sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Os dez mandamentos do bilionário

“Cobiçarás a casa do pobre, não a casa do rico, a menos que ele se descuide de preservá-la para o culto do Senhor Capital”. Eis os dez mandamentos do bilionário:

1.                                   Não terás outros deuses além do Senhor Capital.

2.                                   Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque o Senhor Capital, o teu Deus, não tem forma visível, nem cheiro, nem som, nem gosto e muito menos é perceptível pelo tato. É etéreo e paira sobre as terras e as águas, ardente como o fogo e veloz como o vento do furacão que tudo consomem e destroem.

3.                                   Não tomarás em vão o nome do Senhor Capital, o teu Deus, pois o Senhor Capital não deixará impune quem tomá-lo em nome de valores vãos, como solidariedade, ética, humanidade, igualdade, fraternidade, etc.

4.                                   Lembra-te dos muitos dias de descanso, para negá-los a quem trabalha para ti e para o Senhor Capital. Serás impiedoso com quem quiser trabalhar menos do que seis dias na semana e usar o sétimo para outra finalidade que não a de repor suas forças para trabalhar para ti e para o Senhor Capital.

5.                                   Honrarás teu pai e tua mãe, teu avô, tua avó ou quem quer que seja que tenha te abençoado com a herança do Senhor Capital, pois assim já nasceste rico, abençoado, poderoso, e protegerás teu estado natural com unhas, dentes, facas, fuzis, tanques de guerra, ogivas nucleares e o que mais conseguires como armamentos de defesa de teus direitos e os do Senhor Capital. Aceitarás o conselho de recorrer à OTAN, ao FMI, ao Banco Mundial, nunca à Rota da Seda nem ao Banco dos BRICS, muito menos ao ouro de Moscou.

6.                                   Matarás se necessário for, sobretudo aqueles e aquelas que pregarem outra religião que não a do teu Senhor Capital.

7.                                   Não trairás teu Senhor Capital com nenhuma outra divindade, por mais atraente que seja. Reduzirás todos os valores culturais a cifras negociáveis.

8.                                   Furtarás o pão e o sal do pobre, mas não as posses de teus correligionários da Religião do Senhor Capital.

9.                                   Darás sempre falso testemunho contra quem se opuser ao culto do Senhor Capital, usando fake news, lawfare e outros meios canalhas para neutralizar o inimigo, recorrendo a armas letais se necessário for.

10.                                 Cobiçarás a casa do pobre, não a casa do rico, a menos que ele se descuide de preservá-la para o culto do Senhor Capital.

 

•                                    Crise financeira dobrou o número de bilionários no mundo

Relatório divulgado pela Oxfam - organização não governamental que desenvolve campanhas e programas de combate à pobreza em todo o mundo - informa que, desde o início da crise financeira internacional, em outubro de 2008, dobrou o número de bilionários no mundo. Ao mesmo tempo, aumentou também a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres.

De acordo com o diretor da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst, entre as causas da desigualdade, que aumenta cada vez mais o fosso entre ricos e pobres, está o “fundamentalismo do mercado”, que promove um crescimento econômico que beneficia apenas uma elite pequena, deixando em situação ainda mais difícil os pobres.

"Para começar, 70% da população mundial vive em países onde a desigualdade e a concentração de riqueza aumentaram nos últimos anos. O número de bilionários do mundo simplesmente dobrou desde que a crise financeira teve início. Crises como essa afetam, em geral, o lado mais frágil da corda”, disse ele à Agência Brasil. E o aumento da desigualdade, acrescenta ele, pode levar a um retrocesso de décadas na luta contra a pobreza.

Diretora executiva da Oxfam Internacional, Winnie Byanyima disse que o mundo possui recursos suficientes para melhorar a vida de todos. “É hora de equilibrar o jogo antes que a situação piore”, avalia Winnie.

