terça-feira, 26 de novembro de 2024

Caitlin Johnstone: O verdadeiro Israel

Uma das poucas coisas boas que estão surgindo do pesadelo implacável que acontece em Gaza é que, finalmente, o mundo ocidental está tendo uma visão clara de Israel. Do verdadeiro Israel.

Não do Israel que ensinam na escola. Não “a única democracia no Oriente Médio”, onde os judeus receberam um refúgio seguro após a sua vitimização nas mãos dos nazistas e conseguiram criar uma sociedade próspera apesar de existirem em um mar de inimigos selvagens determinados a destruí-los.

Não esse Israel. O verdadeiro. Arguivelmente, a sociedade mais racista do planeta, cuja existência depende de violência, roubo, tirania e abuso contínuos desde a sua própria criação.

O verdadeiro Israel, cujo governo está deliberada e metodicamente matando de fome civis palestinos aos milhares, apenas por serem da etnia “errada”.

O verdadeiro Israel, cujos franco-atiradores rotineiramente assassinam crianças palestinas com tiros na cabeça.

O verdadeiro Israel, cujo exército é tão sádico que criou um sistema de inteligência artificial para especificamente alvejar supostos combatentes do Hamas quando estão em casa com as suas famílias, e chamou a IA de “Where’s Daddy?” (Onde está o papai?) porque estaria matando pais enquanto estão com os seus filhos.

O verdadeiro Israel, cujos soldados não conseguem parar de postar vídeos deles mesmos zombando, vestidos com roupas íntimas de mulheres palestinas mortas ou deslocadas, e brincando com os brinquedos de crianças palestinas mortas ou deslocadas.

O verdadeiro Israel, onde médicos palestinos são estuprados e torturados até a morte.

O verdadeiro Israel, onde a maioria dos homens não acredita que estupro por conhecidos ou conjugal sejam crimes reais, e onde a maioria não acredita que soldados acusados de estuprar e torturar um prisioneiro palestino até causar lesões graves devam enfrentar acusações criminais.

O verdadeiro Israel, que rotineiramente bombardeia edifícios cheios de civis e depois usa drones franco-atiradores para abater os sobreviventes, incluindo crianças.

O verdadeiro Israel, cujos drones foram ouvidos tocando sons de bebês chorando e mulheres gritando para atrair civis para fora e então matá-los.

O verdadeiro Israel, que danificou ou destruiu 94% das instalações de saúde em Gaza com centenas de ataques direcionados.

O verdadeiro Israel, cujas forças militares alvejam equipes médicas de forma tão metódica que médicos e enfermeiras em Gaza supostamente trocam seus uniformes ao saírem do hospital para evitar de serem assassinados.

O verdadeiro Israel, que odeia tanto a verdade que está matando números históricos de jornalistas em Gaza enquanto impede que jornalistas estrangeiros entrem no enclave.

O verdadeiro Israel, que tem atacado deliberadamente locais de trabalhadores humanitários.

O verdadeiro Israel, cujos cidadãos estão tão distorcidos e deformados que participam de passeios de barco para alegremente observar a devastação na Faixa de Gaza.

O verdadeiro Israel, cujos cidadãos bloqueiam a passagem de caminhões de ajuda destinados a civis famintos em Gaza, enquanto fazem churrascos e montam castelos infláveis e máquinas de algodão doce para os seus filhos.

O verdadeiro Israel, cujos influenciadores no TikTok começaram uma tendência viral zombando do sofrimento de civis em Gaza.

O verdadeiro Israel, cujos cidadãos viajam para outro país, arrancam bandeiras palestinas, cantam sobre como não há mais crianças em Gaza, e depois se fazem de vítimas quando são confrontados.

Esse é o verdadeiro Israel, em toda a sua glória. E é bom que esteja sendo visto.

Quanto mais cedo todos pararem de apoiar essa sociedade monstruosa e assassina e começarem a insistir que os valores humanos normais prevaleçam sobre as forças dementes que a sustentam, mais cedo poderá haver paz na região. E melhor será para toda a nossa espécie.

