quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Rui Martins: Quem mentiu - Trump, Putin ou The Washington Post?

No domingo 10 de novembro, o jornal The Washington Post publicou uma informação exclusiva, um autêntico furo de reportagem logo depois da eleição de Donald Trump, sob o título “Trump conversou com Putin, disse ao líder russo para não fazer escalada na Ucrânia”, seguindo-se o subtítulo “O presidente eleito, Donald Trump, conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, na quinta-feira e discutiu a guerra na Ucrânia, segundo pessoas familiarizadas com a ligação”.

A informação teria sido colhida junto a pessoas protegidas pelo anonimato, que assistiram à conversa telefônica de Trump com Putin ou que dela foram confidencialmente informadas. O texto original diz o seguinte: “Durante a ligação, que Trump fez de seu resort na Flórida, ele aconselhou o presidente russo a não intensificar a guerra na Ucrânia e lembrou-lhe da presença militar considerável de Washington na Europa. Os dois homens discutiram o objetivo da paz no continente europeu e Trump manifestou interesse em conversas de acompanhamento para discutir “a resolução da guerra da Ucrânia em breve”. 

A reportagem foi produzida por três de seus melhores jornalistas: Ellen Nakashima, responsável pelo setor de inteligência e segurança nacional, integrante da equipe ganhadora de três Pulitzer Prize em 2022, 2018 e 2014; John Hudson, do setor de segurança nacional e diplomacia, cobriu a guerra na Ucrânia em 2022 e 2023; e Josh Dawsey, repórter investigativo e de política, que já cobriu a Casa Branca. 

Por ter sido o primeiro contato de Trump com Putin e por ter sido abordada a questão da Ucrânia, a reportagem do Washington Post viralizou e praticamente todos os jornais do mundo ocidental lhe deram imediato destaque.

Entretanto, algumas horas depois, já na segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, desmentiu categoricamente ter havido uma conversa telefônica de Putin com Trump. Também viralizou esse desmentido da notícia por Dmitri Peskov, distribuído pela agência independente russa Interfax e reproduzido pela imprensa mundial: “Este é o exemplo mais óbvio da qualidade da informação que se publica hoje, por vezes até em publicações totalmente respeitáveis. Isso é completamente falso. É pura ficção, é simplesmente informação falsa”.

Em outras palavras, o conhecido e importante jornal The Washington Post, editado na capital norte-americana, foi chamado indiretamente de mentiroso ou de fabulador de notícias pelo porta-voz do Kremlin. Desmentidos entre países ocorrem com certa frequência, numa espécie de guerra de notícias, o inédito é o governo de uma superpotência negar um contato com o presidente de outra superpotência, como se fosse uma falsa notícia inventada por um jornal.

Afinal, houve ou não houve essa conversa telefônica entre Trump e Putin? Se houve, por que Putin mandou seu porta-voz negar ter ocorrido?

Abbas Gallyamov, politólogo de origem tártara, que já foi próximo de Putin a ponto de redigir seus discursos, entrevistado pela AFP em Israel, onde vive atualmente, acha que a negação de Putin quanto à conversa com Trump está ligada à menção de tropas americanas na Europa. Para Abbas Gallyamov, a maneira como a conversa telefônica foi noticiada deixou a impressão de haver uma pressão de Trump sobre Putin, inaceitável pelo russo.

Isso não significaria uma parcialidade do Washington Post em favor de Trump? Mesmo porque o jornal assumiu uma posição de neutralidade quanto às eleições, por pressão de seu proprietário Jeff Bezos, criador da Amazon, negando-se a se pronunciar em favor de Kamala Harris. Essa “neutralidade” do jornal provocou uma crise na redação e a perda de 10% de seus assinantes, 250.000, tão logo foi anunciada.

Apesar de Donald Trump não ter fama de um paladino da verdade, muito ao contrário, a negativa do Kremlin não significa necessariamente ser mentira a conversa telefônica de Trump com Putin. Tanto um quanto o outro têm nariz de Pinóquio e a verdade, para eles, vale só no momento em que convém.

¨      Futuro secretário de Trump disse que germes não existem: 'não lavo as mãos'

Pete Hegseth, apresentador da Fox News e veterano de guerra indicado por Donald Trump ao cargo de Secretário da Defesa, se viu no centro de uma controvérsia em 2019 ao afirmar, durante o programa Fox & Friends, que "não lava as mãos há dez anos". A declaração gerou repercussão imediata e foi alvo de críticas nas redes sociais. A informação foi publicada originalmente pelo canal USA Today.

