terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Trump é símbolo maior de onda de ascensão da direita no mundo

Donald Trump, um dos principais representantes da extrema direita mundial, venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos de 2024 de forma confortável, fortalecendo ainda mais o cenário político de governos de direita no mundo. Para entender o cenário mundial da extrema direita, o Metrópoles entrevistou Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“É uma sinalização de que é preciso realmente estar atento, porque, mais uma vez, o balanço do eleitorado tem favorecido esses líderes de extrema direita. Simbolicamente, Trump é a grande figura desse movimento e se coloca como o maior representante da extrema direita. Então, obviamente, sua vitória energiza as bases da extrema direita global”, diz a professora.

Atualmente, vemos um cenário preponderante da extrema direita pelo mundo com EUA, Argentina, Paraguai, Peru, Equador, Croácia, República Tcheca, Finlândia, Hungria, Itália, Holanda e Eslováquia com líderes de extrema direita no poder. Diante disso, a professora explica que esse cenário é o reflexo da desconexão das pautas progressistas com a realidade.

“A questão do crescimento da votação da extrema direita e também dos partidos de centro é atribuída a uma desconexão das pautas progressistas, muitas vezes, com a realidade. Nós temos uma adaptação maior desses grupos de direita e extrema direita a responder à crise econômica e a questões de segurança pública, temas que muitas vezes não são tratados pelas forças progressistas”, esclarece a professora.

Cristina Pecequilo destaca que os líderes da extrema direita também estão ganhando destaque, porque “acabam abrindo espaço para novas discussões”. Mas, acrescenta ela, eles também estão “limpando um pouco a imagem ao buscarem não exagerar muito, ainda que sejam muitas vezes discursos bastante radicais, muito nacionalistas e muitas vezes xenofóbicos”. De toda forma, a professora destaca que tais nomes também buscam ser mais pragmáticos, respondendo àquilo que o eleitor está buscando.

A professora da Unifesp afirma que outro fator relevante para o crescimento da direita no mundo é “a falta de pertencimento que as pessoas sentem, a desconexão de algumas pautas com as demandas do eleitorado e são pautas super importantes como a valorização da democracia, meio ambiente”, que são mais comuns à esquerda. Daí, o discurso da extrema direita, com nacionalismo e xenofobia, acaba dando resposta mais direta às situações de baixo salário, miséria social e falta de segurança pública.

·        Vitória de Donald Trump

Donald Trump teve uma vitória bastante confortável nos EUA ao levar 312 dos 538 delegados e receber 49.8% do voto popular, demonstrando mais uma vez a força da direita no mundo. Que, segundo a internacionalista, é resultado da preocupação economica dos eleitores.

“A vitória do Trump foi conquistada, apesar de todos os seus problemas com a justiça, da sua desvalorização da democracia e isso foi atribuído justamente à maior preocupação do eleitor com os temas econômicos”, diz Cristina.

A professora ainda destaca que muitas minorias que tradicionalmente votavam nos democratas acabaram votando no Trump. E isso teria ocorrido para tentar recuperar o poder de compra. Outro ponto importante seria a segurança pública, além de questões correlatas, como combate ao tráfico de drogas e combate à imigração ilegal.

“Quando Trump ganha, obviamente isso traz uma revitalização para os movimentos radicais da direita que se sentiam às vezes colocados em compasso de espera. Mas, de novo, ninguém ganha somente com um discurso de radicalização e essa base radical. Nem mesmo Trump ganhou assim, ele ganha com a classe média e justamente com esse eleitor desencantado”, destaca a professora.

·        Extrema direita na América Latina

Atualmente, na América Latina, Argentina, Paraguai, Peru e Equador estão sendo governados por governos de extrema direita. E o Brasil, há pouco, estava dentre esses nomes sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A professora Cristina destaca que o principal fator para que isso ocorra é a desconexão do eleitor com o discurso da esquerda.

“A perspectiva da esquerda e da direita na América Latina é baseada na desconexão do eleitor aos partidos políticos. Pois o eleitor vai para o partido que atende suas demandas, seja partido de direita ou de esquerda”, pondera a professora. Ou seja, o eleitor não se identifica tanto por ideologias e está mais preocupado com questões práticas.

