quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Celular de Cid foi mais importante do que delação, e PF sempre desconfiou que ele protegia Bolsonaro

Essa não é a primeira vez que os investigadores desconfiam da delação premiada de Mauro Cid. Desde o começo dos depoimentos do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), era esperado que ele não iria fazer grandes revelações. Por isso, a apreensão do celular de Cid foi o bem mais precioso para a investigação porque, a partir da extração dos dados, foi-se revelando todos os passos da tentativa de golpe.

Após novo depoimento na terça-feira (19), a Polícia Federal (PF) enviou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um relatório em que aponta omissões e contradições no depoimento. O ministro pediu que a Procuradoria-geral da República (PGR) se manifeste sobre o tema para decidir se cancela os benefícios concedidos a Mauro Cid com a delação.

Logo que ele assinou o acordo de delação com a PF em 2023, a avaliação era de que, como ele sempre foi a "sombra" do ex-presidente e que estava por dentro de tudo o que acontecia no governo, ele poderia fazer grandes revelações caso decidisse contar tudo o que viu.

Mas não foi isso o que aconteceu. Espera-se que um delator mostre os caminhos da investigação, mas Cid não fez isso. Segundo investigadores com quem Natuza Nery conversou à época da assinatura da delação, os fatos contados pelo ex-ajudante de ordens até serviram para preencher alguns buracos, mas não mudaram o rumo das investigações ou trouxeram alguma informação bombástica. O que foi mais importante, a PF conseguiu sozinha, que foi o celular de Cid.

O aparelho foi apreendido quando Cid foi preso em maio de 2023 durante operação da PF que apurou inclusão de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde sobre a vacinação de Bolsonaro. A extração dos dados do aparelho foi concluída em 17 de maio daquele ano.

Não há um ponto da delação de Cid que se tornou pública que tenha prejudicado Bolsonaro de alguma maneira. A percepção da PF é de que o Cid sempre tentou proteger o ex-presidente, inclusive quando entregou informações que, lá na frente, poderiam complicá-lo.

Cid só delatou sobre a existência de uma reunião sobre a minuta do golpe depois que teve os benefícios de sua delação premiada colocada em risco pela primeira vez. Quando houve esse risco, ele teve que voltar a depor e aí, sim, contou da reunião de Bolsonaro com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Essa reunião não configuraria crime apenas pelo relato de Cid porque delator precisa aponta provas. Por isso, a partir do relato, a polícia foi atrás do depoimento dos comandantes das Forças Armadas e conseguiu dois importantes: o do general Freire Gomes e o do almirante Almir Garnier. Esses depoimentos mostraram que Bolsonaro estava discutindo uma minuta de golpe de Estado.

O relato de Cid à PF não prejudicaria Bolsonaro, a não ser que ele tivesse provas. E Cid não entregou nenhuma prova. Quem conseguiu colher provas foi a PF com o depoimento dos dois comandantes.

<><> Prisões de Cid

Mauro Cid foi preso pela primeira vez em maio de 2023, na operação que investiga a falsificação de cartões de vacinação de Bolsonaro, parentes e assessores. Em setembro, após quase seis meses detido, ele fechou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, que foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, e deixou a prisão.

O ex-ajudante de ordens foi preso novamente no dia 22 de março deste ano, durante depoimento à Polícia Federal (PF), após o vazamento de áudios que mostram uma conversa em que Cid faz ataques à corporação e ao STF. A Justiça entendeu que ele desobedeceu regras da delação premiada ao falar sobre as investigações.

Ele foi solto em 3 de maio por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e deve cumprir uma série de restrições, como usar tornozeleira eletrônica e não se comunicar com outros investigados.

<><> Entre as medidas que devem ser cumpridas, estão:

•                                    Proibição de deixar Brasília e o país, com a obrigação de entregar os passaportes;

•                                    Recolhimento domiciliar no período noturno e nos finais de semana com uso de tornozeleira eletrônica;

•                                    Suspensão imediata de quaisquer documentos de porte de arma de fogo;

•                                    Proibição de utilização de redes sociais;

•                                    Proibição de contato com os demais investigados, com exceção de esposa e pai.

<><> PF aponta omissões de Cid em delação, e STF vai decidir se anula benefícios de acordo

A Polícia Federal (PF) enviou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um relatório em que aponta omissões e contradições no depoimento desta terça-feira (19) de Mauro Cid e no qual afirma que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro descumpriu cláusulas do acordo de delação premiada.

