Da taxa das blusinhas à reforma tributária: entenda
as principais leis aprovadas pelo Congresso em 2024
Com clara prioridade na pauta econômica, o Congresso
aprovou neste ano matérias que impactam diretamente na vida do consumidor, como
a “taxação das blusinhas” e o detalhamento da reforma tributária sobre o consumo. Também foram aprovadas nas
duas Casas ou viraram leis propostas de corte de gastos e aumento da
arrecadação.
A
reoneração gradual da folha de pagamento, após uma extensa queda de braço entre
os Poderes, é um desses exemplos. Na esteira da pauta econômica, também foram
aprovados no final deste ano o pacote de corte de gastos, de iniciativa do
Executivo, e a regulamentação da reforma tributária. Na área social, o
Congresso aprovou um pacote de projetos que combatem a violência contra a
mulher, a reforma do Ensino Médio e a Lei dos Concursos, que permite a
realização de provas online.
Confira
as principais propostas aprovadas pelo Congresso em 2024:
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Taxa
das blusinhas
Sancionada
em junho pelo presidente Lula, a lei que institui o programa Mover (Mobilidade
Verde) ficou conhecida pelo “jabuti” – isto é, uma proposta que não tem relação
direta com o texto principal – da “taxa das blusinhas”. Com a nova lei, foi incluída uma taxa de 20%
para compras internacionais de até US$ 50. Antes, produtos dessa faixa de
preço eram isentos pelo Remessa Conforme. Para produtos com valores entre
US$ 50,01 e US$ 3 mil, a taxa é de 60%, com uma dedução fixa de US$ 20 no
imposto total. A taxa se somou ao Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), cobrada pelos estados. Saiba como calcular.
·
Reoneração
da folha
Após um
cabo de guerra entre Executivo e Legislativo, os poderes entraram em consenso
para propor uma reoneração gradual da folha de pagamento dos 17 setores antes contemplados pela
desoneração. O acordo sancionado em setembro prevê que a contribuição
previdenciária aumentará 5% ao ano até atingir 20% em 2028, completando assim a
reoneração integral.
·
Pacote
fiscal
Entre
as últimas matérias votadas pelo Congresso no ano, o pacote de corte de gastos
ou de ajuste fiscal foi formado por três propostas apresentadas pelo governo
para adequar despesas do Executivo ao novo arcabouço fiscal. Já promulgada, a
emenda constitucional limita o número de beneficiários do abono salarial e prorroga a Desvinculação de Receitas da
União até 2032. O projeto de lei complementar, por sua vez, estabelece que benefícios do INSS
não podem ultrapassar o crescimento do arcabouço fiscal, enquanto o projeto de lei também prevê o mesmo intervalo de crescimento para
o salário mínimo.
·
Regulamentação
da reforma tributária
O
primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária teve o texto final aprovado pela Câmara em 17
de dezembro. O novo sistema substitui os atuais ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI
por um único tributo, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), dividido em três
sub-alíquotas: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que será distribuído a
estados e municípios, a Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS),
distribuída à União, e o Imposto Seletivo (IS), que incidirá sobre itens
nocivos à saúde e/ou meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e bebidas
açucaradas.
A
proposta aprovada define uma lista de produtos e serviços que serão
sobretaxados pelo Imposto Seletivo (IS). Apelidado de “imposto do pecado”, o IS
será uma sobretaxa sobre bens e serviços considerados prejudiciais à saúde ou
ao meio ambiente. Na prática, os itens desta categoria terão uma tributação
maior do que a alíquota-comum — estimada pela Fazenda em 27,97%. Entre esses
produtos, bebidas alcoólicas e açucaradas, cigarros e carros. A reforma
introduz incentivos específicos voltados para a saúde pública e medicamentos
essenciais.
Haverá
um controle para impedir que a alíquota-geral do IBS e CBS ultrapasse 26,5%,
com avaliações periódicas para possíveis ajustes. O projeto define os produtos
da cesta básica que terão alíquota zero, como carnes, frangos, peixes, leite e
café. E aqueles que terão um corte de 60% nas cobranças do IBS e da CBS, como
óleos e cereais.
Outra
proposta de regulamentação aprovada este ano pela Câmara foi a que institui o
Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A matéria aguarda
apreciação do Senado.
·
Dívidas
dos estados
Também
aprovado em dezembro, o Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados
(Propag) dispõe sobre a
renegociação das dívidas. Atualmente, os maiores devedores são: Rio de Janeiro,
São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A dívida total é estimada em R$
764,9 bilhões, os quatro estados representam R$ 683,9 bilhões, ou seja, 90% da
dívida total. O texto aprovado, porém, prevê a concessão de benefícios
específicos para o Rio Grande do Sul, em razão do período de recuperação das
enchentes que o estado ainda passa.
·
Emendas
parlamentares
Em
disputa entre Supremo e Congresso, as emendas parlamentares receberam novos critérios com a sanção da Lei
Complementar 210/2024. Fruto de acordo entre os Três Poderes, o texto aponta
que os parlamentares também devem usar 50% dos recursos das emendas de comissão para
ações de saúde, independente do tema do
colegiado. Além disso, para garantir mais transparência às emendas de
transferência especial, conhecidas como emendas Pix, o parlamentar autor deve
indicar o ente beneficiado, o objeto e o valor assim que apontar o recurso e
obras inacabadas deverão ser priorizadas.
·
Violência
contra a mulher
Aprovado
no início de dezembro, em meio à campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da
Violência Contra as Mulheres”, um pacote com 13 projetos propõe medidas de combate à
violência contra a mulher. Entre
as matérias aprovadas, estão um PL que prevê a aproximação do agressor, em
qualquer caso, como violação da medida protetiva, um projeto que dispõe sobre a
oferta de aplicativos de celulares para atendimento, e uma proposta para criar
o crime de violação virtual de domicílio, quando a vítima tem sua privacidade
violada de forma digital.
