segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Os provocadores da guerra imperialista e o perigo da Guerra Mundial

Economistas burgueses em suas agências imperialistas todos previam uma crise gigantesca no “sistema financeiro” para o ano de 2019 e igualmente observavam os levantamentos explosivos de massas em luta como espasmos de uma crise social global quando irrompeu na China e que chegaria avassaladora à Europa ainda no mesmo ano, a crise do coronavírus. Saberíamos dois anos e meio e dezenas de milhões de mortos depois – efeito de uma verdadeira Guerra Mundial – o que viria a ser uma pandemia acompanhada de devastadora crise econômica e social.

Se, por um lado, a pandemia foi em si uma crise, por outro, foi também um antídoto, uma válvula de escape para outra maior, geral do sistema de exploração. Carregava em seu seio, não obstante, os dois lados da crise de superprodução relativa do sistema capitalista em sua fase agonizante, que para adiar sua bancarrota completa, gera crises cada vez mais destruidoras nas economias internas, que à primeira vista parece agir contra si própria, provocando distúrbios, mas que tem por objetivo desacelerar sua decomposição: A própria definição de agonia. “Destrói” a economia em crise para salvar-se da própria crise geral. Resultado dela, saem mais fortes os monopólios, acentua-se a busca pelo lucro máximo e aumentam momentaneamente as taxas de lucro, se reorganizam as cadeias produtivas ao destruir boa parte dela. Em suma, recriam, por toda parte e em marcha cadente progressiva, as condições de outra fratura, nova e ainda maior; que se vê ali adiante em todos seus traços.

O “quê fazer” das potências e superpotências é sempre este: precisam lutar cada vez mais e desesperadamente por sustentarem-se enquanto tal, o que implica, pelo contrário, acentuação do sistema de escravidão das nações esmagadas, maior resistência de seus povos e maior competição entre os senhores destas. Traduz-se numa lei, cuja definição por parte daqueles que têm exposto as entranhas deste cancro chamado imperialismo com o objetivo de extirpá-lo é a da tendência para a guerra. Tendência esta que tem se concretizado parcialmente no presente em alguns fatos que tratamos a seguir.

·        A contraofensiva russa

Logo no primeiro semestre do ano de 2022, no momento em que os povos do mundo ainda sentiam os efeitos da crise pandêmica, Vladimir Putin invade o território ucraniano e desata uma guerra de agressão àquela nação. Longe de mera resposta ao cerco promovido por EUA e OTAN, pois há também a causa interna da própria economia imperialista em frangalhos dos herdeiros do tsar, é certo que a acentuação do primeiro conflito; entre potências e superpotências, leva ao agravamento do outro, entre países opressores e oprimidos – este sendo o principal no mundo hoje. Enquanto apoiou-se por curto período nas massas do povo ucraniano, a guerra de resistência impôs pesadas baixas ao invasor russo, criando, por momentos, situação de atoleiro militar para os agressores e propício para o desenvolvimento e crescimento de ampla resistência nacional antirrussa. Todavia, a atuação vergonhosa de Zelensky como capacho da OTAN e EUA e ao não se apoiar nas massas do bravo povo ucraniano, debilitou enormemente a resistência, tanto na moral, quanto na opinião pública, na medida em que se fiava nas armas dos imperialistas e contava com auxílio de grupos paramilitares neonazistas, favorecendo a propaganda de guerra russa (tão demagógica, quanto cínica) de “desnazificação” do país. Em vez de buscar alianças locais, especialmente na sua fronteira, o chefe de Estado ucraniano apoiou todas as políticas imperialistas ianques de embargo à economia russa, o que golpeou a Europa e jogou as classes dominantes na Alemanha para uma situação de desespero e só fez fortalecer a burguesia imperialista chinesa. Cresceram as forças nacionalistas por toda Europa na base da condenação da desestabilização causada pelos ianques no velho continente desde o fim da Guerra Fria e na possibilidade de mais uma guerra devastadora para o seu território. Tais forças podem amanhã estar no poder e a Ucrânia seria um pária nesse cenário.

As recentes declarações dos caudilhos militares ianques sobre a Ucrânia, somadas ao papel de Zelensky reduzido ao mísero fantoche, antes palhaço (este já o era de maneira mais digna profissionalmente antes de ser um títere ocidental) e a necessidade de Trump por conter a China em Taiwan, sua batalha principal, impõem um acordo de capitulação humilhante à Ucrânia: Passar para as mãos dos novos tsares atômicos, quase metade de seu território. Selado o acordo entre as partes (EUA e Rússia), Zelensky, o peão no tabuleiro, será imprestável para os imperialistas – já o era para o seu povo. No apagar das luzes, Putin lança sobre a Ucrânia – num recado muito claro para toda Europa ocidental – um míssil com capacidade de transportar ogivas nucleares, provavelmente cedidos pelo Irã e, ato contínuo, assina uma acordo de cooperação militar com a Coreia do Norte. Voltamos à chantagem nuclear.

