quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Postura pragmática garante à América Latina investimentos estrangeiros e soberania

Em meio à queda de braço entre EUA e China por influência na América Latina, analistas apontam que países do continente devem adotar pragmatismo e tentar equilibrar as relações entre as duas potências, garantindo soberania interna.

O não alinhamento ativo com os Estados Unidos ou a China "é uma estratégia importante para os países latino-americanos navegarem por essas águas turbulentas, mantendo, portanto, as relações positivas com os dois lados e […] ao mesmo tempo defendendo os próprios interesses", declara Regiane Bressan, especialista em América Latina e professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil.

Segundo a especialista, o Brasil é um bom exemplo de nação que trabalha de forma pragmática e consegue estabelecer uma relação de equilíbrio entre Washington e Pequim.

"As decisões da nossa política externa são muito tomadas com base no que é melhor para o Brasil, e não em função das pressões externas", afirma.

Outra estratégia para garantia da soberania dos países latino-americanos, e também para evitar que eles fiquem reféns de um único parceiro, é diversificar suas parcerias.

A proposta de não alinhamento também consiste em estar sempre em diálogo tanto com os EUA quanto com a China, haja vista a importância da parceria que esses dois países construíram com o continente, ou seja, "manter a comunicação aberta, buscando áreas de convergência e gerenciando, quando possível, as divergências", sugere a especialista.

Já no que diz respeito às negociações internacionais, Bressan destaca que a América Latina tem os recursos naturais como premissa de barganha para conseguir condições interessantes.

"Os países desenvolvidos ou empresas multinacionais podem pressionar para acordos que garantam acesso aos recursos naturais da América Latina em condições desvantajosas, explorando, por exemplo, a necessidade de investimento externo e a fragilidade institucional, ou seja, o arcabouço de leis que protegem os nossos biomas. Então os países teriam que negociar favoravelmente aos seus interesses domésticos, e, claro, protegendo o meio ambiente, considerando os impactos socioambientais da exploração desses recursos", analisa.

Condições interessantes que os países latino-americanos podem tentar negociar, segundo a professora da Unifesp, seriam barreiras não tarifárias em acordos comerciais assimétricos e condições mais favoráveis de financiamento, uma vez que estas costumam vir acompanhadas de altas taxas de juros, perpetuando dependências financeiras.

Beatriz Bandeira de Mello, cientista política e doutoranda em relações internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), vai na mesma linha de Bressan, pontuando que, no mundo ideal, "a melhor estratégia seria tentar se posicionar da maneira mais pragmática possível". Entretanto, a vitória de Donald Trump nos EUA "coloca os países da América Latina em uma nova etapa de relações", argumenta.

A analista explica que o "efeito Trump" já vem acontecendo, com mandatários como Javier Milei, na Argentina, e Nayib Bukele, em El Salvador, buscando se alinhar ao presidente eleito dos EUA. Portanto, segundo ela, "essa aliança tende a se fortalecer, pelo menos no âmbito ideológico".

Para Bressan, o cenário esperado é de Estados Unidos pensando no próprio interesse, não se importando com o desenvolvimento da América Latina. Ela aponta, portanto, que, "apesar da crise das organizações multilaterais, é o momento de a América Latina pensar nesses fóruns, nessas oportunidades multilaterais para negociar os seus interesses a partir de uma diplomacia ativa".

Em relação ao alinhamento automático demonstrado por Milei em relação aos EUA de Trump, Bressan acredita que essa atitude não interessa ao Brasil, uma vez que isso implica em perda do poder de influência do Brasil na região.

Polarização não é interessante para o Brasil, afirma analista

"Nas relações internacionais, quanto mais portas você tiver abertas para a sua negociação, para os seus interesses, melhor é para você", explica a professora da Unifesp, acrescentando que o Brasil negocia com várias partes sem ter que se posicionar e se polarizar, isolando-se apenas de um lado.

O diálogo com os chineses, por exemplo, pode gerar frutos bastante positivos no que diz respeito à infraestrutura na América Latina, como rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, e também a investimentos no setor de energia.

