Trump
terminará ou ampliará as guerras de Biden?
Quando Donald Trump assumir o cargo em 20 de janeiro, todas as
suas promessas de campanha de acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas, assim
como, quase com a mesma rapidez, com a guerra de Israel contra seus vizinhos
serão postas à prova. As escolhas que ele fez para seu novo governo até agora,
de Marco Rubio como Secretário de Estado a Mike Waltz como Conselheiro de
Segurança Nacional, Pete Hegseth como Secretário de Defesa e Elise Stefanik
como Embaixadora da ONU, formam uma galeria de cobras venenosas que gostam de
picar.
O único conflito em que as negociações de paz parecem estar na
agenda é a Ucrânia. Em abril, tanto o vice-presidente eleito JD Vance quanto o
senador Marco Rubio votaram contra um projeto de lei de ajuda militar de US$ 95
bilhões que incluía US$ 61 bilhões para a Ucrânia.
Marco Rubio apareceu recentemente no Today Show da NBC dizendo:
“Acho que os ucranianos têm sido incrivelmente corajosos e fortes ao enfrentar
a Rússia. Mas, no final das contas, o que estamos financiando aqui é um impasse
militar – e ele precisa terminar… Acho que tem que haver algum bom senso aqui”.
Na campanha, JD Vance fez uma sugestão controversa sobre a
melhor maneira de acabar com a guerra: a Ucrânia cede as terras que a Rússia
tomou, uma zona desmilitarizada é criada e a Ucrânia se torna um país neutro.
Ele foi duramente criticado por republicanos e democratas, que argumentam que
apoiar a Ucrânia é de vital importância para a segurança dos EUA, uma vez que
enfraquece a Rússia, que é aliada próxima da China.
Qualquer tentativa de Donald Trump de impedir o apoio militar
dos EUA à Ucrânia sem dúvida enfrentará forte oposição das forças favorável à
guerra em seu próprio partido, particularmente no Congresso, bem como talvez de
todo o Partido Democrata. Dois anos atrás, trinta democratas progressistas que
atuam no Congresso escreveram uma carta ao presidente Joe Biden pedindo-lhe que
considerasse promover negociações. Os quadros superiores do partido ficaram tão
furiosos com a falta de disciplina partidária que atacaram os progressistas
como uma tonelada de pedras. Em 24 horas, o grupo se redimiu e aboliu a carta.
Desde então, todos votaram a favor de mais dinheiro para a Ucrânia e não
pronunciaram mais uma palavra sobre negociações.
Portanto, um esforço de Donald Trump para cortar fundos para a
Ucrânia pode esbarrar em um esforço bipartidário do Congresso para manter a
guerra em andamento. E não vamos esquecer os esforços dos países europeus e da
OTAN para manter o envolvimento dos EUA nessa luta. Ainda assim, Donald Trump
poderia enfrentar todas essas forças e pressionar por uma política racional que
reiniciasse as conversações e parasse com a matança.
O Oriente Médio, no entanto, se apresenta como uma situação
ainda mais difícil. Em seu primeiro mandato, Donald Trump mostrou que atua em
favor de Israel quando intermediou os acordos de Abraão entre vários países
árabes e Israel. Como se sabe, ele mudou a embaixada dos EUA para um local em
Jerusalém que está parcialmente em terras ocupadas fora das fronteiras
internacionalmente reconhecidas de Israel. Ademais, ele reconheceu as Colinas
de Golã ocupadas na Síria como parte de Israel. Esses sinais sem precedentes de
apoio incondicional dos EUA à ocupação ilegal e aos assentamentos de Israel
ajudaram a preparar o terreno para a crise atual.
Parece improvável que Donald Trump contrarie Joe Biden e que
corte o envio de armas dos EUA para Israel, apesar das pesquisas de opinião
pública favorecerem essa suspensão. Ademais, um recente relatório de direitos
humanos da ONU mostrou que 70% das pessoas mortas por essas armas dos EUA são
mulheres e crianças.
Enquanto isso, o astuto primeiro-ministro israelense Benjamin
Netanyahu já está se preparando para uma segunda presidência de Donald Trump.
