Os
provocadores da guerra imperialista e o perigo da Guerra Mundial
Economistas burgueses em
suas agências imperialistas todos previam uma crise gigantesca no “sistema
financeiro” para o ano de 2019 e igualmente observavam os levantamentos
explosivos de massas em luta como espasmos de uma crise social global quando
irrompeu na China e que chegaria avassaladora à Europa ainda no mesmo ano, a
crise do coronavírus. Saberíamos dois anos e meio e dezenas de milhões de
mortos depois – efeito de uma verdadeira Guerra Mundial – o que viria a ser uma
pandemia acompanhada de devastadora crise econômica e social.
Se, por um lado, a pandemia
foi em si uma crise, por outro, foi também um antídoto, uma válvula de escape
para outra maior, geral do sistema de exploração. Carregava em seu seio, não
obstante, os dois lados da crise de superprodução relativa do sistema
capitalista em sua fase agonizante, que para adiar sua bancarrota completa,
gera crises cada vez mais destruidoras nas economias internas, que à primeira
vista parece agir contra si própria, provocando distúrbios, mas que tem por
objetivo desacelerar sua decomposição: A própria definição de agonia. “Destrói”
a economia em crise para salvar-se da própria crise geral. Resultado dela, saem
mais fortes os monopólios, acentua-se a busca pelo lucro máximo e aumentam
momentaneamente as taxas de lucro, se reorganizam as cadeias produtivas ao
destruir boa parte dela. Em suma, recriam, por toda parte e em marcha cadente
progressiva, as condições de outra fratura, nova e ainda maior; que se vê ali
adiante em todos seus traços.
O “quê fazer” das potências
e superpotências é sempre este: precisam lutar cada vez mais e desesperadamente
por sustentarem-se enquanto tal, o que implica, pelo contrário, acentuação do
sistema de escravidão das nações esmagadas, maior resistência de seus povos e
maior competição entre os senhores destas. Traduz-se numa lei, cuja definição
por parte daqueles que têm exposto as entranhas deste cancro chamado
imperialismo com o objetivo de extirpá-lo é a da tendência para a guerra.
Tendência esta que tem se concretizado parcialmente no presente em alguns fatos
que tratamos a seguir.
·
A contraofensiva russa
Logo no primeiro semestre do
ano de 2022, no momento em que os povos do mundo ainda sentiam os efeitos da
crise pandêmica, Vladimir Putin invade o território ucraniano e desata uma
guerra de agressão àquela nação. Longe de mera resposta ao cerco promovido por
EUA e OTAN, pois há também a causa interna da própria economia imperialista em
frangalhos dos herdeiros do tsar, é certo que a acentuação do primeiro
conflito; entre potências e superpotências, leva ao agravamento do outro, entre
países opressores e oprimidos – este sendo o principal no mundo hoje. Enquanto
apoiou-se por curto período nas massas do povo ucraniano, a guerra de
resistência impôs pesadas baixas ao invasor russo, criando, por momentos,
situação de atoleiro militar para os agressores e propício para o
desenvolvimento e crescimento de ampla resistência nacional antirrussa.
Todavia, a atuação vergonhosa de Zelensky como capacho da OTAN e EUA e ao não
se apoiar nas massas do bravo povo ucraniano, debilitou enormemente a
resistência, tanto na moral, quanto na opinião pública, na medida em que se
fiava nas armas dos imperialistas e contava com auxílio de grupos paramilitares
neonazistas, favorecendo a propaganda de guerra russa (tão demagógica, quanto
cínica) de “desnazificação” do país. Em vez de buscar alianças locais,
especialmente na sua fronteira, o chefe de Estado ucraniano apoiou todas as
políticas imperialistas ianques de embargo à economia russa, o que golpeou a
Europa e jogou as classes dominantes na Alemanha para uma situação de desespero
e só fez fortalecer a burguesia imperialista chinesa. Cresceram as forças
nacionalistas por toda Europa na base da condenação da desestabilização causada
pelos ianques no velho continente desde o fim da Guerra Fria e na possibilidade
de mais uma guerra devastadora para o seu território. Tais forças podem amanhã
estar no poder e a Ucrânia seria um pária nesse cenário.