"Há quantas décadas estamos tentando ter um acesso de saída ao Pacífico? Seria muito importante que nós conseguíssemos ter esse acesso, bem como melhorássemos nossa infraestrutura para diminuir o Custo Brasil, porque o nosso custo de exportação é muito alto, devido à nossa malha ferroviária, que é obsoleta, à nossa infraestrutura, que é débil, que é carente", argumenta Bressan sobre parcerias com os chineses.

Além disso, ela ressalta que o Brasil precisa melhorar o investimento em áreas como tecnologia, telecomunicações, inteligência artificial, "para de fato modernizarmos todo o nosso parque industrial e realmente promovermos um novo momento, uma nova era ao desenvolvimento nacional".

Nesse sentido, a parceria com os chineses, mais voltada para uma cooperação mais horizontal, torna-se um foco interessante.

"Se a gente olhar para a relação entre América Latina e Ásia de modo geral, são estratégias que são mais complementares. Essa busca por uma diversificação de parcerias, a própria integração na América Latina, essa cadeia produtiva que tem a China como pilar, tem funcionado, descentralizar a questão do dólar nas transações internacionais", explica Bandeira de Mello.

 

¨      Milei busca um acordo de livre comércio com os EUA: medida aumenta tensões com Brasil e Mercosul?

A intenção do presidente da Argentina, Javier Milei, de buscar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos poderia prejudicar o Mercosul, que não permite negociações sem o acordo de todo o bloco. Em diálogo com a Sputnik, o analista Emanuel Porcelli disse que pode surgir um "cenário de confronto" com o Brasil.

A vitória eleitoral de Donald Trump nos Estados Unidos motivou o presidente argentino Javier Milei a manifestar publicamente a sua intenção de procurar um Tratado de Livre Comércio (TLC) com Washington, aproveitando a eventual harmonia entre ambos os governos.

Durante entrevista à rádio argentina Rivadavia, Milei garantiu que a vitória de Trump permitiria "progredir em maiores acordos comerciais com os Estados Unidos, da mesma forma que estamos avançando com a China".

Questionado especificamente se isso significava que ele buscaria um TLC, o presidente foi categórico: "Exatamente, sim, está certo, você me leu perfeitamente."

Embora Milei e Trump já tenham compartilhado evento em Mar-a-Lago, a possibilidade de um acordo comercial quando o norte-americano voltar à Casa Branca só foi mencionada, por enquanto, pelo argentino, que também confia que Trump facilitará as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

<><> Um balão de ensaio

Em diálogo com a Sputnik, Emanuel Porcelli, cientista político argentino e especialista em Relações Internacionais, argumentou que a declaração de Milei é mais um "balão de ensaio" do que uma possibilidade concreta, dado que "não houve nenhuma ação anterior" que presuma algum tipo de progresso rumo a um acordo comercial.

O analista destacou que se trata de um campo diferente do acordo Mercosul-União Europeia (UE), em que, apesar da falta de especificidade, há "uma longa jornada que facilitaria o processo".

Nesse sentido, destacou que a Argentina e os Estados Unidos não têm histórico de negociações para um acordo comercial desde a IV Cúpula das Américas, em 2005, em Mar del Plata, quando os Estados Unidos tentaram promover, sem sucesso, a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

"A ideia de um TLC é mais uma expressão do desejo de construir aquela narrativa do vínculo especial que existe entre a Argentina e os EUA do que uma realidade que seja realmente propícia", afirmou Porcelli.

O especialista sublinhou ainda que a "retórica protecionista da primeira administração Trump" torna difícil pensar que o magnata norte-americano optará pelo livre comércio com a Argentina. A título de exemplo, o analista lembrou que, durante o seu primeiro mandato (2017-2021), o norte-americano aumentou as tarifas sobre as exportações argentinas de biodiesel para os Estados Unidos.

Neste quadro, Porcelli arriscou que, apesar do otimismo de Milei, a relação de Trump com a América Latina "não parece que seria transmitida através de um discurso de livre comércio". Pelo contrário, levantou a hipótese de que o próximo presidente dos EUA concentrará os seus laços com a Argentina e a região em uma "política de segurança", focada em contrariar a influência chinesa.

