Caitlin
Johnstone: O verdadeiro Israel
Uma
das poucas coisas boas que estão surgindo do pesadelo implacável que acontece
em Gaza é que, finalmente, o mundo ocidental está tendo uma visão clara de Israel.
Do verdadeiro Israel.
Não
do Israel que ensinam na escola. Não “a única democracia no Oriente Médio”,
onde os judeus receberam um refúgio seguro após a sua vitimização nas mãos dos
nazistas e conseguiram criar uma sociedade próspera apesar de existirem em um
mar de inimigos selvagens determinados a destruí-los.
Não
esse Israel. O verdadeiro. Arguivelmente, a sociedade mais racista do planeta,
cuja existência depende de violência, roubo, tirania e abuso contínuos desde a
sua própria criação.
O
verdadeiro Israel, cujo governo está deliberada e metodicamente matando de fome
civis palestinos aos milhares, apenas por serem da etnia “errada”.
O
verdadeiro Israel, cujos franco-atiradores rotineiramente assassinam crianças
palestinas com tiros na cabeça.
O
verdadeiro Israel, cujo exército é tão sádico que criou um sistema de
inteligência artificial para especificamente alvejar supostos combatentes do
Hamas quando estão em casa com as suas famílias, e chamou a IA de “Where’s
Daddy?” (Onde está o papai?) porque estaria matando pais enquanto estão com os
seus filhos.
O
verdadeiro Israel, cujos soldados não conseguem parar de postar vídeos deles
mesmos zombando, vestidos com roupas íntimas de mulheres palestinas mortas ou
deslocadas, e brincando com os brinquedos de crianças palestinas mortas ou
deslocadas.
O
verdadeiro Israel, onde médicos palestinos são estuprados e torturados até a
morte.
O
verdadeiro Israel, onde a maioria dos homens não acredita que estupro por
conhecidos ou conjugal sejam crimes reais, e onde a maioria não acredita que
soldados acusados de estuprar e torturar um prisioneiro palestino até causar
lesões graves devam enfrentar acusações criminais.
O
verdadeiro Israel, que rotineiramente bombardeia edifícios cheios de civis e
depois usa drones franco-atiradores para abater os sobreviventes, incluindo
crianças.
O
verdadeiro Israel, cujos drones foram ouvidos tocando sons de bebês chorando e
mulheres gritando para atrair civis para fora e então matá-los.
O
verdadeiro Israel, que danificou ou destruiu 94% das instalações de saúde em
Gaza com centenas de ataques direcionados.
O
verdadeiro Israel, cujas forças militares alvejam equipes médicas de forma tão
metódica que médicos e enfermeiras em Gaza supostamente trocam seus uniformes
ao saírem do hospital para evitar de serem assassinados.
O
verdadeiro Israel, que odeia tanto a verdade que está matando números
históricos de jornalistas em Gaza enquanto impede que jornalistas estrangeiros
entrem no enclave.
O
verdadeiro Israel, que tem atacado deliberadamente locais de trabalhadores
humanitários.
O
verdadeiro Israel, cujos cidadãos estão tão distorcidos e deformados que
participam de passeios de barco para alegremente observar a devastação na Faixa
de Gaza.
O
verdadeiro Israel, cujos cidadãos bloqueiam a passagem de caminhões de ajuda
destinados a civis famintos em Gaza, enquanto fazem churrascos e montam
castelos infláveis e máquinas de algodão doce para os seus filhos.
O
verdadeiro Israel, cujos influenciadores no TikTok começaram uma tendência
viral zombando do sofrimento de civis em Gaza.
O
verdadeiro Israel, cujos cidadãos viajam para outro país, arrancam bandeiras
palestinas, cantam sobre como não há mais crianças em Gaza, e depois se fazem
de vítimas quando são confrontados.
Esse
é o verdadeiro Israel, em toda a sua glória. E é bom que esteja sendo visto.
Quanto
mais cedo todos pararem de apoiar essa sociedade monstruosa e assassina e
começarem a insistir que os valores humanos normais prevaleçam sobre as forças
dementes que a sustentam, mais cedo poderá haver paz na região. E melhor será
para toda a nossa espécie.
¨
Terror e escárnio em
Israel. Por Sebastian Ben-Daniel
Alguém
“normal”, na definição do dicionário, é um sujeito comum, racional: não
anormal. Os relatos sobre o funeral do soldado Shuva’el Ben-Natan me parecem
anormais.
