sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Por que Trump diz que quer controle da Groenlândia, do Canal do Panamá e até do Canadá

O presidente eleito dos Estados UnidosDonald Trump, não está dando sinais de que vai desistir da ambição de obter o controle da Groenlândia e do Canal do Panamá, classificando ambos como essenciais para a segurança nacional americana.

Questionado se descartava o uso de força militar ou econômica para assumir o controle do território autônomo dinamarquês ou do canal, ele respondeu: "Não, não posso garantir nada em relação a nenhum dos dois".

"Mas posso dizer o seguinte: precisamos deles para a segurança econômica", afirmou Trump a jornalistas na terça-feira (7/1) durante coletiva de imprensa em sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida.

Tanto a Dinamarca quanto o Panamá rejeitaram qualquer sugestão de que abririam mão dos respectivos territórios.

Trump também prometeu usar a "força econômica" quando perguntado se tentaria anexar o Canadá — e chamou a fronteira compartilhada entre eles de "linha artificialmente traçada".

A fronteira é a mais longa do mundo entre dois países, e foi estabelecida em tratados que remontam à fundação dos Estados Unidos no fim dos anos 1700.

O presidente eleito afirmou que seu país gasta bilhões de dólares protegendo o Canadá — e criticou as importações de carros, madeira e laticínios canadenses.

"Eles deveriam ser um Estado (americano)", disse ele aos jornalistas.

Mas o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que renunciou nesta semana ao cargo, afirmou que não há "a menor chance" de uma fusão entre os dois países.

A coletiva de imprensa foi inicialmente marcada como um anúncio de desenvolvimento econômico para divulgar o investimento de US$ 20 bilhões da Damac Properties, empresa de desenvolvimento imobiliário de Dubai, para construir data centers nos Estados Unidos.

Mas o presidente eleito passou a criticar as regulamentações ambientais, o sistema eleitoral dos EUA, os vários processos judiciais contra ele e o presidente Joe Biden.

Entre várias outras coisas, ele sugeriu mudar o nome do Golfo do México para "Golfo da América" — e reafirmou sua oposição à energia eólica, dizendo que as turbinas eólicas estão "enlouquecendo as baleias".

As declarações dele foram feitas enquanto seu filho, Donald Trump Jr., visitava a Groenlândia.

Antes de chegar à capital Nuuk, Trump Jr. disse que estava fazendo uma "viagem pessoal de um dia" para conversar com as pessoas, e que não tinha reuniões marcadas com autoridades do governo.

Quando questionada sobre a visita de Trump Jr. à Groenlândia, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, disse à TV dinamarquesa que "a Groenlândia pertence aos groenlandeses" — e que somente a população local poderia determinar seu futuro.

Ela afirmou que "a Groenlândia não está à venda", mas enfatizou que a Dinamarca precisava atuar em forte cooperação com os EUA, um aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A Groenlândia está localizada na rota mais curta entre a América do Norte e a Europa — e abriga uma grande instalação espacial americana. Também possui alguns dos maiores depósitos de minerais de terras raras, cruciais para a fabricação de baterias e dispositivos de tecnologia de ponta.

Trump sugeriu que a ilha é essencial para os esforços militares de rastreamento de navios chineses e russos, que, segundo ele, estão "por toda parte".

"Estou falando de proteger o mundo livre", disse ele aos jornalistas.

Desde que venceu as eleições em novembro, Trump vem batendo repetidamente na tecla da expansão territorial dos EUA — incluindo a retomada do Canal do Panamá.

Durante a coletiva de imprensa, ele disse que o canal "é vital para o nosso país" — e alegou que "está sendo operado pela China".

Anteriormente, ele acusou o Panamá de cobrar a mais dos navios americanos para usar a hidrovia, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico.

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, rejeitou as alegações de Trump, e afirmou que não há "absolutamente nenhuma interferência chinesa" no canal.

Uma empresa com sede em Hong Kong, a CK Hutchison Holdings, administra dois portos nas entradas do canal.

O canal foi construído no início dos anos 1900, e os Estados Unidos mantiveram o controle sobre a Zona do Canal até 1977, quando os tratados negociados pelo então presidente Jimmy Carter devolveram gradualmente o controle do território ao Panamá.

"Dar o Canal do Panamá ao Panamá foi um grande erro", disse Trump. "Veja bem, [Carter] era um homem bom... Mas isso foi um grande erro."

Não está claro o quão sério o presidente eleito está falando sobre aumentar o território dos Estados Unidos, sobretudo quando se trata do Canadá, um país de 41 milhões de habitantes, que é a segunda maior nação em extensão territorial do mundo.

Durante a coletiva de imprensa, Trump também repetiu uma série de informações falsas e teorias conspiratórias, incluindo a sugestão de que o Hezbollah, grupo militante islâmico, estava envolvido na invasão do Capitólio dos Estados Unidos em 2021.

¨      Por que Rússia e Noruega frearam suas ambições no Ártico, foco do interesse de Trump

Ártico virou notícia nesta semana depois que o presidente eleito dos Estados UnidosDonald Trump, reiterou sua ambição de assumir o controle da Groenlândia.

