quinta-feira, 24 de outubro de 2024

César Fonseca: ‘Brics quebra hegemonia imperialista americana e sinaliza novo tempo multipolar

Não é mais uma liderança política mundial, capitaneada pelos Estados Unidos.

A hegemonia americana acabou.

Sobem no palco global dois novos atores internacionais que dividem com o presidente americano, Joe Biden, o novo jogo do poder mundial: Putin e Xi Jinping.

Sai de cena o mundo unipolar imperialista ocidental e entra o mundo multipolar puxados por China e Rússia, o mundo asiático, o mundo da rota da seda, da exploração de novas fronteiras econômicas globais na era da Inteligência Artificial.

Não é mais uma potência militar hegemônica: os Estados Unidos.

São três potências que passam, preliminarmente, a dividir o poder mundial: Rússia, China e EUA.

Não é mais uma moeda, o dólar, a dar as cartas.

São as moedas nacionais, locais, integrantes do novo bloco de poder, o BRICS, que movimentarão o comércio mundial.

Os BRICS - 11 países integrantes e 32 outros pretendentes, compondo o Sul Global - são 45% da população global, 36% do PIB mundial em paridade do poder de compra, enquanto o G7 alcança, apenas, 29,3%.

A União Europeia, 14,5% do PIB mundial, é, tão somente, um terço do BRICS.

O velho mundo se rebaixou, espetacularmente, depois de subordinar-se completamente aos Estados Unidos, contrários à aproximação da Europa da Rússia.

NOVO PODER MONETÁRIO

As conversões monetárias se transformam no novo dinamismo das relações de trocas globais.

A hegemonia do dólar dá lugar à multiplicidade das moedas internacionais em livre jogo de intercâmbio monetário para movimentar a nova divisão de trabalho.

A inteligência humana, no seio dos BRICS, no Banco dos BRICS, cria um novo meio de pagamento internacional, alternativa ao criado pela potência hegemônica - o swfit.

Trata-se de câmara internacional de compensações de trocas monetárias compatíveis com proposta de mundo multipolar dinâmico.

Cria-se alternativa ao modelo que está ruindo, erguido em Bretton Woods, 1946, pós guerra, sob domínio do dólar e suas agências financeiras internacionais - FMI e Banco Mundial -, inviáveis para atender demanda internacional por desenvolvimento econômico internacional sustentável, cooperativo e coletivo.

Os Estados Unidos criaram sistema de compensação monetário e de pagamentos individualista que atende preferencialmente o interesse dos Estados Unidos como potencial universal.

VISÃO COLETIVA ENTRA EM CENA

De agora, em diante, com o modelo BRICS, a visão individualista dá lugar a uma visão coletiva, a se consolidar, paulatinamente, ao longo do século 21, marcando diferença qualitativa relativamente ao século 20, assim como o século 20 marcou diferenças quantitativa e qualitativa em relação ao século 19.

A coletividade econômica internacional multipolar abandona o individualismo econômico unipolar.

A visão de coletividade introduz, no cenário multipolar, o espírito cooperativo econômico global, sobre uma nova base monetária centrada nas trocas comerciais com moedas nacionais.

A soberania nacional, pressuposto econômico e político para garantir emissão monetária, é o próprio equilíbrio do novo sistema monetário.

A emissão monetária soberana, segundo concepção do BRICS, em discussão nesta semana em Kazan, Rússia, será coordenada por entendimentos e não por conflitos internacionais.

Seria, no plano da economia política, o lançamento de base de governo mundial necessário à coordenação internacional.

VINGANÇA DE KEYNES

John Maynards Keynes chegou a propor, em Bretton Woods, em 1946, criação de sistema de compensações internacionais (clearing) ancorado no controle de balanços de pagamentos de modo a evitar surtos de bancarrotas financeiras, desorganização financeira internacional etc.

Os Estados Unidos, vencedores da guerra, não aceitaram a sugestão do genial economista inglês, e o mundo caminhou para a nova guerra dinamizada pela moeda hegemônica.

O capitalismo seria compatível com esse tipo de controle que evita a lógica do próprio capitalismo, que é a de promover sem limites acumulação de capital, que leva à guerra, como se vê, no momento, com a predominância incontrolável da financeirização especulativa global comandada pelo dólar, moeda da guerra?

Novo sistema monetário internacional, parteiro de nova divisão internacional do trabalho, é incompatível com a anarquia financeira especulativa que produz guerras e perigo de exterminação do meio ambiente.

MULTILATERALISMO = PÓS-CAPITALISMO

Multilateralismo promove novo capitalismo ou um pós-capitalismo?

O fato é que nasce na Rússia, em Kazan, sob comando de dois novos líderes internacionais, Vladimir Putin e Xi Jinping, o novo multilateralismo, suficientemente amplo para conceber um passo além do capitalismo rentista, especulativo, sobre acumulador de riqueza, a gerar ganância e individualismo, que leva à guerra.

Pede passagem à cooperação e coletivismo econômico internacional bombeado por moedas nacionais em processo de cooperação global, proposta intrínseca aos propósitos essenciais do BRICS para derrotar o imperialismo americano.

32 líderes internacionais estão na Rússia para inaugurar o novo tempo econômico que nasce com promessa de cooperação internacional no lugar do velho tempo que morre por ter sido incapaz de institucionalizar a fraternidade global em forma de oferta de oportunidade para todos alcançarem a verdadeira dignidade humana sob o capital especulativo.