·        Crise de dominação ianque no Oriente Médio

A derrota amargada por Joe Biden no Afeganistão em 2023 anunciara uma nova alvorada dos povos oprimidos, porém ainda sombreada de dúvidas, principalmente por parte de uma opinião pública geral intelectualizada e aburguesada, para com as forças presentes na vanguarda daquela guerra de libertação que terminou com o escorraçamento das tropas invasoras. Situação distinta da Resistência Nacional Palestina, que granjeou apoio internacional quase inconteste – ainda que sempre haverá reservas covardes aqui ou acolá, cada vez mais isoladas, contudo. O transcendental Dilúvio de Al-Aqsa, em 7 de outubro, mudou o mundo. Derrotou os planos do imperialismo ianque na região e, mais que isso, colocou na mesa e de forma contundente, o início do fim do protervo plano nazi-sionista do Estado de Israel. A resposta genocida israelense colocou seus amos ianques em maus lençóis, ampliou o apoio à causa do povo palestino, sobretudo à sua via revolucionária da luta armada de libertação nacional e, frente ao colapso da dominação imperialista na região, teve de ampliar a guerra para países vizinhos que colaboram com os grupos armados que lutam por libertação. O resultado foi a escalada do conflito, agora num degrau superior ao que gostariam os provocadores. Netanyahu é a besta na coleira e tem sonhos febris de se converter no líder da “grande israel”. Sem poder contê-lo totalmente, resta aos EUA neutralizar o máximo as forças guerrilheiras da Resistência enquanto busca um acordo de cessar-fogo que o favoreça com os Estados árabes. O novo mandatário imperialista está disposto a tudo para poder conter a China, mesmo “perder” a batalha contra o Hamas; condições favoráveis para um cessar-fogo.

Em paralelo, puderam impor, com ajuda de Israel, uma derrota à Rússia na Síria. A recente capitulação de Bashaar Al-Assad deve assim ser vista, como uma retomada pelos EUA de uma área antes sob domínio russo. Não é difícil imaginar que quem foi vendida na mesa de negociações fora a Ucrânia. Com a Síria rifada e prestes a ser retalhada, resta clara a conclusão de que fora um erro das forças de libertação curda de elegerem grupos como o Estado Islâmicos (ISIS ou Daesh) como inimigo principal, fazendo frente única com o imperialismo ianque e grupos mercenários por combatê-los, debilitando a resistência nacional síria – o que também não anula o erro de forças progressistas apoiarem o lacaio Assad, apoiado pelos russos enquanto era conveniente. Com a Síria entregue às mãos dos terroristas, ato contínuo ao avanço de Israel e do fascista Erdogan, a causa curda corre sério risco, só podendo encontrar saída ao se unir às lutas revolucionárias dos povos turco, palestino, libanês e sírio contra o imperialismo, como inimigo principal e todos os lacaios reacionários. Mais uma vez a história se repete, de que a causa nacional não pode ter bastão de mando de nenhum imperialista, enquanto assim o for, a luta estará fadada ao fracasso. Outra vez, permanece resplandecente o exemplo palestino.

·        China e Ásia

Com a divisão do front norteamericano entre Oriente Médio e Ucrânia, sobretudo com a ofensiva tática de 7 de outubro na Palestina, a China viu as condições se criarem para a retomada do seu território em Taiwan; perda significante para os EUA. Neste contexto de iminente operação por retomar a ilha, há a tentativa de golpe na Coreia do Sul e provoca tremores em terras atômicas da Coreia do Norte.

Objetivamente, aceitar a ordem “multipolar” seria, na prática, aceitar a acensão de uma nova superpotência hegemônica e/ou única: China. Mas isso vai contra a lei do imperialismo da necessidade da guerra pela repartilha do mundo. Por isso mesmo, não passam de sonhos e delírios oportunistas e de patética esperança ver na China a “quebra da hegemonia” ou o fim do imperialismo mesmo e que esta conduza o mundo a esse paraíso da liberdade. São todos os imperialistas provocadores de uma nova Guerra Mundial, principalmente EUA/Israel e as potências ocidentais, mas não só. A disputa interimperialista só pode levar o mundo à beira do abismo da guerra mundial. Logo, antes pelo contrário, vivemos ainda a época das guerras, mas particularmente das justas guerras dos povos pela sua libertação e pelo socialismo, esta que é única via comprovada uma e mil vezes, para opor a guerra injusta e para que a humanidade progressista e democrática atravesse o inferno e assalte os céus.

 

¨      Guerras pelas hidrovias, a luta histórica pelos estreitos e canais estratégicos do Mundo

A ameaça de Donald Trump de tomar o canal do Panamá e a interrupção pelos houthis do transporte comercial através do canal de Suez, lembrou ao mundo a importância das vias estratégicas para o comércio global. Quais foram as disputas pelas mais importantes artérias comerciais ao longo da história? A Sputnik explica.

