sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Quimioterapia: entenda como funciona e quais os avanços deste temido tratamento contra o câncer

Quimioterapia é uma palavra que evoca emoções complexas em muitos. Para alguns, pode ser sinônimo de esperança, um caminho potencial para a recuperação de doenças que antes eram consideradas intransponíveis. Para outros, pode trazer à mente imagens de luta e resistência, lembrando-os dos efeitos colaterais e desafios associados ao tratamento.

No entanto, independentemente da percepção individual, é inegável que a quimioterapia representa um dos avanços mais significativos da medicina moderna. Este texto visa desmistificar o tema, abordando o que é a quimioterapia, como ela funciona e as diferentes maneiras pelas quais os medicamentos são aplicados aos pacientes. Além disso, visa mostrar os avanços e as perspectivas para o futuro deste tratamento.

•                                    O que é quimioterapia e como funciona

A quimioterapia é um tratamento contra o câncer que utiliza medicamentos ou drogas para destruir ou impedir a multiplicação das células doentes. Diferentemente de outras formas de tratamento que atuam localmente, ela tem um efeito sistêmico, agindo em todo o corpo.

O funcionamento da quimioterapia está baseado no princípio de atacar as células que estão em rápida divisão, uma característica predominante das células cancerígenas. Este método terapêutico pode ser usado para curar o câncer, para controlar o seu crescimento ou para aliviar os sintomas, dependendo do tipo e estágio da doença.

Os medicamentos quimioterápicos podem ser administrados de várias formas:

•                                    Intravenosa: É a via mais comum, onde o medicamento é injetado diretamente na veia.

•                                    Oral: Por meio de comprimidos, cápsulas ou líquidos.

•                                    Injeção muscular: O medicamento é aplicado no músculo.

•                                    Injeção subcutânea: O medicamento é aplicado sob a pele.

•                                    Tópica: Aplicação direta na pele.

•                                    Intratecal: Aplicação no líquido cefalorraquidiano, geralmente usado para tratamento de cânceres que afetam o sistema nervoso central.

A frequência e a duração da quimioterapia variam de acordo com o tipo de câncer, o seu estágio e a resposta do corpo ao tratamento. Geralmente, é administrada em ciclos, permitindo que o corpo se recupere entre as doses. A combinação de medicamentos e o plano de tratamento são personalizados para cada paciente, com base nas necessidades específicas e na resposta ao tratamento.

•                                    Efeitos colaterais

Entre as células saudáveis que também se multiplicam rapidamente, estão as da medula óssea, do cabelo e do trato digestivo.

Os efeitos colaterais variam em gravidade e duração, dependendo do medicamento específico, da dose e do paciente. Os principais são:

•                                    Fadiga: Um dos efeitos colaterais mais comuns, deixando os pacientes sentindo-se constantemente cansados.

•                                    Queda de cabelo: Alopécia pode ocorrer, já que os folículos pilosos são estruturas de rápido crescimento.

•                                    Problemas gastrointestinais: Náuseas, vômitos, diarreia ou constipação podem surgir devido ao impacto nos revestimentos do estômago e intestino.

•                                    Supressão da medula óssea: Pode resultar em anemia, leucopenia ou trombocitopenia, deixando os pacientes propensos a infecções, fadiga ou sangramentos.

•                                    Alterações na pele: Ressecamento, escurecimento ou coceira são possíveis.

•                                    Neuropatia: Algumas drogas podem causar formigamento ou dormência em mãos e pés.

•                                    Problemas bucais: Feridas ou ulcerações podem formar-se na boca.

•                                    Alterações cognitivas: Dificuldades de concentração ou memória, frequentemente referidas como “nevoeiro cerebral”.

•                                    Alterações de humor: Ansiedade e depressão são possíveis.

Esses são apenas alguns exemplos. Entretanto, vale ressaltar que nem todos os pacientes experienciarão todos esses efeitos.