De acordo com UOL, Hegseth disse que sua resolução de Ano Novo era ser mais transparente com o público, compartilhando opiniões que, segundo ele, eram restritas aos bastidores. "Não acho que lavei minhas mãos nos últimos dez anos. Realmente, eu não lavo minhas mãos, nunca. Eu me inoculo. Germes não são algo real; eu não posso vê-los, então eles não são reais. Eu não sou capaz de ficar doente", afirmou durante a transmissão.

<><> "Era só uma piada", diz apresentador

Após a repercussão negativa, a porta-voz da Fox News, Jaclyn Giuliano, tentou conter os ânimos, afirmando que Hegseth estava "claramente brincando". Mais tarde, o próprio apresentador explicou ao USA Today que o comentário tinha como objetivo ironizar o que chamou de obsessão moderna por higiene. "Vivemos numa sociedade onde as pessoas andam por aí com frascos de álcool em gel nos bolsos e higienizam-nos 19.000 vezes por dia como se isso fosse salvar suas vidas", disse.

Hegseth também criticou o que considerou uma reação exagerada ao episódio. "É ridículo para mim como as pessoas levam certas coisas ao pé da letra e suas cabeças explodem. A próxima coisa que vai acontecer é que eles vão ligar para meu professor de biologia em Princeton e perguntar: 'Quando Pete era aluno da sua turma, ele acreditava que germes eram reais?' Que idiota", declarou.

<><> Higiene é essencial para a saúde

Apesar das explicações do apresentador, o episódio trouxe à tona a importância de práticas básicas de higiene, especialmente a lavagem regular das mãos. Especialistas alertam que as mãos são uma das principais vias de transmissão de doenças, funcionando como "meio de transporte" para bactérias, vírus e fungos que podem causar infecções sérias.

A recomendação de médicos e órgãos de saúde pública é clara: lavar as mãos com água e sabão regularmente reduz significativamente os riscos de contaminação, especialmente em ambientes compartilhados ou durante surtos de doenças.

 

¨      Trump já tentou detonar a imprensa e falhou. Terá sucesso na nova tentativa? Por Carlos Wagner

No seu primeiro mandato (2017 a 2021), o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano), 76 anos, tentou destruir a imprensa tradicional e não conseguiu. Em janeiro, ele assume o seu segundo mandato depois de ter dito, durante toda a campanha, que irá cassar as licenças das emissoras de rádio, TV e outras plataformas, além de processar e cancelar a licença de jornalistas investigativos para trabalhar na Casa Branca. Conseguirá desta vez? É sobre isso que vamos conversar.

É um fato que agora são maiores as chances de Trump detonar a imprensa tradicional, por ter saído fortalecido politicamente das eleições presidenciais da última terça-feira (5), quando obteve uma ampla vitória sobre a vice-presidente Kamala Harris (democrata), 60 anos. Além disso, a projeção da Associated Press é de que fará maioria na Câmara dos Representantes (deputados) e no Senado. Soma-se a isso o fato de que, no seu primeiro mandato, ele nomeou três juízes para a Suprema Corte, tornando maioria os conservadores – seis dos nove juízes. E que, no segundo mandato, poderá nomear novos juízes e até ampliar a base conservadora se um dos três progressistas remanescentes se aposentar. No atual momento, a se confirmar este quadro, Trump assumirá como um dos mais poderosos ocupantes da Casa Branca. Só existirá a imprensa para contestar as suas ações. E a imprensa americana, como no resto do mundo, não vive um dos seus grandes momentos. Por conta das ameaças do presidente americano eleito tenho lido vários artigos e trabalhos acadêmicos. Entre eles, li no Estadão um texto chamado “A dura verdade é que as pessoas não confiam no jornalismo”, de Jeff Bezzos, dono da Amazon e do jornal Washington Post. No seu texto, ele desfila estatísticas e argumentos sobre a decadência do jornalismo tradicional. Também tenho conversado sobre o assunto com colegas que trabalham em vários países, que conheci nas décadas de 80 e 90, quando fazia cobertura de conflitos agrários no Brasil e em boa parte da América do Sul. Concordo que o jornalismo tradicional está em acelerada decadência. Comecei a trabalhar em redação em 1979 e sou testemunha deste processo no Brasil. Diria que o auge das grandes empresas de comunicação ao redor do mundo foi no final da década de 80.