No mesmo dia da eleição dos EUA, Benjamin Netanyahu demitiu seu ministro da
Defesa, Yoav Gallant, que se opunha a uma ocupação militar israelense duradoura
de Gaza e às vezes defendia priorizar a vida dos reféns israelenses em vez de
matar mais palestinos.
Israel Katz, o novo ministro da Defesa e ex-ministro das
Relações Exteriores, é mais agressivo do que Yoav Gallant e liderou uma
campanha para culpar falsamente o Irã pelo contrabando de armas da Jordânia
para a Cisjordânia.
Outras vozes poderosas, o ministro da Segurança Nacional, Itamar
Ben-Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que também é ministro do
Ministério da Defesa, representam partidos sionistas extremistas que estão
publicamente comprometidos com a expansão territorial, anexação e limpeza
étnica. Ambos vivem em assentamentos israelenses ilegais na Cisjordânia
ocupada.
Portanto, Benjamin Netanyahu se cercou deliberadamente de
aliados que apoiam sua política de ampliação da guerra. Eles certamente estão
desenvolvendo um plano de guerra para explorar o apoio de Donald Trump a
Israel, mas primeiro usarão a oportunidade única da transição de poder dos EUA
para criar fatos no terreno que limitarão as opções de Donald Trump quando ele
assumir o cargo.
Os israelenses, sem dúvida, redobrarão seus esforços para
expulsar ao máximo os palestinos de Gaza, confrontando o presidente Donald
Trump com uma crise humanitária catastrófica na qual a população sobrevivente
de Gaza está amontoada em uma área incrivelmente pequena, quase sem comida, sem
abrigo para muitos, doenças correndo soltas e sem acesso aos cuidados médicos
necessários para dezenas de milhares de pessoas horrivelmente feridas e
moribundas.
Os israelenses contarão com Donald Trump para aceitar qualquer
solução final que proponham, provavelmente expulsando os palestinos de Gaza,
para a Cisjordânia, Jordânia, Egito e outros lugares.
Israel ameaçou o tempo todo fazer com o Líbano o mesmo que fez
com Gaza. As forças israelenses encontraram resistência feroz, sofreram pesadas
baixas e não avançaram muito no Líbano. Mas, como em Gaza, eles estão usando
bombardeios e artilharia para destruir aldeias e cidades, matar ou expulsar
pessoas para o norte e esperam anexar efetivamente a parte do Líbano ao sul do
rio Litani como a chamada “zona tampão”. Quando Trump assumir o cargo, eles
podem pedir um maior envolvimento dos EUA para ajudá-los a “terminar o
trabalho”.
O grande curinga é o Irã. O primeiro mandato de Donald Trump foi
marcado por uma política de “pressão máxima” contra Teerã. Ele retirou
unilateralmente os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, impôs severas
sanções que devastaram a economia e ordenou o assassinato do principal general
do país. Donald Trump não apoiou uma guerra contra o Irã em seu primeiro
mandato, mas teve que ser convencido a não atacar o Irã em seus últimos dias no
cargo pelo general Mark Milley e pelo Pentágono.
O ex-chefe de gabinete de Colin Powell, o coronel aposentado
Lawrence Wilkerson, descreveu recentemente a Chris Hedges o quão catastrófica
seria uma guerra com o Irã, com base nos jogos de guerra militares dos EUA em
que ele esteve envolvido.
Lawrence Wilkerson prevê que uma guerra dos EUA contra o Irã
poderia durar dez anos, custar US $ 10 trilhões e ainda não conseguir
conquistar o Irã. Os ataques aéreos por si só não destruiriam todo o programa
nuclear civil do Irã e os estoques de mísseis balísticos. Assim, uma vez
desencadeada, a guerra muito provavelmente se transformaria em uma guerra de
mudança de regime envolvendo forças terrestres dos EUA, em um país com três ou
quatro vezes o território e a população do Iraque, terreno mais montanhoso e
uma costa de mil milhas de extensão repleta de mísseis que podem afundar navios
de guerra dos EUA.
