Você conhece a KKK, mas e a Black Legion?
Normalmente, um amigo
ou parente — às vezes era apenas um mero conhecido — convidava um potencial
“recruta” para uma reunião privada de uma organização sigilosa. Seu propósito,
dizia o amigo, era “proteção”; poderia ajudar a conseguir empregos também. Ao anoitecer
na data marcada, o amigo o pegava em casa de carro, com talvez três ou quatro
outros homens acompanhando, e eles dirigiram até a fazenda de Henry Tapscott,
três milhas a leste de Lima, Ohio. Uma vez lá, o recruta era subitamente
cercado por trinta, quarenta, cinquenta, duzentos homens armados — era difícil
enxergar na escuridão total, mas alguns tinham lanternas — vestidos com longas
túnicas pretas com capuz e orifícios para os olhos, e por cima um chapéu preto
de pirata com uma caveira branca e ossos cruzados. As túnicas tinham acabamento
branco, uma capa com forro de cetim vermelho e outra caveira branca e ossos
cruzados recortados em feltro e presos com alfinetes de segurança no peito. O
recruta era instruído a se ajoelhar. Enquanto um revólver era pressionado em
suas costas, dois homens vestidos com túnicas ficavam de cada lado dele
apontando armas. O “capitão da guarda” lançava três perguntas:
1. Você é um cidadão
nativo, branco, não-judeu e protestante?
2. Você entende que esta organização à qual está prestes a se juntar é
estritamente secreta e de caráter militar? 3. Esta organização é classificada
por nossos inimigos como um grupo fora da lei; você está disposto a se juntar a
tal organização?
Uma vez que o recruta
respondia “sim”, era ordenado a jurar que nunca revelaria nada sobre a
organização ou suas atividades, que ele “aceitaria uma ordem e rumaria à morte,
se necessário, para executá-la”, e que ele “esqueceria seu partido e votaria no
melhor homem se ordenado a fazê-lo por seu oficial superior”. Um “capelão”
proclamava: “Classificamos como nossos inimigos todos os negros, judeus,
católicos e qualquer um que deva qualquer lealdade a qualquer potentado
estrangeiro. Lutamos como gorilas [sic] usando qualquer arma que possa chegar
às nossas mãos, de preferência o voto, e se necessário, pegando em armas”. Ele
tornava explícitos os objetivos do grupo: “Nosso propósito é derrubar,
devastar, destruir e matar nossos inimigos sem piedade enquanto um deles
permanecer vivo ou respirar”. Depois que o recruta fazia o juramento, ele
aprendia a senha — “eleger somente membros para o posto” — e recebia um
cartucho de arma calibre 38 para guardar como um lembrete de seu juramento e do
que aconteceria se ele o traísse.
Em 1935, cerca de
cinco mil homens brancos na cidade de Lima, Ohio, de uma população total de
42.267, haviam feito esses juramentos. A organização à qual eles se juntaram
era conhecida como Legião Negra. Era um desdobramento da Ku Klux Klan, que
havia crescido e depois entrado em colapso durante a década de 1920. Em meados
da década de 1930, a Legião Negra cresceu para entre cem mil e um milhão de
membros em todos os Estados Unidos — ninguém sabe realmente quantos — e era
especialmente forte em Ohio, Michigan, Kentucky e Illinois, bem como em West
Virginia e Indiana. Em Detroit, seus membros supostamente incluíam o comissário
de polícia, dezenas de policiais, um promotor e o prefeito de uma cidade
vizinha. Mataram pelo menos cinquenta pessoas: algumas delas brancas, algumas
afro-americanas, algumas delas organizadoras sindicais e esquerdistas. Malcolm
X e sua família sempre suspeitaram que a Legião Negra havia matado seu pai em
East Lansing, Michigan, em 1931, e o deixado na rua para ser atropelado por um
bonde.
Somente quando
investigadores policiais corajosos em Detroit conseguiram que um perpetrador a
denunciasse em maio de 1936, as notícias sobre a Legião Negra e suas atividades
no âmbito nacional surgiram, e alguns processos finalmente começaram. O alarme
nacional irrompeu, impulsionado pelas manchetes diárias, quando doze membros da
Legião Negra foram julgados em Detroit por matar um trabalhador branco da Works
Progress Administration chamado Charles Poole. Hollywood até fez dois
filmes sobre a Legião.