Ao
elogiá-lo, seu irmão disse: “Queremos vingança! Vocês entraram em Gaza para se
vingar do maior número possível de pessoas, mulheres, crianças, qualquer pessoa
que vissem, o maior número possível, era isso que vocês queriam. E neste dia,
um ano depois daquele dia de Simchat Torá, pensando que massacraríamos o
inimigo, massacraríamos todos eles, os expulsaríamos de nossa terra aqui… Todo
o povo de Israel terá o direito de se vingar de sua morte, vingança de sangue,
não vingança por queimar casas, não vingança por queimar árvores, não vingança
por queimar carros, mas vingança pelo sangue derramado dos servos [de Deus]”.
Em
seguida, um de seus colegas soldados acrescentou: “Você era o mais feliz, o
mais otimista e o mais bobo da unidade. Vimos isso pela primeira vez em Gaza,
quando você incendiou uma casa sem permissão, movido pelo astral”.
Seu
amigo Shlomi concluiu: “Prometo a você que entraremos no Líbano novamente, em
Gaza e em todos os vilarejos de Samaria, e nos vingaremos, lutaremos até o fim
e não pararemos. Quando você estava em Gaza, eles o chamavam de ‘Shuvi, o
Madlik’ [madlik em hebraico significa incendiário mas também, na gíria, um cara
legal] porque quando você saía de uma casa, colocava fogo nela. E nós vamos
queimar – o que vamos queimar? Shubik, o que vamos queimar? Que eles comecem a
sentir medo! Até que a redenção chegue – lutaremos até o Monte do Templo!”
Toda
a mídia comercial israelense que cobriu o funeral cortou esses momentos. Em um
longo artigo no noticiário noturno Ulpan Shishi de de sexta-feira, Ruti Shiloni
relatou apenas os elogios que não incluíam confissões de crimes de guerra.
Evidentemente, esse último não lhe pareceu incomum ou digno de notícia.
As
reportagens subsequentes abordaram a mídia cooptada no Irã e os jornalistas da
Al Jazeera suspeitos de serem combatentes do Hamas. Em certo momento, o
apresentador de TV Danny Kushmaro detonou, durante um programa, os explosivos
que arrasaram uma casa.
Quando
estava de licença do exército, há exatamente um ano, Shuva’el Ben-Natan atirou
e matou Bilal Saleh, 40 anos, enquanto este colhia azeitonas perto de sua casa.
Saleh estava desarmado e não representava ameaça mortal a ninguém, mas
Ben-Natan o matou a tiros.
Em
outubro do ano passado, esse foi o modus operandi de muitos colonos da
Cisjordânia, que aproveitaram o massacre de 7 de outubro para atormentar os
palestinos durante a colheita da azeitona. O chefe do conselho regional de
Samaria, Yossi Dagan, apressou-se em declarar naquele sábado que nada havia
acontecido. Dagan é um colaborador próximo do pai de Ben-Natan, que dirige a
Yeshiva Rechelim, de onde vieram os assassinos de Aisha a-Rabi.
Em
seu discurso fúnebre, o amigo do jovem Ben-Natan viu esta história de forma
diferente: “Eu tinha muita admiração por você. Havia malditos militantes lá,
terroristas, que o maldito exército… permitiu que se aproximassem dos
assentamentos. Você atira, fala, os expulsa… Eles [as autoridades] nem sequer
interrogaram os árabes”.
Embora
o caso permaneça em aberto, e ainda que Ben-Natan tenha dito a pessoas próximas
que queria assassinar mulheres e crianças, ele foi posteriormente enviado para
lutar em Gaza. Para deixar os rapazes da reserva felizes, ele incendiou uma
casa – provavelmente o fez mais de uma vez, daí o apelido Shuvi, o incendiário.
Ninguém
que presenciou esse fato achou que era um problema; pelo contrário, Ben-Natan
era normal e bem-quisto. O exército evidentemente também pensava assim, pois
depois de Gaza ele foi enviado para o Líbano. A trágica coincidência, de seu
ponto de vista, é que se não tivesse recebido imunidade por ter matado Bilal
Saleh, ele provavelmente estaria vivo hoje. Preso, mas vivo.
