Cinco verdades
sobre as bebidas alcoólicas para te ajudar a evitar a ressaca
Surtos de amnésia, dores de cabeça
lancinantes, letargia extrema e náuseas – tudo cruelmente combinado com uma
fome avassaladora.
Os sintomas parecem
descrever uma doença terrível, mas se trata da boa e velha ressaca, que costuma vir
depois de uma noite de ingestão de álcool.
O consumo de bebida
alcoólica está associado ao aumento do risco
para pelo menos sete tipos de câncer.
Uma das substâncias
apontadas como responsáveis por esse efeito é o acetaldeído, que tem a
capacidade de causar danos permanentes ao DNA e é produzido quando o álcool é
metabolizado pelo fígado.
Ele também é
apontado como causador de alguns dos sintomas da ressaca.
Os culpados potenciais
pelo fenômeno, entretanto, podem ser vários. Reunimos, a seguir, um pouco do
conhecimento que a ciência produziu sobre o assunto, que pode ser útil para
quem distância dos seus efeitos.
·
Vinho
tinto realmente causa dor de cabeça
Quando o assunto são
as dores de cabeça (um sintoma particularmente desagradável vivenciado por
algumas pessoas depois de beber), o vinho tinto tem má
reputação há muito tempo.
Mais de 2 mil anos
atrás, os antigos romanos já relacionavam os efeitos perturbadores da dor de
cabeça causada pelo vinho tinto.
Acreditou-se por
muito tempo que os ingredientes ativos causadores do mal-estar fossem compostos
como os sulfitos, mas o vinho branco contém a mesma quantidade desses
componentes e existem evidências que demonstram que ele não causa tanta dor de
cabeça quanto o tinto.
O responsável, na
verdade, pode ser um composto chamado
quercetina,
encontrado em grande quantidade na casca das uvas tintas, segundo uma recente
pesquisa realizada por cientistas da Universidade da Califórnia em Davis, nos
Estados Unidos.
Eles acreditam que
a quercetina prejudique o processamento normal do álcool em certas pessoas.
Normalmente, depois
que o corpo transforma o etanol do álcool em acetaldeído, a enzima ALDH
converte essa substância em acetato.
Nem sempre,
contudo, o tipo do álcool é o culpado pela dor de cabeça. Às vezes, a questão
recai sobre as características individuais na forma de metabolismo do álcool em
cada corpo.
Algumas pessoas
possuem enzimas que não processam o álcool com a mesma eficiência, e os níveis
de acetaldeído nocivo se acumulam, causando as famosas dores de cabeça.
·
O
efeito inebriante da expectativa
As pessoas podem
reagir ao álcool de formas inesperadas.
Algumas pessoas
costumam ficar violentas, desagradáveis, uma minoria fica triste, outras,
tagarelas.
Mas o escritor
David Robson explica no seu livro The Expectation Effect ("O
efeito da expectativa", em tradução literal) que os efeitos do álcool não
são totalmente químicos.
Expectativas
sociais podem ter influência em nossa reação quando bebemos.
Em um estudo,
participantes informados que haviam bebido vodca misturada com o energético Red
Bull se sentiram mais sob efeito do álcool do que os que receberam a indicação
de que teriam tomado um "coquetel de vodca" ou "de frutas
exóticas".
E aqueles que
acreditavam que misturar álcool com energéticos pode deixar as pessoas mais
bêbadas experimentaram os efeitos maiores.
Esta pode ser uma
forma de se sentir mais afetado pela bebida tomando uma quantidade mínima de
álcool.
·
O
mito de misturar bebidas
A sabedoria popular
afirma que nem todas as bebidas alcoólicas são criadas iguais, pelo menos em
termos da gravidade da ressaca que elas causam.
Existem certamente
algumas diferenças nas substâncias contidas nas bebidas alcoólicas que podem
influenciar a ressaca.
A principal delas é
o próprio álcool, que possui efeito diurético que pode deixar você desidratado
se não beber água suficiente junto com a bebida.
Também sabemos que
beber demais pode resultar em má qualidade do sono e nos deixar menos propensos
ao movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês), que nos deixa
renovados pela manhã.
Quanto mais alto o
teor alcoólico, mais fácil consumir a bebida em maior quantidade em um curto
espaço de tempo, especialmente no caso de coquetéis que mascaram o sabor com
ingredientes aromáticos.
O nosso corpo
normalmente consegue decompor o etanol em acetaldeído com muita rapidez, antes
de transformá-lo em ácido acético.
Mas os portadores
de uma variação genética que impede a sua decomposição permanecem com níveis
elevados de álcool no sangue depois de beber. Por isso, sua tendência é de
sofrer ressacas mais fortes.
Existem outras
substâncias ocultas na sua bebida favorita que também podem colaborar com a
sensação ruim na manhã seguinte. Elas ajudam a explicar por que algumas bebidas
podem causar sintomas mais fortes do que outras.
As principais são
as substâncias que a indústria de bebidas chama de congêneres, produzidas
durante o processo de fermentação. Elas incluem acetona, óleo fúsel e taninos,
que fornecem a cor e o sabor adstringente das bebidas mais escuras, como o
uísque e o vinho tinto.