Cristina Pecequilo ressalta que é “necessário que todas as forças políticas estejam atentas, principalmente às demandas econômicas do eleitorado”. Mas ela destaca, ainda, outros fatores de crescimento da extrema direita, como religião, conservadorismo e costumes.

“O que assusta hoje na América Latina é o tamanho do avanço dessa extrema direita, porque ela cresce pelas beiradas com a crise econômica, mas aproveita para criar condições de ameaça a direitos e aos próprios regimes democráticos”, destaca a especialista.

¨         Global Times diz que o mundo anseia por relações civilizadas entre Estados Unidos e China

editorial deste domingo (19) do jornal chinês Global Times destacou a importância da retomada das relações civilizadas entre os Estados Unidos e a China, enfatizando o impacto que essa cooperação pode ter na estabilidade global. O texto analisa o recente diálogo entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, como um marco inicial positivo para redefinir a relação entre as duas maiores economias do mundo.

De acordo com o editorial, Xi Jinping afirmou que China e Estados Unidos são "grandes nações" que devem dar importância ao relacionamento bilateral e buscar um “bom começo” para essa nova etapa política nos EUA. Trump, por sua vez, destacou seu apreço pela relação com o líder chinês e afirmou que os dois países têm um papel central no mundo atual, devendo trabalhar juntos para promover a paz global.

O jornal enfatizou que a troca de pontos de vista e a abertura de canais estratégicos de comunicação refletem a disposição de ambos os lados em construir um futuro cooperativo. "A diplomacia de chefes de Estado sempre funcionou como a bússola para as relações sino-americanas", destacou o Global Times, sublinhando o papel fundamental desse diálogo no estabelecimento de um tom positivo para o futuro.

<><> Desafios e oportunidades para a cooperação

O editorial apontou que os últimos anos foram marcados por tensões e medidas unilaterais dos Estados Unidos, que agravaram os desafios nas relações bilaterais. "A mentalidade de soma zero e os 'ativos negativos' herdados de administrações anteriores deixaram a confiança entre os dois países em um nível crítico", observou o jornal.

Ainda assim, o Global Times ressaltou que os desafios globais, como mudanças climáticas, controle de drogas e progresso tecnológico, exigem respostas conjuntas de China e EUA. "A cooperação mútua não é apenas desejável, mas necessária para alcançar os sonhos nacionais de ambas as potências", declarou o editorial.

<><> O impacto global de um bom começo

O texto também destacou a reação positiva do mercado internacional após o diálogo entre os líderes. A compra massiva de fundos vinculados a índices acionários chineses reflete o otimismo mundial em relação a um possível reequilíbrio nas relações sino-americanas.

Além disso, o Global Times reiterou a necessidade de respeitar os interesses centrais de ambas as partes, como a questão de Taiwan, considerada uma "linha vermelha" pela China. "É essencial que o novo governo dos EUA adote uma política pragmática que respeite os princípios de comércio livre e a divisão de trabalho global", afirmou.

<><> Perspectivas para o futuro

Com a promessa de um início mais cooperativo, o editorial concluiu que tanto China quanto Estados Unidos têm a oportunidade de reescrever o curso de suas relações. "Somente por meio da coexistência pacífica e da cooperação ganha-ganha é que as duas nações poderão atingir prosperidade comum e beneficiar o mundo."

A participação do vice-presidente chinês, Han Zheng, na posse de Trump, marcada para 20 de janeiro, foi vista como um gesto simbólico de boa vontade, consolidando as expectativas de um novo capítulo no relacionamento bilateral. "Sob a orientação da diplomacia de chefes de Estado, esperamos avanços que tragam prosperidade e sucesso mútuos, contribuindo para a estabilidade global", concluiu o Global Times.

¨         “Trump pode muito, mas não pode tudo”, diz James Green

Em conversa com o Denise Assis Convida na TV 247, o historiador James Green, especializado em América Latina e profundo conhecedor da história recente brasileira, sobre a qual já escreveu vários livros, se diz muito preocupado com o destino dos Estados Unidos e do mundo, com a perspectiva de quatro anos de Trump no poder.

