terça-feira, 26 de novembro de 2024

Joias e vacina: as outras investigações em curso em que Bolsonaro é alvo

A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quinta-feira (21/11) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas, dentre elas os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno, que fizeram parte de seu governo.

Eles são suspeitos de tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente no poder após as eleições de 2022, e foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

O indiciamento significa que a PF viu indícios suficientes para considerar que um crime foi praticado e, assim, formalizou esses indícios em um inquérito.

O documento ainda passará pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá se os tornarão réus ou não.

Em sua conta na rede social X, Bolsonaro reproduziu trechos de uma entrevista que deu ao portal Metrópoles falando sobre o indiciamento.

Ele acusa o ministro do STF, Alexandre de Moares, que, segundo o ex-presidente "prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa."

Bolsonaro também afirmou que aguardará seu advogado, e que o caso irá para a PGR "obviamente".

Essa é a terceira vez que o ex-presidente é indiciado. Entenda a quais são os outros dois casos que podem levar Bolsonaro a julgamento.

•                                    Inquérito sobre joias

Em julho deste ano, Bolsonaro e outras 11 pessoas foram indiciadas pela PF no inquérito que apura um suposto esquema de negociação ilegal de joias dadas por delegações estrangeiras à Presidência da República quando Bolsonaro era presidente.

Na ocasião, Bolsonaro foi indiciado por três crimes: organização criminosa (com penas de um a três anos de reclusão); lavagem de dinheiro (de três a 10 anos) e peculato (apropriação de bem público), que podem levar a uma pena de dois a 12 anos de reclusão.

Segundo o inquérito da PF, a suposta associação criminosa formada pelo ex-presidente e seus ex-assessores teria desviado ou tentado desviar itens com valor de mercado de até R$ 6,8 milhões (US$ 1,2 milhão).

A investigação apontou que "os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", segundo o documento.

Conforme os investigadores, o grupo teria utilizado o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência da República (GADH/GPPR) para desviar presentes de alto valor.

O departamento, que era presidido por Marcelo da Silva Vieira, destinaria os presentes recebidos ao acervo privado de Bolsonaro, desconsiderando o valor dos objetos e ampliando ilegalmente o conceito de "bens personalíssimos", para abranger qualquer bem de uso pessoal.

Outra forma apontada pela investigação para realizar os desvios dos bens era simplesmente não registrar o momento da entrega do presente, para que ele fosse subtraído diretamente pelo ex-presidente, sem sequer passar pela avaliação do GADH.

O dinheiro obtido com as vendas das joias sauditas teria entrado para o patrimônio pessoal de Bolsonaro e servido para custear as despesas dele e de sua família nos Estados Unidos entre os dias 30 de dezembro de 2022 e 30 de março de 2023, segundo o inquérito da PF.

Os indiciados neste caso são:

•                                    Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República, indiciado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato (apropriação de bem público);

•                                    Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior, ex-ministro de Minas e Energia, indiciado por apropriação e associação criminosa;

•                                    Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social e advogado de Bolsonaro, indiciado por lavagem e associação criminosa;

•                                    Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro, indiciado por lavagem e associação criminosa;

•                                    José Roberto Bueno Junior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia, indiciado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação;

•                                    Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal, indiciado por associação, lavagem, apropriação e advocacia administrativa perante a administração fazendária;

•                                    Marcelo Costa Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, indiciado por lavagem de dinheiro;

•                                    Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do setor de presentes durante o governo Bolsonaro, indicado por apropriação e associação criminosa;

•                                    Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor do ex-ministro de Minas e Energia, indiciado por apropriação e associação criminosa;

•                                    Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, indiciado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato.

•                                    Mauro Cesar Lourena Cid, general da reserva e pai de Mauro Cid, indicado por lavagem e associação criminosa;

•                                    Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; indicado por lavagem e associação criminosa.

Bolsonaro e seus ex-assessores negaram qualquer irregularidade no trâmite das joias.

Na ocasião, o advogado criminalista Cezar Roberto Bittencourt, responsável pela defesa do tenente-coronel Mauro Cid, disse ao jornal Folha de S. Paulo que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não se beneficiou do negócio.

"Ele confessa que comprou as joias evidentemente a mando do presidente", disse Bittencourt ao jornal.

•                                    Fraude no cartão de vacina

Em março deste ano, Bolsonaro, seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid e outros 14 aliados foram indiciados pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informações, no inquérito que apura suposta fraude em cartões de vacinação da covid-19.