As recentes declarações dos
caudilhos militares ianques sobre a Ucrânia, somadas ao papel de Zelensky
reduzido ao mísero fantoche, antes palhaço (este já o era de maneira mais digna
profissionalmente antes de ser um títere ocidental) e a necessidade de Trump
por conter a China em Taiwan, sua batalha principal, impõem um acordo de
capitulação humilhante à Ucrânia: Passar para as mãos dos novos tsares
atômicos, quase metade de seu território. Selado o acordo entre as partes (EUA
e Rússia), Zelensky, o peão no tabuleiro, será imprestável para os
imperialistas – já o era para o seu povo. No apagar das luzes, Putin lança
sobre a Ucrânia – num recado muito claro para toda Europa ocidental – um míssil
com capacidade de transportar ogivas nucleares, provavelmente cedidos pelo Irã
e, ato contínuo, assina uma acordo de cooperação militar com a Coreia do Norte.
Voltamos à chantagem nuclear.
·
Crise de dominação ianque no Oriente Médio
A derrota amargada por Joe
Biden no Afeganistão em 2023 anunciara uma nova alvorada dos povos oprimidos,
porém ainda sombreada de dúvidas, principalmente por parte de uma opinião
pública geral intelectualizada e aburguesada, para com as forças presentes na
vanguarda daquela guerra de libertação que terminou com o escorraçamento das
tropas invasoras. Situação distinta da Resistência Nacional Palestina, que
granjeou apoio internacional quase inconteste – ainda que sempre haverá
reservas covardes aqui ou acolá, cada vez mais isoladas, contudo. O
transcendental Dilúvio de Al-Aqsa, em 7 de outubro, mudou o mundo. Derrotou os
planos do imperialismo ianque na região e, mais que isso, colocou na mesa e de
forma contundente, o início do fim do protervo plano nazi-sionista do Estado de
Israel. A resposta genocida israelense colocou seus amos ianques em maus
lençóis, ampliou o apoio à causa do povo palestino, sobretudo à sua via
revolucionária da luta armada de libertação nacional e, frente ao colapso da
dominação imperialista na região, teve de ampliar a guerra para países vizinhos
que colaboram com os grupos armados que lutam por libertação. O resultado foi a
escalada do conflito, agora num degrau superior ao que gostariam os
provocadores. Netanyahu é a besta na coleira e tem sonhos febris de se
converter no líder da “grande israel”. Sem poder contê-lo totalmente, resta aos
EUA neutralizar o máximo as forças guerrilheiras da Resistência enquanto busca
um acordo de cessar-fogo que o favoreça com os Estados árabes. O novo
mandatário imperialista está disposto a tudo para poder conter a China, mesmo
“perder” a batalha contra o Hamas; condições favoráveis para um cessar-fogo.
Em paralelo, puderam impor,
com ajuda de Israel, uma derrota à Rússia na Síria. A recente capitulação de
Bashaar Al-Assad deve assim ser vista, como uma retomada pelos EUA de uma área
antes sob domínio russo. Não é difícil imaginar que quem foi vendida na mesa de
negociações fora a Ucrânia. Com a Síria rifada e prestes a ser retalhada, resta
clara a conclusão de que fora um erro das forças de libertação curda de
elegerem grupos como o Estado Islâmicos (ISIS ou Daesh) como inimigo principal,
fazendo frente única com o imperialismo ianque e grupos mercenários por
combatê-los, debilitando a resistência nacional síria – o que também não anula
o erro de forças progressistas apoiarem o lacaio Assad, apoiado pelos russos
enquanto era conveniente. Com a Síria entregue às mãos dos terroristas, ato
contínuo ao avanço de Israel e do fascista Erdogan, a causa curda corre sério
risco, só podendo encontrar saída ao se unir às lutas revolucionárias dos povos
turco, palestino, libanês e sírio contra o imperialismo, como inimigo principal
e todos os lacaios reacionários. Mais uma vez a história se repete, de que a
causa nacional não pode ter bastão de mando de nenhum imperialista, enquanto
assim o for, a luta estará fadada ao fracasso. Outra vez, permanece
resplandecente o exemplo palestino.