Em sua opinião, o presidente dos EUA que retorna à Casa Branca, não é o mesmo que chegou meio no susto, da primeira vez. “Agora ele já conhece como funcionam as coisas e sabe como se mover. Naquela primeira vez ele estava ali tentando se eleger mais para aumentar o seu prestígio, mas acabou chegando ao cargo. Desta vez, escolheu cuidadosamente os seus auxiliares. Veja que o Marco Rubio, indicado para tocar a política externa é um cubano anticomunista, da ultradireita, mesmo”, destaca. 

Para o historiador, no entanto, essa experiência de um governo anterior, tem dois lados. “Ele sabe que não pode ir com muita força. Há limites. Ele vai ficar testando: vai tentar avançar, testar implementar as suas promessas, mas se achar que está indo muito além, retrocede. É assim o seu estilo. Avança e recua. Não vai contrariar fortes interesses”. Sobre as ameaças de tomar o Canadá, o canal do Panamá e a Groenlândia, classifica de “fantasias. Ele já entendeu como são as negociações. Joga alto para depois conseguir alguma coisa”, define.

Sobre o Brasil, Green está certo de que Trump vai interferir diretamente em 2026 e, sim, ele acredita que a aliança com os donos das redes sociais será uma arma usada contra o país. Em sua opinião, como os estadunidenses sabem pouco sobre o que se passa aqui, Trump se une à ultradireita, que vai para lá disseminar mentiras sobre os tribunais brasileiros, sobre Alexandre de Moraes e sobre Lula, cuja reeleição, “vai tentar impedir de todas as formas”, acredita.

¨         Alckmin diz que Brasil é solução para os EUA e prevê parcerias no governo Trump

Em entrevista exclusiva ao Valor Econômico, concedida neste domingo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, enfatizou que o Brasil é uma “solução” e não um “problema” para os Estados Unidos no comércio bilateral. Alckmin destacou que o Brasil compra mais dos Estados Unidos do que vende, fortalecendo as relações entre os países.

"Somos solução para eles. Os Estados Unidos são o maior investidor no Brasil, é uma amizade de 200 anos. É um ganha-ganha", afirmou o ministro, reforçando que o fluxo comercial entre as duas nações alcançou quase US$ 80 bilhões no último ano, com superávit favorável aos norte-americanos.

Alckmin também avaliou que, mesmo com declarações críticas do presidente eleito Donald Trump em dezembro, o Brasil tem uma balança comercial diversificada e oportunidades de crescimento em setores estratégicos como inteligência artificial, energia renovável, minerais críticos e semicondutores. “Temos uma avenida de possibilidades de parceria”, disse.

<><> Brasil e EUA: diálogo além das diferenças

Alckmin destacou o papel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem experiência em lidar com governos republicanos, como o de George W. Bush. "O presidente Lula é um homem do diálogo. Já governou com o Partido Republicano e teve uma boa relação", disse, reforçando a importância de separar questões partidárias das relações de Estado.

Sobre a possibilidade de tensões comerciais no segundo mandato de Trump, Alckmin mostrou cautela, mas otimismo. “Temos que aguardar para ver o que efetivamente vai ocorrer. Mas a disposição do Brasil é para o comércio”, destacou, frisando que 98% do comércio mundial está fora do Brasil, o que exige foco na integração comercial global.

<><> Reformas e desafios pós-pandemia

A entrevista também abordou questões relacionadas às mudanças no comércio global após a pandemia. Segundo Alckmin, houve uma transição de um modelo puramente globalizado para um cenário que prioriza a precaução e a segurança nas cadeias de suprimento. "A globalização continua, mas com um novo princípio de precaução", explicou.

O vice-presidente defendeu ainda medidas para reduzir o Custo Brasil, como o Portal Único de Comércio Exterior, que promete economizar R$ 40 bilhões anuais com desburocratização e modernização de processos. Além disso, ressaltou o impacto positivo da reforma tributária para exportações e investimentos no país.

<><> Parcerias e protagonismo global

Alckmin apontou que o Brasil se consolida como protagonista em segurança alimentar, energética e climática, destacando a importância de sua posição no agronegócio global. Ele também ponderou sobre a migração, considerando-a um fator de desenvolvimento econômico. "São Paulo é o Estado onde japonês fala português com sotaque italiano. A migração trouxe vigor à atividade econômica", afirmou.