 

¨      Terror e escárnio em Israel. Por Sebastian Ben-Daniel

Alguém “normal”, na definição do dicionário, é um sujeito comum, racional: não anormal. Os relatos sobre o funeral do soldado Shuva’el Ben-Natan me parecem anormais.

Ao elogiá-lo, seu irmão disse: “Queremos vingança! Vocês entraram em Gaza para se vingar do maior número possível de pessoas, mulheres, crianças, qualquer pessoa que vissem, o maior número possível, era isso que vocês queriam. E neste dia, um ano depois daquele dia de Simchat Torá, pensando que massacraríamos o inimigo, massacraríamos todos eles, os expulsaríamos de nossa terra aqui… Todo o povo de Israel terá o direito de se vingar de sua morte, vingança de sangue, não vingança por queimar casas, não vingança por queimar árvores, não vingança por queimar carros, mas vingança pelo sangue derramado dos servos [de Deus]”.

Em seguida, um de seus colegas soldados acrescentou: “Você era o mais feliz, o mais otimista e o mais bobo da unidade. Vimos isso pela primeira vez em Gaza, quando você incendiou uma casa sem permissão, movido pelo astral”.

Seu amigo Shlomi concluiu: “Prometo a você que entraremos no Líbano novamente, em Gaza e em todos os vilarejos de Samaria, e nos vingaremos, lutaremos até o fim e não pararemos. Quando você estava em Gaza, eles o chamavam de ‘Shuvi, o Madlik’ [madlik em hebraico significa incendiário mas também, na gíria, um cara legal] porque quando você saía de uma casa, colocava fogo nela. E nós vamos queimar – o que vamos queimar? Shubik, o que vamos queimar? Que eles comecem a sentir medo! Até que a redenção chegue – lutaremos até o Monte do Templo!”

Toda a mídia comercial israelense que cobriu o funeral cortou esses momentos. Em um longo artigo no noticiário noturno Ulpan Shishi de de sexta-feira, Ruti Shiloni relatou apenas os elogios que não incluíam confissões de crimes de guerra. Evidentemente, esse último não lhe pareceu incomum ou digno de notícia.

As reportagens subsequentes abordaram a mídia cooptada no Irã e os jornalistas da Al Jazeera suspeitos de serem combatentes do Hamas. Em certo momento, o apresentador de TV Danny Kushmaro detonou, durante um programa, os explosivos que arrasaram uma casa.

Quando estava de licença do exército, há exatamente um ano, Shuva’el Ben-Natan atirou e matou Bilal Saleh, 40 anos, enquanto este colhia azeitonas perto de sua casa. Saleh estava desarmado e não representava ameaça mortal a ninguém, mas Ben-Natan o matou a tiros.

Em outubro do ano passado, esse foi o modus operandi de muitos colonos da Cisjordânia, que aproveitaram o massacre de 7 de outubro para atormentar os palestinos durante a colheita da azeitona. O chefe do conselho regional de Samaria, Yossi Dagan, apressou-se em declarar naquele sábado que nada havia acontecido. Dagan é um colaborador próximo do pai de Ben-Natan, que dirige a Yeshiva Rechelim, de onde vieram os assassinos de Aisha a-Rabi.

Em seu discurso fúnebre, o amigo do jovem Ben-Natan viu esta história de forma diferente: “Eu tinha muita admiração por você. Havia malditos militantes lá, terroristas, que o maldito exército… permitiu que se aproximassem dos assentamentos. Você atira, fala, os expulsa… Eles [as autoridades] nem sequer interrogaram os árabes”.

Embora o caso permaneça em aberto, e ainda que Ben-Natan tenha dito a pessoas próximas que queria assassinar mulheres e crianças, ele foi posteriormente enviado para lutar em Gaza. Para deixar os rapazes da reserva felizes, ele incendiou uma casa – provavelmente o fez mais de uma vez, daí o apelido Shuvi, o incendiário.

Ninguém que presenciou esse fato achou que era um problema; pelo contrário, Ben-Natan era normal e bem-quisto. O exército evidentemente também pensava assim, pois depois de Gaza ele foi enviado para o Líbano. A trágica coincidência, de seu ponto de vista, é que se não tivesse recebido imunidade por ter matado Bilal Saleh, ele provavelmente estaria vivo hoje. Preso, mas vivo.

