César Fonseca: ‘Brics quebra hegemonia
imperialista americana e sinaliza novo tempo multipolar
Não é mais uma
liderança política mundial, capitaneada pelos Estados Unidos.
A hegemonia americana
acabou.
Sobem no palco global
dois novos atores internacionais que dividem com o presidente americano, Joe
Biden, o novo jogo do poder mundial: Putin e Xi Jinping.
Sai de cena o mundo
unipolar imperialista ocidental e entra o mundo multipolar puxados por China e
Rússia, o mundo asiático, o mundo da rota da seda, da exploração de novas fronteiras
econômicas globais na era da Inteligência Artificial.
Não é mais uma
potência militar hegemônica: os Estados Unidos.
São três potências que
passam, preliminarmente, a dividir o poder mundial: Rússia, China e EUA.
Não é mais uma moeda,
o dólar, a dar as cartas.
São as moedas
nacionais, locais, integrantes do novo bloco de poder, o BRICS, que
movimentarão o comércio mundial.
Os BRICS - 11 países
integrantes e 32 outros pretendentes, compondo o Sul Global - são 45% da
população global, 36% do PIB mundial em paridade do poder de compra, enquanto o
G7 alcança, apenas, 29,3%.
A União Europeia,
14,5% do PIB mundial, é, tão somente, um terço do BRICS.
O velho mundo se
rebaixou, espetacularmente, depois de subordinar-se completamente aos Estados
Unidos, contrários à aproximação da Europa da Rússia.
NOVO PODER MONETÁRIO
As conversões
monetárias se transformam no novo dinamismo das relações de trocas globais.
A hegemonia do dólar
dá lugar à multiplicidade das moedas internacionais em livre jogo de
intercâmbio monetário para movimentar a nova divisão de trabalho.
A inteligência humana,
no seio dos BRICS, no Banco dos BRICS, cria um novo meio de pagamento
internacional, alternativa ao criado pela potência hegemônica - o swfit.
Trata-se de câmara
internacional de compensações de trocas monetárias compatíveis com proposta de
mundo multipolar dinâmico.
Cria-se alternativa ao
modelo que está ruindo, erguido em Bretton Woods, 1946, pós guerra, sob domínio
do dólar e suas agências financeiras internacionais - FMI e Banco Mundial -,
inviáveis para atender demanda internacional por desenvolvimento econômico
internacional sustentável, cooperativo e coletivo.
Os Estados Unidos
criaram sistema de compensação monetário e de pagamentos individualista que
atende preferencialmente o interesse dos Estados Unidos como potencial
universal.
VISÃO COLETIVA ENTRA
EM CENA
De agora, em diante,
com o modelo BRICS, a visão individualista dá lugar a uma visão coletiva, a se
consolidar, paulatinamente, ao longo do século 21, marcando diferença
qualitativa relativamente ao século 20, assim como o século 20 marcou
diferenças quantitativa e qualitativa em relação ao século 19.
A coletividade
econômica internacional multipolar abandona o individualismo econômico
unipolar.
A visão de
coletividade introduz, no cenário multipolar, o espírito cooperativo econômico
global, sobre uma nova base monetária centrada nas trocas comerciais com moedas
nacionais.
A soberania nacional,
pressuposto econômico e político para garantir emissão monetária, é o próprio
equilíbrio do novo sistema monetário.
A emissão monetária
soberana, segundo concepção do BRICS, em discussão nesta semana em Kazan,
Rússia, será coordenada por entendimentos e não por conflitos internacionais.
Seria, no plano da
economia política, o lançamento de base de governo mundial necessário à
coordenação internacional.
VINGANÇA DE KEYNES
John Maynards Keynes
chegou a propor, em Bretton Woods, em 1946, criação de sistema de compensações
internacionais (clearing) ancorado no controle de balanços de pagamentos de
modo a evitar surtos de bancarrotas financeiras, desorganização financeira internacional
etc.
Os Estados Unidos,
vencedores da guerra, não aceitaram a sugestão do genial economista inglês, e o
mundo caminhou para a nova guerra dinamizada pela moeda hegemônica.
