É provável que
Trump rife a Ucrânia e promova a acomodação geopolítica com a Rússia, aponta
analista
Em entrevista o
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o que esperar do
novo mandato de Trump em questões nevrálgicas como a relação entre EUA e China
e o conflito ucraniano, e se a mira do republicano pode, eventualmente, se
voltar para o Brasil.
Donald Trump tomou
posse nesta segunda-feira (20) para o seu segundo mandato como
presidente dos EUA. Sua chegada à Casa Branca ocorre em meio a uma série
de incertezas geradas pelas declarações polêmicas que disparou antes mesmo
de vencer as eleições presidenciais.
Trump já falou em anexar
o Canadá, publicou um mapa com o território do Canadá anexado aos
EUA, ameaçou comprar a Groenlândia, ainda que a Dinamarca não queira
vender, defendeu aumentar a contribuição dos países da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) de 2% para 5% e ameaçou taxar os países do BRICS em
100%, caso não desistam de uma moeda alternativa ao dólar para transações entre
seus integrantes.
Em entrevista
ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam
quais ameaças
disparadas por Trump correm
o risco de serem concretizadas e se ele pode, eventualmente, voltar a sua mira
para o Brasil.
Thiago Rodrigues,
professor de relações internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da
Universidade Federal Fluminense (Inest/UFF), afirma que a retórica de
Trump sempre traz consigo uma ideia de que os EUA são uma grande vítima de vários
complôs ou articulações globais, que vão desde tentativas de destruição da
indústria americana pelos chineses até questões geopolíticas que ameaçariam os
EUA, como questões no Ártico, na Rússia e na Europa.
"Essa retórica
vitimista é sempre preocupante porque ela procura mobilizar a sociedade de um
país, quando ela é colocada sempre como uma preparação, na verdade, para o que
seria uma defesa a contra-ataques externos. Mas como esses ataques são muitas
vezes construídos, não são reais, essa retórica prepara a sociedade para o
ataque. Ou seja, prepara para mobilizações de cunho agressivo no
exterior", explica.
Ele acrescenta que,
em paralelo, Trump se fortalece por um apoio interno além do tradicional, que
inclui um conjunto de magnatas do chamado "novo capitalismo",
como Mark Zuckerberg e Elon Musk, que, segundo ele, de forma muito oportunista
se aproximaram dele e pegaram carona em seu discurso.
Rodrigues afirma
que atualmente a China cumpre o papel de "inimigo
crível" para a população americana, por ser um grande país, com
grandes recursos tecnológicos e um Estado forte.
"É muito mais
visível, muito mais pautável para um cidadão médio entender outro país poderoso
como inimigo do que, por exemplo, uma rede terrorista, que é algo muito mais
fluido, algo sem materialidade. Então isso é mais fácil de vender e, ao mesmo
tempo, tem uma batalha comercial imensa colocada com os chineses que é difícil
saber até que ponto ela é real, porque há enormes interesses do capitalismo
americano na economia chinesa", afirma.
Há uma expectativa
de um encontro em breve entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin. A
Suíça já ofereceu seu território para o encontro. Questionado sobre o que
esperar de Trump em relação ao conflito
ucraniano,
Rodrigues frisa que o ucraniano Vladimir Zelensky deve ter sido "a
primeira pessoa a ter entrado em pânico" após ser anunciada a vitória
de Trump no pleito presidencial americano.
"Porque a
aproximação de Trump com Putin no primeiro mandato foi grande e me parece que
faz parte dos cálculos geopolíticos de Washington sob [a gestão] Trump uma
política de acomodação e apaziguamento com a Rússia. Assim foi na época da
Crimeia e como tudo indica que vai ser assim também na Rússia", afirma.
Ele acrescenta que
isso é o que Trump sinalizou ao afirmar que vai acabar com o conflito ucraniano
em apenas 24 horas.
"Quando Trump
diz que vai resolver rapidamente a questão da guerra na Ucrânia, essa resolução
rápida [...] parece que é uma sinalização do tipo: 'Olha, Putin, você consolida
o que o você já conquistou agora. O Zelensky e os ucranianos vão ter que se
conformar com o que eles têm e a gente acaba essa guerra agora, a gente faz
algum tipo de compensação para a Ucrânia'", diz o analista.