Mas também sou testemunha que, em momentos decisivos para a sobrevivência da democracia, o jornalismo tradicional renasce e cresce. Vou lembrar um caso recente que foi a pandemia de Covid-19 (2020 e 2021), que causou 13 milhões de mortes no mundo, sendo mais de 1 milhão nos Estados Unidos e 700 mil no Brasil. Trump era presidente e estudos apontam que o seu negacionismo em relação ao poder de contágio e letalidade do vírus foi responsável pelo elevado número de mortes. No Brasil, era presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 69 anos, que também era negacionista em relação ao vírus, e o estrago que causou pode ser encontrado nas 1,3 mil páginas do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado da Covid-19, a CPI da Covid. O trabalho da imprensa na época salvou muitas vidas. Sou um velho repórter estradeiro, 74 anos, e há quatro décadas ando pelos sertões do Brasil e países vizinhos fazendo reportagens investigativas sobre conflitos agrários, migrações e crime organizado nas fronteiras. Aprendi que a reação da imprensa contra os seus agressores nasce entre os repórteres. É da nossa natureza brigar pelos mais fracos. Repórter é repórter em qualquer canto do mundo. Por isso, acredito que a imprensa americana reagirá aos ataques de Trump e terá uma boa chance de se sair bem. No seu primeiro mandato, Trump tinha como seu estrategista Steve Bannon, 70 anos, que montou uma rede de fake news que tornou um inferno a vida dos jornalistas nas redações. O problema foi resolvido com o surgimento das agências de verificação. Bannon saiu da cadeia no final de outubro, onde ficou quatro meses, acusado de não ter colaborado com uma investigação do Congresso sobre a invasão do Capitólio por seguidores de Trump, em 6 de janeiro de 2021, para impedir a sessão legislativa que ratificaria a vitória do atual presidente Joe Biden (democrata), 81 anos, nas eleições de novembro de 2020. Se Bannon falasse, complicaria a vida de Trump. Ainda não se tem notícias de qual será a sua função no novo governo. Sabemos que o presidente eleito costuma ser generoso com quem lhe é fiel. Durante a campanha, as fake news ficaram por conta do bilionário Elon Musk, 53 anos, dono do aplicativo X, antigo Twitter. Trump prometeu que Musk teria um posto no seu governo. É provável que o enfrentamento com a imprensa seja feito pelo bilionário.

Nos Estados Unidos como Brasil, e me atrevo a dizer também em outros países democráticos, as articulações para as próximas eleições começam no segundo seguinte ao fechamento das urnas. As próximas eleições presidenciais americanas acontecerão em 2028. A 22ª Emenda da Constituição proíbe um terceiro mandato. O que isso significa? Que nos bastidores os seguidores do presidente eleito travarão uma guerra pela indicação para concorrer em 2028. Pela lógica, seria o vice, o senador J. D. Vance, de Ohio, 39 anos. Mas nós jornalistas sabemos que a disputa política não é lógica, ela é guiada pelas articulações nos bastidores. A única coisa que podemos afirmar, com certeza, é que não será Musk, porque a Constituição exige que o presidente da República seja cidadão americano nato. O bilionário nasceu na África do Sul. Mas isso não significa que ficará fora do jogo que escolherá o candidato dos republicanos em 2028. Para nós repórteres essa disputa é uma porta de entrada na Casa Branca. Sabemos que nestas ocasiões sempre há alguém querendo falar. Certamente, não dará a cara a tapa nas redes sociais. Vai ser na velha e eficiente “conversa ao pé do ouvido”. Como se diz nos cantos das redações, Trump não está com essa bola toda.

 

¨      Trump terá mais poder do que os "pais fundadores" imaginaram

Os EUA podem estar caminhando para dois bons anos – se você for um apoiador do Partido Republicano. Donald Trump não só se mudará para a Casa Branca em 20 de janeiro, como o partido de direita também ganhou o controle do Senado, com 100 assentos, e manteve o controle da Câmara dos Deputados.

Desde as eleições de meio de mandato de 1858, as primeiras a colocar democratas contra republicanos em uma disputa bipartidária, os eleitores já entregaram o chamado "governo unificado" 48 vezes – os democratas conseguiram isso 23 vezes e os republicanos, 25. Os partidos dividiram o controle da Casa Branca e de pelo menos uma câmara do Congresso 38 vezes no mesmo período.

Normalmente, o partido do presidente não mantém o controle sobre a maioria do Congresso por muito tempo. "Embora um único partido no comando em Washington seja comum no início do mandato de um novo presidente, houve apenas uma presidência desde 1969 em que o controle durou além da eleição de meio de mandato", escreve Katherine Schaeffer, do Pew Research Institute.

As eleições de meio de mandato do Congresso são realizadas na metade do mandato de quatro anos do presidente. O democrata Jimmy Carter foi o único presidente a garantir e manter o controle do Congresso durante todo o seu mandato de quatro anos (1977-1981). Mesmo assim, ele perdeu a disputa pela reeleição em 1980.

"Os presidentes têm plena consciência de que seu controle sobre a maioria do Congresso é algo potencialmente passageiro", diz Nolan McCarty, professor de política e assuntos públicos da Universidade de Princeton. "Portanto, acho que isso leva a crer que o presidente [Trump] tentará agir rapidamente em relação a certas prioridades legislativas."

