Heleno,
Braga Netto: o que pode acontecer com militares indiciados
Para os militares indiciados pela Polícia
Federal por tentativa de golpe de Estado, as consequências de um eventual
processo e condenação penal podem afetar sua posição na estrutura das Forças
Armadas.
Mas
isso só vai ocorrer em caso de uma eventual condenação criminal definitiva, ou
seja, uma decisão pela punição deles em que não houver mais recursos.
Nesta
quinta-feira (21), a Polícia Federal indiciou 37 pessoas por tentativa de golpe
de Estado em 2022. No grupo, havia pelo menos 25 com ligações com as Forças
Armadas. Um dos indiciados é o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para
que haja condenação, o indiciamento da PF precisa se transformar em uma
denúncia da Procuradoria-Geral da República e esta, por sua vez, deve ser
acolhida pelo STF e resultar em uma condenação sem a possibilidade de recursos,
após julgamento.
Se
isso acontecer — e se a pena de prisão for maior que dois anos — o Superior
Tribunal Militar pode ser chamado a se manifestar e declarar os militares
indignos do oficialato, o que causa a perda de posto e patente.
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Crimes
Os
crimes atribuídos a eles pela polícia federal têm penas superiores a dois anos:
▶️ abolição violenta do Estado Democrático de Direito: acontece
quando alguém tenta "com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o
Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos
poderes constitucionais". A pena varia de 4 a 8 anos de prisão.
▶️golpe de Estado: fica configurado quando uma pessoa tenta
"depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente
constituído". A punição é aplicada por prisão, no período de 4 a 12 anos.
▶️organização criminosa: crime cometido por quem promove,
constitui, financia ou integra, “pessoalmente ou por interposta pessoa,
organização criminosa”. Pena de 3 a 8 anos. A organização criminosa a
“associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a quatro anos,
ou que sejam de caráter transnacional”.
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Tramitação
O
indiciamento acontece quando a polícia atribui a uma pessoa ou a um grupo a
prática de crimes, no âmbito de uma investigação penal. As conclusões da PF
devem seguir para a Procuradoria-Geral da República, que pode arquivar ou caso
ou apresentar uma denúncia, que é uma acusação formal na Justiça.
Se
houver denúncia da PGR e ela for aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os
indiciados se tornam réus e passam a responder a uma ação penal.
Esse
processo passa por coleta de provas e de depoimentos. Na sequência, os
ministros decidem se condenam ou absolvem os réus, fixando uma pena para cada
um.
No
caso dos militares, se esta pena privativa de liberdade for maior que dois
anos, a Constituição prevê a possibilidade de declará-los indignos do
oficialato.
Cabe
ao Superior Tribunal Militar decidir sobre a Declaração de Indignidade para o
Oficialato, se o tribunal receber uma representação nesse sentido do Ministério
Público Militar. O STM não vai decidir sobre o crime em si, sobre as
circunstâncias do ocorrido - mas sim avaliar se a indignidade para o Oficialato
pode ser aplicada à situação.
Se
não houver mais recursos ao pronunciamento do STM, o comandante da força ao
qual o militar é vinculado será comunicado, para as providências. A indignidade
para o oficialato provoca a exclusão do militar dos quadros. Os dependentes do
militar, no entanto, ainda recebem pensão referente ao agente, mesmo com ele em
vida. O procedimento é conhecido como "morte ficta".
• Padre de
Osasco é um dos indiciados pela PF; saiba quem é
Entre
os 37 indiciados nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal no inquérito
sobre a tentativa de golpe de Estado no país está o padre católico José Eduardo
de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo.
Em
fevereiro, ele foi alvo da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal. A
operação cumpriu 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão
preventiva contra pessoas acusadas de participação na elaboração da tentativa
de golpe de estado no Brasil, em janeiro do ano passado.
O
religioso é conhecido nas redes sociais por gravar vídeos no Youtube discutindo
guerra cultural, aborto e a influência ruim das músicas e divas pop na vida de
crianças e adolescentes,
O
relatório final do inquérito, que tem mais de 800 páginas, foi concluído no
início da tarde desta quinta e vai ser entregue ao Supremo Tribunal Federal
(STF).
