terça-feira, 7 de janeiro de 2025

União Econômica Eurasiática é caminho para Brasil diversificar parcerias e aproximar-se da Rússia

Muito se fala da importância do acordo entre Mercosul e União Europeia, mas o Brasil e o Mercosul mantêm parcerias com outros blocos econômicos importantes, como a União Econômica Eurasiática (UEE), composta por Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Rússia. Para analistas, essa pluralidade é importante para diversificar parcerias.

Só em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 1,3 bilhão (R$ 8 bilhões) em produtos agropecuários para a UEE. Nos primeiros nove meses de 2024, o Brasil exportou mais de US$ 1 bilhão (R$ 6,15 bilhões) em produtos agrícolas para a UEE, com destaque para soja, carne bovina, café e açúcar.

Além das commodities destacadas acima, o Brasil vem abrindo espaço para outros produtos nas negociações com a UEE. No ano passado, Brasília obteve autorização, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, para exportar banana, nozes, erva-mate, amêndoas de cacau, suínos vivos, sêmen e embriões bovinos ("in vivo" e "in vitro").

Para Pedro Mendes Martins, mestre em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), acordos firmados com a UEE representam um passo importante na estratégia de diversificação de parcerias econômicas internacionais.

"O Brasil tradicionalmente sempre buscou novos parceiros econômicos internacionais, seja para abrir mercados para os produtos que já exporta, seja atrás de mercados para produtos que não têm grande participação na nossa pauta de exportação", explica.

<><> Por que é importante o Brasil diversificar suas parcerias econômicas?

Atualmente, o Brasil tem o Mercosul — com enfoque na Argentina —, a União Europeia, os Estados Unidos e a China como pilares de seu setor de exportação.

"Com o novo mandato do [Donald] Trump [presidente eleito dos EUA] e a sua política de comércio exterior mais restritiva e a hipótese de uma nova guerra comercial com a China, o Brasil se vê ainda mais estimulado a acelerar esses esforços de novos mercados e novos parceiros", afirma Martins, explicando o cenário geopolítico que pode influenciar no comércio brasileiro para o exterior.

Trump mesmo chegou publicamente a fazer uma ameaça tarifária ao Brasil, dizendo que o país "cobra muito", sinalizando uma retaliação às taxas de exportação.

Outro desafio que o Brasil pode enfrentar neste ano é em relação ao avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia. Embora progressos tenham acontecido em 2024, ainda existem países do bloco europeu que são resistentes a essa parceria.

"A França é um grande nome de crítica a esse acordo entre a União Europeia e o Mercosul", comenta Danielle Makio, professora de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A especialista também ressalta que "ter um leque de parceiros mais amplo é uma segurança muito importante" em um momento "no qual países importantes no mercado internacional parecem estar mais críticos à manutenção ou ao aprofundamento de relações bi e multilaterais".

<><> Em quais setores os países podem cooperar?

Embora o Brasil tenha uma cartela de produtos que são mais exportados para os países da União Econômica Eurasiática, os especialistas apontam mercados que ainda podem ser explorados por ambas as partes, em uma via de ganha-ganha.

Quando o assunto é exportação brasileira, o agronegócio invariavelmente é o maior beneficiário das relações com o bloco eurasiático. Isso, no entanto, "não significa que não haja novidades dentro desse setor, porque são novos produtos entrando em novos mercados", pondera Martins.

Além dos produtos já citados, os quais o Brasil recebeu autorização para exportar neste ano, há espaço, segundo Makio, para a venda de maquinários e tecnologia agrícola para os países da região.

"O Brasil tem uma produção muito importante de tecnologia e de máquinas como colheitadeiras, plantadeiras, que são adaptáveis a diferentes solos, condições climáticas e tipos de plantação."

Como o Brasil é um país agrícola de proporção continental, com sua própria constituição geográfica, diferentes tipos de solo e diferentes biomas, adquiriu-se um know-how interessante na fabricação dessas máquinas. Para a especialista, isso pode ser de grande valia para países com territórios extensos, como Rússia e Cazaquistão.

Outra cooperação interessante entre as partes destacada por Makio, que pode ser esperada no âmbito do desenvolvimento tecnológico, é um diálogo mais intenso acerca da questão nuclear.

Uma vez que o Brasil se posiciona como uma liderança importante nos debates internacionais acerca da transição energética e a Rússia, importante liderança nuclear, vem investindo muito na expansão, no desenvolvimento e no aprimoramento da energia nuclear e na educação de outros países a respeito desse tipo de energia, a analista acredita que ambos poderiam se beneficiar com essa troca.

Já no que diz respeito às importações, os especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil apontam que a importação de insumos para fertilizantes e os próprios fertilizantes são um caminho já estabelecido. A novidade, segundo Martins, por exemplo, seria a importação de "tecnologia e equipamentos para a nossa indústria de petróleo ou até mesmo permitir a participação de empresas dos países envolvidos em projetos de exploração conjuntos no futuro".

<><> Parceria com UEE pode aproximar Brasil da Rússia e da Ásia Central

De acordo com Martins, a parceria com a UEE é uma porta importante para o Brasil se aproximar da Rússia e equilibrar as relações com o gigante eurasiático.

"Brasil e Rússia sempre tiveram excelentes relações políticas, mas uma relação econômica muito aquém não só do potencial que poderia ter, como também do nível que as relações políticas têm. Então a parceria do Brasil com a União Econômica Eurasiática serve como uma forma de 'equilibrar' esses dois lados da relação, o político e o econômico", afirma.