O capitalismo seria
compatível com esse tipo de controle que evita a lógica do próprio capitalismo,
que é a de promover sem limites acumulação de capital, que leva à guerra, como
se vê, no momento, com a predominância incontrolável da financeirização especulativa
global comandada pelo dólar, moeda da guerra?
Novo sistema monetário
internacional, parteiro de nova divisão internacional do trabalho, é
incompatível com a anarquia financeira especulativa que produz guerras e perigo
de exterminação do meio ambiente.
MULTILATERALISMO =
PÓS-CAPITALISMO
Multilateralismo
promove novo capitalismo ou um pós-capitalismo?
O fato é que nasce na
Rússia, em Kazan, sob comando de dois novos líderes internacionais, Vladimir
Putin e Xi Jinping, o novo multilateralismo, suficientemente amplo para
conceber um passo além do capitalismo rentista, especulativo, sobre acumulador
de riqueza, a gerar ganância e individualismo, que leva à guerra.
Pede passagem à
cooperação e coletivismo econômico internacional bombeado por moedas nacionais
em processo de cooperação global, proposta intrínseca aos propósitos essenciais
do BRICS para derrotar o imperialismo americano.
32 líderes
internacionais estão na Rússia para inaugurar o novo tempo econômico que nasce
com promessa de cooperação internacional no lugar do velho tempo que morre por
ter sido incapaz de institucionalizar a fraternidade global em forma de oferta
de oportunidade para todos alcançarem a verdadeira dignidade humana sob o
capital especulativo.
Derrota espetacular do
individualismo egoísta que prioriza o amor-próprio exacerbado e não o amor
fraternal de uma humanidade que tem o ser outro em si mesmo como base da
criação de nova sociedade.
¨ Putin sugere abandono do dólar no comércio internacional
O presidente da
Rússia, Vladimir Putin, enfatizou a necessidade de expandir o comércio
utilizando moedas nacionais como estratégia. A declaração ocorreu durante uma
reunião com a ex-presidente do Brasil e atual presidente do Novo Banco de
Desenvolvimento (NBD - Banco do BRICS), Dilma Rousseff, que manifestou apoio à
proposta.
“Um aumento dos
pagamentos em moedas nacionais torna possível minimizar os riscos políticos
externos”, afirmou Putin, de acordo com a AFP. A reunião contou ainda com a
participação da presidente do Banco Central Russo, Elvira Nabiulina, e do
ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov
Desde o início da
invasão da Ucrânia em 2022, a Rússia tem enfrentado severas sanções ocidentais,
especialmente de natureza financeira. Nesse cenário, Putin frequentemente
defende a redução da dependência da economia russa em relação ao dólar, que
Moscou classifica como uma moeda "tóxica". Para Putin, a criação de
um sistema internacional de pagamentos poderia fornecer uma alternativa ao
sistema Swift, do qual a maioria dos bancos russos foi excluída devido às
sanções.
Durante a reunião,
Dilma Rousseff também enfatizou a urgência de aumentar o comércio em moedas
nacionais e que, atualmente, os países do Sul Global enfrentam grandes desafios
para conseguir financiamento. “No momento, os países do Sul Global têm uma grande
necessidade de financiamento, mas as condições para obtê-lo são muito
complicadas”, disse.
A criação do NBD, que
serve como uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco
Mundial, duas instituições consideradas controladas por potências ocidentais,
representa um passo na busca por maior autonomia financeira para as nações em
desenvolvimento.
¨ Dilma defende expansão do Brics e uso de moedas locais
Em reunião nesta
terça-feira (22) com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a presidenta do
Banco do Brics, Dilma Rousseff, defendeu a ampliação do bloco e o aumento dos
financiamentos em moedas nacionais, em substituição ao dólar.
Ex-presidenta
brasileira, Dilma destacou que os países do Sul Global têm necessidades
financeiras muito grandes e que há dificuldades para conseguir esses
empréstimos.
“Tivemos investimentos
bastante elevados, mas ainda não o suficiente para as necessidades dos países
do Brics. Por isso é muito importante disponibilizar financiamento em moeda
local através de plataformas específicas. O Novo Banco de Desenvolvimento [NBD]
tem o compromisso de viabilizar não só financiamento em projetos soberanos, mas
também em projetos da iniciativa privada”, afirmou Dilma Rousseff.