Moraes pediu que a Procuradoria-geral da República (PGR) se manifeste sobre o tema para decidir se cancela os benefícios concedidos a Mauro Cid com a delação. Só depois disso, ele vai analisar se deve decretar a prisão de Cid, caso haja um pedido da PF.

Uma possível anulação do acordo não envolve o conteúdo da delação em si, e as provas coletadas seguem valendo, mesmo que a colaboração seja cancelada.

Os pedidos de Cid para ter colaborado com as autoridades envolvem uma redução de pena e a possibilidade de responder aos processos fora da prisão. Além disso, ele deve respeitar uma série de medidas como usar tornozeleira eletrônica e não se comunicar com outros investigados.

Em depoimento na tarde desta terça-feira (19), Cid negou ter conhecimento de um plano para um golpe de Estado em dezembro de 2022 e que resultou na operação desta terça-feira, com a prisão de 4 militares e um policial federal.

<><> Cid é intimado por Alexandre de Moraes para esclarecer contradições em depoimento

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, será ouvido no Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde da próxima quinta-feira (21).

A Procuradoria-Geral da República (PGR) e a defesa de Mauro Cid já foram informadas da marcação do depoimento para as 14h.

A audiência foi marcada para analisar as contradições dos depoimentos de Cid com as investigações da Polícia Federal e será presidida pelo próprio ministro relator do caso, Alexandre de Moraes.

A medida vem após a PF enviar um relatório a Moraes apontando omissões e contradições em depoimento dado por Cid à corporação nesta terça (19).

O documento da PF alega que Cid descumpriu cláusulas do acordo de delação premiada.

Moraes solicitou à PGR um parecer para decidir se o acordo será cancelado. Caso a PGR recomende e a análise seja positiva, ele pode decretar a prisão de Cid, caso a PF formalize o pedido. Vale destacar que a anulação do acordo não invalida as provas já obtidas, que seguem válidas mesmo sem a colaboração de Cid.

Durante o depoimento, Cid negou conhecimento de um plano para um golpe de Estado em dezembro de 2022, apesar de uma operação da PF nesta terça que prendeu quatro militares e um policial federal por planejarem as mortes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio Moraes..

Investigadores acreditam que Cid omitiu informações e que, de fato, sabia mais do que relatou. As investigações mostram troca de mensagens entre Cid e o general da reserva Mario Fernandes, um dos presos desta terça, que mencionou o aval de Bolsonaro para ações até o último dia de 2022.

•                                    Advogado diz que Cid desconhecia plano para matar Lula, Alckmin e Moraes: 'Quem podia dar golpe fugiu para os EUA'

O advogado de Mauro Cid, Cezar Bittencourt, procurou a imprensa nesta terça-feira (19) para negar que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) tinha conhecimento de qualquer plano de matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

"Desconhece completamente. Não omitiu nada. Ele não tem absolutamente nada a ver com isso", disse.

Sobre Cid ter conhecimento de uma tentativa de golpe de estado, Bittencourt disse que "todo mundo sabe que quem podia dar golpe estava no Planalto e fugiu para os Estados Unidos".

Bittencourt também disse que não existe motivo para que Cid perca os benefícios de delação premiada mas que, se cassarem, ele vai recorrer da decisão.

O ex-ajudante de ordens prestou novo depoimento nesta terça. Após o interrogatório, a Polícia Federal (PF) enviou a Moraes um relatório em que aponta omissões e contradições no depoimento e no qual afirma que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro descumpriu cláusulas do acordo de delação premiada.

Segundo apuração da TV Globo, os investigadores não ficaram satisfeitos e acreditam que o ex-assessor de Bolsonaro esconde informações sobre o plano golpista.

Moraes pediu que a Procuradoria-geral da República (PGR) se manifeste sobre o tema para decidir se cancela os benefícios concedidos a Mauro Cid com a delação. Só depois disso, ele vai analisar se deve decretar a prisão de Cid, caso haja um pedido da PF.

Uma possível anulação do acordo não envolve o conteúdo da delação em si, e as provas coletadas seguem valendo, mesmo que a colaboração seja cancelada.

Os pedidos de Cid para ter colaborado com as autoridades envolvem uma redução de pena e a possibilidade de responder aos processos fora da prisão. Além disso, ele deve respeitar uma série de medidas como usar tornozeleira eletrônica e não se comunicar com outros investigados.

No depoimento desta terça, Cid negou ter conhecimento de um plano para um golpe de Estado em dezembro de 2022 e que desconhecia todo teor do que as apurações trouxeram e que resultaram na operação desta terça-feira (19), com a prisão de 4 militares e um policial federal.