Estagnação do Mercosul?

Mas, mesmo com poucas chances de se concretizar, a intenção de Milei de avançar com um TLC com os EUA poderia ser uma mensagem forte para o Mercosul internamente, cuja próxima cúpula de presidentes está marcada para 5 e 6 de dezembro em Montevidéu, no Uruguai.

O fato é que a possibilidade de os parceiros do bloco — que atualmente são Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia — negociarem acordos comerciais com terceiros países sem o consentimento dos demais membros tem sido um ponto de controvérsia dentro do bloco nos últimos anos.

Precisamente, o presidente argentino anterior, Alberto Fernández (2019-2023), foi especialmente enfático ao rejeitar a intenção do Uruguai de promover um possível acordo de livre comércio com a China, sem a autorização dos outros parceiros.

Para Porcelli, espera-se que a vitória de Trump nos EUA e a recente nomeação do ex-embaixador argentino em Washington, Gerardo Werthein, como chanceler permitam a Milei manter "uma posição muito mais radicalizada e de confronto" dentro do Mercosul, sempre a favor de fortalecer as relações com os Estados Unidos.

Além disso, sublinhou o especialista, a cúpula do Mercosul em dezembro será realizada um dia após a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) que terá lugar no dia 4 de dezembro em Buenos Aires e poderá contar com a presença do próprio Trump e do seu secretário de Estado designado, Marco Rubio.

"Milei irá à cúpula do Mercosul com o poder da cúpula da CPAC, então certamente criará um cenário de confronto, especialmente com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva", disse Porcelli.

Embora o Brasil tenha iniciado negociações com os EUA para um possível TLC em 2019, quando o presidente brasileiro era Jair Bolsonaro (2019-2023), essa possibilidade foi congelada com o retorno ao governo Lula, que já havia rejeitado um eventual acordo com essas características em seu primeiro mandato e parece focado em suas relações com os demais membros do BRICS.

<><> O risco de negociar bilateralmente

Assim, as intenções de Milei de estreitar os laços com os EUA poderão encontrar resistência do Brasil em um Mercosul que, segundo Porcelli, "já está estagnado em termos de iniciativas e discussões". Uma nova divergência entre Buenos Aires e Brasília devido à relação com Washington poderia "aprofundar ou continuar esta estagnação", previu o cientista político.

De qualquer forma, o especialista considerou que o nível de confronto sobre a exigida "flexibilidade" do bloco regional dependerá também "da capacidade do Brasil de conter e impor os ritmos da agenda" e de como vão jogar "os atores econômicos que têm sido os beneficiários do Mercosul", geralmente os setores industriais argentino e brasileiro, geralmente contrários à assinatura de acordos de livre comércio.

Estes setores poderiam, segundo o analista, funcionar como um "elemento disciplinador" para evitar "apostar em negociações unilaterais e quebrar a lógica 4+1" usada pelo bloco para negociar com parceiros externos.

Para Porcelli, o Mercosul pode encontrar na Comunidade Andina (CAN) – bloco econômico formado pela Bolívia, Colômbia, Equador e Peru – um exemplo dos resultados negativos de permitir negociações bilaterais sem o apoio de todo o bloco.

"Uma vez possibilitada a possibilidade de negociação bilateral, a CAN desapareceu como espaço de gestão de acordos comerciais e de cogestão nas negociações internacionais", alertou.

<><> Brasil e Argentina assinam memorando para ampliar importações de gás natural argentino

Brasil e Argentina assinaram nesta segunda-feira (18), durante a cúpula dos líderes do G20, um memorando de entendimento para ampliar as importações de gás natural argentino para baixar o custo do insumo.

Um grupo de trabalho bilateral vai identificar as medidas necessárias para viabilizar a oferta de gás natural argentino, principalmente do gasoduto de Vaca Muerta, na província de Neuquén, no norte da Patagônia argentina.

De acordo com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que assinou o texto pela parte brasileira, a estimativa de movimentação é de 2 milhões de metros cúbicos por dia no curto prazo, aumentando nos próximos três anos para 10 milhões de metros cúbicos por dia, até atingir 30 milhões de metros cúbicos por dia em 2030.