O
padre José Eduardo é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema.
Segundo o ministro Alexandre de Moraes, o núcleo assessorava os membros do
suposto plano de golpe de estado na elaboração de minutas de decretos com
fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas.
De
acordo com a Polícia Federal, o padre supostamente participou de uma reunião no
dia 19 de novembro de 2022, com Filipe Martins e Amauri Feres Saad – outros
dois indiciados- como indicam os controles de entrada e saída do Palácio do
Planalto.
O
encontro, segundo o inquérito da PF, fazia parte de uma série de discussões
convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para "tratativas com
militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção
constitucional."
Filipe
Martins era ex-assessor especial de Bolsonaro e foi preso pela PF em fevereiro.
Durante
a operação em fevereiro, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva foi informado
pela PF que terá que cumprir medidas cautelares para não ser preso.
Entre
elas, a proibição de manter contato com os demais investigados da operação, o
compromisso de não se ausentar do país e entrega de todos os passaportes
(nacionais e estrangeiros) no prazo de 24 horas.
Em
nota, o advogado Miguel Vidigal afirmou que não recebeu nenhum relatório
disponível. "Temos uma nota da Polícia Federal com alguns nomes
indiciados."
"Menos
de 7 dias depois de dar depoimento à Polícia Federal, meu cliente vê seu nome
estampado pela Polícia Federal como um dos indiciados pelos investigadores. Os
mesmos investigadores não se furtaram em romper a lei e tratado internacional
ao vasculhar conversas e direções espirituais que possuem garantia de sigilo e
foram realizadas pelo padre.
Quem
deu autorização à Polícia Federal de romper o sigilo das investigações? Até
onde se sabe, o ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo absoluto. Não há
qualquer decisão do magistrado até o momento rompendo tal determinação.
A
nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado
pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão
policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da
determinação do ministro."
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O que disse o padre José Eduardo
Por
meio de nota em fevereiro, o padre negou que tenha participado de qualquer
conspiração contra a Constituição Brasileira. Segundo o padre, como sacerdote
católico "é chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores
da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente
me procuram com assuntos dos mais variados temas".
"Como
é meu dever, preservo a privacidade de todos eles, visto que os dilemas que me
apresentam são sempre de foro interno. Em relação ao referido 'inquérito dos
atos antidemocráticos', minha posição sobre o assunto é clara e inequívoca: a
República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser
respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos
meus princípios", disse José Eduardo.
"Abaixo
de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem
endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia
moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre
os quais humildemente me incluo. Estou inteiramente à disposição da justiça
brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a
sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa", completou.
"A
única missão na minha vida é o meu trabalho sacerdotal. Por isso, preciso de um
“tradutor” que me faça compreender os passos jurídicos decorrentes desta
inusitada e inesperada situação e que me ajude a atender com precisão os
pedidos do Poder Judiciário. Por isso, constituo meu “tradutor” o Dr. Miguel da
Costa Carvalho Vidigal, advogado, que saberá dar respostas jurídicas
pertinentes ao assunto. Ainda não obtivemos acesso aos autos, o qual esperamos
obter nos próximos dias", declarou.
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Quem é o padre José Eduardo
O
padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São
Paulo. — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Integrante
da ala conservadora da Igreja Católica, o padre José Eduardo comemora 18 anos
de sacerdócio em 2024. Ele é o vigário oficial da 'Paróquia São Domingos – o
Pregador-, no bairro de Umuarama, em Osasco.
Doutor
em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma, Itália), o
religioso grava vídeos no Youtube com críticas às cantoras Madonna e Luiza
Sonza, por exemplo, e analisa a letra das músicas e o simbolismo de clipes de
canções como “Campo de Morango”.
“É
de uma baixaria que a gente fica realmente constrangido”, diz ele.