O uísque Bourbon,
por exemplo, contém 37 vezes mais congêneres do que a vodca. E estudos
demonstraram que as pessoas que passam a noite tomando Bourbon costumam sofrer
ressacas mais fortes no dia seguinte do que aquelas que bebem vodca.
Mas é preciso
observar que os efeitos dos congêneres sobre a ressaca são menores que os do
volume de álcool propriamente dito.
Um estudo chegou a
examinar duas regras comuns entre os consumidores de álcool. Uma diz que
primeiro se deve beber cerveja e depois vinho, nunca o contrário; e a outra diz
que não se deve tomar
as duas bebidas juntas.
O estudo concluiu
que misturar vinho e cerveja, em qualquer ordem, aparentemente não afeta a
intensidade da ressaca.
Novamente, o grau
de embriaguez foi o fator determinante mais confiável para a intensidade da
ressaca. Quando se misturam bebidas, a probabilidade de beber além da conta
costuma ser maior.
Por isso, moderar a
quantidade total de álcool consumida é mais eficaz para evitar a ressaca.
·
Não
confie demais nas curas da ressaca
As supostas curas
rápidas da ressaca são inúmeras.
No antigo Egito,
por exemplo, as pessoas costumavam usar um colar feito com as folhas de um
arbusto chamado louro-alexandrino. Já os romanos sugeriam comer canário frito.
Outros garantem que
a solução é um prato de comida gordurosa depois da noite regada a bebidas
alcoólicas, ou uma mistura horrível chamada em inglês de prairie oyster, composta
de ovos crus, suco de tomate e molho apimentado.
A ressaca, contudo,
geralmente não é causada por deficiência nutricional.
Uma pesquisa que
examinou oito supostas curas diferentes para a ressaca, incluindo extratos de
borragem, tratamentos com alcachofra, extrato de levedura, figo-da-índia e suco
de frutas, além de diversos medicamentos, não encontrou em nenhuma delas
capacidade de alterar o curso do mal-estar causado por ela.
Testes com outros
métodos de alívio tiveram resultados divergentes. Alguns ajudaram a combater
certos sintomas, como cansaço e náuseas, mas nenhum foi capaz de controlar
todos os sintomas da ressaca.
O suco de
pera-coreana, por exemplo, parece funcionar em pessoas cujo genótipo já as
deixa menos propensas a sofrer de graves ressacas.
Costuma-se indicar
que ovos podem ajudar na ressaca porque são ricos em um aminoácido chamado
cisteína, que pode se ligar ao acetaldeído e neutralizar alguns dos seus
efeitos.
Mas o papel do
acetaldeído na ressaca é questionável, de forma que os benefícios da cisteína
podem ser pequenos.
De fato, um estudo
que ofereceu aos participantes um suplemento de cisteína encontrou pouca
melhoria dos sintomas da ressaca – embora, curiosamente, as mulheres tenham se
beneficiado mais do que os homens.
Ocorre que, em
muitos casos, a qualidade das pesquisas nesta área é ruim, o que dificulta a
elaboração de conclusões definitivas. Afinal, depender da experiência relatada
pelas próprias pessoas com ressaca pode ser difícil por outros fatores – e
pedir a elas que tracem comparações com ressacas anteriores pode causar vieses.
Talvez o melhor
seja não colocar muita esperança nos remédios que prometem cura rápida da ressaca no dia
seguinte.
·
A
influência do papo com os amigos
Nossa decisão de
beber mais em ocasiões sociais, muitas vezes, é influenciada pelo comportamento
dos nossos amigos e familiares. O nosso cérebro está sempre em busca de
indicações das outras pessoas sobre como devemos agir.
"Tudo o que os nossos amigos fazem
nos influencia,
conscientemente ou não. Sua presença pode decidir se iremos ou não agir com
base naquelas informações de saúde", afirma a professora de comunicação
persuasiva Christin Scholz, da Universidade de Amsterdã, na Holanda.
Em um estudo de
2019, Scholz perguntou a estudantes norte-americanos se eles haviam conversado
com alguém sobre suas experiências recentes envolvendo álcool e se aquelas
conversas eram positivas ou negativas.
A conclusão foi que
eles bebiam mais álcool no dia seguinte se a conversa fosse positiva, enquanto
o compartilhamento de experiências negativas com seus colegas os levava a beber
menos no futuro.
"Digamos que
eu tenha uma conversa com um amigo sobre os efeitos negativos do álcool e, no
dia seguinte, vou ao bar com outras pessoas – ainda assim, eu defenderia que a
conversa terá alguma forma de influência sobre mim", explica Scholz.
Qual é, então, a
melhor forma de evitar uma ressaca? A resposta, certamente, é beber menos
álcool.
Mas existem algumas
dicas, como discutir os efeitos prejudiciais da bebida com os amigos antes de
sair e concentrar suas expectativas nos efeitos sociais agradáveis de beber
menos – ou talvez não beber.
E, se você estiver
realmente planejado uma noitada, ficar longe de uísque e vinho tinto pode
ajudar.
Fonte: BBC Science
Features
Nenhum comentário:
Postar um comentário