Segundo ele, é
provável que Trump exija alguma garantia de que a Ucrânia não seja incorporada,
de fato, ao sistema europeu da OTAN e à União Europeia (UE).
"Eu acho que,
para falar no português bem claro, a Ucrânia vai ser rifada pelo Trump. [...]
Acho que interessa mais ao Trump uma Rússia (não aliada, seria muito forte
dizer isso), mas uma Rússia com que [...] se pode acertar grandes questões geopolíticas,
do que insistir nessa diretriz que vinha sendo dos EUA sob [a gestão] Biden de
apoiar o Zelensky e de apoiar uma expansão que interessava, por exemplo, a
Alemanha, uma expansão do sistema europeu à fronteira com a Rússia."
Roberto Goulart Menezes,
professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB),
considera que a China será a questão central no primeiro ano do novo
mandato de Trump. Ele destaca que o país asiático alcançou um superávit
comercial em 2024 de quase US$ 1 trilhão (cerca de R$ 6 trilhões).
"A China já
detém quase um terço da produção industrial do planeta, isso é praticamente
inédito, esses números são inéditos para o comércio mundial. E nós sabemos que
isso dá a dimensão do tamanho do desafio dos EUA com o Trump para lidar com a
China", afirma.
Ele lembra que as
políticas que Trump adotou para conter Pequim em seu primeiro mandato foram
mantidas na gestão Biden, e diz que "o governo Trump, é claro, tende
a mantê-las e fazer ajustes no sentido de aumentar a pressão contra a
China".
O especialista
afirma ainda que a América Latina "não será
poupada" da "política externa agressiva" de
Trump, e é esperado um aumento de pressão, principalmente sobre Cuba e
Venezuela.
"Nós temos aí
tudo para esperar um aumento da pressão contra o governo de [Nicolás] Maduro na
Venezuela, que tomou posse no último dia 10 de janeiro para o seu terceiro
mandato, também isolado na região, isolado internacionalmente. Então isso
aumenta as dificuldades do governo Maduro."
Ademais, ele aponta
que a mira de Trump pode, sim, se voltar ao Brasil, apesar do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e do assessor especial da Presidência para Assuntos
Internacionais, Celso Amorim, afirmarem que o Brasil se relacionará bem
com a gestão Trump assim como se relacionou bem com a gestão de George W. Bush
(2001-2009).
"Tudo leva a
crer que o Brasil também vai ter dificuldades com Trump, porque Trump vai
adotar medidas comerciais indiscriminadas, [e isso] vai afetar o Brasil",
afirma.
Sobre a questão do
financiamento ucraniano, Menezes destaca que os EUA já colocaram mais de US$
200 bilhões (cerca de R$ 1,2 trilhão) de dólares na Ucrânia e que Biden
implicou os EUA no conflito, o que a gestão Trump considera que é algo que pode
ser revisto.
"Eu acho que a
política de Trump em relação à Rússia, se a gente lê pela Estratégia de
Segurança Nacional dos EUA, tanto a de 2017 quanto a de 2022, nenhuma das duas
colocam a Rússia como alvo central."
Já em relação ao
Brasil, Menezes afirma que é provável que Trump cancele o apoio de US$ 500
milhões (cerca de R$ 3 bilhões) prometido por Biden ao Fundo Amazônia.
"E em relação
à Amazônia, hoje o que preocuparia ou preocupa o Brasil é uma possível ação
militar da Venezuela contra a Guiana, que poderia levar a uma entrada dos EUA [em
um eventual conflito], e os EUA a fincarem uma base militar [na
Amazônia]", afirma o especialista.
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Rússia está aberta para dialogar com administração Trump sobre conflito
ucraniano, afirma Putin
A Rússia está
pronta para dialogar com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sobre o
conflito ucraniano, disse o presidente russo Vladimir Putin em uma reunião do
Conselho de Segurança da Rússia na segunda-feira (20).
O presidente Putin
parabenizou Trump pela posse, que ocorrerá hoje (20) às 12h00 (14h00, horário
de Brasília) na Rotunda do prédio do Congresso em Washington.
