade, com foco em energias renováveis e infraestrutura verde, além
de uma regulamentação robusta para a inteligência artificial, visando à
transparência e à segurança. Em contraste, com a vitória de Trump, deve ser
favorecida a desregulamentação e fortalecidas as indústrias tradicionais, como
energia convencional e mineração de criptomoedas, promovendo um ambiente menos
restritivo para o setor tecnológico, mas com menos supervisão em segurança e
privacidade, e com traços de uma política de controle das massas pela manutenção
da miséria, seja ela qual for.
Diante
disso, gosto muito da ideia de um mundo multipolar. Por exemplo, uma
aproximação entre o Brasil e a China, e a adesão à Nova Rota da Seda, como
parte de uma estratégia para fortalecer o Sul Global e contrabalançar a
influência dos EUA, pode ser um caminho, pois oferece oportunidades de
investimento e diversificação de parcerias econômicas. Outro caminho seria
apostar no fortalecimento dos BRICS, o que talvez promovesse maior
independência econômica e política para os países emergentes. Enfim, essa visão
reflete uma tendência global de buscar um sistema mais equilibrado e menos
centralizado nas potências ocidentais, o que ressoa não somente com as
aspirações de muitas nações.
Em
relação ao Brasil, é de se esperar um esfriamento nas relações bilaterais,
mesmo com a forte tradição diplomática e comercial entre os dois países. Não há
afinidade alguma entre Trump e Lula. Ambos estão em margens opostas de um
oceano ideológico cada vez mais extremo e agudo. As personalidades são
díspares, o que pode prejudicar ainda mais o diálogo. Os imigrantes certamente
sofrerão um forte abalo, e, com ideias tão divergentes, não há meios para
chegar a uma conclusão que seja suficiente para ambos. Também não podemos nos
esquecer de que o lado dependente da economia é o nosso, o que piora ainda mais
a situação.
As
eleições nos Estados Unidos afetam o mundo todo. As políticas republicanas
prometem um impacto profundo. A resposta dos democratas ao avanço da
extrema direita foi, como no Brasil, pífia, mas ainda é decisiva para o futuro
do país. Nos próximos dias, todas as nações
serão espectadoras das primeiras ações de Trump e, para muitas delas, será
inevitável ficar chocados, assim como tantos líderes globais, diante desse novo
episódio histórico.
¨
O que se pode esperar
do governo Trump 2
Após
o republicano Donald Trump vencer as eleições nos Estados Unidos, os contornos de seu novo governo começaram a tomar forma.
O
presidente eleito anunciou quase uma dúzia de indicações, nos primeiros passos
para preencher sua equipe na Casa Branca e nos principais departamentos
governamentais.
Trump
também fez comentários para a imprensa e nas redes sociais que destacam quais
serão suas prioridades ao assumir o cargo em janeiro, com foco especial em
imigração e política externa.
Após
um início às vezes caótico em seu primeiro mandato, Trump está preparando o
terreno para seu próximo mandato com um plano mais claramente definido - e com
equipe pronta para colocá-lo em prática.
·
Um time de imigração
linha-dura
Algumas
das nomeações recentemente anunciadas por Trump sugerem que a promessa de
campanha do presidente eleito de deportar milhões de migrantes indocumentados que vivem nos EUA não é exagero.
Stephen
Miller, conselheiro próximo e redator de discursos de Trump desde 2015, é a
escolha de Trump para vice-chefe de gabinete da Casa Branca para políticas. Ele
provavelmente moldará quaisquer planos para deportações em massa - e reduzirá a
imigração ilegal e legal.
Durante
o primeiro mandato de Trump, Miller esteve envolvido no desenvolvimento de
algumas das políticas de imigração mais rigorosas do governo.
Thomas
Homan, diretor interino da Agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira no
primeiro mandato de Trump, apoiou a política do presidente de separar famílias
indocumentadas detidas na fronteira EUA-México. Agora ele está de volta com um
portfólio ainda mais amplo, como o "czar da imigração" de Trump.
"Vou
comandar a maior força de deportação que este país já viu", disse Homan em
uma conferência conservadora em julho.
Críticos
alertaram que o plano de deportação em massa de Trump poderia custar mais de
US$ 300 bilhões (R$ 1,7 tri).
Em
uma entrevista à NBC News na semana passada, no entanto, o presidente eleito
disse que o custo não era um problema.
"Quando
as pessoas mataram e assassinaram, quando os traficantes destruíram países, e
agora eles vão voltar para esses países porque não vão ficar aqui", disse
ele. "Não tem preço."
·
Posição dura sobre a
China
Muitos
conservadores acreditam que a China representa a maior ameaça à dominância
global contínua dos EUA, tanto econômica quanto militar.
