Postura
pragmática garante à América Latina investimentos estrangeiros e soberania
Em meio à queda de braço entre EUA e China por influência na
América Latina, analistas apontam que países do continente devem adotar
pragmatismo e tentar equilibrar as relações entre as duas potências, garantindo
soberania interna.
O não alinhamento ativo com os Estados Unidos ou a China "é
uma estratégia importante para os países latino-americanos navegarem por essas
águas turbulentas, mantendo, portanto, as relações positivas com os dois lados
e […] ao mesmo tempo defendendo os próprios interesses", declara Regiane
Bressan, especialista em América Latina e professora de relações internacionais
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista ao Mundioka,
podcast da Sputnik Brasil.
Segundo a especialista, o Brasil é um bom exemplo de nação que
trabalha de forma pragmática e consegue estabelecer uma relação de equilíbrio
entre Washington e Pequim.
"As decisões da nossa política externa são muito tomadas
com base no que é melhor para o Brasil, e não em função das pressões
externas", afirma.
Outra estratégia para garantia da soberania dos países
latino-americanos, e também para evitar que eles fiquem reféns de um único
parceiro, é diversificar suas parcerias.
A proposta de não alinhamento também consiste em estar sempre em
diálogo tanto com os EUA quanto com a China, haja vista a importância da
parceria que esses dois países construíram com o continente, ou seja,
"manter a comunicação aberta, buscando áreas de convergência e
gerenciando, quando possível, as divergências", sugere a especialista.
Já no que diz respeito às negociações internacionais, Bressan
destaca que a América Latina tem os recursos naturais como premissa de barganha
para conseguir condições interessantes.
"Os países desenvolvidos ou empresas multinacionais podem
pressionar para acordos que garantam acesso aos recursos naturais da América
Latina em condições desvantajosas, explorando, por exemplo, a necessidade de
investimento externo e a fragilidade institucional, ou seja, o arcabouço de
leis que protegem os nossos biomas. Então os países teriam que negociar
favoravelmente aos seus interesses domésticos, e, claro, protegendo o meio
ambiente, considerando os impactos socioambientais da exploração desses recursos",
analisa.
Condições interessantes que os países latino-americanos podem
tentar negociar, segundo a professora da Unifesp, seriam barreiras não
tarifárias em acordos comerciais assimétricos e condições mais favoráveis de
financiamento, uma vez que estas costumam vir acompanhadas de altas taxas de
juros, perpetuando dependências financeiras.
Beatriz Bandeira de Mello, cientista política e doutoranda em
relações internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), vai
na mesma linha de Bressan, pontuando que, no mundo ideal, "a melhor
estratégia seria tentar se posicionar da maneira mais pragmática
possível". Entretanto, a vitória de Donald Trump nos EUA "coloca os
países da América Latina em uma nova etapa de relações", argumenta.
A analista explica que o "efeito Trump" já vem
acontecendo, com mandatários como Javier Milei, na Argentina, e Nayib Bukele,
em El Salvador, buscando se alinhar ao presidente eleito dos EUA. Portanto,
segundo ela, "essa aliança tende a se fortalecer, pelo menos no âmbito
ideológico".
Para Bressan, o cenário esperado é de Estados Unidos pensando no
próprio interesse, não se importando com o desenvolvimento da América Latina.
Ela aponta, portanto, que, "apesar da crise das organizações
multilaterais, é o momento de a América Latina pensar nesses fóruns, nessas
oportunidades multilaterais para negociar os seus interesses a partir de uma
diplomacia ativa".
Em relação ao alinhamento automático demonstrado por Milei em
relação aos EUA de Trump, Bressan acredita que essa atitude não interessa ao
Brasil, uma vez que isso implica em perda do poder de influência do Brasil na
região.
Polarização não é interessante para o Brasil, afirma analista
"Nas relações internacionais, quanto mais portas você tiver
abertas para a sua negociação, para os seus interesses, melhor é para
você", explica a professora da Unifesp, acrescentando que o Brasil negocia
com várias partes sem ter que se posicionar e se polarizar, isolando-se apenas
de um lado.
O diálogo com os chineses, por exemplo, pode gerar frutos
bastante positivos no que diz respeito à infraestrutura na América Latina, como
rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, e também a investimentos no setor de
energia.
