Sinais
de que o idoso deve parar de dirigir e como você pode intervir para garantir a
segurança dele
Em primeiro lugar, é bom esclarecer que muitos
idosos continuam a dirigir bem depois dos 80 ou 90 anos. No entanto, o que
fazer quando a pessoa não reconhece que enfrenta limitações, como problemas de
visão, audição e mobilidade, que podem levar a uma situação de risco? Além das
mudanças físicas, um quadro de declínio cognitivo leve já é responsável por
reações mais lentas, capazes de comprometer a segurança do motorista e dos
passageiros.
É duro admitir o declínio e quase sempre a conversa
sobre o tema termina num impasse: de um lado, filhos ou netos argumentando que
está na hora de abandonar o volante; do outro, um adulto cioso da sua autonomia
que se recusa a concordar.
Antes de embarcar numa discussão, a melhor opção é
buscar sinais de que seu ente querido não tem a destreza de antes, para abordar
o assunto com elementos convincentes. Aqui estão sete indicadores de risco:
1.
Um bom começo é dar uma olhada no estado do veículo
e checar se há marcas recentes de arranhões e amassados.
2.
Verifique se há multas de trânsito e alterações na
apólice de seguro – que pode ter sido causada por acidente.
3.
Pegue uma carona para aprofundar a avaliação. Fique
atento a pequenos deslizes, como não parar o carro completamente diante do
semáforo vermelho, deixando que ele continue a “deslizar”; não sinalizar ou
olhar pelo retrovisor na mudança de faixa; ou não usar o cinto de segurança.
4.
Condições de saúde podem comprometer a segurança:
as de visão, como catarata, degeneração macular ou glaucoma; quadros de
osteoporose que levem a uma perda de altura, afetando o campo visual; dores e
rigidez que impeçam movimentos necessários para avaliar pontos cegos.
5.
Dirigir pode se tornar uma fonte de estresse e
exaustão diante dos desafios físicos e mentais. O que deve soar o alarme: o
idoso erra o caminho mesmo em regiões que conhece bem; tem dificuldade com
marchas e manobras; não nota as placas e os sinais de trânsito; apresenta
respostas lentas diante de situações inesperadas e com frequência faz com que
os outros motoristas buzinem; fica nervoso com a ideia de guiar à noite.
6.
O aumento do número de episódios de “quase
acidente” indica que as habilidades do indivíduo estão deterioradas.
7.
Quando amigos e parentes fazem comentários sobre a
aptidão do idoso para dirigir e temem pegar uma carona.
Se há indícios de sobra mas a pessoa se recusa a
reconhecer suas limitações, talvez seja melhor apelar para alternativas que
impeçam que algo mais grave ocorra. Seguem três sugestões cujo objetivo é
ganhar tempo para argumentar e convencer o idoso de que seus dias atrás do
volante devem acabar, principalmente se há suspeitas de declínio cognitivo:
·
Invente uma desculpa para pedir o veículo
emprestado – um parente ou amigo próximo pode fazê-lo – alegando que o
automóvel sofreu avarias consideráveis e ficará um bom tempo na oficina.
·
Crie um motivo para levar o carro para o conserto,
o que pode se prolongar indefinidamente, porque as peças a serem repostas não
têm prazo para chegar.
·
Peça ao idoso para vender o carro a fim de ajudar
alguém da família que está muito necessitado.
¨
Como países podem reduzir
sobrecarga das mulheres no cuidado
Lavar a roupa, alimentar as
crianças e arrumar a casa dá um baita trabalho – e se alguém não tivesse feito
isso quando você usava fraldas, dificilmente você estaria lendo este texto
agora. Essas são as chamadas atividades de cuidado: tudo o que é necessário
para sustentar e dar continuidade à vida humana.
Em geral, quem realiza a
maior parte desse trabalho é uma mulher. Caso você
tenha crescido numa família de renda mais alta no Brasil, é possível que uma
empregada doméstica – também mulher – tenha assumido parte dessas
atividades.
Além das crianças, as
atividades de cuidado são essenciais para idosos e pessoas com deficiência, e a
desigualdade de gênero se mantém, com as mulheres respondendo pelo grosso das
demandas.
Esse retrato está na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE de 2022: em média,
as mulheres dedicaram 21,3 horas por semana a atividades de cuidado e afazeres
domésticos, enquanto os homens, 11,7 horas. A diferença é ainda maior para
mulheres negras, que dedicam a essa atividades 1,6 hora por semana a mais que
as brancas.
Isso gera o que
especialistas chamam de pobreza de tempo, que dificulta que as mulheres entrem
e permaneçam no mercado de trabalho em condições de igualdade com os homens,
e reduz sua disponibilidade para se dedicar a estudos ou à vida pública.
Alguns países da América
Latina estão adotando políticas públicas para tentar reduzir essa desigualdade.
E o Brasil é um deles. No último trimestre do ano passado, a Câmara dos Deputados e o
Senado aprovaram a Política Nacional de Cuidados, sancionada em 23 de dezembro
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
<><> Qual é o
objetivo da política
Originado de uma
proposta do Executivo enviada ao Congresso, o texto estabelece
diretrizes para a elaboração e promoção de políticas públicas que apoiem
as famílias no cuidado de quem precisa, garantam direitos das pessoas que
trabalham no serviço de cuidado e incentivem uma mudança cultural que
engaje mais os homens nessas atividades.
Uma das autoridades
envolvidas no desenho da política é Laís Abramo, secretária nacional de
Cuidados e Família. À DW, ela afirma esperar que a iniciativa sirva não só para
reduzir as desigualdades presentes no cuidado de crianças, pessoas com
deficiência e idosos. Mas também para preparar melhor a sociedade brasileira
para o futuro – afinal, a população está envelhecendo, e o número de idosos será cada vez maior, enquanto as famílias tendem
a ter cada vez menos integrantes para prover esse cuidado.