A investigação da PF aponta que Cid e o general da reserva Mario Fernandes, preso nesta terça-feira, trocaram mensagens sobre as supostas ações golpistas. O general disse a Cid que conversou com o presidente e que ouviu dele que "qualquer ação" poderia acontecer até o último dia de 2022.

•                                    Em plano golpista, Lula era chamado de "Jeca" e Alckmin de "Joca"

A investigação que desmantelou a organização criminosa envolvida no planejamento de um golpe de Estado e na execução de autoridades também revelou que os alvos da execução possuíam codinomes para serem identificados.

O plano, denominado "Punhal Verde e Amarelo", previa a execução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

Lula e Alckmin eram chamados pelos nomes "Jeca" e "Joca". Um "Juca" também foi identificado pela investigação entre os codinomes utilizados pelos criminosos, mas a Polícia Federal afirmou que "não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso".

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, também era alvo do plano, sendo chamado de "Professora" pelos golpistas.

<><> Investigados utilizavam nomes de países

O documento ainda revela que os investigados também utilizavam codinomes para não serem identificados.

Segundo a investigação, eles utilizavam nomes de países como Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana em um grupo criado no aplicativo Signal, onde debatiam detalhes do plano de golpe de estado e execução de autoridades.

"As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo 'copa 2022' demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o Ministro Alexandre de Moraes", afirma a PF.

As investigações indicaram também que Rafael Martins usou o codinome "Diogo Bast", além do codinome "Japão" nas trocas de mensagens.

 

•                                    Plano 'Punhal Verde Amarelo': veja repercussão entre membros do governo Lula, STF e Congresso

Foi o diretor-geral da PF Andrei Rodrigues quem informou o presidente Lula sobre a operação por volta das 6h30 da manhã desta terça-feira (19).

Segundo Andrei, a reação do presidente foi de surpresa e indignação.

Ainda de manhã, o senador do PL Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, se manifestou numa rede social.

"Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime. E para haver uma tentativa é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes. O que não parece ter ocorrido", diz o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP).

Em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes argumentou de maneira oposta.

“O que a gente diz é que a mera cogitação, a expressão usada em latim cogitatio, ela, em princípio, é não punível. E em se tratando de crimes contra a segurança do Estado ou contra a segurança nacional, a legislação muitas vezes é mais severa em relação a isso, de modo que não se pode banalizar essa expressão dizendo, 'olha, pensar em matar alguém não é crime'. Não se trata de mera cogitatio, nós estamos já num plano de preparação e execução”, diz Gilmar Mendes, ministro do STF.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, abriu a sessão do Conselho Nacional de Justiça com uma declaração:

“Amanhecemos hoje com notícias estarrecedoras sobre uma possível tentativa de golpe que ocorreu no Brasil após as últimas eleições presidenciais. As investigações estão em curso e é preciso aguardar a sua evolução. Mas, tudo sugere que estivemos mais próximos do que imaginávamos do inimaginável. O que é possível dizer, neste momento, é que o golpismo, o atentado contra as instituições e contra os agentes públicos que as integram, nada tem a ver com ideologia ou com opções políticas. É apenas a expressão de um sentimento antidemocrático e de desrespeito ao Estado de direito. Nós estamos falando de crimes previstos no Código Penal”, diz o presidente do STF Luís Roberto Barroso.

O presidente do Senado Rodrigo Pacheco, do PSD, declarou:

“Não há espaço no Brasil para ações que atentam contra o regime democrático, e menos ainda, para quem planeja tirar a vida de quem quer que seja. Que a investigação alcance todos os envolvidos para que sejam julgados sob o rigor da lei”.

O ministro da Justiça considerou os fatos gravíssimos. Lamentou o possível envolvimento de um agente da Polícia Federal no caso e disse que o grupo chegou muito perto de atingir o objetivo criminoso.

“Realmente chegaram muito perto. Eu acabo de ler as 200 e poucas páginas da representação da Polícia Federal e, em vários momentos, chegaram muito próximos, rondaram o apartamento funcional do ministro Alexandre Moraes. Certamente não tiveram a oportunidade de praticar esse pavoroso desígnio, enfim, criminoso, que eles estavam urdindo", fala Ricardo Lewandowski.

O presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin não se pronunciaram. O ex-presidente Jair Bolsonaro não respondeu ao Jornal Nacional. A defesa do ex-ministro Braga Netto não quis se manifestar. Nós não conseguimos contato com os advogados dos suspeitos presos.

 

Fonte: g1

 

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