Enquanto
Trump tem sido mais circunspecto, limitando a maioria de suas críticas à China
ao campo do comércio, ele está lotando sua equipe de política externa de
críticos vocais da China.
O
presidente eleito escolheu o congressista da Flórida Mike Waltz, um coronel
aposentado do Exército, como seu conselheiro de Segurança Nacional – um
importante cargo de política externa na Casa Branca.
Waltz
disse que os EUA estão em uma "guerra fria" com a China e foi um dos
primeiros membros do Congresso a pedir um boicote dos EUA às Olimpíadas de
Inverno de Pequim de 2022.
Em
outubro, a congressista Elise Stefanik, escolhida por Trump para embaixadora
dos EUA na ONU, acusou a China de "interferência eleitoral flagrante e
maliciosa" em meio a relatos de que hackers apoiados pela China teriam
tentado coletar informações dos telefones do ex-presidente.
Embora
Trump ainda não tenha nomeado oficialmente sua escolha para secretário de
Estado, o senador da Flórida Marco Rubio – outro crítico da China – parece ser
o principal candidato ao cargo.
Em
2020, Rubio foi sancionado pelo governo chinês após ter pressionado por medidas
para punir a nação por sua repressão aos manifestantes pró-democracia em Hong
Kong.
As
relações EUA-China tiveram diversos momentos difíceis durante o primeiro
mandato de Trump, em meio a disputas comerciais e à pandemia de covid-19.
O
governo Biden, que manteve muitas das tarifas de Trump sobre a China e impôs
algumas novas, apenas acalmou um pouco as águas. Agora parece que o próximo
governo Trump continuará de onde o último parou.
·
O novo papel de Musk
Enquanto
a lista de indicados políticos de Trump cresce, há outro grupo que permanece
pequeno — e extremamente influente.
Elon
Musk, o homem mais rico do mundo, tem sido uma presença em tempo integral na
sede de transição de governo de Trump em Mar-a-Lago.
De
acordo com relatos da imprensa, ele está aconselhando o presidente eleito sobre indicados
para o gabinete e até mesmo se juntou a uma conversa entre
Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na semana passada.
Na
terça-feira à noite, Trump anunciou que estava designando Musk para trabalhar
com o empreendedor de tecnologia e ex-candidato presidencial republicano Vivek
Ramaswamy em um "departamento de eficiência governamental"
encarregado de identificar novos cortes no orçamento.
Musk
regularmente ofereceu suas opiniões políticas em sua plataforma de mídia social
X, incluindo o endosso da candidatura do senador da Flórida Rick Scott para ser
o próximo líder da maioria no Senado.
O
comitê de ação política de Musk gastou cerca de US$ 200 milhões (R$ 1,4
bilhões) para ajudar a campanha presidencial de Trump, e ele promete continuar
a financiar os esforços do grupo para promover a agenda do presidente eleito e
ajudar os candidatos republicanos nas próximas eleições para o Congresso.
Enquanto
isso, resta saber onde Robert F Kennedy Jr., outra figura-chave, se
posicionará.
Trump
disse que planeja dar ao ex-democrata e cético em relação à vacina, que
abandonou sua candidatura independente e apoiou o republicano, um papel em seu
plano para tornar a América "saudável" novamente.
"Ele
quer fazer algumas coisas, e vamos deixá-lo fazer isso", disse Trump em
seu discurso de vitória eleitoral.
<><> O que se sabe e o que falta saber sobre futuro
cargo de Musk
Donald
Trump conquistar um segundo mandato na Casa Branca, os contornos de sua nova
presidência começam a tomar forma. O presidente eleito já anunciou quase uma
dúzia de nomes que formarão sua equipe na Casa Branca. Um dos nomes anunciados
foi o da pessoa mais rica do mundo: Elon Musk.
Trump
anunciou que o bilionário vai trabalhar em um novo Departamento de Eficiência
Governamental, com o objetivo de "desmantelar a burocracia
governamental", impulsionar "uma reforma estrutural em larga
escala" e cortar gastos.
Musk
liderará este departamento com o empresário da tecnologia e ex-candidato
presidencial republicano Vivek Ramaswamy.
Mas
ainda não está claro como será este órgão e nem sua duração.
Musk
e Ramaswamy receberam o prazo de julho de 2026 para realizar este trabalho.
Entretanto, não se sabe se seus cargos também expirariam nessa data.
Na
rede social X (ex-Twitter), da qual é dono, Musk comemorou a nomeação com
frases como "Tornando o governo divertido novamente!" e "As
pessoas não têm ideia do quanto isso vai fazer diferença".
O
bilionário também escreveu que "todas as ações do Departamento de
Eficiência Governamental serão publicadas on-line para haver máxima
transparência".
De
acordo com relatos da imprensa americana, o bilionário tem aconselhado o
republicano sobre indicados para o gabinete e até mesmo se juntou a uma
conversa entre Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na semana
passada.