A fim de pressionar as lideranças mundiais a “transformar a retórica em prática e garantir condições mais justas às pessoas mais pobres”, o relatório – intitulado Equilibre o Jogo: É Hora de Acabar com a Desigualdade Extrema – mostra que, enquanto centenas de milhões de pessoas vivem em abjeta pobreza sem acesso a serviços essenciais de saúde ou à educação básica, as pessoas ricas têm dinheiro que  jamais poderão gastar durante toda a vida. “Se as três pessoas mais ricas do mundo gastassem US$ 1 milhão por dia, precisariam de 200 anos para exaurir suas fortunas”, informa o relatório. Segundo o documento, as 85 pessoas mais ricas viram sua fortuna coletiva crescer US$ 668 milhões ao dia entre 2013 e 2014. Isso corresponde a quase meio milhão de dólares por minuto.

Atualmente, na África Subsaariana, há 16 bilionários convivendo com 358 milhões de pessoas na extrema pobreza. E, na África do Sul, a desigualdade está maior agora do que na época do fim do apartheid. Uma das sugestões da Oxfam para diminuir a distância entre os mais ricos e os mais pobres é o investimento em serviços públicos gratuitos, principalmente nas áreas de saúde e educação. A cada ano, diz o estudo, cem milhões de pessoas são levadas à pobreza porque são obrigadas a pagar por serviços de saúde.

Na avaliação de Simon Ticehurst, a desigualdade é ruim para todo o mundo e causa impactos nas condições de emprego e na segurança, além de resultar também em instabilidade política. A América Latina, exemplifica o pesquisador, é a região mais desigual e insegura do planeta. E é a que registra mais violência. "Mas a desigualdade não está presente apenas nos países mais pobres", ressalta ele.  “No Reino Unido, dependendo de onde você nasce e de onde você mora, a diferença na expectativa de vida pode chegar a nove anos de diferença. Isso também está relacionado às diferenças sociais, porque quanto maior for a sua qualidade de vida, maior será a sua longevidade”, disse.

Outro país citado pelo diretor da Oxfam são os Estados Unidos. “Lá, se você nasce dentro de família pobre, tem 50% a mais de chances de ser pobre na fase adulta. É um país que tem baixíssima mobilidade social. Isso desmente o que prega o American Dream [Sonho Americano]. Como bem disse Richard Wilkinson no resumo executivo da nossa publicação, se os americanos querem viver o sonho americano, devem se mudar para a Dinamarca”.

Apesar dos históricos problemas de desigualdade social no Brasil, o país é citado como exceção, ao ser comparado à tendência que se verifica no mundo, de aumento da desigualdade social. “Podemos dizer que o Brasil está construindo um tipo de Brazilian Dream (sonho brasileiro). Há muito a avançar, mas os primeiros passos já foram dados. Enquanto outros países, inclusive europeus, estão andando para trás, o Brasil está melhor equilibrado, apesar da situação ainda desfavorável para boa parcela da população. Mas o Brasil precisa ter cuidado para não cair no discurso do fundamentalismo de mercado. Isso colocaria em risco todos os avanços conquistados”, alerta o diretor da entidade britânica.

Na avaliação de Simon Ticehurst, situações de desigualdade identificadas em boa parte do mundo, apesar de serem historicamente problemáticas, podem ser corrigidas. Basta que se insista nas políticas que são acertadas. “Não é inevitável. Podem ser corrigidas com uma série de medidas relacionadas à importância de os governos responderem às necessidades de todo o povo, e não de uma elite econômica. O problema é quando, a exemplo do que acontece na política brasileira, há uma exagerada influência das elites no parlamento”, disse ele.

Para a Oxfam, uma medida que pode ajudar a amenizar o problema é o combate efetivo à sonegação fiscal, principalmente das grandes corporações multinacionais e das pessoas mais ricas do mundo. “Uma alíquota de imposto de apenas 1,5% sobre a fortuna dos bilionários do mundo poderia arrecadar o suficiente para colocar todas as crianças na escola e fornecer assistência à saúde nos países mais pobres”, sugere o relatório. “Não é que sejamos antimercado, mas é justamente o extremo do fundamentalismo de mercado o que tem criado essa explosão de desigualdade. Por esse motivo nossa campanha tem o nome Equilibre o Jogo. O desafio é encontrar um equilíbrio, onde todos possam ganhar. Não apensas os superricos”, disse Ticehurst.

 

Fonte: Por Flávio Aguiar, em A Terra é Redonda/Agencia Brasil

 

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