O republicano argumentou que a ilha seria "crucial" para a segurança nacional e econômica dos EUA.

Até recentemente, contudo, a região vinha recebendo atenção por outro tema: sua enorme riqueza em recursos naturais.

O Ártico entrou no radar de investidores e empresas por volta de 2008, quando uma série de relatórios identificou vastas reservas de petróleo e minerais na região, que fica ao norte do território continental canadense e da Rússia.

A partir daí, teve início o que alguns apelidaram de "corrida fria" ou "febre fria" do Ártico, termo que, em um jogo de palavras em inglês, remete a "corrida do ouro" ou "febre do ouro" ("gold rush" e "cold rush").

O fluxo de investimentos ganhou fôlego diante da redução da camada de gelo no Polo Norte, reflexo das mudanças climáticas que ameaçam o futuro do planeta e que, nesse caso, acabaram tornando as reservas naturais do Ártico e seus recursos pesqueiros mais acessíveis.

Com a abertura de novas rotas marítimas, a distância percorrida anualmente por navios no Oceano Ártico mais do que dobrou entre 2013 e 2023, passando de 9,8 milhões para 20,7 milhões de quilômetros.

O incremento gerou expectativa de que, no longo prazo, navios de carga possam passar por ali no trajeto da Ásia para a Europa e para a costa leste americana.

Mais recentemente, entretanto, a atividade econômica na região desacelerou significativamente, com a mudança de postura de dois países que vinham protagonizando os investimentos — Rússia e Noruega.

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, grande parte dos projetos planejados para a região do Ártico foi interrompida diante da deterioração das relações entre a Rússia e o Ocidente.

"A Rússia tinha grandes planos para o Ártico", diz Morten Mejlaender-Larsen, diretor de operações e tecnologia no Ártico da empresa norueguesa DNV, que estabelece regras e normas para o setor marítimo.

"Eles começaram a construir centros regionais de resgate completos com navios e helicópteros para facilitar tanto o transporte marítimo para projetos de gás, petróleo e carvão na Sibéria, quanto para o transporte marítimo ao longo da Passagem Nordeste [ao norte da Rússia]."

"Porém, desde a invasão da Ucrânia, a navegação internacional na Passagem Nordeste praticamente parou, com exceção de alguns navios chineses", observa Mejlaender-Larsen.

No caso da Noruega, ele acrescenta, o que aconteceu foi a suspensão da exploração de petróleo e gás na região: "[A atividade] está completamente parada".

"Não esperamos ver nenhum outro desenvolvimento no Mar de Barents, ao norte da Ilha do Urso", ele acrescenta, referindo-se à pequena ilha norueguesa 400 km ao norte do território coninental do país.

O movimento agradou ambientalistas, que sempre alertaram sobre o impacto da exploração de óleo e gás no frágil ecossistema da região polar.

Em dezembro, o Greenpeace comemorou a decisão do governo norueguês de suspender a primeira rodada de licitações para extração em águas profundas entre as ilhas norueguesas de Svalbard e Jan Mayen, que também estão no Ártico.

Analistas ponderam que, embora a relação com a Rússia seja um dos principais motivos pelos quais a Noruega está cautelosa em investir em projetos no Ártico, seu interesse na região já havia diminuído.

Analistas como Arild Moe, do grupo de pesquisa norueguês Fridtjof Nansen Institute, acreditam que a "febre" do Ártico foi baseada em suposições exageradas.

"A euforia foi excessiva", diz o especialista em exploração de petróleo e gás na região.

"Os relatórios de 2008 não se referiam a reservas reais — mas sim a recursos potenciais e altamente incertos, que seriam arriscados, caros e difíceis de localizar e explorar."

Para Helene Tofte, diretora de cooperação internacional e clima da Associação Norueguesa de Armadores, a perspectiva para o transporte marítimo no Ártico também foi superdimensionada.

Ela ressalta que, apesar do impacto das mudanças climáticas que acabaram facilitando o tráfego de navios, o Ártico continua sendo um lugar difícil para se operar.

"As condições podem ser extremamente desafiadoras, mesmo quando a ausência de gelo marinho permite a passagem", argumenta.

"Grande parte da rota está longe das infraestruturas capacitadas para responder a emergências, como buscas e resgates, e recursos de limpeza ambiental."

"O aumento do transporte marítimo nesta área exigiria investimentos substanciais em navios, preparação para situações de emergência, infraestrutura e sistemas de previsão do tempo, para uma rota que é imprevisível e tem uma temporada operacional curta. No momento, não temos nenhuma indicação de que nossos membros vejam isso como comercialmente interessante", acrescenta.

As complexidades do Ártico são o dia-a-dia do pescador norueguês Sondre Alnes-Bonesmo, de 30 anos.

Nesse momento, ele trabalha na escuridão. O sol nasceu pela última vez no fim de outubro — e não deve aparecer no céu novamente até meados de fevereiro.

Nessa época do ano, as temperaturas podem chegar a 40°C abaixo de zero e as tempestades podem gerar ondas enormes no mar.