O líder russo
admitiu que a campanha eleitoral de Trump foi muito difícil, acompanhada com a
pressão contínua contra ele e sua família e que culminou com atentados contra
sua vida.
"Estamos
abertos ao diálogo com a nova administração dos EUA sobre o conflito
ucraniano. O mais importante aqui é abordar as raízes essenciais da
crise", disse Putin.
Ele sublinhou que
Moscou sempre esteve pronta para manter relações equitativas com qualquer
administração da
Casa Branca e nunca se recusou a dialogar.
A Rússia também vê
as declarações do presidente eleito Trump em que expressa desejo de recuperar
contatos diretos com Kremlin, rompidos pela administração do presidente
cessante Joe
Biden.
Moscou saúda as
palavras de Trump sobre a necessidade de fazer todo o possível para evitar
uma Terceira Guerra Mundial.
"Quanto à
resolução da situação em si, gostaria de enfatizar mais uma vez que seu
objetivo não deve ser um breve cessar-fogo, nem algum tipo de trégua para o
reagrupamento de forças e rearmamento para a subsequente continuação do
conflito, mas uma paz duradoura baseada no respeito aos interesses
legítimos de todas as pessoas, de todos os povos que vivem na região",
acrescentou.
Neste contexto,
Putin afirmou que a parte russa espera um diálogo
igualitário e
de respeito mútuo, que também incluiria as questões de estabilidade e segurança
estratégica.
O presidente russo
ressaltou que continuará lutando em prol dos interesses de seu povo:
"Esse é, na
verdade, o objetivo e o significado da operação
militar especial."
¨ Novo chanceler dos EUA: negociações com a Rússia
iniciarão 'quase imediatamente', pois é prioridade
O novo secretário
de Estado dos EUA, Marco Rubio, diz que o conflito ucraniano tem de terminar e
as negociações com a Rússia sobre o assunto devem começar "quase
imediatamente", uma vez que é uma das principais prioridades do presidente
Donald Trump.
Recém-promovido
ao cargo,
Rubio não anunciou um prazo certo do fim do conflito, mas confirmou que o novo
governo quer alcançar a paz.
"Queremos que
a guerra termine. Isso está bem claro. Vocês viram o presidente falar que ele
quer ser um presidente que promove a paz e acaba com conflitos, e isso
também será complicado", disse Rubio, citado
pelo canal de TV CNN.
Ele também alegou
que, de qualquer maneira, cada parte do conflito "vai ter que ceder
algo", reiterando mais uma vez que ele precisa terminar.
Quando perguntado
em que momento será possível estabelecer, pelo menos, um cessar-fogo na
Ucrânia, Rubio afirmou:
"Isso será uma
das principais
prioridades do
presidente, portanto, será quase imediata."
Marco Rubio, um
filho de imigrantes de Cuba, se tornou o secretário de Estado dos EUA na
administração Trump, sucedendo ao prévio Antony Blinken, conhecido por ter
se manifestado contra
negociações com a Rússia para a continuação da luta na Ucrânia.
Em abril de 2024,
Rubio votou contra um pacote de ajuda militar à Ucrânia de US$ 95 bilhões (mais
de R$ 573 bilhões).
Contudo, já ontem
(20), o presidente russo Vladimir Putin parabenizou Trump pela posse
e anunciou que a Rússia está
disposta a dialogar com
o novo presidente dos EUA sobre o conflito ucraniano.
¨ Laços entre China e Rússia não dependem da conjuntura
política, diz Putin
O presidente da
Rússia, Vladimir Putin, ressaltou que o trabalho conjunto da China e da Rússia
tem papel central no contexto da estabilidade nos assuntos internacionais
durante videochamada com o líder chinês, Xi Jinping, realizada hoje (21).
O líder russo
destacou que as negociações entre a China e a Rússia no início do ano já
são uma boa tradição. Conforme as palavras de Putin, os dois
países estão coordenando seus passos em organizações multilaterais,
inclusive na
ONU e
em seu Conselho da Segurança, na Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e
em outras.
O presidente russo
também mencionou o fato de que a China e a Rússia estão promovendo
juntamente a construção de uma ordem multipolar justa e realizando um
trabalho em prol dos interesses de segurança indivisível no espaço
euroasiático e no mundo inteiro.