À medida que a
extensão, o poder e a natureza fascista da Legião Negra se tornavam cada vez
mais claros (mas nunca totalmente claros), à medida que Benito Mussolini e
Adolf Hitler continuavam a crescer na Europa, e à medida que o senador Huey
Long e o “pai do rádio” Charles Coughlin acumulavam milhões de seguidores
devotados nos Estados Unidos, a possibilidade real de uma revolta fascista
organizada no país surgiu. Ecoando o famoso romance de 1935 e a peça de 1936 de
Sinclair Lewis, It Can’t Happen Here [Isso não pode acontecer
aqui], sobre um ditador fictício que assume o poder nos Estados Unidos, AB
Magil e Henry Stevens, em um panfleto de 1938 intitulado The Peril of
Fascism [O perigo do fascismo], observaram: “A Legião Negra, lançando
sua sombra sobre o cenário americano, sacudiu os incautos e incrédulos para uma
percepção de que isso poderia acontecer aqui.”
Os repórteres logo se
concentraram em Lima, uma pequena cidade uma hora ao sul de Toledo, no noroeste
de Ohio, onde a sede da Legião Negra ficava na casa de Virgil “Bert” Effinger,
o agitador secreto e “major-general” no topo da organização. Podemos segui-los
até Lima — não apenas para o líder da Legião, mas, mais importante, para seus
membros, seu apelo a homens e mulheres brancos comuns e a pura normalidade da
supremacia branca, nativismo, antissemitismo, anticatolicismo e militarismo
durante a década de 1930 no chamado interior da região. “Esta organização
monstruosa não é apenas uma excrescência sombria na vida americana”, escreveu
a Nation na época, “mas algo que foi construído na estrutura
dos negócios e da política americana”.
A Legião Negra se
desfez no final de 1936 diante de processos, indignação nacional e diminuição
da disposição dos indivíduos de se associarem publicamente a ela. Para cada
oponente heroico que eventualmente se apresentou e ajudou a pará-la, no
entanto, espreitava um funcionário do governo local totalmente cúmplice que se
juntou à legião ou que ativamente frustrou aqueles que buscavam fechá-la. Eles
incluíam Robert F. Jones, que em 1934 se juntou à Legião Negra em Lima em troca
de ser eleito promotor do condado e serviu quatro mandatos no Congresso dos
EUA. A história da Legião Negra, de Lima até o FBI, o Departamento de Justiça e
o Senado dos EUA, levanta questões muito familiares sobre a aplicação da lei e
o poder político, quem os controlava e para quais fins.
Hoje, a Legião Negra
projeta uma extensa sombra em Lima. É o país profundo de Trump. Enquanto o
debate se acirra sobre os corações e mentes dos homens brancos da classe
trabalhadora no Centro-Oeste, a história da Black Legion em Lima, Ohio, é
assustadoramente instrutiva.
Armado e ardiloso
Internamente, a Legião
funcionava com uma estrutura militar rigorosa, com esquadrões, companhias,
batalhões e regimentos e seus correspondentes soldados, cabos, sargentos,
tenentes, capitães, majores e coronéis, com generais graduados acima deles.
Cada general, por sua vez, comandava um setor constituindo um décimo terceiro
dos Estados Unidos, escolhidos para refletir as treze colônias originais da
nação. Acima de todos eles, governava Virgil Effinger, o major-general. A
Legião Negra também tinha subgrupos locais conhecidos como “divisões”,
responsáveis por atividades específicas, chamadas de “Legião de Infantaria”, “Cavaleiros Noturnos”, “Cavaleiros Negros”, “Guarda Armada” e, no topo, o seleto “Clube da Bala”.