“Não
é apenas a letra [das músicas] que diz coisas. Mas é a harmonia, o ritmo e a
melodia. Uma música de amor que tem uma batida sensual, ela está falando de
amor em termos libidinosos. Na melodia está embutida uma mensagem sexual que
não está embutida na letra. [...]Se uma melodia não tem uma inspiração divina,
ela tem uma inspiração humana ou demoníaca?”, argumentou o padre em vídeo
gravado em 7 de agosto do ano passado.
Entre
as pautas que o padre mais gosta de comentar é o aborto: “Você tem pessoas tão
loucas que elas são abortistas e veganas. São a favor de que se matem os bebês
no ventre de suas mães, mas são totalmente contra o extermínio de animais para
o consumo”, declarou ele em outro vídeo.
Padre
José Eduardo analisa capa da revista Vanitty Fair, dos EUA, com a cantora
Madonna vestida de Nossa Senhora das Dores. — Foto: Reprodução/Youtube
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"Chatólicos"
O
padre também frequenta canais e podcast de grande repercussão na extrema
direita, como os produtos da produtora Brasil Paralelo e o canal do economista
bolsonarista Rodrigo Constantino.
Nos
textos em que mantém no seu site pessoal, o padre também alerta os fiéis
católicos contra os colegas de igreja que ele chama de “chatólicos”.
Entre
as características desse tipo de cristão, segundo o religioso, estão as
seguintes:
“O
fulano que se converteu ontem, mas já se considera o próprio martelo dos
hereges; justificam toda agressividade, desde que ungida com uma pretensa
defesa da fé, em nome da qual cometem calúnias e difamações, além de muita
desonestidade intelectual; Participam da liturgia como censores, mais
preocupados com os eventuais erros cometidos pelo celebrante que com a
edificação de sua alma; vivem de sensacionalismo escatológico, assustando “os
outros com revelações particulares e especulações irresponsáveis sobre o
capiroto”, escreveu.
• Influenciador
argentino, ex-estrategista de Milei, é indiciado. Saiba quem é
O
influencer argentino Fernando Cerimedo é o único estrangeiro entre os 37
indiciados pela Polícia Federal nesta quinta-feira (21) por tramarem um golpe
de Estado no país.
A
conclusão do inquérito aponta uma organização criminosa que atuou de forma
coordenada na tentativa de golpe para manter Bolsonaro após derrota na eleição
de 2022. A investigação começou no ano passado e foi concluída dois dias após a
PF prender 4 militares e um policial federal acusados de tentar matar Lula,
Alckmin e Moraes.
Cerimedo
é um influencer de direita, dono de um canal chamado "La Derecha
Diário" e próximo, entre outros, ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Além
de apoiar informalmente da campanha de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição em 2022,
ele atuou como consultor externo e coordenador de estratégia digital da
campanha de Javier Milei à Presidência da Argentina, em 2023. Ao contrário de
Bolsonaro, Milei saiu vencedor do pleito.
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Falsas alegações de fraudes
Em
2022, Cerimedo participou ativamente da campanha para descredibilizar a eleição
da qual Bolsonaro saiu derrotado. Em uma "live", o influenciador
apresentou alegações apócrifas e falsas sobre as urnas eletrônicas para
justificar o fato de o candidato do PL ter tido menos votos que Lula.
Uma
das alegações do vídeo, sem provas é a de que algumas das urnas, de fabricação
anterior a 2020, não teriam sido auditadas. A informação é falsa, porém.
No
mesmo vídeo, Cerimedo também diz que algumas urnas teriam dois programas
rodando em paralelo, já que elas apresentam dois logs. A informação também
carece de provas, já que mais de um log pode ser gerado por uma mesma máquina,
caso o servidor da Justiça Eleitoral digita uma número errado no momento de
inserir a senha, por exemplo.
Próximos
passos
➡️ O indiciamento significa que a PF viu fatos suficientes para
considerar que Bolsonaro, Braga Netto e Cid e os demais indiciados têm
participação na trama golpista que tentou tirar o mandato do presidente eleito
em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A
PF apresentou o relatório com os indiciamentos para o Supremo Tribunal Federal
(STF). Agora, o ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, deve enviar o
material para análise Procuradoria-Geral da República (PGR).
