terça-feira, 26 de novembro de 2024

Mais de 800 milhões de pessoas vivem com diabetes no mundo, diz estudo

O número total de adultos que vivem com diabetes tipo 1 ou tipo 2 no mundo ultrapassou a marca de 800 milhões. Esse é um valor quatro vezes maior que o número total em 1990 (198 milhões), de acordo com dados de uma análise global publicada nesta quarta-feira (13) pela revista The Lancet.

O estudo mostrou que as taxas globais de diabetes dobraram tanto entre os homens (6,8% em 1990 para 14,3% em 2022) quanto em mulheres (6,9% para 13,9%). Os maiores aumentos ocorreram nos países de média e baixa renda.

Dos 828 milhões de adultos com diabetes em 2022, mais de um quarto (212 milhões) vivia na Índia e outros 148 milhões na China, seguidos pelos EUA (42 milhões), Paquistão (36 milhões), Indonésia (25 milhões) e Brasil (22 milhões).

“O aumento da prevalência de diabetes acontece mais ou menos junto ao aumento da obesidade. Nós sabemos que o principal fator de risco é a genética [no caso da obesidade], mas também tem a questão do ambiente que acaba influenciando também”, analisa Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, à CNN. Ela não esteve envolvida no estudo.

“Na epigenética, temos a modificações de genes através desses comportamentos. Isso significa que se uma pessoa come mais fast-food e embutidos, e é sedentária, ela vai ter modificações no gene que podem ser transmitidas para os filhos, por exemplo”, explica.

“Isso é um contexto maior e mais amplo, mas essa modificação no estilo de vida nos últimos anos é nítida. Isso somado a falta de tempo, estresse, acesso a comidas ultraprocessadas e industrializadas, tudo isso colabora para o crescimento das taxas de diabetes”, acrescenta.

O trabalho, conduzido pela Colaboração de Fatores de Risco de DNT (NCD-RISC), em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a primeira análise global das tendências nas taxas e no tratamento do diabetes, que inclui todos os países. Os pesquisadores usaram dados de mais de 140 milhões de pessoas com 18 anos ou mais de mais de 1.000 estudos em populações de diferentes países.

Os autores usaram ferramentas estatísticas para reunir os dados de diferentes anos, idades e países para estimar as taxas sobre a doença e sobre o tratamento, de forma que fosse possível comparar os dados entre 1990 e 2022.

•                                    Estudo aponta aumento das desigualdades no tratamento do diabetes

O estudo também mostrou que 59% dos adultos com 30 anos e idosos com diabetes (cerca de 445 milhões de pessoas) não receberam tratamento adequado para a doença em 2022, um valor três vezes e meio maior que em 1990.

Desde 1990, alguns países apresentaram melhoras nas taxas de tratamento para diabetes, especialmente na Europa Central e Ocidental, América Latina, Ásia Oriental e Pacífico, Canadá e Coreia do Sul. Nesses locais, mais de 55% das pessoas com a doença estavam recebendo tratamento em 2022. As maiores taxas de tratamento foram estimadas na Bélgica, com 86% para mulheres e 77% para homens.

Por outro lado, o estudo aponta para uma maior desigualdade no acesso ao tratamento. Para muitos países de baixa e média renda, a cobertura de intervenções para diabetes permaneceu baixa, com mais de 90% das pessoas não recebendo os cuidados necessários tanto em 1990 quanto em 2022.

Como resultado dessas tendências, a diferença entre os países com maior e menor cobertura de tratamento para diabetes aumentou de 1990 a 2022; de 56 para 78 pontos percentuais para mulheres e de 43 para 71 pontos percentuais para homens.

“Se não há acesso a medicações que diminuem o risco de complicações do diabetes, que é a nossa principal preocupação, os pacientes evoluem para quadros como amputações, necessidade de hemodiálise e de transplante renal, cegueira e doenças cardiovasculares, que é o que mata o paciente com diabetes precocemente”, afirma Petry.