·
China e Ásia
Com a divisão do front
norteamericano entre Oriente Médio e Ucrânia, sobretudo com a ofensiva tática
de 7 de outubro na Palestina, a China viu as condições se criarem para a
retomada do seu território em Taiwan; perda significante para os EUA. Neste
contexto de iminente operação por retomar a ilha, há a tentativa de golpe na
Coreia do Sul e provoca tremores em terras atômicas da Coreia do Norte.
Objetivamente, aceitar a
ordem “multipolar” seria, na prática, aceitar a acensão de uma nova
superpotência hegemônica e/ou única: China. Mas isso vai contra a lei do
imperialismo da necessidade da guerra pela repartilha do mundo. Por isso mesmo,
não passam de sonhos e delírios oportunistas e de patética esperança ver na
China a “quebra da hegemonia” ou o fim do imperialismo mesmo e que esta conduza
o mundo a esse paraíso da liberdade. São todos os imperialistas provocadores de
uma nova Guerra Mundial, principalmente EUA/Israel e as potências ocidentais,
mas não só. A disputa interimperialista só pode levar o mundo à beira do abismo
da guerra mundial. Logo, antes pelo contrário, vivemos ainda a época das
guerras, mas particularmente das justas guerras dos povos pela sua libertação e
pelo socialismo, esta que é única via comprovada uma e mil vezes, para opor a
guerra injusta e para que a humanidade progressista e democrática atravesse o
inferno e assalte os céus.
¨ Guerras pelas hidrovias, a luta histórica pelos
estreitos e canais estratégicos do Mundo
A ameaça de Donald
Trump de tomar o canal do Panamá e a interrupção pelos houthis do transporte
comercial através do canal de Suez, lembrou ao mundo a importância das vias
estratégicas para o comércio global. Quais foram as disputas pelas mais
importantes artérias comerciais ao longo da história? A Sputnik explica.
<><> Canal
de Suez
Construído na
década de 1860 durante as campanhas imperiais europeias de conquista de grandes
áreas da África e da Ásia, o canal de Suez desempenharia
um papel fundamental nos conflitos globais do século seguinte:
As forças otomanas
tentaram tomar o Suez em 1915 e 1916 durante a Primeira Guerra
Mundial, buscando cortar a Entente — a aliança militar formada em 1907 entre a
França, o Reino Unido e o Império Russo — de sua rota marítima mais rápida para
a Ásia;
Em
1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o Corpo Africano de Rommel — força
expedicionária alemã enviada para a África — se aproximou a 350 quilômetros do
canal antes de ser repelido. Se o canal tivesse sido capturado, as operações
navais dos Aliados no Mediterrâneo teriam sido severamente prejudicadas, e as
forças do Eixo poderiam ter avançado para os campos de petróleo do Oriente
Médio;
Em 1956, durante os
primeiros anos da Guerra Fria, a nacionalização do canal de Suez por Gamal
Abdel Nasser desencadeou uma invasão pela França e pelo Reino Unido, buscando
recuperar o controle colonial, e por Israel, indignado com a postura
antisionista de Nasser. A agressão foi frustrada por ameaças de intervenção
soviética e pela surpreendente recusa dos EUA em apoiar seus aliados.
Avançando para
hoje, o Suez se tornou uma vítima do conflito entre Israel e os houthis,
com o Egito perdendo bilhões em receitas de trânsito somente em
2024.