Se
as coisas ditas no funeral tivessem sido escritas em um esquete satírico sobre
um grupo religioso, elas seriam consideradas antissemitas. Mas para as pessoas
que estavam no funeral, entre elas um ministro do governo que propôs jogar uma
bomba atômica em Gaza, os elogios soaram perfeitamente normais. O mesmo vale
para os amigos do soldado e para os oficiais da IDF presentes. Não apenas
normais, mas motivos de orgulho, notáveis em seu obituário e na forma como
Ben-Natan deveria ser lembrado: como o soldado determinado a assassinar
mulheres e crianças — quanto mais, melhor — um cara que se divertia queimando
casas.
No
exército israelense de hoje, quantos Shuva’el Ben-Natan existem determinados a
se vingar e a assassinar crianças – especificamente, agora, em Gaza?
De
acordo com investigações recentes realizadas por importantes jornalistas
estrangeiros, são muitos. Foram acumuladas inúmeras evidências de crianças
baleadas na cabeça e no peito. Em Israel, é claro, isso é recebido com as
alegações de sempre: não aconteceu, é notícia falsa. E se aconteceu, não foi
intencional. Ou se foi intencional, o soldado era uma maçã podre, por que
generalizar? E, de qualquer forma, não há inocentes em Gaza, e o culpado é o
Hamas.
Mas
não são maçãs podres, nem tolos. Um soldado judeu israelense muito observador,
em um pogrom no vilarejo de Um Safa, incendiou uma casa com uma família dentro,
apoiando uma cadeira contra a porta para garantir que a mãe e seus filhos
fossem queimados vivos. Ele está em Gaza neste momento?
Aviad
Frija confirma com orgulho para a mídia que ele de fato matou uma pessoa que
havia largado sua arma (infelizmente, descobriu-se que a vítima era judia). Ele
acabará servindo no Líbano devido à escassez de soldados de combate?
Três
soldados da Brigada Kfir matam a tiros uma criança em um carro e são absolvidos
porque as armas não foram testadas. Um oficial atira em uma ponte na estrada
443. Um soldado atira em um bebê em um vilarejo na Cisjordânia porque viu os
faróis de um carro. O “procedimento do mosquito” força os civis de Gaza a se
tornarem escudos humanos para os soldados que vasculham os túneis do Hamas,
porque as vidas dos habitantes de Gaza valem menos do que uma bateria de
drones. Oficiais sionistas religiosos pedem a destruição de vilarejos e a fome
de civis e depois se ofendem, quando são chamados de “comedores de morte”.
Alguém
ainda acha que a matança em Gaza não se deve, pelo menos em parte, à mesma sede
de vingança que animou os elogios no funeral de Shuva’el Ben-Natan?
Desde
outubro passado, muitos colonos foram recrutados para as unidades locais de
defesa civil e receberam armas dos militares. Vestindo uniformes ou portando
armas do exército israelense, esses colonos cometeram inúmeros ataques com
motivação ideológica contra residentes palestinos nos territórios ocupados. A
polícia não investiga, porque os suspeitos são “soldados”. O exército também
não investiga, porque esses incidentes “não são uma atividade militar”. E a
violência continua, enquanto a fiscalização fica entre as brechas.
Na
sexta-feira, um foguete do Hezbollah matou dois civis no vilarejo de Majd
al-Krum, uma comunidade árabe. Nos comentários sobre as reportagens da mídia,
os leitores elogiaram o míssil que matou os moradores que tiveram o azar de ser
árabes, e essa resposta se tornou a norma. Comentando abertamente, usando seus
nomes completos, os leitores declararam que “duas pessoas [morreram] – isso não
é nada”, “não está claro por que a postagem é tão triste”, e muito mais na
mesma linha.
É
claro que se uma professora árabe tivesse escrito algo remotamente parecido nas
mídias sociais, ela teria sido presa e vendada. Os árabes que, em funerais,
pediram explicitamente o assassinato foram tratados sumariamente como
homens-bomba.
Mas
no Israel de hoje, os ministros pedem sem hesitação a limpeza étnica, as
pessoas comemoram a morte na internet, os soldados queimam casas e seus amigos
se divertem, e um público inteiro prefere abandonar os reféns à tortura desde
que consigam um pedaço de terra em Gaza para si.