Mas Benjamin Netanyahu e seus aliados sionistas extremistas
acreditam que devem, mais cedo ou mais tarde, travar uma guerra existencial com
o Irã se quiserem realizar sua visão de um Grande Israel dominante. E eles
acreditam que a destruição que causaram aos palestinos em Gaza e ao Hezbollah
no Líbano, incluindo o assassinato de seus líderes seniores, lhes deu uma
vantagem militar e uma oportunidade favorável para um confronto com o Irã.
Em 10 de novembro, Donald Trump e Benjamin Netanyahu haviam
falado ao telefone três vezes desde a eleição. Netanyahu disse à imprensa que
eles estão “de acordo com a ameaça iraniana”. Donald Trump já contratou o
falcão do Irã Brian Hook, que o ajudou a sabotar o acordo nuclear JCPOA com o
Irã em 2018, para coordenar a formação de sua equipe de política externa.
Até agora, a equipe que Donald Trump e Brian Hook montaram
parece oferecer esperança de paz na Ucrânia, mas pouco ou nenhum de paz no
Oriente Médio e um perigo crescente de uma guerra EUA-Israel contra o Irã.
O esperado conselheiro de segurança nacional de Donald Trump,
Mike Waltz, é mais conhecido como um falcão contra a China. Ele votou contra a
ajuda militar à Ucrânia no Congresso, mas recentemente postou uma mensagem
dizendo que Israel deveria bombardear as instalações nucleares e petrolíferas
do Irã, o caminho mais certo para uma guerra em grande escala.
A nova embaixadora de Donald Trump na ONU, Elise Stefanik,
liderou movimentos no Congresso para equiparar críticas a Israel com
antissemitismo, e liderou o questionamento agressivo de presidentes de
universidades americanas em uma audiência antissemita no Congresso, após a qual
os presidentes de Harvard e Penn renunciaram.
Portanto, embora Donald Trump tenha alguns conselheiros que
apoiem seu desejo de acabar com a guerra na Ucrânia, haverá poucas vozes em seu
círculo íntimo pedindo cautela sobre as ambições genocidas de Benjamin
Netanyahu na Palestina e sua determinação em paralisar o Irã.
Se quisesse, o presidente Joe Biden poderia usar seus dois
últimos meses no cargo para diminuir os conflitos no Oriente Médio. Ele poderia
impor um embargo de armas ofensivas para Israel, pressionar por negociações
sérias de cessar-fogo em Gaza e no Líbano e trabalhar por meio de parceiros dos
EUA no Golfo para diminuir as tensões com o Irã.
Mas é improvável que Joe Biden faça isso. Quando seu próprio
governo enviou uma carta a Israel no mês passado, ameaçando um corte na ajuda
militar se Israel não permitisse uma onda de ajuda humanitária em Gaza nos
próximos 30 dias, Israel respondeu fazendo exatamente o oposto – na verdade,
cortou o número de caminhões permitidos. O Departamento de Estado alegou que
Israel estava dando “passos na direção certa” e Joe Biden se recusou a tomar
qualquer ação.
Em breve veremos se Donald Trump é capaz de obter progressos na
direção da paz na Ucrânia, iniciando as negociações, o que potencialmente
salvaria a vida de muitos milhares de ucranianos e russos. Mas entre a
catástrofe que Donald Trump herdará e os falcões de guerra que ele está
escolhendo para seu gabinete, a paz no Oriente Médio parece mais distante do
que nunca.
¨
Analista indica quando
plano de Trump para Ucrânia se realizará
O plano do vencedor da eleição presidencial dos EUA, Donald
Trump, para a Ucrânia envolve congelar o conflito e suspender a adesão de Kiev
à OTAN, mas o projeto de um acordo de cessar-fogo provavelmente vai ser adiado
até o início de 2025, disse à Sputnik o analista turco Engin Ozer.
Trump poderia usar a posição enfraquecida da Ucrânia no campo de
batalha e o apoio do Congresso, controlado pelo Partido Republicano, para
pressionar por um acordo de paz entre Kiev e Moscou, como a mídia dos EUA tem
afirmado.
"O plano preparado pela equipe de Trump é mais ou menos o
seguinte: congelar o conflito na Ucrânia e suspender a adesão de Kiev à OTAN a
longo prazo", disse Ozer.
