Educar e
conscientizar os usuários do SUS a praticarem a solidariedade e cuidar do
patrimônio é um desafio
Atos
de vandalismo contra unidades públicas de saúde são registrados em todas as
regiões do Brasil. Os danos provocados variam: destruição de equipamentos e
mobiliário; pichação de paredes recém pintadas; desligamento da chave geral de
eletricidade, inutilizando o estoque de vacinas e outros produtos que
necessitam de refrigeração, ou a interrupção temporária do atendimento para
reparar o patrimônio público depredado.
Para
tentar coibir esses crimes, que causam prejuízo considerável aos cofres
públicos, muitas administrações instalam câmeras de videomonitoramento e
sistemas de alarme no maior número possível de locais.
Mas
algumas atitudes de parte dos usuários do sistema universal de saúde, as quais
não têm a mesma violência, também prejudicam o serviço à população e escapam a
essa vigilância.
Há
quem jogue copos descartáveis usados e restos de alimentos no chão; coloque
pontas de cigarro e embalagens vazias em vasos de plantas e jardins, ou suje a
unidade de saúde pelo costume de apoiar os pés na parede.
Mais
problemática é a falta a consultas e exames pré-agendados sem avisar a unidade
de saúde a tempo de preencher a vaga com outro usuário que necessita do mesmo
atendimento. Consequência: as filas de espera se alongam, enquanto
profissionais e equipamentos permanecem ociosos em certos momentos. Detalhe: o
pessoal que atua no setor privado de saúde enfrenta situação semelhante.
Há
muita discussão sobre as causas desses comportamentos incivilizados e as formas
de os minimizar.
Educar
as várias camadas sociais que usam o SUS e conscientizá-las para praticarem a
solidariedade cidadã e a corresponsabilidade de cuidar do patrimônio de todos é
um desafio e tanto.
Apesar
da popularização das redes digitais e dos smartphones, muita gente ainda acha
que as unidades de saúde do SUS, assim como o resto do patrimônio estatal, são
“do governo”, e não do próprio povo. Ódio a um governo ou governante pode
desaguar em desprezo pelo equipamento público.
Priorizar
a saúde coletiva não é um hábito da cultura nacional. Haja ferramenta de
inteligência artificial para lembrar os usuários de seus compromissos marcados
no SUS e confirmar o comparecimento automaticamente para não desperdiçar vagas.
O
desinteresse de parte significativa da população em participar das reuniões dos
conselhos municipais de saúde é crônico. Em vez de exercerem o controle social
do SUS, assegurado pela Constituição Federal, muitos preferem buscar gabinetes
de vereadores para solucionarem os seus problemas de saúde individuais ou
familiares.
Várias
pessoas ausentes das instâncias democráticas do SUS para reivindicar direitos e
formular políticas públicas comparecem a protestos, nem sempre pacíficos, de
grupos políticos radicais acontecidos nos espaços públicos. Exibem selfies da
participação nos seus perfis e comunidades. Esses eventos geralmente são
planejados, financiados, convocados e coordenados por meio das próprias redes
digitais.
Em
meio a tantas questões intrincadas que a psicologia social e as ciências
políticas tentam elucidar, um fato importante: no feriado de Finados mais
recente, não houve notícias de grandes atos públicos em respeito aos cerca de
710.000 mortos por COVID-19 no Brasil.
As
iniciativas relevantes para preservar a memória dessas vítimas ainda são o
Memorial instalado no Senado Federal em fevereiro de 2022, e o compromisso de
abrir o Memorial da Pandemia de COVID-19 no Centro Cultural do Ministério da
Saúde no Rio Janeiro.
Neste
momento, o mercado financeiro pauta, a ala conservadora do Congresso Nacional
exige e o Governo Federal estuda um corte de verbas públicas que pode afetar o
SUS. Paralelamente, pesquisadores renomados apontam o impacto das mudanças
climáticas na saúde humana e o perigo permanente do negacionismo científico.
A
falta de memória coletiva da maior catástrofe da História da saúde pública
brasileira e o risco de corte do orçamento para a Saúde acendem o alerta: nem
todos os políticos, influenciadores digitais e magnatas incivilizáveis também
são inelegíveis.
Para
a nossa sobrevivência, não cabe indiferença. A vigilância cidadã democrática e
organizada em defesa da saúde pública se faz cada vez mais necessária no país.
Fonte:
Por Aracy P. S. Balbani, em A Terra é Redonda
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