Alnes-Bonesmo trabalha em dois turnos de seis horas por dia, durante expedições de cinco semanas em um navio chamado Granit.

Um dos maiores navios pesqueiros em operação nas águas do Ártico ao norte da Noruega e na costa da Groenlândia, ele não para no inverno.

Apesar de habituado às agruras do inverno, ele não esconde que prefere trabalhar no verão, quando o sol brilha 24 horas por dia.

"Eu gosto quando o tempo está bom, pois não colidimos com as paredes (de gelo) e coisas do gênero, como acontece durante as tempestades, quando as ondas podem ser bem grandes", relata.

<><> Ameaça de Trump

Donald Trump tem expressado interesse em submeter a Groenlândia ao controle dos Estados Unidos desde seu primeiro mandato como presidente.

Ele voltou a falar sobre isso nesta semana e causou polêmica ao declarar que não descartava usar força militar ou coerção econômica pra atingir seu objetivo.

Diante da manifestação, autoridades da Groenlândia e da Dinamarca afirmaram que o território não estava à venda e representantes da França e Alemanha declararam que a União Europeia não permitiria ataques às suas "fronteiras soberanas".

Na visão de Moe, a "declaração rude e pouco diplomática" de Trump mostra que os Estados Unidos, sob seu comando, têm interesses de ordem econômica e relacionadas à segurança em relação à ilha, incluindo seus "ricos recursos minerais".

Além da Groenlândia, no que se refere ao Ártico há também expectativa de que Trump permita o aumento da exploração de petróleo e gás no Alasca, especificamente no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, que é rico em recursos.

A área de 7,6 milhões de hectares é o maior refúgio de vida selvagem dos Estados Unidos — e, em 2020, Trump autorizou a extração em uma parte dela.

¨      Não há a mínima chance que o Canadá se torne parte dos EUA, garante Trudeau

O Canadá nunca fará parte dos Estados Unidos, disse o primeiro-ministro canadense cessante Justin Trudeau, rejeitando uma proposta do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de unir os países.

Trump tem repetidamente sugerido que sua administração de alguma forma transformaria o Canadá em uma parte dos EUA.

"Você se livra desta linha artificialmente traçada, e olha como isso se parece, e também seria melhor para a segurança nacional", disse Trump a jornalistas durante uma coletiva de imprensa em sua residência em Mar-a-Lago na Flórida na terça-feira (7).

Trudeau, que anunciou no início desta semana que iria renunciar como primeiro-ministro e como líder do Partido Liberal no governo após nove anos no poder, respondeu aos comentários de Trump na terça-feira.

Para aqueles que possam estar confusos.

"Não tem a mínima chance que o Canadá se tornaria parte dos Estados Unidos", escreveu Trudeau no X. Ele acrescentou, no entanto, que "os trabalhadores e as comunidades em ambos os nossos países se beneficiam de sermos o maior parceiro comercial e de segurança um do outro".

Pierre Poilievre, o líder do Partido Conservador da oposição, também deu uma resposta forte a Trump. "O Canadá nunca será o 51º estado. Ponto final. Somos um país grande e independente", escreveu Poilievre no X.

¨      Sheinbaum responde Trump e propõe renomear EUA para ‘América Mexicana’

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, respondeu nesta quarta-feira (08/01) à proposta do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de renomear o Golfo do México como “Golfo da América”.

Em tom irônico, Sheinbaum sugeriu uma ideia semelhante: “por que não chamamos o sul dos EUA de ‘América Mexicana’? Fica bonito, não é?”, afirmou durante sua coletiva de imprensa diária, a mañanera.

A declaração provocativa veio acompanhada de críticas à postura de Trump, que Sheinbaum classificou como “desinformada”.

Ela também ironizou ao sugerir que o republicano estaria mal assessorado, acreditando que figuras como o ex-presidente mexicano Felipe Calderón, um direitista subserviente aos EUA, ainda comandam o México.

 “Mas não, em México governa o povo”, ressaltou a mandatária.

Trump, que toma posse em 20 de janeiro, anunciou recentemente sua intenção de alterar o nome do Golfo do México, argumentando que “nós [EUA] fazemos a maior parte do trabalho lá e ele é nosso”.

Este faz parte de um ataque sequencial de Trump ao México, seja via questão migratória, através do tema dos cartéis ou de política econômica, com um protecionismo maior de Washington contra seus vizinhos.

Perante as ameaças, o governo mexicano respondeu com veemência que as tarifas seriam respondidas com impostos sobre os produtos dos EUA que entrassem e seu país, e alertou que uma guerra tarifária, longe de trazer benefícios, apenas causaria perdas para o governo de Trump.

Apesar das tensões, Sheinbaum garantiu uma boa relação com Trump em seu próximo governo, com início em 20 de janeiro. De acordo com a governante mexicana, os dois países terão boa diplomacia baseada na relação que seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador (2018-2024) teve com o republicano em sua primeira administração (2017-2021).

 

Fonte: BBC News/Opera Mundi

 

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