Grande parte dessa
estrutura hipermilitarizada deve ter surgido da cabeça de Effinger, um veterano
da Guerra Hispano-Americana. Os membros da Legião também teriam incluído muitos
outros veteranos, especialmente da Primeira Guerra Mundial. Um membro, Albert
Erfer, era um veterano das guerras dos EUA nas Filipinas e no México, bem como
da Primeira Guerra Mundial. Esses veteranos conheciam e se sentiam confortáveis
com os títulos militares e as
saudações que a
Legião empregava, e
aspiravam subir na hierarquia e alcançar a auto importância, deferência e
afirmação que vinham com o fato de ser um oficial. Os informantes identificaram
repetidamente os membros individuais por suas patentes, sugerindo que os
títulos militares da Legião eram bem conhecidos e regularmente utilizados.
Na cultura militar da
Legião Negra, podemos ver o legado, a essa altura bem estabelecido, das
incursões e ambições imperiais dos EUA nas Filipinas, em Cuba e na Primeira
Guerra Mundial — e como elas ajudaram a estabelecer as bases para o
enraizamento do fascismo doméstico. Quando tentamos apontar o que a Legião
Negra realmente fez, a imagem é menos precisa. Três informantes diferentes de
Lima que falaram com um agente do FBI de Cleveland na primavera de 1935
disseram que “eles ouviram falar de esquadrões de chicoteamento, esquadrões de
enforcamento e esquadrões de extermínio em atuação e declararam que no momento
havia oito nomes na lista de execução, cujos mandados de morte foram assinados
pelo General Sloan de Sidney, Ohio, que é um funcionário do Departamento
Estadual de Rodovias” — onde, podemos notar, Effinger estava trabalhando na
época. Mas nenhuma morte na área de Lima foi publicamente atribuída à Legião,
em contraste com Michigan, onde supostamente mataram dezenas.
Evidências mais
concretas, ainda que parciais, apontam para crimes contra a propriedade. Um
desertor disse que Effinger havia “ordenado que ele pegasse vinte homens [e]
fosse ao Teatro Sigma em Lima, Ohio, e lá destruísse os rolos de um filme que
estava sendo exibido”. Ele disse que Effinger se opôs ao filme, White
Angel, “com base no fato de que ele defendia a fé católica”. Ele também
disse que “ouviu uma discussão no porão da casa de Effinger sobre a
conveniência de a Legião tomar os Prédios Federais”.
Effinger se gabou de
que a Legião havia queimado dois bares de estrada nos arredores da cidade, o
Twin Oaks e o Imperial. Às 3 da manhã de 29 de janeiro de 1934, o bar de
estrada Twin Oaks — um salão de dança, clube e churrascaria a duas ou três
milhas ao sul de Lima — foi de fato destruído, no que o Lima News descreveu
como um “incêndio espetacular”. Uma hora depois, outro incêndio queimou a casa
do Sr. e da Sra. Charles Reese, a oeste da cidade. “Outros incêndios na cidade
mantiveram os bombeiros ocupados durante o fim de semana”, relatou o News.
O mesmo desertor relatou que Effinger havia ordenado que queimasse o Peacock
Roadhouse, mas ele se recusou. Várias fontes relataram que a Legião estava
planejando incendiar a agência dos correios. Em maio de 1935, um comitê da
legislatura do estado de Ohio recebeu relatos de que a Legião era responsável
por repetidas ameaças contra a filha do governador.
Grande parte da ira
mais bem documentada da Legião Negra, no entanto, foi direcionada a homens que
recusaram o recrutamento, não conseguiram permanecer ativos, desertaram ou a
denunciaram. Em 26 de maio de 1935, um fazendeiro branco de 55 anos, de aparência
amável, que vestia macacão, chamado William H. Smith, disse aos repórteres que
no dia 29 de setembro do ano anterior, depois de um dia cortando milho juntos,
um “parente jovem” ofereceu uma carona de carro. Eles pararam para pegar outros
dois homens e então dirigiram por 24 quilômetros até outra fazenda. “Estava
chovendo forte enquanto abríamos caminho em uma longa vereda” a 800 metros da
estrada, Smith contou. “Dois sujeitos vestidos como o próprio diabo caminharam
até o carro. Cada um deles tinha uma lanterna em uma mão e uma arma na outra.”
Smith queria fugir, ele disse aos repórteres, mas estava chovendo muito forte.
“O sujeito com quem eu estava disse a um dos indivíduos: ‘dois recrutas’ . . .
Eu disse que preferia sentar no carro e esperar.”