"Há quantas décadas estamos tentando ter um acesso de saída
ao Pacífico? Seria muito importante que nós conseguíssemos ter esse acesso, bem
como melhorássemos nossa infraestrutura para diminuir o Custo Brasil, porque o
nosso custo de exportação é muito alto, devido à nossa malha ferroviária, que é
obsoleta, à nossa infraestrutura, que é débil, que é carente", argumenta
Bressan sobre parcerias com os chineses.
Além disso, ela ressalta que o Brasil precisa melhorar o
investimento em áreas como tecnologia, telecomunicações, inteligência
artificial, "para de fato modernizarmos todo o nosso parque industrial e
realmente promovermos um novo momento, uma nova era ao desenvolvimento
nacional".
Nesse sentido, a parceria com os chineses, mais voltada para uma
cooperação mais horizontal, torna-se um foco interessante.
"Se a gente olhar para a relação entre América Latina e
Ásia de modo geral, são estratégias que são mais complementares. Essa busca por
uma diversificação de parcerias, a própria integração na América Latina, essa
cadeia produtiva que tem a China como pilar, tem funcionado, descentralizar a
questão do dólar nas transações internacionais", explica Bandeira de
Mello.
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Milei busca um acordo
de livre comércio com os EUA: medida aumenta tensões com Brasil e Mercosul?
A intenção do presidente da Argentina, Javier Milei, de buscar
um acordo de livre comércio com os Estados Unidos poderia prejudicar o
Mercosul, que não permite negociações sem o acordo de todo o bloco. Em diálogo
com a Sputnik, o analista Emanuel Porcelli disse que pode surgir um
"cenário de confronto" com o Brasil.
A vitória eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos motivou o
presidente argentino Javier Milei a manifestar publicamente a sua intenção de
procurar um Tratado de Livre Comércio (TLC) com Washington, aproveitando a
eventual harmonia entre ambos os governos.
Durante entrevista à rádio argentina Rivadavia, Milei garantiu
que a vitória de Trump permitiria "progredir em maiores acordos comerciais
com os Estados Unidos, da mesma forma que estamos avançando com a China".
Questionado especificamente se isso significava que ele buscaria
um TLC, o presidente foi categórico: "Exatamente, sim, está certo, você me
leu perfeitamente."
Embora Milei e Trump já tenham compartilhado evento em
Mar-a-Lago, a possibilidade de um acordo comercial quando o norte-americano
voltar à Casa Branca só foi mencionada, por enquanto, pelo argentino, que
também confia que Trump facilitará as negociações com o Fundo Monetário
Internacional (FMI).
<><> Um balão de ensaio
Em diálogo com a Sputnik, Emanuel Porcelli, cientista político
argentino e especialista em Relações Internacionais, argumentou que a
declaração de Milei é mais um "balão de ensaio" do que uma
possibilidade concreta, dado que "não houve nenhuma ação anterior"
que presuma algum tipo de progresso rumo a um acordo comercial.
O analista destacou que se trata de um campo diferente do acordo
Mercosul-União Europeia (UE), em que, apesar da falta de especificidade, há
"uma longa jornada que facilitaria o processo".
Nesse sentido, destacou que a Argentina e os Estados Unidos não
têm histórico de negociações para um acordo comercial desde a IV Cúpula das
Américas, em 2005, em Mar del Plata, quando os Estados Unidos tentaram
promover, sem sucesso, a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).
"A ideia de um TLC é mais uma expressão do desejo de
construir aquela narrativa do vínculo especial que existe entre a Argentina e
os EUA do que uma realidade que seja realmente propícia", afirmou
Porcelli.
O especialista sublinhou ainda que a "retórica
protecionista da primeira administração Trump" torna difícil pensar que o
magnata norte-americano optará pelo livre comércio com a Argentina. A título de
exemplo, o analista lembrou que, durante o seu primeiro mandato (2017-2021), o
norte-americano aumentou as tarifas sobre as exportações argentinas de
biodiesel para os Estados Unidos.
Neste quadro, Porcelli arriscou que, apesar do otimismo de
Milei, a relação de Trump com a América Latina "não parece que seria
transmitida através de um discurso de livre comércio". Pelo contrário,
levantou a hipótese de que o próximo presidente dos EUA concentrará os seus
laços com a Argentina e a região em uma "política de segurança",
focada em contrariar a influência chinesa.
Estagnação do Mercosul?