"Estes
laços são autossuficientes e não dependem dos fatores de política
interna e conjuntura mundial atual", acrescentou o
presidente Putin.
Vladimir Putin
ressaltou que ambos os países têm um nível bastante alto de
desenvolvimento da cooperação econômica.
"Conforme os
dados chineses, ele [volume de negócios] totalizou quase US$ 245 bilhões [cerca
de R$ 1,5 trilhão]. China é o nosso parceiro-chave, e a
Rússia já
está no quinto lugar na lista dos países parceiros comerciais da
China", finalizou.
Durante os governos
de Xi Jinping e Vladimir Putin, o vínculo entre as duas nações se tornou
mais forte, afirmou o jornal
Global Times em dezembro de 2024.
Segundo a mídia,
tanto a Rússia como a China têm mantido estreita comunicação e coordenação
nas plataformas multilaterais das quais os países fazem parte, como o
BRICS, a ONU e a Organização para a Cooperação de Xangai, o que demonstra
mais claramente a independência e resiliência e dá o exemplo de
intercâmbios amistosos entre os principais países e vizinhos.
¨ Jornal revela quem
na administração Biden insistiu que a luta na Ucrânia continuasse
Sendo elogiado por
seus esforços em um conflito, o discurso final deste alto funcionário se
destacou pelas críticas duras e diretas em relação a um outro. Um dos jornais
mais importantes e famosos dos Estados Unidos, o The New York Times, chama-o de
"secretário da Guerra".
O turno de serviço
dessa pessoa começou com a retirada
desordenada do
pessoal norte-americano do Afeganistão, onde Washington acumulou forças e
meios durante 20 anos e deixou tudo em poucos dias em agosto de 2021.
A situação foi tão
precária que alguns congressistas do Partido Republicano demandaram que o
secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se demitisse, lembra o The New
York Times.
Porém, com o início
do conflito armado entre a Ucrânia e a Rússia, "chegou seu
momento".
Em uma entrevista
recente ao
mesmo jornal, Blinken admitiu que Washington começou a armar Kiev discretamente
mesmo antes do início da operação militar especial russa na Ucrânia, em
setembro e dezembro de 2021.
No novo artigo, o
jornal diz que no conflito ucraniano o secretário de Estado do EUA, de fato o
chanceler, foi mais um estrategista
da guerra do
que um pacificador.
"Quando o
presidente do Estado-Maior Conjunto, Mark Milley, sugeriu no final de 2022 que
a Ucrânia deveria capitalizar os ganhos no campo de batalha buscando
conversações de paz com Moscou, Blinken insistiu que a luta deveria
continuar", revela o The New York Times.
Porém, foi um novo
conflito armado que prejudicou significativamente a reputação do chefe
da diplomacia norte-americana.
Depois do ataque do
movimento palestino Hamas da Faixa de Gaza contra Israel em 7 de outubro de
2023, Blinken sublinhou não só a aliança histórica entre Tel Aviv e Washington,
mas também sua etnicidade
judia nessa
questão.
Mas quanto mais
assustadores se tornavam os métodos
de guerra israelenses em
Gaza, mais crescia a desilusão do público com o secretário de Estado, tendo com
o pano de fundo o declínio de eficácia de suas visitas numerosas ao Oriente
Médio.
"De todos os
personagens do elenco no topo, Antony Blinken tem sido o mais
decepcionante", cita o jornal um diplomata e veterano da guerra do Iraque,
Michael Casey, que se demitiu no ano passado de seu cargo no Departamento de
Estado em Jerusalém, onde trabalhou sobre Gaza.
Seus últimos
discursos finais foram ofuscados por manifestantes que trouxeram
cartazes "Blinken: Criminoso de Guerra" e gritaram com ele
acusando-o de genocídio.
"O trabalho do
sr. Blinken e sua reputação com o conflito estão tão entrelaçados que ele
poderia muito bem ser chamado por um título de gabinete cancelado que ainda
está nas placas do antigo prédio do Departamento de Estado – secretário da
Guerra", afirma o jornal.
O Departamento
de Guerra dos Estados Unidos foi um antigo departamento executivo do
governo dos EUA responsável pela coordenação do Exército dos EUA, dissolvido em
1949.
Fonte: Sputnik
Brasil
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