Dos
casamentos de ódio de uma década atrás, agora passamos aos funerais de ódio – e
não há o menor indício de investigação, o que talvez sugira que algo incomum
possa estar acontecendo. Talvez os terroristas judeus sejam de fato os normais
aqui, e as poucas pessoas que estão chocadas sejam as loucas.
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“Nos preparamos para
uma guerra prolongada”: Hezbollah reafirma resistência contra Israel
Em
um discurso contundente realizado nesta quarta-feira (20), o secretário-geral
do Hezbollah, Sheikh Naim Qassem, reafirmou a disposição do grupo em travar uma
guerra prolongada contra Israel. A fala ocorreu durante uma homenagem a Hajj
Mohammad Afif, porta-voz e líder de relações de imprensa do Hezbollah, morto em
um bombardeio israelense na capital libanesa em 17 de novembro. Qassem
ressaltou que Afif morreu no campo da resistência desempenhada pela
imprensa.
Qassem
também destacou que o Hezbollah não está interessado em cessar a luta armada
enquanto negociações se desenvolvem. “Não suspendemos o campo de batalha
enquanto aguardamos as negociações. Permaneceremos lutando, respondendo à
agressão e aumentando os custos para o inimigo”, afirmou, deixando claro que a
resistência prosseguirá, sobretudo porque para o Hezbollah só é possível um
acordo de cessar-fogo que considere o fim da agressão sionista em Gaza.
Em
seu discurso, o líder do Hezbollah fez questão de ressaltar que o grupo não
opera como um exército convencional, mas sustenta sua força na unidade entre
“exército, o povo e a resistência”, afirmou.
Esta
unidade também é assimilada na forte coesão e unidade das forças guerrilheiras
do Eixo da Resistência, no que Qassem ressalta com grande estima a honra de
poder lutar por defender Gaza e o povo palestino ao lado do povo iemenita,
iraquiano e iraniano.
<><> “Se o inimigo não conseguir atingir seus
objetivos, isso significa que vencemos”
A resistência
libanesa atravessa um momento de saltos qualitativos importantes. O assassinato
do líder Sayyed Hassan Nasrallah, o Mestre da Resistência, ademais de
representar um golpe duro, não foi capaz de desestabilizar as forças
guerrilheiras da resistência libanesa. Ao contrário, como Qassem demarcou, o
Hezbollah conseguiu se reestruturar rapidamente e avançar qualitativamente no
combate contra o Estado Sionista de Israel. Desde a morte de Nasrallah, o grupo
passou a adotar ataques de precisão com uso de mísseis de grande impacto e
alcance – Nasr-1, Fadi-6, Qader-1 e Qader-2.
Expressões
deste salto qualitativo estão precisamente nos ataques feitos contra a base de
HaKirya – sede do Ministério da Defesa de Israel, ataques contra a residência
oficial de Netanyahu, bombardeios contra bases militares de inteligência da
Mossad e a própria capacidade de repelir a invasão terrestre israelense ao
Líbano.
Desde
a invasão ao sul do Líbano, os guerrilheiros do Hezbollah aniquilaram 100
soldados israelenses e deixaram outros mil feridos, evidenciando a intensidade
dos confrontos. Entre os danos materiais causados pelas ações do Hezbollah,
destacam-se a destruição de pelo menos 43 tanques Merkava-4, um dos pilares das
forças blindadas israelenses, e mais de oito bulldozers (escavadeiras
militares), frequentemente utilizados em operações de engenharia em áreas de
conflito.
<><> Alerta para Israel
Naim
Qassem deixou claro que os ataques criminosos de Israel contra o povo libanês
não ficarão impunes. “Quando [nossa] capital está sob ataques israelenses,
nossa resposta deve estar no centro de Tel Aviv”, enfatizou, demonstrando a
disposição do Hezbollah em revidar de forma proporcional às agressões sofridas.
Após
um ano desde o início da Operação Dilúvio de Al Aqsa, lançada pela Resistência
Nacional Palestina, o discurso de Qassem surge como mais um alerta para Israel
e o imperialismo ianque, seguindo a toada de Nasrallah: a resistência não
recuará e se fortalecerá a medida que a agressão sionista continuar.
Fonte:
Brasil 247/Middle East Eye – tradução de Glauco Faria, em Outras Palavras/A
Nova Democracia
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