Smith viu seu parente
correr para um “pequeno galpão”, mas quando ele mesmo entrou, o parente não
estava em lugar nenhum. “Sentei-me em uma caixa. Eles tinham 12 recrutas
enfileirados e um homem que eu conhecia estava preenchendo cartões para eles.”
Quando os membros da Legião descobriram que Smith não havia preenchido um
cartão, eles exigiram seu nome. “Vocês sabem qual é meu nome”, retrucou Smith.
“Isso é muita tolice.” Os outros recrutas estavam claramente aterrorizados
demais para resistir, ele disse aos repórteres. “Seus dentes estavam estalando
como um porco comendo carvão.” Em seguida, cerca de duzentos membros da Legião,
“todos enfeitados com aquela parafernália”, Smith lembrou, marcharam com os
recrutas para um celeiro, onde “o chefão [sic], um sujeito grande e com uma voz
pesada” — que deve ter sido Effinger — “gritava sobre os democratas e os
republicanos. ‘Vamos assumir o governo e administrá-lo nós mesmos.’” Effinger
disse aos recrutas que se algum deles fosse católico, “é melhor saírem daqui
bem rápido”. Smith respondeu que “não era católico, mas estava pronto para ir
embora”.
Quando Smith desafiou
Effinger diretamente e protestou contra a iniciação, Effinger gritou de volta:
“Por que seu amarelo…, vou esmagar seus miolos com esta arma.” Naquele momento,
segundo Smith, “comecei a empurrar para sair”, ele contou, e “corri noite
adentro. Alguém me agarrou e comecei a lutar, mas fui atingido e levei um na
cabeça, acho que com as coronhas das armas.” Ele foi amarrado, levado para um
celeiro de milho e jogado no chão. Uma hora e meia depois, por volta das 0h30,
“um sujeito veio até o celeiro e me perguntou se eu queria reconsiderar. Eu
disse ‘de jeito nenhum’.” Finalmente, por volta das 4h30, eles o levaram para
fora, enquanto “enfiavam armas nas minhas costelas”, e disseram que ele
morreria se revelasse o que tinha acabado de acontecer. No dia seguinte, Smith
contou sua história ao xerife. Dois dias depois, ele foi ameaçado por homens
que lhe informaram: “Você contou e vai morrer”.
A Legião também
ameaçava rotineiramente homens que saíam depois de terem se filiado. “Aqueles
indivíduos que abandonaram a ordem foram abordados em inúmeras ocasiões e
avisados de que não deveriam falar”, relatou uma investigação do FBI de 1935. Um informante relatou que
havia sido “ordenado por Effinger
a ‘golpear a cabeça’ de um homem que se recusou a comparecer às reuniões da sociedade”. O juramento de iniciação da Legião incluía esta promessa feroz — embora talvez difícil de executar:
Antes de divulgar uma
única palavra ou promessa implícita deste meu juramento solene e obrigação,
rezarei a um Deus vingador e a um Diabo implacável para que meus membros sejam quebrados
com pedras e cortados em centímetros; que eles possam servir de alimento para
pássaros necrófagos; que meu corpo seja rasgado e minhas entranhas arrancadas e
dadas de comer aos pássaros mais imundos do ar; e que minha cabeça seja aberta
e meu cérebro espalhado pela terra, meu coração seja arrancado e assado em
chamas de enxofre.
Durante as iniciações,
os membros da Legião encenavam enforcamentos falsos no escuro, nos quais um
membro da Legião, que parecia ter violado instruções ao repetir uma senha
falsa, era prontamente enforcado, à vista parcial dos iniciados. Um informante,
o Sr. Carter, relatou que havia desempenhado o papel de vítima várias vezes. Um
ano após a deserção em 1934, um encanador chamado George Scheid Sr., que estava
ativo na Legião por dois ou três anos e ascendeu ao posto de major, deu
informações a JF Cordrey, um inspetor postal em Lima. Depois que ele deixou a
organização, Scheid relatou, um bilhete apareceu em sua porta “aconselhando-o a
cometer suicídio ou deixar o país”. Em um momento, “cerca de 50 carros cheios
de homens se reuniram em torno de sua casa”.
