Saiba o
que significa a saída dos EUA da OMS e suas consequências
O presidente dos Estados
Unidos, Donald J. Trump, anunciou na segunda-feira (20) a saída do país da
Organização Mundial da Saúde (OMS) – a agência de saúde pública das Nações
Unidas. A decisão foi tomada horas depois de Trump ser empossado para um
segundo mandato à frente da Casa Branca.
De acordo com ele, a OMS
“continua a exigir pagamentos injustamente onerosos” aos EUA. Em julho de 2020,
em meio à pandemia de Covid-19, Trump se retirou formalmente da organização
pela primeira vez, congelando os repasses de dinheiro ao organismo. No entanto,
acabou sendo revertida por seu sucessor, Joe Biden.
A ordem executiva
assinada ontem por Trump menciona também a “má gestão da pandemia de Covid-19
pela organização que surgiu em Wuhan, na China, e outras crises globais de
saúde, sua falha em adotar reformas urgentemente necessárias e sua incapacidade
de demonstrar independência da influência política inapropriada dos
estados-membros das OMS”.
Mas, afinal, o que é a
OMS, qual sua autoridade e quais são os efeitos da saída dos EUA do órgão?
O que é a OMS?
A Organização Mundial da Saúde foi fundada em 1948 como uma agência especializada em saúde
subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), com sede em Genebra, na Suíça.
O Brasil é um dos
membros-fundadores da OMS e ocupou a direção-geral do órgão durante duas
décadas, com Marcolino Gomes Candau, entre 1953 e 1973.
A OMS atua no combate a
doenças transmissíveis, como gripe e HIV, e doenças não transmissíveis, como
câncer e distúrbios cardíacos. A organização é ainda responsável por ações de
prevenção e vigilância.
Atualmente, a OMS conta
com mais de 190 países-membros, espalhados em seis regiões e em mais de 150
escritórios.
·
Qual é a autoridade da OMS?
Gonzalo Vecina, médico
sanitarista, fundador, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) e colunista
da CNN, explica que o funcionamento de organismos multilaterais da ONU –
como é o caso da OMS – depende da transferência de poder que os países-membros
fazem para a organização, ou seja, o quão eles permitem que o órgão influencie
na gestão da saúde nacional.
“A única área onde
existe uma transferência maior [de poder] é no Conselho de Segurança. Nas
outras organizações, as decisões têm de ser praticamente unânimes. A capacidade
de a OMS dar uma ordem para o enfrentamento da pandemia [de Covid-19], por
exemplo, foi relativo”, exemplificou Vecina.
Ainda assim, segundo
ele, “esses organismos multilaterais, apesar da pouca força política, são
importantes na tentativa da construção de um mundo mais harmônico”.
Na avaliação de Vecina,
o vácuo deixado pelos Estados Unidos, principal financiador da OMS, deve ser
ocupado pela China, que nos últimos anos tem demonstrado domínio tecnológico na
área da saúde, como observado pelo desenvolvimento e a produção em massa de
vacinas para o combate à Covid-19.
“A China é um país que
tem uma capacidade técnica e econômica muito grande e, certamente, vai fazer
isso valer do ponto de vista político. Não existem lugares vazios. A China
deverá, sem dúvida, buscar ocupar esse espaço, junto com outros países”, diz o
médico.
·
O que significa a saída dos EUA da OMS?
Na visão de Vitelio
Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal
Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, o maior impacto da saída dos EUA da
OMS ocorrerá no financiamento dos programas da organização.
Atualmente, esclarece o
professor, os EUA colaboram com cerca de US$ 550 milhões (cerca de R$ 3,3
bilhões) anuais para a OMS.
“O corte de recursos vai
ser intenso, porque eles [os EUA] são o maior doador individual [da OMS]. Isso
vai impactar em ações da OMS em países emergentes. Se você corta a ligação do
país com a OMS, você corta o contato dos centros de controle e prevenção de
doenças espalhados pelos EUA com a OMS, o que prejudica o desenvolvimento de
pesquisas científicas”, avalia Brustolin.
“Os EUA estão na
vanguarda da pesquisa científica médica. [A saída do país da OMS] é um duro
golpe no sistema internacional pós-Segunda Guerra Mundial. É uma sabotagem do
sistema que conhecemos”, aponta o especialista.
¨ EUA
saírem do Acordo de Paris é “lamentável”, diz comissário do clima da UE
É “verdadeiramente
lamentável” que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retire os EUA do
Acordo de Paris, afirmou Wopke Hoekstra, comissário climático da União
Europeia, nesta terça-feira (21).
Após tomar posse na
segunda-feira (20), Trump assinou ações executivas para se retirar do tratado
internacional sobre mudanças climáticas, no qual quase 200 países concordaram
em trabalhar juntos para limitar o aquecimento global.
“É um desdobramento
verdadeiramente lamentável que a maior economia do mundo, e um dos nossos
aliados mais próximos na luta contra as mudanças climáticas, esteja se
retirando do Acordo de Paris”, disse Hoekstra, em publicação no X.
O comissário declarou
que o acordo “tem bases sólidas e veio para ficar”, e acrescentou que, “apesar
desse revés, continuamos comprometidos em trabalhar com os EUA e nossos
parceiros internacionais para abordar a questão urgente das mudanças climáticas”.
Ursula von der Leyen,
presidente da Comissão Europeia, também postou no X sobre o tratado, escrevendo
que “todos os continentes terão que lidar com o crescente fardo das mudanças
climáticas”.
“O Acordo de Paris continua
sendo a melhor esperança da humanidade. A Europa manterá o curso. E
continuaremos trabalhando com todas as nações que querem parar o aquecimento
global”, disse von der Leyen.
Fonte: CNN Brasil
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