O Sul Global é o termo
usado para se referir aos países pobres ou emergentes que, em sua maioria,
estão localizados no Hemisfério Sul do planeta.
O presidente russo
agradeceu a presença da presidente do NBD – o Banco do Brics – em Kazan, na
Rússia, que recebe a 16ª cúpula do bloco entre esta terça (22) e quinta-feira
(24). Além disso, Putin elogiou o trabalho da ex-presidenta do Brasil à frente
da principal instituição financeira do grupo e defendeu o aumento do uso de
moedas nacionais.
“Agradecemos muito o
que você fez nos últimos anos. O aumento dos pagamentos em moedas locais
permite reduzir as taxas de serviço da dívida, aumentar a independência
financeira dos países-membros do Brics, minimizar os riscos geopolíticos e,
tanto quanto possível no mundo de hoje, libertar o desenvolvimento econômico da
política”, enfatizou Putin.
O mandatário russo
destacou ainda que, desde 2018, o Banco do Brics financiou mais de 100 projetos
totalizando mais de US$ 33 bilhões. Um dos objetivos do bloco tem sido o de
aumentar o uso de moedas próprias no comércio entre os países membros, reduzindo a dependência do dólar.
Está prevista ainda na
Cúpula do Brics a apresentação, por Dilma Rousseff, de um relatório com um
balanço do NBD na quinta-feira (24), durante a sessão do Brics +, que deve
reunir em torno de 32 representantes de países da Ásia, África e América
Latina. Dilma preside o banco até julho de 2025.
Durante a reunião com
Putin nesta terça-feira, a ex-presidenta brasileira ainda defendeu a expansão
do bloco, que é um dos principais temas da cúpula atual na Rússia. “O Brics
está agora em um processo de grande amadurecimento. Espero que possamos ter uma
expansão maior dos países do Brics para os países do Sul Global e que possamos
definir os novos rumos que devemos trilhar nos próximos anos”, completou Dilma
Rousseff.
A cúpula deste ano
deve definir os critérios para os países interessados ingressarem no bloco em uma
nova modalidade, de membros associado. Existem cerca de 30 países que mostraram
interesse em participar do Brics.
¨ Brasil tem interesse em usar moedas
nacionais para comércio entre o Brics, diz Mauro Vieira
O ministro das
Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou em entrevista que o país
está interessado em promover o uso de moedas nacionais nas transações
comerciais entre os países integrantes do BRICS.
“A possibilidade de
utilização de moedas locais no comércio entre os países do BRICS é um tema de
grande interesse do presidente Lula da Silva, e o Brasil se posiciona a favor
de disponibilizar essa nova modalidade aos agentes econômicos dos países do grupo”,
disse Vieira.
Ele ressaltou que a
implementação de um projeto dessa magnitude requer tempo e pesquisa para ser
desenvolvido adequadamente. “As discussões técnicas vão nos mostrar o caminho,
mas o Brasil já tem alguma experiência positiva nessa área, o que mostra que essa
alternativa ao pagamento de operações de comércio exterior é possível”,
ressaltou.
Ainda segundo a
reportagem, o chanceler também mencionou a importância de realizar reuniões na
plataforma Amigos da Paz para incluir novos participantes. Segundo ele, durante
uma reunião em Nova York, foi anunciado que vários países do Sul Global demonstraram
interesse em aderir à iniciativa, com pelo menos 12 países já se juntando à
proposta. “Leva tempo para novos membros da associação aderirem e uma reunião
de plataforma ser organizada”, enfatizou.
Além disso, o Brasil
está preparado para apresentar sua proposta sobre a plataforma Amigos da Paz
relacionada à situação na Ucrânia durante encontros bilaterais no âmbito do
BRICS. “Estamos prontos para apresentar o esboço geral da proposta a qualquer
um que nos procure para reuniões bilaterais”, concluiu Mauro Vieira.
A cúpula do BRICS, que
teve início nesta terça-feira(22), em Kazan, na Rússia, é um dos maiores
eventos de política externa já realizados no país e reunirá 36 nações,
incluindo 22 chefes de Estado e seis organizações internacionais.