A investigação teve início em 2023. A PF suspeitava que Mauro Cid e outros assessores próximos de Bolsonaro teriam colaborado para emitir certificados falsos de imunização contra a covid-19 para o então presidente e sua filha.

O documento falso garantiria a entrada de ambos nos Estados Unidos no final de 2022, antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na época, a apresentação desse documento na alfândega americana era uma exigência para a maioria das pessoas. No entanto, isso não seria necessário para Bolsonaro e sua filha, graças ao passaporte diplomático que possuíam.

Na época, o ex-presidente negou que tivesse conhecimento da falsificação. Já para a PF, registros no aplicativo ConecteSus — sistema do Ministério da Saúde que emite o certificado de vacinação — de que a conta associada ao ex-presidente foi acessada de dentro do Palácio do Planalto por seu ex-ajudante de ordens para a emissão de comprovantes falsos reforçaria a hipótese que Bolsonaro sabia da falsificação.

O grupo é suspeito de ter inserido dados falsos de vacinação contra a covid-19 no sistema do Ministério da Saúde para forjar os certificados de vacinação também de Mauro Cid, da sua mulher e de três filhas do casal (duas menores de idade); e de mais dois assessores do ex-presidente.

Supostamente, a finalidade das falsificações também seria viabilizar a entrada dessas pessoas nos Estados Unidos.

O crime de inserção de dados falsos em sistema de informações tem pena de 2 a 12 anos de prisão, enquanto o de associação criminosa estabelece pena de 1 a 3 anos.

•                                    Inelegível

Além dos indiciamentos, Bolsonaro foi condenado a oito anos de inelegibilidade em dois processos separados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No primeiro, em junho do ano passado, foi condenado por abuso do poder político por ter convocado uma reunião com embaixadores de países estrangeiros em Brasília meses antes das eleições presidenciais e usado meios de comunicação governamentais para discursar contra a integridade do sistema eleitoral brasileiro.

No segundo processo, foi condenado em outubro do ano passado por abuso do poder político e econômico por ter usado recursos públicos durante as comemorações do Dia da Independência de 2022 para fazer campanha eleitoral.

Bolsonaro sempre disse ser inocente. Como na esfera eleitoral não haveria mais recursos disponíveis contra as condenações, a defesa de Bolsonaro recorreu ao STF para tentar reverter a inelegibilidade.

Em um dos recursos, a defesa alega que as condenações a Bolsonaro teriam violado princípios constitucionais como a inclusão de provas que, inicialmente, não estariam vinculadas aos processos eleitorais como a chamada “minuta do golpe”.

Aliados de Bolsonaro defendem uma "anistia", o que poderia abrir caminho para que o ex-presidente disputasse as eleições em 2026.

Somente no TSE, há um total de 18 ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) contra Bolsonaro, incluindo a julgada agora.

As AIJEs tratam de acusações de abuso de poder nas eleições e têm como pena a inelegibilidade - caso Bolsonaro venha a ser novamente condenado, no entanto, não haverá acréscimo no período em que ficará inelegível.

 

•                                    Bolsonaro indiciado por tentativa de golpe: o que se sabe até agora

A Polícia Federal entregou nesta quinta-feira (21) ao Supremo Tribunal Federal (STF) o inquérito que investigava a tentativa de golpe de Estado em 2022.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas foram indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

A investigação aponta uma organização estruturada e coordenada para manter Bolsonaro no poder após sua derrota na eleição de 2022.

O relatório da PF ainda está sob sigilo. Portanto, detalhes das conclusões da polícia ainda não são conhecidos.

<><> Lista dos indiciados

Entre os principais investigados pela tentativa de golpe de Estado estão, além de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Valdemar Costa Neto, presidente do PL; e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência.

Eles são acusados de coordenar núcleos que planejaram ações antidemocráticas para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022.

Veja a lista completa:

<><> Crimes apontados

A PF atribui a todos os indiciados três crimes, previstos no Código Penal e em leis complementares:

# Abolição violenta do Estado Democrático de Direito (4 a 8 anos de prisão): envolve tentativas de restringir ou impedir o funcionamento dos poderes constitucionais por meio de violência ou grave ameaça.

# Golpe de Estado (4 a 12 anos de prisão): configura-se quando há tentativa de depor o governo legitimamente constituído.