Se
a PGR entender que há elementos suficientes que demonstram a participação nos
atos, vai oferecer à Justiça uma denúncia contra os envolvidos. Só se a
denúncia for acolhida pelo STF é que Bolsonaro e seus auxiliares virariam réus.
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O que a PF investiga?
Desde
o ano passado, a PF investiga a tentativa de golpe de Estado e iniciativas
nesse sentido que ameaçaram o país entre 2022 e 2023, após Lula ter sido eleito
— vencendo Bolsonaro nas urnas — e até pouco depois de ele ter tomado posse.
A
investigação remonta aos discursos de altas autoridades do governo Bolsonaro
para descreditar a urna eletrônica e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e se
estende até o fim de 2022.
Passa,
portanto, pelas "minutas do golpe" encontradas na casa do ex-ministro
Anderson Torres, no celular de Mauro Cid e na sede do PL em Brasília; e pelo
plano, revelado pela operação Contragolpe na última terça (19), que previa
inclusive o assassinato de autoridades.
Os
atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, embora também se relacionem a uma
tentativa de derrubar Lula da Presidência da República, são investigados em um
inquérito separado.
• Veja a lista
de todos os indiciados:
1. Ailton
Gonçalves Moraes Barros
2. Alexandre
Castilho Bitencourt da Silva
3. Alexandre
Rodrigues Ramagem
4. Almir Garnier
Santos
5. Amauri Feres Saad
6. Anderson
Gustavo Torres
7. Anderson Lima
de Moura
8. Angelo
Martins Denicoli
9. Augusto
Heleno Ribeiro Pereira
10. Bernardo Romão
Correa Netto
11. Carlos Cesar
Moretzsohn Rocha
12. Carlos Giovani
Delevati Pasini
13. Cleverson Ney
Magalhães
14. Estevam Cals
Theophilo Gaspar de Oliveira
15. Fabrício
Moreira de Bastos
16. Filipe Garcia
Martins
17. Fernando
Cerimedo
18. Giancarlo Gomes
Rodrigues
19. Guilherme
Marques de Almeida
20. Hélio Ferreira
Lima
21. Jair Messias
Bolsonaro
22. José Eduardo de
Oliveira e Silva
23. Laercio
Vergilio
24. Marcelo
Bormevet
25. Marcelo Costa
Câmara
26. Mario Fernandes
27. Mauro Cesar
Barbosa Cid
28. Nilton Diniz
Rodrigues
29. Paulo Renato de
Oliveira Figueiredo Filho
30. Paulo Sérgio
Nogueira de Oliveira
31. Rafael Martins
de Oliveira
32. Ronald Ferreira
de Araujo Junior
33. Sergio Ricardo
Cavaliere de Medeiros
34. Tércio Arnaud
Tomaz
35. Valdemar Costa
Neto
36. Walter Souza
Braga Netto
37. Wladimir Matos
Soares
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Veja íntegra da nota da PF sobre o indiciamento:
A
Polícia Federal encerrou nesta quinta-feira (21/11) investigação que apurou a
existência de uma organização criminosa que atuou de forma coordenada, em 2022,
na tentativa de manutenção do então presidente da República no poder.
O
relatório final foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal com o indiciamento
de 37 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de
Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
As
provas foram obtidas por meio de diversas diligências policiais realizadas ao
longo de quase dois anos, com base em quebra de sigilos telemático, telefônico,
bancário, fiscal, colaboração premiada, buscas e apreensões, entre outras
medidas devidamente autorizadas pelo poder Judiciário.
As
investigações apontaram que os investigados se estruturaram por meio de divisão
de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da
existência dos seguintes grupos:
• a) Núcleo de
Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
• b) Núcleo
Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;
• c) Núcleo
Jurídico;
• d) Núcleo
Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
• e) Núcleo de
Inteligência Paralela;
• f) Núcleo
Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas
Com
a entrega do relatório, a Polícia Federal encerra as investigações referentes
às tentativas de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de
Direito.
Fonte: g1
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