A especialista também comenta que a falta de acesso ao tratamento adequado pode trazer impactos socioeconômicos para os países mais afetados. “As medicações [para o tratamento de diabetes] são completas para impedir que o paciente evolua para esses quadro graves. Se a pessoa não tem acesso a isso, a chance de a doença progredir, de ela ter uma má qualidade de vida e mortalidade precoce é maior. Muitas vezes, são pessoas economicamente ativas que não vão poder mais trabalhar”, analisa.

•                                    Tratar a obesidade é uma das formas de combater o diabetes tipo 2

Na visão da endocrinologista, uma das formas de reverter o cenário atual de aumento nos casos de diabetes é tratando e prevenindo uma das principais causas da doença: a obesidade. “O ideal seria medicar toda a população com obesidade, mas o custo para isso é muito alto. No Brasil, esse é um cenário ainda mais complicado, porque o único tratamento disponível no setor público para obesidade é a cirurgia bariátrica. Não temos ainda nenhum medicamento para obesidade e para diabetes disponível [no setor público]”, afirma.

No entanto, Petry analisa que a descoberta de novas moléculas que tratam diabetes tipo 2 e levam à perda de peso, como a semaglutida (Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro), e o lançamento de novos medicamentos pode fazer com que esse acesso seja ampliado e barateado, no futuro.

“Eu tenho esperança de que, em breve, possamos ter um estudo de custo-efetividade que realmente favoreça a colocação dessas medicações à disposição da população. Se formos pensar que, ao tratar as pessoas, diminuímos o risco de complicações, também reduzimos o custo no tratamento dessas condições. Então, precisamos desses estudos para mostrar que vale a pena [aumentar o acesso a tratamentos contra diabetes tipo 2 e obesidade]”, afirma.

 

•                                    Diabetes tipo 2: veja os sintomas e tratamentos da doença

O diabetes tipo 2 é uma das condições crônicas que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e representando cerca de 90% dos casos de diabetes. Esta quinta (14) é reconhecida como Dia Mundial do Diabetes, e por isso vale falar ainda mais sobre a condição e suas características.

Caracterizada pela resistência à insulina, hormônio que controlar os níveis de glicose no sangue, a doença exige atenção aos sintomas, tratamentos e medidas preventivas para evitar complicações.

Diferente do diabetes tipo 1, que surge na infância ou adolescência e é caracterizado pela falta de produção de insulina pelo organismo, o tipo 2 ocorre principalmente em adultos e se desenvolve com o tempo. Nele o corpo se torna resistente à insulina, ou seja, as células deixam de responder adequadamente a esse hormônio, fazendo com que a glicose se acumule no sangue.

Pessoas com histórico familiar de diabetes, obesidade, pressão alta e colesterol elevado estão mais predispostas a desenvolverem a doença. Para o diagnóstico é necessário realizar exames de glicemia regularmente, conforme orientação médica. Quanto antes a condição é identificada, mais eficaz pode ser o tratamento.

“A principal causa do diabetes tipo 2 é metabólica. A obesidade, sobretudo a obesidade visceral, aquela em que a gordura que se acumula no abdômen, leva a uma dificuldade da ação da insulina, predispondo ao diabetes”, explica Claudia Chang, endocrinologista.

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Como identificar a condição e tratá-la?

Os sintomas do diabetes tipo 2 podem se manifestar de forma lenta e muitas vezes é silenciosa. Muitas pessoas podem não perceber que estão com a condição até que façam exames de rotina ou até que os sintomas fiquem muito notórios.

Os principais sintomas do diabetes tipo 2 são:

•                                    Sede excessiva

•                                    Aumento na frequência urinária

•                                    Fome intensa

•                                    Fadiga

•                                    Visão turva

•                                    Cicatrização lenta

•                                    Infecções recorrentes

Apesar de ser uma condição crônica, o diabetes tipo 2 pode ser controlado através de mudanças no estilo de vida e tratamentos com medicamentos.