Comentando a decisão do atual presidente dos EUA, Joe Biden, de
autorizar o uso pela Ucrânia de mísseis de longo alcance norte-americanos para
ataques ao território russo, o analista observou que a posição de Washington
está vinculada à situação no campo de batalha e às ações do Exército russo na
região de Kursk.
Anteriormente, o The New York Times citou representantes não
identificados da administração dos EUA dizendo que Biden havia autorizado pela
primeira vez o uso de mísseis de longo alcance dos EUA pela Ucrânia para atacar
o território russo.
De acordo com as fontes, é provável que os primeiros ataques ao
território russo longe da zona de conflito sejam realizados com mísseis ATACMS.
"A administração Biden está resistindo a acabar com o
conflito, e os democratas dos EUA estão tentando dar a impressão de que não
abandonaram o governo de Kiev", ressaltou Ozer.
Ele acredita que o acordo de paz que Trump esperava ser assinado
no final de 2024 deverá ser adiado até janeiro de 2025, quando tomar posse.
O porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, disse que a
autorização para atacar a Rússia em profundidade, se fosse aceita e comunicada
à Ucrânia, significaria uma nova rodada de tensão e reafirmou a posição russa
expressa anteriormente pelo presidente Vladimir Putin.
<><> Posição da Rússia
O presidente da Rússia Vladimir Putin observou que os países da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão discutindo não apenas a
autorização a Kiev de usar armas de longo alcance, mas, de fato, o envolvimento
direto no conflito na Ucrânia.
De acordo com o chefe de Estado, as tropas ucranianas já estão
atacando o território russo com drones e outros meios.
Quando se trata do uso de armas de precisão de longo alcance de
fabricação ocidental, deve se entender que essas operações são realizadas pelos
militares dos países da aliança, já que somente os militares da OTAN, não os
ucranianos, têm a capacidade de operar essas armas.
Ele acrescentou que o envolvimento direto dos países ocidentais
no conflito ucraniano muda a natureza das hostilidades e que a Rússia vai ser
forçada a tomar decisões de acordo com essas ameaças.
¨
Israel e Hezbollah
estão realmente próximos de um cessar-fogo?
O Líbano e o Hezbollah concordaram com uma proposta dos EUA para
um cessar-fogo com Israel com alguns comentários sobre o conteúdo, disse o
presidente assistente do Parlamento libanês, Ali Hasan Khalil, à mídia. Ele
observou que essas etapas podem ser consideradas "o esforço mais sério
para interromper as hostilidades".
<><> O que se sabe sobre o cessar-fogo discutido?
# O enviado da Casa Branca, Amos Hochstein, chegou a Beirute.
Ele já discutiu a oferta com o presidente do Parlamento, Nabih Berri, e está
atualmente se reunindo com o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati.
# Por sua vez, Mikati confirmou na TV local na segunda-feira
(18) que a resposta do Líbano a uma proposta de cessar-fogo foi positiva, mas
não revelou nenhum detalhe.
# Também é esperado que, após visitar o Líbano, Hochstein visite
Israel sobre o mesmo acordo. Esta informação foi confirmada por fontes
governamentais da mídia israelense. Mas não houve nenhum comentário oficial do
lado israelense.
# O presidente assistente do Parlamento libanês, Ali Hasan
Khalil, destacou que a posição de Beirute estaria em linha com a Resolução 1701
do Conselho de Segurança da ONU (CSNU). Foram os termos para o fim das
hostilidades entre Israel e Líbano em 2006.
# Enquanto isso, nas últimas 24 horas, os ataques mútuos entre
as Forças de Defesa de Israel (FDI) e o Hezbollah se intensificaram. Ontem à
noite, cinco pessoas ficaram feridas depois que o Hezbollah bombardeou os
subúrbios de Tel Aviv. As FDI, por sua vez, continuam tentando uma ofensiva na
zona de fronteira e realizando bombardeios pesados em várias cidades libanesas,
incluindo Beirute.
Fonte: Por Medea Benjamin e Nicolas J. S. Davies com
tradução de Eleutério F. S. Prado, em A Terra é Redonda/Sputnik
Brasil
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