•                                    Indicações da quimioterapia

A quimioterapia é indicada para diferentes finalidades no tratamento oncológico. Dependendo da situação, ela pode ser usada para curar o câncer, erradicando as células cancerosas do corpo.

Porém, se a cura não é possível, a quimioterapia pode ser usada para diminuir tumores, retardar seu crescimento ou matar células cancerosas que podem ter se espalhado para outras partes do corpo. Isso geralmente ocorre em casos em que o tumor é descoberto em estágios iniciais.

Por fim, em casos avançados, a quimioterapia pode ser utilizada nos cuidados paliativos para aliviar sintomas. Dessa forma, ao reduzir o tamanho de tumores que estão causando dor ou pressão, os pacientes podem ter um alívio significativo dos sintomas e uma melhoria na qualidade de vida.

A indicação específica depende do tipo de câncer, seu estágio e outros fatores de saúde do paciente. Além disso, a quimioterapia pode ser combinada com outros tratamentos, como radioterapia, cirurgia ou terapia-alvo. Em certos cenários, pode ser administrada antes da cirurgia para encolher o tumor (neoadjuvante) ou após a cirurgia para eliminar quaisquer células remanescentes (adjuvante).

>>>> Tipos de medicamentos utilizados na quimioterapia

A quimioterapia é um termo abrangente que cobre um espectro de medicamentos. Estes medicamentos podem ser categorizados com base em sua composição química e modo de ação.

•                                    Alquilantes

Atacam o DNA das células, impedindo sua replicação. Eles agem em todas as fases do ciclo celular. Entre os tipos de câncer que tratam, estão os de pulmão, mama e ovário. Também são usados para leucemia, linfoma, doença de Hodgkin, mieloma múltiplo e sarcoma.

Exemplos desses medicamentos incluem altretamina, bendamustina, busulfan, carboplatina, carmustine, clorambucil, cisplatina, ciclofosfamida, dacarbazina, ifosfamida, lomustina, mecloretamina, melfalano, oxaliplatina, temozolomida, tiotepa e trabectedina.

•                                    Antimetabólitos

Interferem na síntese de DNA e RNA. Esses agentes causam danos às células durante a fase de replicação de seus cromossomos. São frequentemente empregados no tratamento de leucemias, câncer de mama, câncer de ovário e diversos tipos de câncer no trato intestinal.

Exemplos de antimetabólitos abrangem: azacitidina, 5-fluorouracil (5-FU), 6-mercaptopurina, capecitabina, cladribina, clofarabina, citarabina, decitabina, floxuridine, fludarabina, gemcitabina, hidroxiureia, metotrexato, nelarabina, pemetrexede, pentostatina, pralatrexato, tioguanina e a combinação trifluridina/tipiracil.

•                                    Antibióticos antitumorais

Destroem o DNA e impedem sua síntese. Aqueles que não são antraciclinas incluem: bleomicina, dactinomicina, mitomicina-C e mitoxantrona. Já os antibióticos antitumorais classificados como antraciclinas abrangem: daunorrubicina, doxorrubicina, doxorrubicina lipossomal, epirrubicina, idarubicina e valrubicina.

•                                    Inibidores mitóticos

Interferem na formação de estruturas celulares necessárias para a divisão celular. São empregados no tratamento de diversos tipos de câncer. Alguns exemplos são câncer de mama, pulmão, mieloma múltiplo, linfomas e leucemias. Esses medicamentos englobam os taxanos (cabazitaxel, docetaxel, nab-paclitaxel e paclitaxel) e os alcaloides da vinca (vinblastina, vincristina, vincristina lipossomal e vinorelbine).

•                                    Inibidores de topoisomerases

Interrompem a ação das topoisomerases, enzimas que ajudam a separar o DNA durante a replicação. Encontram aplicação no tratamento de certas formas de leucemia, assim como no câncer de pulmão, ovário, tumores gastrointestinais, colorretal e pancreático. Eles se dividem em grupos conforme a enzima que afetam. O primeiro inclui irinotecano, irinotecano lipossomal e topotecano. Já no segundo grupo estão etoposido, teniposido e mitoxantrona.