<><> Canal de Suez

Construído na década de 1860 durante as campanhas imperiais europeias de conquista de grandes áreas da África e da Ásia, o canal de Suez desempenharia um papel fundamental nos conflitos globais do século seguinte:

As forças otomanas tentaram tomar o Suez em 1915 e 1916 durante a Primeira Guerra Mundial, buscando cortar a Entente — a aliança militar formada em 1907 entre a França, o Reino Unido e o Império Russo — de sua rota marítima mais rápida para a Ásia;

Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, o Corpo Africano de Rommel — força expedicionária alemã enviada para a África — se aproximou a 350 quilômetros do canal antes de ser repelido. Se o canal tivesse sido capturado, as operações navais dos Aliados no Mediterrâneo teriam sido severamente prejudicadas, e as forças do Eixo poderiam ter avançado para os campos de petróleo do Oriente Médio;

Em 1956, durante os primeiros anos da Guerra Fria, a nacionalização do canal de Suez por Gamal Abdel Nasser desencadeou uma invasão pela França e pelo Reino Unido, buscando recuperar o controle colonial, e por Israel, indignado com a postura antisionista de Nasser. A agressão foi frustrada por ameaças de intervenção soviética e pela surpreendente recusa dos EUA em apoiar seus aliados.

Avançando para hoje, o Suez se tornou uma vítima do conflito entre Israel e os houthis, com o Egito perdendo bilhões em receitas de trânsito somente em 2024.

<><> Canal do Panamá

O Panamá foi parte da Colômbia até 1903, quando forças pró-independência (convenientemente) apoiadas por navios de guerra dos EUA declararam independência. O presidente Teddy Roosevelt se gabaria mais tarde: "Eu fiz o Panamá". A construção do moderno canal do Panamá começou logo depois, em 1904;

Em 1989, os EUA invadiram o Panamá para expulsar o antigo aliado Manuel Noriega. Oficialmente, a invasão era sobre "defender a democracia" e combater o tráfico de drogas. Na realidade, Washington temia que Noriega pudesse descartar as disposições de um tratado que garantisse a presença militar permanente dos EUA na região.

Trinta e cinco anos depois, o presidente eleito Trump ameaçou tomar o canal, gerando condenação tanto entre os líderes panamenhos quanto entre as autoridades em Washington, preocupadas por ele falar novamente do tema em voz alta.

<><> Estreito de Ormuz

Situado na foz do golfo Pérsico e responsável pelo embarque de um quarto do petróleo mundial, o estreito de Ormuz provou ser o principal ponto de estrangulamento marítimo da era industrial — algo sem dúvida previsto pela Grã-Bretanha quando subjugou os Estados árabes adjacentes ao estreito em 1820.

A Guerra Irã-Iraque de 1980-1988 mostrou o quão importante é o estreito de Ormuz, com Saddam Hussein tentando provocar Teerã a fechar o estreito para desencadear uma intervenção norte-americana em larga escala.

Hoje, o Irã diz que sua estratégia militar inclui fechar o estreito no caso de uma grande agressão dos EUA ou de Israel para forçar os planejadores em Washington e Tel Aviv a pensar duas vezes antes de começar uma guerra que poderia desencadear uma depressão global.

<><> Estreitos turcos

Da era imperial e da Guerra Fria até o presente, os estreitos turcos do Bósforo e de Dardanelos têm sido pontos fundamentais na competição pelo acesso aos mares Negro e Mediterrâneo.

Sob o secreto Acordo de Constantinopla de 1916, a Grã-Bretanha e a França prometeram transferir Constantinopla (Istambul) e os estreitos para o Império Russo se a Entente vencesse a guerra. As promessas foram esquecidas imediatamente após a Revolução Russa;

Após a Segunda Guerra Mundial, a URSS propôs o controle militar conjunto sobre os estreitos turcos, à semelhança do controle dos EUA sobre o canal do Panamá e o da Grã-Bretanha sobre o Suez;

Preocupada com a passagem sem perturbações de navios de guerra do Eixo pelos estreitos durante a guerra e com a aproximação de Ancara a Washington imediatamente depois, a URSS exigiu o controle militar conjunto sobre os estreitos. A Turquia recusou, acabando por se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Hoje, os estreitos turcos continuam sendo um nó-chave para o comércio global — especialmente para as remessas de grãos da Rússia e da Ucrânia. Os estreitos foram fechados para navios de guerra após o início da guerra por procuração Rússia-OTAN na Ucrânia em 2022.

<><> Estreito de Malaca

A importância desta rota marítima internacional ficou clara ainda nos anos 1500, quando os portugueses a conquistaram do sultanato de Aceh. Na década de 1640, o controle português foi substituído pelos holandeses, que o mantiveram até a Segunda Guerra Mundial;

Durante a guerra, a invasão e ocupação japonesa da Malásia e das Índias Orientais Holandesas deram a Tóquio o controle total do estreito de Malaca entre 1942-1945.

Avançando para o presente, as ameaças dos EUA de fechar o estreito estratégico para a China e suas fontes de petróleo no Oriente Médio levaram Pequim a procurar rotas alternativas, como Mianmar.

 

Fonte: a Nova Democracia/Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: