Davis Sena
Filho: Anistia a golpistas é uma bomba contra o Brasil, a democracia, a
legalidade e a civilização
Vamos
aos fatos. A desejada anistia que a extrema direita no Congresso e fora do
Legislativo Federal quer impor a fórceps ao povo brasileiro é, na verdade, uma
forma calhorda de livrar o político fascista Jair Bolsonaro do cadafalso de sua
futura prisão. A anistia tem o propósito de recolocar o Bolsonaro na luta
política e, por sua vez, deixá-lo livre para concorrer às eleições
presidenciais, ou seja, torná-lo elegível e, com efeito, dar não um tapa, mas
um murro afrontoso na cara do Brasil. A anistia para os fascistas e golpistas
seria uma ode à impunidade e à barbárie.
A
intentona golpista ou bolsonarista do 8 de janeiro de 2023 reverbera até os
dias de hoje com força desmedida, agressividade política e violência física e
verbal em todos os cantos do País. Trata-se da extrema direita brasileira, que
acompanha célere os passos do fascismo internacional e que se recusa a negociar
nos âmbitos políticos e institucionais a pacificação da sociedade brasileira,
que desde o ano de 2013 se tornou indelevelmente dividida ao ponto de parentes
e amigos romperem suas relações para nunca mais voltarem a se relacionar.
São,
no mínimo, 11 anos, desde 2013, que o Brasil vivencia todo tipo de tentativas
de rompimentos institucionais praticados por uma extrema direita que sonha com
a implantação de uma ditadura nos moldes fascistas, sem abandonar as
características de um poder discricionário sul-americano, com o apoio de um
lumpesinato das classes baixa e média, de parcos conhecimentos sobre política,
história e sociedade, mas que, com o advento das redes sociais, principalmente
nos últimos dez anos, aflorou sua ignorância e desconhecimento, assim como
passou a sentir orgulho e se transformar em militante de políticos fascistas, a
demonstrar com isso sua perversidade intrínseca à sua personalidade
histriônica, porque dada a paixões irracionais e incontroláveis, a ter como a cereja
do bolo a violência.
Por
intermédio de um processo dantesco, essas pessoas até então alienadas sobre as
questões do País e até mesmo distantes do debate político nacional começaram a
participar da vida política brasileira de maneira radical, a deturpar
realidades, manipular acontecimentos e a demonizar a quem considerassem
opositores de seus valores e crenças, a demonstrar suas paixões incontidas e a
repercutir todo tipo de crime por meio de agressões verbais, ameaças, calúnias,
injúrias, difamações e muita mentira, a fazer da internet uma terra de ninguém
e rede de intrigas, desassossegos e deformações morais a toda prova e assim
edificar um sistema poderoso de fake news.
Trata-se
de um processo altamente criminoso e gerador de ódios frementes, sendo que essa
gente de extrema direita tem como base de sustentação política o trinômio
“Deus, Pátria e família”, acrescido de “liberdade”. Porém, como a extrema
direita e até mesmo a direita historicamente nunca possuíram programa de
governo e projeto de desenvolvimento do País, que o torne soberano e emancipe
definitivamente o povo brasileiro, a solução encontrada foi o proselitismo
barato, as mentiras intermitentes e a retórica da ameaça, de forma a montar uma
teia de conspirações, que tem por finalidade desmoralizar as autoridades
constituídas e atacar as instituições democráticas, porque para os golpistas se
não for feito desse modo, conquistar a Presidência da República seria uma
ambição impossível.
Porém,
dar golpes de estado ficou mais difícil, bem como realizar avanços sociais
requer muito trabalho, porque dividir renda e riqueza é tema que realmente não
agrada a burguesia dona da casa grande e inimiga figadal dos trabalhadores, dos
servidores públicos e dos aposentados. Desse modo, a direita passa a se valer
desses artifícios capciosos, que passam a ser considerados como propostas
políticas para que o lúmpen se concentre em farsas argumentativas e falsos
valores, ao invés de realmente se preocupar com emprego, moradia, educação,
saúde, segurança e infraestrutura em geral. Trata-se, na verdade, do oprimido
que sonha em ser o opressor e se alia àquele que, na verdade, é socialmente e
economicamente seu algoz.
Sendo
assim, a opção encontrada pelos fascistas apoiados por vastos setores da
burguesia brasileira é tergiversar e enganar os ignorantes e imprudentes que se
vestem de amarelo, a reviver e propagar o lema "Deus, Pátria e
família" inspirado no fascismo italiano e no integralismo português, bem
como bastante utilizado pelo integralismo brasileiro, com mais força a partir
de 1932, a ser o chefe da Ação Integralista Brasileira (AIB), o político de
extrema direita Plínio Salgado, líder, inclusive, da Intentona Integralista,
que em 1938 promoveu a invasão do Palácio Guanabara, com o propósito de levar à
deposição o presidente Getúlio Vargas.
Agora,
e mais uma vez, o Brasil volta a reviver tempos de guerra política, de
desinformação e de divisões ferozes que afligem a sociedade brasileira. Tempos
dos radicais que atuam e agem no campo político e ideológico da direita e
extrema direita, que estão mais poderosas que nos tempos de Plínio Salgado,
principalmente a partir do golpe de estado de 2016 contra a presidente
trabalhista Dilma Rousseff, que jamais incorreu em crimes de responsabilidade,
em um processo autoritário e arbitrário, que causou posteriormente a prisão
injusta e surreal de Luiz Inácio Lula da Silva.
Derrotada
nas urnas pelo próprio Lula em 2022, a extrema direita brasileira, capitaneada
pelo político fascista e entreguista, Jair Bolsonaro, jamais arrefeceu sua
fúria e muito menos desejou pacificar o Brasil. Pelo contrário, continuou por
todo o País com sua cantilena golpista de propaganda odienta e mentirosa,
somada às ações sórdidas, a atacar o Governo Federal e suas principais
autoridades, bem como, de maneira intermitente e recorrente, continuou, com
extrema agressividade e total falta de respeito, a atacar o Supremo Tribunal
Federal — o STF.
E
deu no que deu: outra ação extremamente violenta por parte da extrema direita,
a ter como autor um “cidadão” brasileiro, oriundo de Santa Catarina, o Estado
brasileiro com apenas três por cento da população brasileira, mas
proporcionalmente com o maior número de eleitores que votam na direita e na
extrema direita, além de também ser uma das três unidades da Federação que têm
mais células neonazistas no território nacional.
Para
termos uma ideia, Blumenau, com apenas 380 mil pessoas, é a segunda cidade do
País com mais células neonazistas, a perder apenas para São Paulo, uma cidade
com quase 12 milhões de habitantes, sendo que Curitiba é a terceira nesse pódio
inglório e pleno de preconceitos, intolerâncias e violência, com grande maioria
composta por eleitores de direita e de extrema direita, como o é também o
Estado do Paraná. Esses dados e informações são provenientes do relatório do
Observatório Judaico de Direitos Humanos.
Portanto,
nada a estranhar que um homem de Rio do Sul, cidade do interior catarinense,
que foi candidato a vereador pelo PL, partido dominado pelo bolsonarismo, que
acomoda o principal grupo de políticos de extrema direita do País, tenha sido o
autor de atos terroristas, a explodir duas bombas poderosas, que irradiaram
altos estampidos e causaram transtornos a Brasília, ao Brasil, às autoridades
constituídas dos Três Poderes e à rotina das pessoas comuns, que têm de
conviver com a violência bolsonarista há muitos anos, que inferniza a sociedade
e prejudica a retomada do desenvolvimento econômico. Sem paz não há civilização
ao tempo que surge tal qual a um verdugo da sociedade a barbárie.
O
nome do terrorista de extrema direita é Francisco Wanderley Luiz, conhecido
também como Tiü França. Ele era chaveiro, tinha 59 anos e foi morto pela
explosão de bomba, que ele próprio detonou. Ele estava próximo da estátua da
Justiça, que fica em frente ao STF, seu alvo preferencial, a ter o ministro
Alexandre de Moraes como a referência de seu diabólico ódio.
Obviamente
que a ação bélica do bolsonarista é devida à impunidade que afronta a ordem
democrática e a civilidade, sendo que tal violência é o substrato das invasões
de caracteres golpistas aos palácios dos Três Poderes, que foram literalmente
destruídos pela malta bárbara de bolsonaristas inconformada com a derrota
eleitoral de seu líder fascista e também golpista Jair Bolsonaro, juntamente
com a escória que o acompanhou nessa empreitada malfadada e completamente
irresponsável e inconsequente.
A
impunidade é a causa principal da violência e do subdesenvolvimento, porque
geralmente ela beneficia grupos econômicos e políticos poderosos, geralmente
militantes que agem e atuam no campo da direita, porque no Brasil,
historicamente, é a direita que conspira e promove golpes de estado, como bem
registra e reza a história deste País rico de povo pobre. O ódio ideológico e
de classe move essa gente e, com efeito, o resultado é violência e mais
violência.
Por
isso, é necessário que os poderes constituídos e suas respectivas autoridades
se unam por uma causa maior: combater o fascismo, o bolsonarismo, as tentativas
de golpe de estado e, consequentemente, fazer respeitar o que apregoa a lei,
além de começar a punir severamente com cadeia essas pessoas que se aventuram
em tentativas de abolir a democracia, o Estado Democrático de Direito, a ordem
democrática e a Constituição de 1988, que é odiada pela extrema direita e pelos
ricos em geral, que financiam o golpismo no Brasil.
Está
mais do que na hora de julgar os golpistas criminosos e, conforme for apurada a
culpabilidade deles, impor a lei, prender os financiadores dos movimentos
golpistas e bolsonaristas, encarcerar autoridades civis e militares que
participaram da intentona golpista, colocar no xilindró os empresários,
inclusive os donos das grandes mídias corporativas, que não deixam o País viver
em paz e com desenvolvimento, porque querem impor modelos econômicos
neoliberais, mesmo se os candidatos dessa gente ideologicamente brutal e
profundamente monetarista perderem as eleições. Um absurdo.
As
políticas neoliberais não deram certo em lugar algum e, por sua vez, arrasaram
com a luta dos povos pelo bem-estar social, porque paralisaram criminosamente a
economia, causaram desemprego em massa, concentraram renda e riqueza,
entregaram à iniciativa privada as estatais estratégicas para o desenvolvimento
e soberania do Brasil, além de o neoliberalismo acabar com esperança de dias
melhores para os trabalhadores e os aposentados, os principais responsáveis
pela geração de riquezas de qualquer país.
O
presidente Lula recebeu os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e
Cristiano Zanin no Palácio da Alvorada, quando trataram de questões quanto à
segurança dos Poderes da República, assim como avaliaram, juntamente com o
presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e com o diretor-geral da Polícia
Federal, Andrei Rodrigues, que o projeto de anistia, que tramita no Congresso
para beneficiar as pessoas condenadas e presas por causa da tentativa de golpe
em 8 de janeiro de 2023, perdeu totalmente a credibilidade. Não poderia ser
diferente.
E
por quê? Ora, cara-pálida, você vai alimentar os ratos com queijo e empestear
sua casa? Quer ser vítima de doenças? Pelo contrário, você vai combater os
ratos, se livrar de doenças e proteger sua família, sendo que de forma macro,
protege-se o País e suas instituições democráticas.
A
verdade, como asseverou o ministro Alexandre de Moraes, o ato terrorista, de
autoria do bolsonarista Francisco Wanderley Luiz, fortaleceu a tese que as
investigações e condenações têm de ser mais rigorosas, bem como a anistia
reivindicada por políticos de extrema direita, à frente deles o ex-presidente
Jair Bolsonaro, vai escancarar as portas do golpismo e da impunidade. Além
disso, urge que as redes sociais sejam regulamentadas, porque como está não dá
para ficar, porque se tornaram, sem generalizar, plataformas de desmandos,
ameaças e de conspirações golpistas.
A
verdade é que anistiar criminosos golpistas é, na realidade, a mesma coisa que
alimentar um leão selvagem com as mãos, porque os golpistas bolsonaristas
sempre apostaram na desconstrução da ordem democrática, do estado de direito e
das instituições democráticas. Explosões de bombas significam o máximo da
radicalidade e da barbárie às vidas humanas e à ordem constitucional e
institucional conquistada no decorrer de décadas, por intermédio de muita luta
de inúmeras gerações de brasileiros.
O
ataque trouxe à tona a necessidade de intensificar a vigilância em torno das
instituições democráticas. Sendo assim, escrevo neste artigo o que disse com
acerto e discernimento o ministro Alexandre de Moraes: "Não existe
possibilidade de pacificação com anistia. Sabemos que o criminoso anistiado é
um criminoso impune, e a impunidade vai gerar mais agressividade, como gerou
ontem".
O
ódio se combate com a força da lei e lugar de criminoso é a cadeia. É isso aí.
Fonte:
Brasil 247
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