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Novo
Ensino Médio
Sancionada
em agosto, a Lei nº 14.945/24 reforma o chamado novo Ensino Médio em território nacional. As principais mudanças
dizem respeito à ampliação da carga horária da Formação Geral Básica (FGB), que
passa a ser de 2.400 horas, e à definição dos itinerários formativos. Os
itinerários formativos incluem linguagens e suas tecnologias; matemática e suas
tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ou ciências humanas e
sociais aplicadas e permitem aos estudantes escolherem as disciplinas mais
adequadas para carreira que almejam. Pela nova lei, o início de
implementação das reformas deve ocorrer já em 2025, no caso de alunos
ingressantes no ensino médio. Os que já estiverem com o ensino médio em curso
terão um período de transição.
·
Combustível
do Futuro
Uma das
propostas aprovadas pelo Congresso atreladas à transição energética e
diminuição da emissão de gases de efeito estufa, o Combustível do Futuro propõe o aumento das proporções de etanol na
gasolina e de biodiesel no diesel. Além disso, a lei também institui três
programas de incentivo à mobilidade verde: Programa Nacional de Combustível
Sustentável de Aviação, Programa Nacional de Diesel Verde (PNDV), e o Programa
Nacional de Descarbonização do Produtor e Importador de Gás Natural e de
Incentivo ao Biometano.
·
Lei dos
Concursos
Sancionada
em setembro, a Lei dos Concursos cria norma geral para os concursos públicos federais. A principal mudança com o texto que estava há 20
anos em tramitação no Congresso é a possibilidade dos certames serem realizados
total ou parcialmente à distância, de forma online. O texto também
estabelece cinco critérios para a abertura dos concursos públicos: evolução do
quadro de pessoal, denominação e quantidade dos postos a prover,
inexistência de concurso público anterior válido para os mesmos postos,
adequação do provimento dos postos, estimativa do impacto
orçamentário-financeiro no exercício previsto para o concurso e nos dois certames
seguintes.
¨
As
perspectivas para 2025. Por Marcus Pestana
A vida precedeu em muito o calendário gregoriano. No
entanto, há tradições culturais que se impõem à qualquer outra lógica racional.
O desenrolar dos fatos se comporta como moto-contínuo. Ainda assim insistimos
em quebrar o tempo e enquadra-lo em dias, semanas, meses, anos e séculos. E é
como se, na madrugada que separa o 31 de dezembro do primeiro dia de janeiro,
mágicas e feitiços determinassem uma verdadeira mudança no curso da História. É
uma peculiar forma de sacudir a poeira do pessimismo e renovar a esperança num
futuro diferente. Como cantou Belchior: “Tenho sangrado demais. Tenho chorado pra
cachorro. Ano passado eu morri. Mas esse ano eu não morro”. No ano novo, tudo
é possível.
Longe
dos arroubos místicos ou da fé nas causas impossíveis, do jogo de búzios e das
bolas de cristais, o que é possível visualizar em relação ao cenário mais
provável para 2025 no Brasil?
Na
economia, certamente um crescimento menor que os 3,2% de 2023 e do 3,5% de
2024, alguma coisa entre 1,8% e 2,0%. A inflação deve ceder diante da política
contracionista do Banco Central e fechar em torno de 4%. Isto se as
expectativas dos agentes econômicos se acomodarem e as intervenções pontuais no
câmbio trouxerem o dólar para o patamar médio de R$ 5,80. O desequilíbrio
fiscal deve permanecer no centro da ribalta, já que o ajuste promovido foi
claramente insuficiente. O governo central deve apresentar um déficit primário
perto de 0%, quando o necessário para estabilizar a dívida seria um superávit
de 2,4%. Ou seja, nem crescimento chinês, nem inflação argentina, continuaremos
a produzir um horizonte muito aquém de nossas potencialidades.
Na
política, muitos fatos determinantes para a configuração do tabuleiro da
disputa nacional de 2026 serão definidos, principalmente em relação ao futuro
dos dois maiores líderes populares, num quadro ainda de extrema polarização. A
ineligibilidade ou não do ex-presidente Bolsonaro será amadurecida a partir do
desfecho dos diversos inquéritos e processos instalados. Também o quadro de
saúde do presidente Lula ficará mais claro e se irá ou não disputar a
reeleição. A presença ou não de Lula e Bolsonaro é decisiva para a delineação
dos contornos da próxima disputa presidencial e do ritmo da transição
geracional na política brasileira. Muitas fusões e federações partidárias serão
processadas em 2025, reconfigurando o quadro partidário brasileiro, como
resposta ao avanço da cláusula de desempenho eleitoral.
Na vida
social, infelizmente, nenhuma das revoluções necessárias em questões
fundamentais como educação de qualidade, capacidade de inovação tecnológica,
infraestrutura, aumento da produtividade e combate estrutural para a efetiva
superação da pobreza, está presente no horizonte de 2025.
Em
relação à sustentabilidade ambiental, o Brasil poderá ocupar um papel de
vanguarda se quiser e souber. Temos uma das matrizes energética mais limpas do
mundo, uma enorme cobertura florestal, um arcabouço institucional e legal
avançado e uma consciência coletiva crescente. O ponto alto será a COP30 que
será realizada em novembro em Belém do Pará.
Pelo
visto nada de muito espetacular está em perspectiva para o próximo ano no
Brasil. Mas, em se tratando de Brasil, é sempre bom deixar uma brecha de
incerteza para que o destino possa nos surpreender.
Fonte: Congresso em
Foco
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