# Organização criminosa (3 a 8 anos de prisão): relaciona-se à formação de associações com divisão de tarefas para cometer crimes de alto impacto.

Todos os crimes incluem a possibilidade de punição mesmo que a tentativa não tenha se concretizado.

<><> Os 6 núcleos golpistas

A investigação identificou uma estrutura organizada dividida em seis núcleos, cada um com funções específicas na trama golpista:

# Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral: responsável pela disseminação de mentiras sobre as urnas eletrônicas para descredibilizar o processo eleitoral.

# Núcleo Responsável por Incitar Militares: elegia alvos para ampliar os ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investidas golpistas.

# Núcleo Jurídico: fazia assessoramento e elaboração de minutas de decretos com argumentos jurídicos e doutrinários que atendessem aos interesses golpistas. Elaborou, por exemplo, minutas de atos inconstitucionais, como a proposta encontrada na casa de Anderson Torres.

# Núcleo Operacional de Apoio: executava medidas para manter as manifestações em frente aos quartéis militares que se formaram após o resultado das eleições, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais, os “kids pretos”, em Brasília..

# Núcleo de Inteligência Paralela: coletava dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões sobre o golpe de Estado e monitorava o deslocamento e localização do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, do presidente recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva e de seu vice Geraldo Alckmin.

# Núcleo Operacional de Medidas Coercitivas: encarregado de anular adversários do golpe, inclusive com uso de violência, com previsão de assassinato ou captura de Lula, Alckmin, do ministro Alexandre de Moraes e de quem mais apoiasse as decisões do Supremo Tribunal Federal contra os interesses do grupo.

<><> O que acontece agora?

O relatório da PF será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ministro Alexandre de Moraes determinará o envio à Procuradoria-Geral da República (PGR). A PGR poderá arquivar o caso, pedir mais diligências ou apresentar denúncia formal. Se denunciados e aceitos pelo STF, os indiciados se tornam réus e responderão a um processo penal. Nesse caso, o julgamento incluirá coleta de provas, interrogatórios e análise final pelo tribunal.

<><> Bolsonaro pode ser preso?

Sim, mas a prisão de Jair Bolsonaro só poderá ocorrer se ele for condenado após o julgamento no STF. No entanto, dependendo do andamento da denúncia e da gravidade das evidências, medidas cautelares podem ser determinadas, como restrição de locomoção ou afastamento de atividades políticas. Até o momento, o ex-presidente enfrenta outros processos na Justiça, mas ainda não há decisões definitivas em nenhum deles.

<><> O que disseram os indiciados

Os indiciados negam as acusações e criticam a condução da investigação.

# Jair Bolsonaro: O ex-presidente afirmou que precisa analisar o teor do indiciamento antes de se pronunciar formalmente. "Aguardarei meu advogado para tratar do caso", disse em entrevista recente.

# Walter Braga Netto: Sua defesa repudiou o inquérito e declarou que aguardará acesso aos autos para um posicionamento formal.

# Anderson Torres: O ex-ministro afirmou que só se manifestará após acesso completo ao relatório da PF.

# Valdemar Costa Neto: "Sem comentários. Não vamos comentar", limitou-se a dizer seu advogado, Marcelo Bessa.

# Almir Garnier Santos: Reiterou sua inocência e criticou a falta de acesso ao relatório completo.

# Alexandre Ramagem: Disse em nota que a investigação demonstra "excessos e perseguições evidentes" e que confia no esclarecimento dos fatos.

# Tércio Arnaud e Marcelo Costa Câmara: A defesa de ambos afirmou que o indiciamento "não se sustenta diante da ausência de qualquer elemento concreto" e que espera diligências complementares da PGR.

# Ronald Ferreira de Araújo Junior: reforçou que "não participou, a qualquer título, dos supostos crimes investigados" e aguarda acesso ao relatório para esclarecimentos.

# Amauri Feres Saad: declarou que não teve acesso ao relatório e criticou a divulgação pública da lista de indiciados, apontando desrespeito ao sigilo imposto pelo STF.

# Alexandre Castilho Bitencourt da Silva: negou envolvimento e reafirmou compromisso com o Estado Democrático de Direito.

# José Eduardo de Oliveira e Silva: criticou a quebra de sigilo e alegou abuso por parte dos investigadores.

 

Fonte: BBC News Brasil/g1

 

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