Se as coisas ditas no funeral tivessem sido escritas em um esquete satírico sobre um grupo religioso, elas seriam consideradas antissemitas. Mas para as pessoas que estavam no funeral, entre elas um ministro do governo que propôs jogar uma bomba atômica em Gaza, os elogios soaram perfeitamente normais. O mesmo vale para os amigos do soldado e para os oficiais da IDF presentes. Não apenas normais, mas motivos de orgulho, notáveis em seu obituário e na forma como Ben-Natan deveria ser lembrado: como o soldado determinado a assassinar mulheres e crianças — quanto mais, melhor — um cara que se divertia queimando casas.

No exército israelense de hoje, quantos Shuva’el Ben-Natan existem determinados a se vingar e a assassinar crianças – especificamente, agora, em Gaza?

De acordo com investigações recentes realizadas por importantes jornalistas estrangeiros, são muitos. Foram acumuladas inúmeras evidências de crianças baleadas na cabeça e no peito. Em Israel, é claro, isso é recebido com as alegações de sempre: não aconteceu, é notícia falsa. E se aconteceu, não foi intencional. Ou se foi intencional, o soldado era uma maçã podre, por que generalizar? E, de qualquer forma, não há inocentes em Gaza, e o culpado é o Hamas.

Mas não são maçãs podres, nem tolos. Um soldado judeu israelense muito observador, em um pogrom no vilarejo de Um Safa, incendiou uma casa com uma família dentro, apoiando uma cadeira contra a porta para garantir que a mãe e seus filhos fossem queimados vivos. Ele está em Gaza neste momento?

Aviad Frija confirma com orgulho para a mídia que ele de fato matou uma pessoa que havia largado sua arma (infelizmente, descobriu-se que a vítima era judia). Ele acabará servindo no Líbano devido à escassez de soldados de combate?

Três soldados da Brigada Kfir matam a tiros uma criança em um carro e são absolvidos porque as armas não foram testadas. Um oficial atira em uma ponte na estrada 443. Um soldado atira em um bebê em um vilarejo na Cisjordânia porque viu os faróis de um carro. O “procedimento do mosquito” força os civis de Gaza a se tornarem escudos humanos para os soldados que vasculham os túneis do Hamas, porque as vidas dos habitantes de Gaza valem menos do que uma bateria de drones. Oficiais sionistas religiosos pedem a destruição de vilarejos e a fome de civis e depois se ofendem, quando são chamados de “comedores de morte”.

Alguém ainda acha que a matança em Gaza não se deve, pelo menos em parte, à mesma sede de vingança que animou os elogios no funeral de Shuva’el Ben-Natan?

Desde outubro passado, muitos colonos foram recrutados para as unidades locais de defesa civil e receberam armas dos militares. Vestindo uniformes ou portando armas do exército israelense, esses colonos cometeram inúmeros ataques com motivação ideológica contra residentes palestinos nos territórios ocupados. A polícia não investiga, porque os suspeitos são “soldados”. O exército também não investiga, porque esses incidentes “não são uma atividade militar”. E a violência continua, enquanto a fiscalização fica entre as brechas.

Na sexta-feira, um foguete do Hezbollah matou dois civis no vilarejo de Majd al-Krum, uma comunidade árabe. Nos comentários sobre as reportagens da mídia, os leitores elogiaram o míssil que matou os moradores que tiveram o azar de ser árabes, e essa resposta se tornou a norma. Comentando abertamente, usando seus nomes completos, os leitores declararam que “duas pessoas [morreram] – isso não é nada”, “não está claro por que a postagem é tão triste”, e muito mais na mesma linha.

É claro que se uma professora árabe tivesse escrito algo remotamente parecido nas mídias sociais, ela teria sido presa e vendada. Os árabes que, em funerais, pediram explicitamente o assassinato foram tratados sumariamente como homens-bomba.

Mas no Israel de hoje, os ministros pedem sem hesitação a limpeza étnica, as pessoas comemoram a morte na internet, os soldados queimam casas e seus amigos se divertem, e um público inteiro prefere abandonar os reféns à tortura desde que consigam um pedaço de terra em Gaza para si.