“O centro do tratamento do diabetes tipo 2 é a mudança do estilo de vida. A melhora da alimentação, prática regular de exercícios físicos são as melhores ferramentas no combate da doença. Além disso, atualmente temos um arsenal grande de medicações que podemos utilizar para auxiliar no tratamento efetivo”, acrescenta Chang.

Tem como prevenir a doença?

Para pessoas com risco elevado de diabetes tipo 2, adotar uma rotina saudável pode retardar ou até mesmo prevenir o surgimento da doença.

“As estratégias incluem manter um peso saudável, praticar atividade física regular, adotar uma dieta balanceada reduzindo o consumo de açúcares e gorduras saturadas e evitando o consumo de tabaco e álcool em excesso”, explica Tassiane Alvarenga endocrinologista e metabologista.

Essas práticas não só ajudam a prevenir o diabetes tipo 2, mas também melhoram a saúde geral, reduzindo o risco de outras doenças crônicas.

 

•                                    Novo medicamento pode levar à perda de peso sem causar náuseas e vômitos

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, descobriu um novo medicamento para perda de peso que reduz o apetite, aumenta o gasto calórico e melhora a sensibilidade à insulina sem causar náusea ou perda de massa muscular. A descoberta foi publicada na revista Nature.

O achado oferece uma alternativa para o desenvolvimento de novos tratamentos para obesidade e diabetes tipo 2 que sejam mais tolerados pelos pacientes.

Medicamentos como a semaglutida (Wegovy e Ozempic) e a tirzepatida (Mounjaro) têm ganhado popularidade por levar a uma grande redução do peso corporal e por seus efeitos no controle da glicemia. No entanto, eles também são conhecidos por apresentarem efeitos colaterais como náuseas e vômitos.

“Embora as terapias baseadas em GLP-1 [como a semaglutida e a tirzepatida] tenham revolucionado o tratamento de pacientes com obesidade e diabetes tipo 2, aproveitar com segurança o gasto de energia e controlar o apetite sem náuseas continuam sendo dois Santos Graais neste campo. Ao abordar essas necessidades, acreditamos que nossa descoberta impulsionará as abordagens atuais para tornar tratamentos mais toleráveis e eficazes acessíveis a milhões de indivíduos a mais”, afirma Zach Gerhart-Hines, professor associado do NNF Foundation Center for Basic Metabolic Research (CBMR), da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, em comunicado à imprensa.

Para chegar à descoberta, os pesquisadores testaram os efeitos da ativação do receptor de neurocinina 2 (NK2R) em camundongos. A equipe identificou esse receptor por meio de triagens genéticas que sugeriram que ele desempenhava um papel na manutenção do equilíbrio energético (balanço entre as calorias consumidas na alimentação e gastas durante o dia) e no controle da glicose.

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Os pesquisadores descobriram que a ativação do NK2R aumentou com segurança a queima de calorias, mas também diminuiu o apetite sem causar sinal de náusea.

Estudos posteriores feitos em primatas não humanos com diabetes tipo 2 e obesidade mostraram que a ativação do NK2R também reduziu o peso corporal e reverteu o diabetes, aumentando a sensibilidade à insulina e diminuindo o açúcar, os triglicerídeos e o colesterol no sangue.

“Um dos maiores obstáculos no desenvolvimento de medicamentos é a tradução entre camundongos e humanos. É por isso que ficamos animados que os benefícios do agonismo do NK2R foram traduzidos para primatas não humanos diabéticos e obesos, o que representa um grande passo em direção à tradução clínica”, diz Frederike Sass, estudante de doutorado do CBMR, na Universidade de Copenhagen, e primeira autora do estudo.

Para os cientistas, a descoberta pode levar ao desenvolvimento de uma próxima geração de terapias medicamentosas para diabetes tipo 2 e obesidade, com soluções mais eficazes e toleráveis para a população. Atualmente, a Universidade de Copenhagen detém os direitos de patente do N2KR.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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