O
comitê de ação política de Musk gastou cerca de US$ 200 milhões (mais de R$ 1,1
bi) na campanha presidencial de Trump, e ele promete continuar a financiar os
esforços para promover a agenda do presidente eleito e ajudar os candidatos
republicanos nas próximas eleições para o Congresso.
O
CEO (diretor executivo) da Tesla subiu ao palco em comícios republicanos e, nos
últimos dias da campanha, sorteou US$ 1 milhão por dia entre eleitores de
Estados-chave na eleição — um esquema que os críticos dizem ser equivalente a
comprar votos e que foi contestado nos tribunais.
O
bilionário de 53 anos estava com Trump em Mar-a-Lago, residência do ex-presidente na Flórida, na noite da eleição.
Nesta
terça-feira, Trump anunciou também a nomeação de Pete Hegseth, apresentador do
canal Fox News e veterano de guerra, como secretário de Defesa.
Enquanto
isso, resta saber onde Robert F. Kennedy Jr., outra figura-chave, pousará.
Trump
disse que planeja dar ao ex-democrata um papel para tornar os EUA
"saudável" novamente. Robert F. Kennedy Jr. é ativista antivacinas e
abandonou sua candidatura independente para apoiar o republicano.
"Ele
quer fazer algumas coisas, e vamos deixá-lo fazer isso", disse Trump em
seu discurso de vitória nas eleições.
No
Congresso, os republicanos já conquistaram o Senado e estão se aproximando da
maioria na Câmara dos Representantes.
·
Priorizar o poder
presidencial sobre o Congresso
Com
a posse de Trump, os republicanos têm o controle do Senado e ainda podem ganhar
a Câmara de Deputados, embora por uma pequena margem. No entanto, as primeiras
ações do presidente eleito sugerem que ele está mais preocupado em exercer seu
poder presidencial do que em trabalhar com o Poder Legislativo.
Na
semana passada, ele postou nas redes sociais que a liderança republicana do
Senado deveria facilitar o caminho para mais "nomeações de recesso"
presidenciais — permitindo que ele preencha cargos de alto escalão da
administração sem a aprovação do Senado quando o Congresso não estiver em
sessão.
A
medida fortaleceria o poder presidencial ao minar o papel constitucional da
Câmara de "aconselhar e consentir" com nomeações políticas.
Enquanto
isso, o presidente eleito continua minando essas estreitas maiorias do
Congresso.
Senadores
que mudam para cargos administrativos podem ser rapidamente substituídos por
nomeação do governador de seu Estado natal. Mas quaisquer vagas na Câmara —
como as criadas pelas saídas de Stefanik e Waltz — exigem eleições especiais
que podem levar meses para serem agendadas.
Alguns
dos conselheiros de Trump, incluindo Musk, alertaram que o presidente eleito
poderia estar colocando em risco sua agenda legislativa se tirasse muitos
republicanos das duas Casas para colocá-los em seu governo.
Mesmo
nas melhores circunstâncias, a aprovação de novas legislações no Congresso leva
tempo, esforço e compromisso. Ações executivas, como novas medidas de
imigração, podem ser aprovadas com uma 'canetada' presidencial.
As
ações de Trump indicam que ele está, pelo menos no momento, mais focado nessa
segunda opção.
·
Recompensar os leais
Trump
apenas começou a preencher as milhares de posições que acompanham uma nova
administração presidencial, sem ainda incluir os burocratas de carreira de alto
escalão que prometeu substituir.
Em
2016, como um novato político, ele teve que contar com mais republicanos do
establishment para papéis-chave. Desta vez, ele tem uma riqueza de candidatos
em potencial com históricos comprovados de apoio a ele. E, após oito anos de
experiência na política, muitos dos aliados de Trump são do establishment
republicano.
Na
terça-feira, Trump nomeou a governadora de Dakota do Sul, Kristi Noem, como
secretária de Segurança Interna, e o apresentador da Fox News e autor
conservador Pete Hegseth como secretário de Defesa. Ambos são defensores
ferrenhos de Trump desde o início.
Outros,
como Rubio e Stefanik, foram críticos de Trump no início de sua primeira
candidatura presidencial, mas agora passaram anos demonstrando que suas
palavras duras ficaram no passado.
Rubio,
que concorreu à Presidência contra Trump em 2016, ainda pode ter ambições em
relação à Casa Branca, no entanto.
Trump
frequentemente se irritava com indicados que pareciam atraídos pelos holofotes
durante seu primeiro mandato, e até mesmo os relacionamentos mais calorosos
podiam dar errado.
Ele
pode estar premiando lealdade com suas primeiras indicações, mas as pressões de
governar acabarão revelando se seu segundo mandato terminará diferente do
primeiro.
Fonte:
Le Monde/BBC News Mundo
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