Mas, mesmo com poucas chances de se concretizar, a intenção de
Milei de avançar com um TLC com os EUA poderia ser uma mensagem forte para o
Mercosul internamente, cuja próxima cúpula de presidentes está marcada para 5 e
6 de dezembro em Montevidéu, no Uruguai.
O fato é que a possibilidade de os parceiros do bloco — que
atualmente são Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia — negociarem
acordos comerciais com terceiros países sem o consentimento dos demais membros
tem sido um ponto de controvérsia dentro do bloco nos últimos anos.
Precisamente, o presidente argentino anterior, Alberto Fernández
(2019-2023), foi especialmente enfático ao rejeitar a intenção do Uruguai de
promover um possível acordo de livre comércio com a China, sem a autorização
dos outros parceiros.
Para Porcelli, espera-se que a vitória de Trump nos EUA e a
recente nomeação do ex-embaixador argentino em Washington, Gerardo Werthein,
como chanceler permitam a Milei manter "uma posição muito mais
radicalizada e de confronto" dentro do Mercosul, sempre a favor de
fortalecer as relações com os Estados Unidos.
Além disso, sublinhou o especialista, a cúpula do Mercosul em
dezembro será realizada um dia após a Conferência de Ação Política Conservadora
(CPAC) que terá lugar no dia 4 de dezembro em Buenos Aires e poderá contar com
a presença do próprio Trump e do seu secretário de Estado designado, Marco
Rubio.
"Milei irá à cúpula do Mercosul com o poder da cúpula da
CPAC, então certamente criará um cenário de confronto, especialmente com o
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva", disse Porcelli.
Embora o Brasil tenha iniciado negociações com os EUA para um
possível TLC em 2019, quando o presidente brasileiro era Jair Bolsonaro
(2019-2023), essa possibilidade foi congelada com o retorno ao governo Lula,
que já havia rejeitado um eventual acordo com essas características em seu
primeiro mandato e parece focado em suas relações com os demais membros do
BRICS.
<><> O risco de negociar bilateralmente
Assim, as intenções de Milei de estreitar os laços com os EUA
poderão encontrar resistência do Brasil em um Mercosul que, segundo Porcelli,
"já está estagnado em termos de iniciativas e discussões". Uma nova
divergência entre Buenos Aires e Brasília devido à relação com Washington
poderia "aprofundar ou continuar esta estagnação", previu o cientista
político.
De qualquer forma, o especialista considerou que o nível de
confronto sobre a exigida "flexibilidade" do bloco regional dependerá
também "da capacidade do Brasil de conter e impor os ritmos da
agenda" e de como vão jogar "os atores econômicos que têm sido os
beneficiários do Mercosul", geralmente os setores industriais argentino e
brasileiro, geralmente contrários à assinatura de acordos de livre comércio.
Estes setores poderiam, segundo o analista, funcionar como um
"elemento disciplinador" para evitar "apostar em negociações
unilaterais e quebrar a lógica 4+1" usada pelo bloco para negociar com
parceiros externos.
Para Porcelli, o Mercosul pode encontrar na Comunidade Andina
(CAN) – bloco econômico formado pela Bolívia, Colômbia, Equador e Peru – um
exemplo dos resultados negativos de permitir negociações bilaterais sem o apoio
de todo o bloco.
"Uma vez possibilitada a possibilidade de negociação
bilateral, a CAN desapareceu como espaço de gestão de acordos comerciais e de
cogestão nas negociações internacionais", alertou.
<><> Brasil e Argentina assinam memorando para
ampliar importações de gás natural argentino
Brasil e Argentina assinaram nesta segunda-feira (18), durante a
cúpula dos líderes do G20, um memorando de entendimento para ampliar as
importações de gás natural argentino para baixar o custo do insumo.
Um grupo de trabalho bilateral vai identificar as medidas
necessárias para viabilizar a oferta de gás natural argentino, principalmente
do gasoduto de Vaca Muerta, na província de Neuquén, no norte da Patagônia
argentina.
De acordo com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira,
que assinou o texto pela parte brasileira, a estimativa de movimentação é de 2
milhões de metros cúbicos por dia no curto prazo, aumentando nos próximos três
anos para 10 milhões de metros cúbicos por dia, até atingir 30 milhões de
metros cúbicos por dia em 2030.