•                                    Outros medicamentos quimioterápicos

Há ainda medicamentos quimioterápicos agem de maneira ligeiramente diferente e não se encaixam em nenhuma das categorias anteriores. Alguns exemplos: ácido trans-retinóico, trióxido de arsênio, asparaginase, eribulin, hidroxiureia, ixabepilona, mitotano, omacetaxina, pegaspargase, procarbazina, romidepsina e vorinostat.

Os medicamentos são selecionados com base no tipo de câncer, suas características moleculares e o estágio da doença. Em muitos casos, uma combinação de medicamentos é usada para aumentar a eficácia e reduzir a resistência do câncer.

•                                    Quimioterapia vermelha x quimioterapia branca

No senso comum, algumas pessoas falam em quimioterapia branca e quimioterapia vermelha, baseando-se na cor dos medicamentos. Contudo, essa distinção não é de todo apropriada. Como visto anteriormente, a quimioterapia envolve uma ampla variedade de medicamentos. Eles não podem ser categorizados apenas por sua coloração.

Como exemplo de quimioterapia branca, é possível mencionar o grupo de agentes conhecidos como taxanos, tais como paclitaxel e docetaxel. Eles são utilizados no tratamento de diversos tipos de câncer, como câncer de mama ou de pulmão. Frequentemente causam efeitos colaterais, como inflamação das mucosas e redução das células de defesa do organismo.

Por outro lado, como exemplo de quimioterapia vermelha, se destaca o grupo das antraciclinas, como doxorrubicina e epirrubicina. Essas substâncias são empregadas no tratamento de várias formas de câncer em adultos e crianças. Isso inclui leucemias agudas, câncer de mama, ovários, rins e tireoide, entre outros. No entanto, elas estão associadas a efeitos colaterais como náuseas, queda de cabelo e dor abdominal. Também apresentam toxicidade para o coração.

>>>>> O papel da quimioterapia no tratamento contra o câncer

•                                    Quimioterapia como tratamento primário

Em algumas situações, a quimioterapia é escolhida como o tratamento primário. Ou seja, o principal tratamento a ser usado para combater o câncer. Isso acontece quando se acredita que os medicamentos quimioterápicos terão um efeito mais significativo do que outros tratamentos. Exemplos incluem certos tipos de leucemias e linfomas, onde a doença está disseminada e a cirurgia não é uma opção viável.

•                                    Quimioterapia neoadjuvante e adjuvante

A quimioterapia neoadjuvante é um método de tratamento administrado antes do tratamento principal (como a cirurgia) para encolher o tumor e facilitar o processo subsequente. Ao reduzir o tamanho do tumor, pode-se tornar possível uma cirurgia menos invasiva ou aumentar as chances de remover completamente o câncer.

Já a quimioterapia adjuvante é realizada após o tratamento principal. É usada para matar quaisquer células cancerosas remanescentes que não foram detectadas. Em outras palavras, isso reduz o risco de recorrência do câncer.

•                                    Quimioterapia combinada

Frequentemente, uma combinação de medicamentos quimioterápicos é utilizada simultaneamente. O motivo para essa abordagem é que diferentes medicamentos atacam as células cancerosas de maneiras variadas. Assim, aumentam as chances de erradicar a doença. Além disso, ao combinar drogas, pode-se reduzir a possibilidade de as células cancerosas desenvolverem resistência a um medicamento específico.

•                                    Quimioterapia em casos de metástases

A metástase refere-se à disseminação do câncer para outras partes do corpo além do local original. Quando o câncer se metastatiza, torna-se mais desafiador de tratar. Nesses casos, a quimioterapia pode ser uma das melhores opções disponíveis. Ou seja, seu objetivo é controlar a disseminação da doença, diminuir a velocidade de crescimento dos tumores e aliviar os sintomas.