Silveira destacou que a importação do gás de Vaca Muerta vai fortalecer o desenvolvimento das indústrias de fertilizantes, vidro, cerâmica e petroquímicos, entre outras.

"Teremos mais gás e, junto com ele, mais emprego, renda e riqueza para brasileiras e brasileiros", afirmou.

Questionado pela Sputnik Brasil sobre o fato de a técnica utilizada pela Argentina para extração de gás natural danificar o solo, e as consequências disso para a presidência do Brasil no G20, o ministro disse que por ora a obtenção do produto será dessa forma, "por conta da demanda" brasileira no momento, e que "iremos endurecer as lógicas" se tudo der certo.

"O que for mais barato para o Brasil, que precisa do material no momento, nós iremos fazer."

O grupo de trabalho vai buscar soluções de viabilização que usem a infraestrutura já existente nos dois países, permitindo a exportação do gás argentino no menor tempo e com o menor custo possível. O memorando tem validade de 18 meses, prorrogáveis. Ao final desse período, será apresentado um relatório das atividades.

¨      Maduro classifica como 'fracassada' Cúpula Ibero-Americana com chefes de Estado realizada no Equador

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificou nesta segunda-feira (18) como "fracassada" a Cúpula Ibero-Americana que terminou na última semana no Equador sem uma declaração por conta da falta de consenso entre os participantes.

"Fiquei muito triste ao ver o rei da Espanha [Felipe VI] presidindo uma cúpula fracassada", disse Maduro durante a transmissão do programa televisivo Con Maduro Más.

O presidente atribuiu o fracasso à realização do encontro no Equador sob a liderança do presidente Daniel Noboa, a quem chamou de "fascista".

"Por ter sido feita [a cúpula] no Equador, com um fascista, um fascista consumado, Noboa significou o maior fracasso da Cúpula Ibero-Americana", acrescentou.

Maduro destacou que "Noboa e [o presidente da Argentina, Javier] Milei se tornaram os coveiros da cúpula".

O evento no Equador contou com a presença de apenas dois chefes de Estado: o próprio Noboa e Marcelo Rebelo, de Portugal. Também participaram o vice-presidente de El Salvador, Félix Ulloa; o chefe de governo de Andorra, Xavier Espot; e o rei da Espanha, Felipe VI.

¨      Exportação de Super Tucanos da Embraer para o Paraguai terá investimento de R$ 600 milhões do BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinou com o governo do Paraguai um contrato de financiamento da ordem de R$ 600 milhões para a exportação de seis Super Tucanos e de um pacote logístico da Embraer S.A. para a Força Aérea do Paraguai.

A assinatura ocorreu durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro, encerrada nesta terça-feira (19), e contou com a presença do ministro da Economia do Paraguai, Carlos Fernández Valdovinos, e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

"Essa foi a primeira operação de financiamento a exportações de produtos de Defesa aprovada em mais de 13 anos pelo BNDES, marcando a retomada do banco no apoio à Base Industrial de Defesa [BID] brasileira. É um setor estratégico da Nova Indústria Brasil, por ser intensivo em tecnologia e gerador de inovações, com fabricação de produtos de alto valor agregado e geração de empregos de alta qualificação", declarou Mercadante durante a assinatura do contrato.

Ele destacou que os financiamentos do BNDES complementam o financiamento provido pelo mercado privado e possibilitam aos exportadores brasileiros concorrer no mercado externo em igualdade de condições com suas concorrentes.

Usado para ações de treinamento, reconhecimento e combate, o avião deve auxiliar o país vizinho na capacidade tecnológica de combate ao narcoterrorismo, segundo o BNDES.

Líder mundial em sua categoria, o A-29 Super Tucano já tem mais de 260 aeronaves desse tipo entregues e mais de 500 mil horas de voo, utilizado por 16 forças aéreas.

Além do A-29 Super Tucano, a Força Aérea Brasileira (FAB) fabrica o F-5M Tiger, o A-1 AMX e o Gripen, este último sendo o primeiro avião de combate produzido no Brasil, em conjunto com a sueca Saab, que deverá ter seu voo de inauguração em 2025.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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