Seu filho, George Jr,
mais tarde lembrou: “Lembro-me de quando eu era criança, uma noite, que havia
dois carros cheios de legionários, todos vestidos para enfrentar meu pai, e
eles pararam do lado de fora da casa.” Dois amigos de seu pai, que também haviam
desertado, estavam lá para ajudar a protegê-lo, incluindo o veterano do
exército Albert Erfer. “Meu pai estava sentado em sua mesa carregando as armas”
quando Erfer disse a seu pai que “ele reconheceu os dois carros e saiu pela
porta dos fundos.” Os carros pararam, “alguns homens saíram” e, quando Erfer
deu um passo à frente, “um deles viu seu revólver, e você nunca veria pessoas
voltarem para um automóvel tão rápido na vida.” Depois que Scheid Sr. desertou,
ele colocou luzes de segurança ao redor de sua loja de encanamento. “Ele tinha
armas em sua cama”, seu filho lembrou. Em uma entrevista de 2000 para o Lima
News, Scheid Jr. lembrou que “meu pai não jantava a menos que tivesse uma
arma carregada ao lado dele. Ele carregava uma arma onde quer que fosse. Lembro-me
dele parando na calçada e pegando sua arma quando um carro diminuía a
velocidade ou parava.”
Como esses relatos
ilustram, a Legião Negra em Lima era repleta de armamentos e de uma cultura
armamentista. Cada homem naqueles duzentos ritos fortes de iniciação estava
presumivelmente armado. Os iniciados eram explicitamente questionados se
possuíam alguma arma de fogo. “Se eles não possuem um revólver, espingarda ou
rifle, são ordenados a obter um revólver e são instruídos a carregá-lo o tempo
todo”, relatou JF Cordrey, o inspetor postal, em fevereiro de 1935. Um
informante mostrou a um agente do FBI uma pistola automática Colt .45 que ele
disse que a Legião havia “tomado… em um ataque contra alguns católicos em outro
condado. Em agosto de 1935, um oficial em Lima relatou ao FBI que “por volta de
1º de setembro de 1934”, várias armas de fogo foram roubadas de uma vitrine na
Allen County Historical Society em Lima. Elas incluíam duas Lugers alemãs, uma
pistola alemã para atiradores de elite, três pistolas e revólveres de
fabricação americana e sessenta e cinco cartuchos de munição para uma .45. “É
meu entendimento que alguns membros da Legião Negra planejaram obter este
equipamento”, relatou o oficial. “Acredito que será descoberto que um tal de
Chas. Hartzog roubou este equipamento, pois este homem, que é conhecido por ser
um membro da Legião Negra, trabalha no Memorial Hall.”
Aparentemente, havia
muitas armas mais poderosas. De acordo com Scheid Jr, “um paiol de munição”
estava escondido nas profundezas da floresta na fazenda de Tapscott, onde as
iniciações aconteciam, contendo “explosivos, cargas de explosivos de alta
potência… cheios de dinamite e TNT”. Ele lembrou que seu pai era “um bom
manuseador de armamento… colecionava armas e munições”. Um informante disse ao
FBI que “ele tinha ouvido Effinger e outros discutindo sobre o filho do DCW
Leech… que supostamente possuía uma submetralhadora Thompson, e eles estavam
planejando se passar por agentes federais, intimá-lo e confiscar a arma para a
Legião”.
É seguro assumir que a
coleção de armas do próprio Effinger deve ter sido formidável. Ele defendia de
forma vigorosa o direito de portar armas. Em agosto de 1935, ele foi acusado de
ter trazido seis granadas de mão para uma reunião da Legião Negra em Detroit.
De acordo com um informante do FBI, Effinger possuía “um grande mapa amarelo em
sua casa que ele mantinha nas vigas do porão”, onde mostrava, Effinger disse ao
informante, “a localização de todas as fortalezas secretas do país”. Effinger
afirmou que “sob a Estátua da Liberdade estavam escondidas várias armas pesadas
de defesa costeira do tipo que desaparece”. Em 1936, um homem que disse ter
sido membro da Legião Negra em Lima testemunhou a um promotor de Detroit que,
ao visitar Effinger em sua casa, “ele me mostrou um mecanismo quadrado com um
tubo de metal e que alegou ter sido inventado por [trabalhadores] na fábrica de
gás venenoso do governo dos Estados Unidos em Firewood, Maryland”. Effinger
disse que o dispositivo tinha um temporizador que poderia permitir que ele
disparasse em “um certo momento, como em uma celebração nacional judaica”.