Por fim, Alckmin demonstrou confiança no amadurecimento de Trump em seu segundo mandato. “A experiência faz diferença, ajuda. Acho que teremos muitas oportunidades.” A entrevista reflete a visão otimista do governo brasileiro sobre as relações com os Estados Unidos e reforça o compromisso de aprofundar parcerias estratégicas em áreas de ponta, mesmo em meio a cenários políticos desafiadores.

 

¨         Trump 2.0 é teste de resistência para a democracia americana

Donald Trump retorna nesta segunda-feira (20) à Casa Branca fortalecido, com mais capital político do que em sua primeira Presidência, após refazer o partido à sua imagem e conquistar a maioria republicana na Câmara e no SenadoGovernará como criminoso condenado, mas livre das investigações por crimes federais. Seu segundo mandato funcionará como um teste de resistência às instituições que asseguram a democracia americana.

Diferentemente de oito anos atrás, desta vez o presidente eleito domina a engrenagem do sistema político e, cercado de fiéis correligionários, aparentemente rebaixa as proteções do Executivo e do Congresso. Com a maioria conservadora de seis juízes, a Suprema Corte afrouxou as barreiras sobre o comportamento presidencial, ampliando a sua imunidade e tornando-o mais poderoso nesta volta ao comando dos EUA.

<><> O que Trump anunciou que irá fazer em novo governo

A agenda trumpista prevê ações radicais como deportação de imigrantes ilegais, cortes de impostos, desregulamentação e expurgo dos funcionários federais que não demonstraram lealdade a ele no primeiro mandato. Para cumpri-la, Trump já fez saber, por meio da retórica impetuosa, que buscará a consolidação de poder nas forças policiais, militares e no Judiciário para perseguir adversários políticos, a quem se referiu como inimigos internos.

São argumentos que se conjugam para promover o enfraquecimento das salvaguardas do sistema democrático. Alia-se a tudo isso a desordem que predomina entre os democratas, no campo opositor.

“Em 2025, Trump e seus aliados estão mais bem equipados para escapar da resistência. Ele prometeu expurgar dissidentes e cercar-se de legalistas que aprenderam a manipular as alavancas do poder”, ponderou o escritor e comentarista político Matt K. Lewis, em artigo no jornal “Los Angeles Times”, no qual revela, como conservador de centro-direita, a preocupação de que o presidente rompa as proteções que o restringiram no primeiro mandato.

Desta forma, a lealdade prevaleceu sobre a experiência e a competência na indicação de falcões extremistas para cargos importantes como o Departamento de Defesa e o Departamento de Justiça. Trump deixou claro que o serviço público apolítico, que denomina como estado profundo, não o interessa e será reestruturado com demissões e a reativação do Anexo F, que, entre outras atribuições, exclui as proteções aos funcionários.

É dado como certo que ainda hoje, após ser empossado, Trump assinará uma volumosa quantidade de ordens executivas para desfazer as políticas do governo Biden. Na terça-feira está prevista uma grande batida policial em Chicago, cidade governada por democratas, para prender e expulsar imigrantes ilegais — um dos pilares da campanha eleitoral que possibilitou o retorno à Presidência.

Conforme observou Daron Acemoglu, Nobel de Economia do ano passado, na pior das hipóteses, Trump deixará para os americanos uma democracia que foi permanentemente mutilada. “No mínimo, ele terá demolido várias normas democráticas, como erodir a autonomia do Departamento de Justiça e, muito provavelmente, usar instituições estatais para atingir adversários”, argumentou no “Project Syndicate”.

O mantra “América em primeiro lugar”, associado ao comportamento disruptivo do presidente eleito, perturba e desestabiliza aliados tradicionais dos EUA. Trump é capaz de despejar a provocação, da forma mais genuína, e normalizar a desinformação. A cobiça à Groenlândia e ao Canal do Panamá, e a ideia de anexação do Canadá como estado americano oscilam entre o tom autêntico e o blefe.

Há oito anos, num curto discurso inaugural, dominado por notas agressivas e populistas, o presidente prometeu acabar com a carnificina americana de problemas sociais e econômicos. Entregou um governo caótico e não foi reeleito. Ele sobreviveu politicamente ao hiato de quatro anos, ainda que ameaçado por quatro processos criminais. O Trump que retoma hoje o poder presidencial americano é o mesmo, mas renovado pelo clamor da vingança.

 

Fonte: Metrópoles/g1

 

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