<><> Canal
do Panamá
O Panamá foi parte
da Colômbia até 1903, quando forças pró-independência (convenientemente)
apoiadas por navios de guerra dos EUA declararam independência. O presidente
Teddy Roosevelt se gabaria mais tarde: "Eu fiz o Panamá". A
construção do moderno canal do Panamá começou logo depois, em 1904;
Em 1989, os EUA
invadiram o Panamá para expulsar o antigo aliado Manuel Noriega. Oficialmente,
a invasão era sobre "defender a democracia" e combater o tráfico de
drogas. Na realidade, Washington temia que Noriega pudesse descartar as
disposições de um tratado que garantisse a presença militar permanente dos EUA
na região.
Trinta e cinco anos
depois, o presidente eleito Trump ameaçou tomar o canal,
gerando condenação tanto entre os líderes panamenhos quanto entre as
autoridades em Washington, preocupadas por ele falar novamente do tema em voz
alta.
<><> Estreito
de Ormuz
Situado na foz do golfo Pérsico e responsável
pelo embarque de um quarto do petróleo mundial, o estreito de Ormuz provou
ser o principal ponto de estrangulamento marítimo da era industrial — algo
sem dúvida previsto pela Grã-Bretanha quando subjugou os Estados árabes
adjacentes ao estreito em 1820.
A Guerra Irã-Iraque
de 1980-1988 mostrou o quão importante é o estreito de Ormuz, com
Saddam Hussein tentando provocar Teerã a fechar o estreito para desencadear uma
intervenção norte-americana em larga escala.
Hoje, o Irã diz que
sua estratégia militar inclui fechar
o estreito no caso de uma grande agressão dos EUA ou de Israel para forçar
os planejadores em Washington e Tel Aviv a pensar duas vezes antes de
começar uma guerra que poderia desencadear uma depressão global.
<><> Estreitos
turcos
Da era imperial e
da Guerra Fria até o presente, os estreitos turcos do Bósforo e de
Dardanelos têm
sido pontos fundamentais na competição pelo acesso aos mares Negro e
Mediterrâneo.
Sob o
secreto Acordo de Constantinopla de 1916, a Grã-Bretanha e a França
prometeram transferir Constantinopla (Istambul) e os estreitos para o Império
Russo se a Entente vencesse a guerra. As promessas foram esquecidas
imediatamente após a Revolução Russa;
Após a Segunda
Guerra Mundial, a URSS propôs o controle militar conjunto sobre os estreitos
turcos, à semelhança do controle dos EUA sobre o canal do Panamá e o da
Grã-Bretanha sobre o Suez;
Preocupada com a
passagem sem perturbações de navios de guerra do Eixo pelos estreitos durante a
guerra e com a aproximação de Ancara a Washington imediatamente depois,
a URSS exigiu o controle militar conjunto sobre os estreitos. A
Turquia recusou, acabando por se juntar à Organização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN).
Hoje, os estreitos
turcos continuam sendo um nó-chave para o comércio global — especialmente
para as remessas de grãos da Rússia e da Ucrânia. Os estreitos foram fechados
para navios de guerra após o início da guerra por
procuração Rússia-OTAN
na Ucrânia em 2022.
<><> Estreito
de Malaca
A importância desta
rota marítima internacional ficou clara ainda nos anos 1500, quando os
portugueses a conquistaram do sultanato de Aceh. Na década de 1640, o
controle português foi substituído pelos holandeses, que o mantiveram até a
Segunda Guerra Mundial;
Durante a guerra, a
invasão e ocupação japonesa da Malásia e das Índias Orientais Holandesas deram
a Tóquio o controle total do estreito de Malaca entre 1942-1945.
Avançando para o
presente, as ameaças dos EUA de fechar o estreito estratégico para a
China e suas fontes de petróleo no Oriente Médio levaram Pequim a procurar rotas
alternativas,
como Mianmar.
Fonte: a Nova
Democracia/Sputnik Brasil
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