Seria melhor fazê-lo no inverno, Effinger apontou, “quando as janelas dessas
sinagogas judaicas estariam todas fechadas para que o gás não pudesse escapar,
e você pode ver facilmente que podemos muito bem exterminar os judeus com um
clique. Precisará apenas de algumas centenas de homens membros… e alguns desses
mecanismos para fazer isso”. Effinger então mostrou a ele uma lista de
sinagogas nos Estados Unidos. Armas de fogo e outros tipos de armamento estavam
por toda parte, cada vez mais visíveis, incluindo aquelas dispostas ao lado de
crianças nas mesas de jantar, como a dos Scheid.
Doze milhas a leste de
Lima ficava o enorme Pântano Scioto, onde mil trabalhadores colhiam cebolas em
condições horríveis. No final de junho de 1934, liderados por um colhedor de
trinta e oito anos chamado Okey Odell, setecentos deles entraram em greve. Em
julho, conforme a greve aumentava, cinquenta e três oficiais subordinados ao
xerife, controlados pelos produtores, usaram metralhadoras e gás lacrimogêneo
na linha de piquete; os grevistas atiraram pedras, supostamente esfaquearam
alguém e espalharam pregos de telhado na rodovia, furando os pneus dos
oficiais. Uma noite, no início de julho, “um grande grupo de homens, viajando
em automóveis”, apareceu às 2 da manhã na casa de Elijah O’Dell, irmão de Okey,
e anunciou que pertenciam à Legião Negra. Eles disseram que tinham gasolina,
nitroglicerina e dinamite em seus carros. “Mostre-nos onde eles moram”, os
homens disseram, “e nós cuidaremos deles” — referindo-se aos grandes
produtores. Sua “caravana misteriosa” então seguiu para a casa de WC Weis, o
vice-presidente do sindicato, tirou-o da cama e declarou: “Nós somos o pelotão
de fuzilamento e vamos assumir a greve.” Em uma reunião sindical no dia
seguinte, Okey O’Dell, o líder sindical, declarou: “Não precisamos dessas
pessoas aqui. . . Não queremos nenhuma violência. Não podemos impedi-los de vir
aqui, mas não temos funções para eles.”
Armas, no entanto,
geraram mais armas. Na cidade vizinha de McGuffey, um incêndio iniciado por
nitroglicerina queimou a casa do prefeito, que estava apoiando os cultivadores.
Quando a polícia, sem evidências, prendeu Okey O’dell, duzentos justiceiros o retiraram
da prisão, o levaram para fora da cidade, o espancaram e o jogaram ao lado de
uma estrada, enquanto centenas de outros justiceiros armados tomaram conta da
cidade. O’dell pegou carona de volta e marchou com seu irmão pelo centro da
cidade, desarmado, desafiando a multidão a matá-lo. Mais tarde, uma enorme
multidão armada invadiu sua casa, que “foi transformada em uma mini fortaleza
por amigos que pareciam prontos para apoiar O’Dell em sua ameaça de ‘matar o
primeiro homem que tentasse me pegar’”. Uma foto no Marion, Ohio, Star mostrou
quatro mulheres brancas de diferentes idades usando vestidos transparentes de
verão, descritas como parte da equipe de “defesa” de O’Dell, enfileiradas em um
sofá, cada uma segurando uma arma apontada severamente para a câmera.
Em Lima, e em seu
interior, a Legião Negra prosperou na cultura armamentista e a alimentou ainda
mais. Para cada arma que de fato disparou, cada bar de estrada que foi de fato
incendiado, a ameaça de mais violência ampliou o poder e a capacidade da Legião
de aterrorizar. Em 1935, a Legião Negra estava armada e perigosa e municiada
com ideias temerárias, com um fanático instável no comando e milhares de homens
sob suas ordens, em uma formação paramilitar.
Fonte: Por Dana
Frank, com tradução de Pedro Silva, para Jacobin Brasil
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