quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Saiba o que significa a saída dos EUA da OMS e suas consequências

O presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, anunciou na segunda-feira (20) a saída do país da Organização Mundial da Saúde (OMS) – a agência de saúde pública das Nações Unidas. A decisão foi tomada horas depois de Trump ser empossado para um segundo mandato à frente da Casa Branca.

De acordo com ele, a OMS “continua a exigir pagamentos injustamente onerosos” aos EUA. Em julho de 2020, em meio à pandemia de Covid-19, Trump se retirou formalmente da organização pela primeira vez, congelando os repasses de dinheiro ao organismo. No entanto, acabou sendo revertida por seu sucessor, Joe Biden.

A ordem executiva assinada ontem por Trump menciona também a “má gestão da pandemia de Covid-19 pela organização que surgiu em Wuhan, na China, e outras crises globais de saúde, sua falha em adotar reformas urgentemente necessárias e sua incapacidade de demonstrar independência da influência política inapropriada dos estados-membros das OMS”.

Mas, afinal, o que é a OMS, qual sua autoridade e quais são os efeitos da saída dos EUA do órgão?

O que é a OMS?

Organização Mundial da Saúde foi fundada em 1948 como uma agência especializada em saúde subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), com sede em Genebra, na Suíça.

O Brasil é um dos membros-fundadores da OMS e ocupou a direção-geral do órgão durante duas décadas, com Marcolino Gomes Candau, entre 1953 e 1973.

A OMS atua no combate a doenças transmissíveis, como gripe e HIV, e doenças não transmissíveis, como câncer e distúrbios cardíacos. A organização é ainda responsável por ações de prevenção e vigilância.

Atualmente, a OMS conta com mais de 190 países-membros, espalhados em seis regiões e em mais de 150 escritórios.

·        Qual é a autoridade da OMS?

Gonzalo Vecina, médico sanitarista, fundador, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e colunista da CNN, explica que o funcionamento de organismos multilaterais da ONU – como é o caso da OMS – depende da transferência de poder que os países-membros fazem para a organização, ou seja, o quão eles permitem que o órgão influencie na gestão da saúde nacional.

“A única área onde existe uma transferência maior [de poder] é no Conselho de Segurança. Nas outras organizações, as decisões têm de ser praticamente unânimes. A capacidade de a OMS dar uma ordem para o enfrentamento da pandemia [de Covid-19], por exemplo, foi relativo”, exemplificou Vecina.

Ainda assim, segundo ele, “esses organismos multilaterais, apesar da pouca força política, são importantes na tentativa da construção de um mundo mais harmônico”.

Na avaliação de Vecina, o vácuo deixado pelos Estados Unidos, principal financiador da OMS, deve ser ocupado pela China, que nos últimos anos tem demonstrado domínio tecnológico na área da saúde, como observado pelo desenvolvimento e a produção em massa de vacinas para o combate à Covid-19.

“A China é um país que tem uma capacidade técnica e econômica muito grande e, certamente, vai fazer isso valer do ponto de vista político. Não existem lugares vazios. A China deverá, sem dúvida, buscar ocupar esse espaço, junto com outros países”, diz o médico.

·        O que significa a saída dos EUA da OMS?

Na visão de Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, o maior impacto da saída dos EUA da OMS ocorrerá no financiamento dos programas da organização.

Atualmente, esclarece o professor, os EUA colaboram com cerca de US$ 550 milhões (cerca de R$ 3,3 bilhões) anuais para a OMS.

“O corte de recursos vai ser intenso, porque eles [os EUA] são o maior doador individual [da OMS]. Isso vai impactar em ações da OMS em países emergentes. Se você corta a ligação do país com a OMS, você corta o contato dos centros de controle e prevenção de doenças espalhados pelos EUA com a OMS, o que prejudica o desenvolvimento de pesquisas científicas”, avalia Brustolin.

“Os EUA estão na vanguarda da pesquisa científica médica. [A saída do país da OMS] é um duro golpe no sistema internacional pós-Segunda Guerra Mundial. É uma sabotagem do sistema que conhecemos”, aponta o especialista.

¨      EUA saírem do Acordo de Paris é “lamentável”, diz comissário do clima da UE

É “verdadeiramente lamentável” que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retire os EUA do Acordo de Paris, afirmou Wopke Hoekstra, comissário climático da União Europeia, nesta terça-feira (21).

Após tomar posse na segunda-feira (20), Trump assinou ações executivas para se retirar do tratado internacional sobre mudanças climáticas, no qual quase 200 países concordaram em trabalhar juntos para limitar o aquecimento global.

“É um desdobramento verdadeiramente lamentável que a maior economia do mundo, e um dos nossos aliados mais próximos na luta contra as mudanças climáticas, esteja se retirando do Acordo de Paris”, disse Hoekstra, em publicação no X.

O comissário declarou que o acordo “tem bases sólidas e veio para ficar”, e acrescentou que, “apesar desse revés, continuamos comprometidos em trabalhar com os EUA e nossos parceiros internacionais para abordar a questão urgente das mudanças climáticas”.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, também postou no X sobre o tratado, escrevendo que “todos os continentes terão que lidar com o crescente fardo das mudanças climáticas”.

 “O Acordo de Paris continua sendo a melhor esperança da humanidade. A Europa manterá o curso. E continuaremos trabalhando com todas as nações que querem parar o aquecimento global”, disse von der Leyen.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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