"Queremos promover a
corresponsabilização pelo trabalho de cuidado entre homens e mulheres dentro
das famílias; e entre as famílias, a comunidade, o Estado e o setor
privado", afirma. "Olhando ao mesmo tempo quem precisa do cuidado e
quem cuida."
No caso das crianças e adolescentes,
ela diz que o objetivo principal é a expansão da cobertura de creches. Por lei,
toda criança brasileira de zero a três anos já tem direito à creche, mas na
prática muitas não têm esse acesso garantido – segundo um levantamento
divulgado em agosto de 2024, 632 mil estão nessa situação.
Também é necessário expandir
a escola em tempo integral e criar espaços para que as crianças possam ser
cuidadas à noite, caso a mãe e o pai precisem sair para estudar ou trabalhar
nesse período.
No caso de idosos e pessoas
com deficiência, a política buscará ampliar serviços de atendimento domiciliar
para apoiar as atividades básicas e centros para essas pessoas passarem o dia
com atividades, como os Centro-Dia, já existentes em algumas cidades
brasileiras.
"Isso é muito benéfico
tanto para quem está nessa condição, como para seus cuidadores, pois libera o
tempo dessas mulheres para que possam ter atividades de auto-cuidado,
descansar, fazer algum curso de formação profissional e ter alguma atividade de
geração de renda", diz Abramo.
Outra proposta é criar
locais que facilitam o trabalho de cuidado, como cozinhas comunitárias e
lavanderias coletivas, já existentes em algumas cidades. O objetivo é apoiar em
especial as famílias que não têm em suas casas as máquinas e o espaço
apropriados. O Ministério das Mulheres já vem financiando a construção e
manutenção de algumas lavanderias comunitárias.
Não há, porém, detalhes
ainda de como exatamente o governo pretende promover a
"corresponsabilização" entre homens e mulheres nas famílias. Uma
medida relevante nesse sentido seria o aumento da licença-paternidade –
hoje de apenas cinco dias, contra 120 dias assegurados às mães.
No final de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu ao Congresso
prazo de 18 meses para regulamentar as regras do benefício para os pais. O prazo termina em junho deste ano, e se até lá os legisladores não
encaminharem uma proposta, a Corte assumiria a tarefa.
O detalhamento das propostas
do governo constará do Plano Nacional de Cuidados, que está na fase final de
elaboração e não precisa de aprovação do Congresso. Elas envolvem a ampliação
da cobertura de serviços já existentes, assim como a criação de novos serviços
– para os quais serão necessários investimentos.
Abramo diz que o plano em
discussão no governo aloca verbas já existentes e prevê cofinanciamento entre
governo federal, estados e municípios, mas que para que a política "se
implemente e se consolide" serão necessários mais recursos, que não estão
garantidos.
<><> Debate no
G20 e avanços na América Latina
As políticas públicas de
cuidado foram tema de um simpósio internacional em outubro na Universidade de
São Paulo, promovido pelo Centro Mecila, um consórcio de universidades e
institutos alemães e latino-americanos. O evento fez parte das atividades paralelas de think tanks para a preparação
da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, ocorrida em
novembro.
Raquel Rojas, pesquisadora
de pós-doutorado do Mecila e da Universidade Livre de Berlim, relata à DW que a
inclusão das políticas de cuidado no rol de responsabilidades governamentais só
não entrou em um dos comunicados do G20 por causa da oposição do governo da Argentina, motivado pela visão
de que cuidado seria um assunto restrito à família.
Apesar disso, ela diz que a última
década tem sido de avanços na América Latina. O Uruguai foi o primeiro país a
adotar uma política estruturada para o tema, em 2015, e outros caminham nesse
sentido. O governo do Chile enviou em junho ao Congresso um projeto de lei para
criar seu Sistema Nacional de Apoios e Cuidados, e o governo do México recebeu
no começo de dezembro financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento
para projetar seu Sistema Nacional de Cuidados.
Bogotá também é um exemplo:
a cidade colombiana tem 24 unidades de suas Manzanas
del Cuidado (Quarteirões do Cuidado), onde as cuidadoras
deixam suas crianças sob supervisão enquanto elas podem, no mesmo local, obter
qualificação profissional, fazer exercícios físicos, receber orientação
jurídica e psicológica, lavar as roupas da família de graça ou simplesmente
descansar.
No Brasil, o assunto foi
tema da redação do Enem de 2023, que
pediu aos estudantes para escreverem sobre os "desafios para o
enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no
Brasil".
"O cuidado não deve
ficar dependente somente da família, pois de acordo com a posição da família na
estrutura social, elas terão mais ou menos acesso a serviços de cuidado e isso
reproduz desigualdades. Se há serviços de cuidado ofertados pelo Estado, isso
torna o campo mais igualitário", diz Rojas. "Além disso, os homens
devem participar mais. Não há uma razão biológica para que as mulheres tenham
que carregar sozinhas esse fardo."
A secretária Laís Abramo
também pontua que a desigualdade no cuidado não é só de gênero, mas também de
renda e de raça. "Tanto na carga do trabalho não remunerado, como nas
profissões do cuidado, a maioria são mulheres negras", afirma. "E as
mulheres negras estão nas
piores ocupações, com menos proteção. Muitas vezes são mulheres
sozinhas que têm que ser, ao mesmo tempo, as provedoras econômicas e as
cuidadoras das famílias, porque não têm recursos para comprar os serviços de
cuidado no mercado".
Fonte: g1/DW Brasil
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