Makio, por sua vez, destaca a força que o Brasil pode ganhar também na Ásia Central, região indispensável para a Nova Rota da Seda chinesa, "cada vez mais importante do ponto de vista da política internacional e da qual o Brasil é relativamente distante não só em termos geográficos, mas também em termos diplomáticos".

"Essa cooperação pode representar uma abertura de portas muito importantes para o futuro da diplomacia brasileira, que podem representar ganhos muito importantes em termos de diversificação de mercado, em termos de pautas exportadoras para o Brasil e em termos de fortalecimento diplomático e político", acrescenta a especialista.

A aproximação do Brasil à UEE também representa duas máximas importantes: a primeira é, conforme Martins, a comprovação de que o isolamento internacional pretendido contra a Rússia com a imposição de sanções ocidentais não foi "atingido de forma satisfatória".

"O impacto foi bem menor do que o esperado porque grandes players econômicos internacionais não aderiram ao regime de sanções, dificultando bastante a estratégia de isolar economicamente a Rússia", disse o analista.

A segunda máxima, de acordo com Bruno De Conti, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), é a do avanço da pauta da desdolarização, "com o comércio externo reduzindo a importância relativa do dólar estadunidense".

Apesar dos benefícios econômicos que a relação entre o Brasil — e o próprio Mercosul — e a União Econômica Eurasiática podem gerar, há percalços que precisam ser superados para que a cooperação se torne mais intensa e pujante.

O principal desafio é a distância geográfica entre as partes, que gera dificuldades logísticas e de infraestrutura.

"Isso traz maiores custos de transporte, traz dificuldades logísticas que precisam ser trabalhadas e precisam ser superadas, para que essa relação de fato seja tão profícua quanto se espera e para que ela realmente possa crescer tanto quanto se espera", aponta Makio.

¨      BRICS ajuda Sul Global a se livrar do modelo político ocidental de 'tomar partido', diz mídia

O BRICS é um produto do Sul Global que não tem intenção de confrontar com alguém, livrando seus membros da escolha de lado tradicionalmente imposta pelas organizações internacionais ocidentais, diz o jornal Global Times.

O BRICS é uma associação interestatal criada em 2006 pelo Brasil, Rússia, Índia e China, formando o nome da organização a partir das primeiras letras dos países, com a adesão da África do Sul em 2010.

O ano de 2024 começou com a entrada de novos membros na associação: Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

Em 2025, a presidência do BRICS passou da Rússia para o Brasil.

No primeiro dia deste ano, mais nove países se tornaram oficialmente parceiros do BRICS: Belarus, Bolívia, Indonésia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia e Uzbequistão.

O Global Times enfatiza o fato de uma preocupação no Ocidente com a expansão de cooperação no âmbito do BRICS, especialmente após a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, realizada de 22 a 24 de outubro de 2024.

O jornal diz que a mídia ocidental não demorou a caracterizar esses eventos como um confronto do Sul Global contra o Ocidente.

"O BRICS é uma organização não ocidental, mas não é uma organização antiocidental. Desde sua criação, o BRICS articulou claramente seu papel e sua missão: não começar de novo, não se envolver em confrontos de campos e não buscar substituir ninguém", afirma o Global Times.

O artigo destaca que o modelo de cooperação dentro do BRICS permite aos participantes evitar um jogo de soma zero em que o ganho de um jogador significa necessariamente a perda para o outro.

Por este motivo, o BRICS acabou ganhando popularidade entre os países que buscam escapar do modelo de ordem mundial imposto pelo Ocidente e procuram uma alternativa mais justa e equitativa.

"Por meio da plataforma do BRICS, o Sul Global pode se livrar da pressão geopolítica tradicional de 'tomar partido' e buscar maior autonomia em um mundo multipolar."

Segundo o jornal, "ações hegemônicas" dos países ocidentais afetaram a maioria global, enquanto os países-membros e parceiros do BRICS não só alcançaram um progresso significativo, mas continuam se desenvolvendo e defendendo um sistema global multipolar.

¨      Economia da Alemanha está rumo a sua maior recessão desde a 2ª Guerra Mundial

A economia da Alemanha – a maior da União Europeia (UE) - está a caminho da sua mais longa recessão desde a Segunda Guerra Mundial, com o terceiro ano consecutivo de contração projetado para 2025, de acordo com o Instituto de Pesquisa Handelsblatt (HRI).

O think tank prevê um declínio de 0,1% em 2025, após contrações de 0,3% em 2023 e 0,2% em 2024.

"A economia alemã está em meio à sua maior crise na história pós-guerra", disse Bert Rurup, economista-chefe da HRI. "A pandemia, a crise energética e a inflação tornaram os alemães mais pobres em média."

Enquanto o HRI prevê uma modesta recuperação em 2026, espera-se que o crescimento seja de apenas 0,9%, muito abaixo dos níveis pré-crise. O Banco Central alemão também ajustou suas perspectivas de crescimento para 2025, revisando-as de 1,1% para 0,2% em dezembro.

A mudança da Alemanha de gás russo a preços acessíveis para gás natural liquefeito (GNL) mais caro dos EUA fez subir os custos de energia, gravemente os fabricantes industriais e as pequenas empresas. O aumento dos custos levou a paralisações e falências em vários setores, incluindo grandes empresas como a Volkswagen.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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