Silveira destacou que a importação do gás de Vaca Muerta vai
fortalecer o desenvolvimento das indústrias de fertilizantes, vidro, cerâmica e
petroquímicos, entre outras.
"Teremos mais gás e, junto com ele, mais emprego, renda e
riqueza para brasileiras e brasileiros", afirmou.
Questionado pela Sputnik Brasil sobre o fato de a técnica
utilizada pela Argentina para extração de gás natural danificar o solo, e as
consequências disso para a presidência do Brasil no G20, o ministro disse que
por ora a obtenção do produto será dessa forma, "por conta da
demanda" brasileira no momento, e que "iremos endurecer as
lógicas" se tudo der certo.
"O que for mais barato para o Brasil, que precisa do
material no momento, nós iremos fazer."
O grupo de trabalho vai buscar soluções de viabilização que usem
a infraestrutura já existente nos dois países, permitindo a exportação do gás
argentino no menor tempo e com o menor custo possível. O memorando tem validade
de 18 meses, prorrogáveis. Ao final desse período, será apresentado um
relatório das atividades.
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Maduro classifica como
'fracassada' Cúpula Ibero-Americana com chefes de Estado realizada no Equador
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificou nesta
segunda-feira (18) como "fracassada" a Cúpula Ibero-Americana que
terminou na última semana no Equador sem uma declaração por conta da falta de
consenso entre os participantes.
"Fiquei muito triste ao ver o rei da Espanha [Felipe VI]
presidindo uma cúpula fracassada", disse Maduro durante a transmissão do
programa televisivo Con Maduro Más.
O presidente atribuiu o fracasso à realização do encontro no
Equador sob a liderança do presidente Daniel Noboa, a quem chamou de
"fascista".
"Por ter sido feita [a cúpula] no Equador, com um fascista,
um fascista consumado, Noboa significou o maior fracasso da Cúpula
Ibero-Americana", acrescentou.
Maduro destacou que "Noboa e [o presidente da Argentina,
Javier] Milei se tornaram os coveiros da cúpula".
O evento no Equador contou com a presença de apenas dois chefes
de Estado: o próprio Noboa e Marcelo Rebelo, de Portugal. Também participaram o
vice-presidente de El Salvador, Félix Ulloa; o chefe de governo de Andorra,
Xavier Espot; e o rei da Espanha, Felipe VI.
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Exportação de Super
Tucanos da Embraer para o Paraguai terá investimento de R$ 600 milhões do BNDES
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
assinou com o governo do Paraguai um contrato de financiamento da ordem de R$
600 milhões para a exportação de seis Super Tucanos e de um pacote logístico da
Embraer S.A. para a Força Aérea do Paraguai.
A assinatura ocorreu durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio
de Janeiro, encerrada nesta terça-feira (19), e contou com a presença do
ministro da Economia do Paraguai, Carlos Fernández Valdovinos, e do presidente
do BNDES, Aloizio Mercadante.
"Essa foi a primeira operação de financiamento a
exportações de produtos de Defesa aprovada em mais de 13 anos pelo BNDES,
marcando a retomada do banco no apoio à Base Industrial de Defesa [BID]
brasileira. É um setor estratégico da Nova Indústria Brasil, por ser intensivo
em tecnologia e gerador de inovações, com fabricação de produtos de alto valor
agregado e geração de empregos de alta qualificação", declarou Mercadante
durante a assinatura do contrato.
Ele destacou que os financiamentos do BNDES complementam o
financiamento provido pelo mercado privado e possibilitam aos exportadores
brasileiros concorrer no mercado externo em igualdade de condições com suas
concorrentes.
Usado para ações de treinamento, reconhecimento e combate, o
avião deve auxiliar o país vizinho na capacidade tecnológica de combate ao
narcoterrorismo, segundo o BNDES.
Líder mundial em sua categoria, o A-29 Super Tucano já tem mais
de 260 aeronaves desse tipo entregues e mais de 500 mil horas de voo, utilizado
por 16 forças aéreas.
Além do A-29 Super Tucano, a Força Aérea Brasileira (FAB)
fabrica o F-5M Tiger, o A-1 AMX e o Gripen, este último sendo o primeiro avião
de combate produzido no Brasil, em conjunto com a sueca Saab, que deverá ter
seu voo de inauguração em 2025.
Fonte: Sputnik Brasil
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