<><> Trump pode se sobrepor ao Senado?

O sistema de separação de poderes nos EUA é tão antigo quanto a própria Constituição. Os "pais fundadores" que definiram as bases institucionais do país estabeleceram um sistema de freios e contrapesos para limitar o poder de qualquer um dos três poderes do governo, dividindo as responsabilidades entre o Executivo (o presidente), o Legislativo (o Congresso) e o Judiciário (a Suprema Corte e o sistema de tribunais federais).

A Declaração de Direitos da Virgínia de 1776 – que inspirou a Declaração de Direitos dos EUA na Constituição pouco mais de dez anos depois – afirma claramente: "... os poderes Legislativo e Executivo do Estado devem ser separados e distintos do Judiciário..."

O Senado desempenhará um papel especialmente importante quando o mandato de Trump começar em janeiro, pois é responsável por confirmar ou rejeitar indicados para o gabinete do presidente. Os republicanos têm 53 assentos (54 se for considerado o vice-presidente JD Vance, que, como presidente do Senado, atuará em caso de empate, em oposição aos 47 dos democratas, o que dá ao Partido Republicano uma ligeira maioria.

Mas alguns dos indicados para o gabinete de Trump são controversos – como a ex-democrata Tulsi Gabbard e o ex-representante da Flórida Matt Gaetz, cujo comportamento extremista no Congresso o tornou muito impopular até mesmo dentro de seu próprio partido – o que significa que a confirmação pode ser um desafio.

O novo presidente deixou claro que preferiria contornar todo o processo de confirmação. Para isso, Trump poderia fazer as chamadas "nomeações em recesso", nomeando membros do gabinete enquanto o Congresso não estiver em sessão, o que lhe permitiria evitar as audiências de confirmação. Trump já pediu aos republicanos que aprovem esse plano incomum em uma declaração no X.

"A discussão é se o Senado entrará em recesso para permitir que o presidente nomeie seu gabinete sem estar sujeito à aprovação do Senado", diz Nolan McCarty. "Nunca tivemos uma situação em que as nomeações em recesso fossem usadas de forma tão ampla. Normalmente, elas são usadas para uma ou duas nomeações aqui e ali, mas ter uma administração inteira composta por pessoas com nomeações em recesso seria preocupante."

<><> Papel decisivo para a Suprema Corte

controle de um mesmo partido sobre a Casa Branca, o Senado e a Câmara dos Deputados não é algo fora do comum, como mencionado acima.

Mas, além disso, o presidente eleito tem outro trunfo na manga, a Suprema Corte. Embora a Suprema Corte dos EUA seja ostensivamente apartidária, o fato é que os presidentes só selecionam ministros que refletem suas próprias tendências políticas. Em seu primeiro mandato como presidente, Trump conseguiu instalar três ministros muito conservadores na Suprema Corte.

Dos cinco ministros homens e quatro ministras mulheres da corte de nove membros – todos com cargos vitalícios – Trump agora pode contar com o apoio claro de seis deles. Especialistas como McCarty esperam que Trump impulsione muitos de seus objetivos políticos com as chamadas "ordens executivas", que lhe permitem ignorar o Congresso e todo o processo legislativo. "O controle normal disso são os tribunais", diz McCarty. E com a Suprema Corte e vários outros tribunais federais sob o controle dos republicanos, "será um pouco mais fácil escapar do escrutínio judicial dessas ações".

<><> "Mais poder do que autores da Constituição jamais poderiam ter imaginado"

Essa tendência republicana também pode ter um efeito sobre os planos de Trump para a deportação em massa de imigrantes ilegais. A Suprema Corte, por exemplo, poderia ser chamada a se pronunciar sobre a constitucionalidade do envio de militares norte-americanos para realizar deportações ou sobre tentativas de acabar com a cidadania por nascimento [garantida pela 14ª Emenda da Constituição dos EUA], como disse à DW Sarah Binder, professora de ciências políticas da Universidade George Washington.

Binder está preocupada com a possibilidade de a Suprema Corte, atualmente com maioria conservadora, optar por ignorar os precedentes legais e decidir regularmente a favor das políticas republicanas. Ela aponta as recentes decisões da Suprema Corte sobre o direito ao aborto e a imunidade presidencial como exemplos disso.

"Isso é o que me preocupa em relação à Suprema Corte", diz a cientista política, "que ela apoiaria e daria poder ao presidente Trump para que ele assumisse muito mais poder no Poder Executivo do que acho que os autores da Constituição jamais imaginaram que deveria acontecer."

 

Fonte: Observatório da Imprensa/Brasil 247/DW Brasil

 

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