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Mauro Vieira lamenta que Milei tenha decidido não aderir ao Brics
O Brasil lamenta que o
novo governo da Argentina, comandado pelo presidente Javier Milei, tenha
decidido não aceitar o convite para integrar o BRICS, disse o ministro das
Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, em entrevista à agência Sputnik.
Em dezembro, o
presidente argentino Javier Milei recusou oficialmente o convite para que seu
país se tornasse membro do BRICS, por meio de cartas enviadas ao presidente
russo Vladimir Putin e ao presidente chinês Xi Jinping.
"Lamentamos que o
novo governo da Argentina tenha optado por não aceitar o convite para ingressar
no grupo", disse Vieira.
¨ Xi Jinping afirma que Brics impulsiona a "multipolaridade
justa"
O presidente chinês Xi
Jinping afirmou nesta terça-feira (22) que o Brics é um fator estruturante na
formação de uma multipolaridade justa.
"O Brics atua
como um fator estruturante na formação de uma multipolaridade justa, ordenada e
de uma globalização econômica intensiva e acessível ao público," disse Xi
durante um encontro com o presidente russo Vladimir Putin em Cazã, na Rússia, à
margem da cúpula do BRICS, acrescentando que a China valoriza altamente o
trabalho da Rússia durante sua presidência no Brics. As declarações foram
citadas pela agência Sputnik.
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Ucrânia
Putin e Xi trocaram
opiniões sobre a Ucrânia e a situação internacional durante a reunião, disse o
porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, nesta terça-feira.
"Houve uma troca
de opiniões tanto sobre a Ucrânia quanto, em geral, sobre a situação
internacional", disse Peskov ao jornalista russo Pavel Zarubin, à margem
da cúpula do Brics, acrescentando que as conversas foram francas e
construtivas.
Os líderes dedicaram
muito tempo à discussão sobre a situação em torno da Ucrânia, disse Peskov,
acrescentando que Putin e Xi observaram uma convergência significativa de
posições e abordagens em relação aos eventos no mundo.
Putin e Xi também
abordaram suas relações com o Ocidente, em meio às investidas contra os
interesses de seus países, concluiu Peskov.
¨ Apoio de parte do Sul Global à Rússia preocupa o Ocidente
O analista de
internacional Lourival Sant’Anna expressou preocupação com o apoio de parte do
chamado Sul Global à Rússia, durante sua participação no programa CNN
Prime Time desta terça-feira (22).
Segundo Sant’Anna,
essa aproximação é motivo de apreensão para o Ocidente, principalmente porque
envolve questões fundamentais de soberania nacional.
O especialista destacou
que o isolamento da Rússia foi uma consequência direta da invasão da Ucrânia.
No entanto, a presença de diversos países na recente Cúpula dos Brics realizada
em Kazan, uma cidade histórica no Tartaristão russo, demonstra uma mudança
nesse cenário.
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Contradições na formação do bloco
Sant’Anna apontou
contradições na formação do bloco liderado pela China, questionando os
critérios de inclusão e exclusão de países.
“Eu não consegui
entender o critério de excluir a Venezuela, porque se for o critério das
democracias, o bloco é liderado por uma ditadura, a China”, observou o
analista.
Ele também mencionou
que países como Rússia, Turquia, Vietnã e Cuba, que integram o grupo, são
considerados regimes autoritários.
A presença desses
países ao lado de nações como Nigéria levanta questões sobre os princípios que
norteiam essa aliança.
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Impacto nas relações internacionais
O encontro de Vladimir
Putin com o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi visto por Sant’Anna
como uma oportunidade de propaganda para o regime russo.
Embora reconheça que
Guterres tem a obrigação de se encontrar com líderes de países membros da ONU,
o analista ressaltou que essas imagens são utilizadas pela mídia controlada
pelo governo russo para fortalecer sua narrativa.
Sant’Anna concluiu que
a adesão de países a este encontro, apesar das ações controversas da Rússia,
China e Irã em relação a seus vizinhos, deixa as democracias ocidentais
perplexas.
Fonte: Brasil
247/Agencia Brasil/CNN Brasil
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