Dos casamentos de ódio de uma década atrás, agora passamos aos funerais de ódio – e não há o menor indício de investigação, o que talvez sugira que algo incomum possa estar acontecendo. Talvez os terroristas judeus sejam de fato os normais aqui, e as poucas pessoas que estão chocadas sejam as loucas.

 

¨      “Nos preparamos para uma guerra prolongada”: Hezbollah reafirma resistência contra Israel

Em um discurso contundente realizado nesta quarta-feira (20), o secretário-geral do Hezbollah, Sheikh Naim Qassem, reafirmou a disposição do grupo em travar uma guerra prolongada contra Israel. A fala ocorreu durante uma homenagem a Hajj Mohammad Afif, porta-voz e líder de relações de imprensa do Hezbollah, morto em um bombardeio israelense na capital libanesa em 17 de novembro. Qassem ressaltou que Afif morreu no campo da resistência desempenhada pela imprensa. 

Qassem também destacou que o Hezbollah não está interessado em cessar a luta armada enquanto negociações se desenvolvem. “Não suspendemos o campo de batalha enquanto aguardamos as negociações. Permaneceremos lutando, respondendo à agressão e aumentando os custos para o inimigo”, afirmou, deixando claro que a resistência prosseguirá, sobretudo porque para o Hezbollah só é possível um acordo de cessar-fogo que considere o fim da agressão sionista em Gaza.

Em seu discurso, o líder do Hezbollah fez questão de ressaltar que o grupo não opera como um exército convencional, mas sustenta sua força na unidade entre “exército, o povo e a resistência”, afirmou.

Esta unidade também é assimilada na forte coesão e unidade das forças guerrilheiras do Eixo da Resistência, no que Qassem ressalta com grande estima a honra de poder lutar por defender Gaza e o povo palestino ao lado do povo iemenita, iraquiano e iraniano.

<><> “Se o inimigo não conseguir atingir seus objetivos, isso significa que vencemos”

A resistência libanesa atravessa um momento de saltos qualitativos importantes. O assassinato do líder Sayyed Hassan Nasrallah, o Mestre da Resistência, ademais de representar um golpe duro, não foi capaz de desestabilizar as forças guerrilheiras da resistência libanesa. Ao contrário, como Qassem demarcou, o Hezbollah conseguiu se reestruturar rapidamente e avançar qualitativamente no combate contra o Estado Sionista de Israel. Desde a morte de Nasrallah, o grupo passou a adotar ataques de precisão com uso de mísseis de grande impacto e alcance – Nasr-1, Fadi-6, Qader-1 e Qader-2. 

Expressões deste salto qualitativo estão precisamente nos ataques feitos contra a base de HaKirya – sede do Ministério da Defesa de Israel, ataques contra a residência oficial de Netanyahu, bombardeios contra bases militares de inteligência da Mossad e a própria capacidade de repelir a invasão terrestre israelense ao Líbano. 

Desde a invasão ao sul do Líbano, os guerrilheiros do Hezbollah aniquilaram 100 soldados israelenses e deixaram outros mil feridos, evidenciando a intensidade dos confrontos. Entre os danos materiais causados pelas ações do Hezbollah, destacam-se a destruição de pelo menos 43 tanques Merkava-4, um dos pilares das forças blindadas israelenses, e mais de oito bulldozers (escavadeiras militares), frequentemente utilizados em operações de engenharia em áreas de conflito.

<><> Alerta para Israel

Naim Qassem deixou claro que os ataques criminosos de Israel contra o povo libanês não ficarão impunes. “Quando [nossa] capital está sob ataques israelenses, nossa resposta deve estar no centro de Tel Aviv”, enfatizou, demonstrando a disposição do Hezbollah em revidar de forma proporcional às agressões sofridas.

Após um ano desde o início da Operação Dilúvio de Al Aqsa, lançada pela Resistência Nacional Palestina, o discurso de Qassem surge como mais um alerta para Israel e o imperialismo ianque, seguindo a toada de Nasrallah: a resistência não recuará e se fortalecerá a medida que a agressão sionista continuar.

 

Fonte: Brasil 247/Middle East Eye – tradução de Glauco Faria, em Outras Palavras/A Nova Democracia

 

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