•                                    Quimioterapia e cirurgia

A relação entre quimioterapia e cirurgia é dinâmica. Como mencionado anteriormente, a quimioterapia pode ser usada antes da cirurgia para encolher tumores (neoadjuvante) ou após a cirurgia para erradicar células remanescentes (adjuvante). Em alguns cenários, especialmente quando a cirurgia não é uma opção devido à localização ou tamanho do tumor, a quimioterapia pode ser o tratamento primário. Em outros casos, após a cirurgia, se verifica que o câncer se disseminou, ela pode ser introduzida para combater estas células disseminadas.

•                                    Avanços

A quimioterapia tem sido um pilar no tratamento do câncer por décadas. Com o avanço da ciência e da tecnologia, este campo tem experimentado evoluções que têm ampliado suas possibilidades e melhorado a qualidade de vida dos pacientes. A busca contínua por inovação na área da quimioterapia reflete o compromisso da comunidade médica em melhorar os resultados e a qualidade de vida dos pacientes com câncer. Esses avanços, junto com outros no campo oncológico, prometem um futuro mais eficaz para o tratamento e manejo do câncer.

•                                    Quimioterapia de dose densa

Tradicionalmente, a quimioterapia é administrada em ciclos para permitir que o corpo se recupere entre as doses. Com a abordagem de “dose densa”, os intervalos entre os tratamentos são encurtados, o que significa que os medicamentos são administrados com mais frequência. Assim, a ideia por trás disso é administrar a quimioterapia de uma maneira que atinja as células cancerosas com mais eficiência, minimizando o tempo que elas têm para se recuperar e crescer entre os tratamentos.

•                                    Quimioterapia oral

A maioria dos medicamentos de quimioterapia é administrada por injeção. No entanto, os avanços recentes resultaram na criação de quimioterápicos orais. Estes são administrados em forma de comprimidos ou cápsulas. Dessa forma, eles oferecem a conveniência da administração domiciliar, potencialmente reduzindo as visitas ao hospital. Além disso, permitem que os pacientes conduzam seu tratamento em um ambiente mais confortável.

•                                    Nanotecnologia na quimioterapia

A nanotecnologia refere-se à manipulação de materiais em uma escala extremamente pequena, chamada escala nanométrica. No campo da quimioterapia, as nanopartículas estão sendo exploradas para entregar medicamentos diretamente às células cancerosas. Essa abordagem visa maximizar o impacto sobre as células malignas. Ao mesmo tempo, tenta minimizar o dano às células saudáveis, reduzindo assim os efeitos colaterais.

•                                    Quimioterapia hipertérmica

A quimioterapia peritoneal intraoperatória hipertérmica (HIPEC) envolve o aquecimento do medicamento quimioterápico antes de ser administrado. Este tratamento tem mostrado ser especialmente eficaz para cânceres que se espalharam para a cavidade peritoneal. É o caso do câncer de ovário ou colorretal. Em outras palavras, o calor não só melhora a eficácia do medicamento, mas também ajuda a matar células cancerosas.

•                                    Farmacogenômica

A farmacogenômica é o estudo de como os genes de uma pessoa afetam sua resposta a medicamentos. No contexto da quimioterapia, isso significa personalizar o tratamento com base no perfil genético do paciente e do tumor. Em outras palavras, ao entender melhor como uma pessoa pode reagir a um medicamento específico, os médicos podem escolher os tratamentos mais eficazes e minimizar os efeitos colaterais.

•                                    Quimioterapia intra-arterial

Em vez de administrar quimioterapia por via intravenosa, que distribui o medicamento por todo o corpo, a intra-arterial administra o medicamento diretamente na artéria que alimenta o tumor. Isso permite que uma dose maior do medicamento atinja o tumor, enquanto reduz o impacto sobre o resto do corpo.

 

Fonte: Futuro da Saúde

 

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