Derrota espetacular do individualismo egoísta que prioriza o amor-próprio exacerbado e não o amor fraternal de uma humanidade que tem o ser outro em si mesmo como base da criação de nova sociedade.

 

¨      Putin sugere abandono do dólar no comércio internacional

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, enfatizou a necessidade de expandir o comércio utilizando moedas nacionais como estratégia. A declaração ocorreu durante uma reunião com a ex-presidente do Brasil e atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD - Banco do BRICS), Dilma Rousseff, que manifestou apoio à proposta. 

“Um aumento dos pagamentos em moedas nacionais torna possível minimizar os riscos políticos externos”, afirmou Putin, de acordo com a AFP. A reunião contou ainda com a participação da presidente do Banco Central Russo, Elvira Nabiulina, e do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov

Desde o início da invasão da Ucrânia em 2022, a Rússia tem enfrentado severas sanções ocidentais, especialmente de natureza financeira. Nesse cenário, Putin frequentemente defende a redução da dependência da economia russa em relação ao dólar, que Moscou classifica como uma moeda "tóxica". Para Putin, a criação de um sistema internacional de pagamentos poderia fornecer uma alternativa ao sistema Swift, do qual a maioria dos bancos russos foi excluída devido às sanções.

Durante a reunião, Dilma Rousseff também enfatizou a urgência de aumentar o comércio em moedas nacionais e que, atualmente, os países do Sul Global enfrentam grandes desafios para conseguir financiamento. “No momento, os países do Sul Global têm uma grande necessidade de financiamento, mas as condições para obtê-lo são muito complicadas”, disse. 

A criação do NBD, que serve como uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, duas instituições consideradas controladas por potências ocidentais, representa um passo na busca por maior autonomia financeira para as nações em desenvolvimento. 

¨      Dilma defende expansão do Brics e uso de moedas locais

Em reunião nesta terça-feira (22) com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a presidenta do Banco do Brics, Dilma Rousseff, defendeu a ampliação do bloco e o aumento dos financiamentos em moedas nacionais, em substituição ao dólar.

Ex-presidenta brasileira, Dilma destacou que os países do Sul Global têm necessidades financeiras muito grandes e que há dificuldades para conseguir esses empréstimos.

“Tivemos investimentos bastante elevados, mas ainda não o suficiente para as necessidades dos países do Brics. Por isso é muito importante disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas. O Novo Banco de Desenvolvimento [NBD] tem o compromisso de viabilizar não só financiamento em projetos soberanos, mas também em projetos da iniciativa privada”, afirmou Dilma Rousseff.

O Sul Global é o termo usado para se referir aos países pobres ou emergentes que, em sua maioria, estão localizados no Hemisfério Sul do planeta.

O presidente russo agradeceu a presença da presidente do NBD – o Banco do Brics – em Kazan, na Rússia, que recebe a 16ª cúpula do bloco entre esta terça (22) e quinta-feira (24). Além disso, Putin elogiou o trabalho da ex-presidenta do Brasil à frente da principal instituição financeira do grupo e defendeu o aumento do uso de moedas nacionais.

“Agradecemos muito o que você fez nos últimos anos. O aumento dos pagamentos em moedas locais permite reduzir as taxas de serviço da dívida, aumentar a independência financeira dos países-membros do Brics, minimizar os riscos geopolíticos e, tanto quanto possível no mundo de hoje, libertar o desenvolvimento econômico da política”, enfatizou Putin.

O mandatário russo destacou ainda que, desde 2018, o Banco do Brics financiou mais de 100 projetos totalizando mais de US$ 33 bilhões. Um dos objetivos do bloco tem sido o de aumentar o uso de moedas próprias no comércio entre os países membros, reduzindo a dependência do dólar.

Está prevista ainda na Cúpula do Brics a apresentação, por Dilma Rousseff, de um relatório com um balanço do NBD na quinta-feira (24), durante a sessão do Brics +, que deve reunir em torno de 32 representantes de países da Ásia, África e América Latina. Dilma preside o banco até julho de 2025.

Durante a reunião com Putin nesta terça-feira, a ex-presidenta brasileira ainda defendeu a expansão do bloco, que é um dos principais temas da cúpula atual na Rússia. “O Brics está agora em um processo de grande amadurecimento. Espero que possamos ter uma expansão maior dos países do Brics para os países do Sul Global e que possamos definir os novos rumos que devemos trilhar nos próximos anos”, completou Dilma Rousseff.

A cúpula deste ano deve definir os critérios para os países interessados ingressarem no bloco em uma nova modalidade, de membros associado. Existem cerca de 30 países que mostraram interesse em participar do Brics.

¨      Brasil tem interesse em usar moedas nacionais para comércio entre o Brics, diz Mauro Vieira

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou em entrevista que o país está interessado em promover o uso de moedas nacionais nas transações comerciais entre os países integrantes do BRICS.

“A possibilidade de utilização de moedas locais no comércio entre os países do BRICS é um tema de grande interesse do presidente Lula da Silva, e o Brasil se posiciona a favor de disponibilizar essa nova modalidade aos agentes econômicos dos países do grupo”, disse Vieira.

Ele ressaltou que a implementação de um projeto dessa magnitude requer tempo e pesquisa para ser desenvolvido adequadamente. “As discussões técnicas vão nos mostrar o caminho, mas o Brasil já tem alguma experiência positiva nessa área, o que mostra que essa alternativa ao pagamento de operações de comércio exterior é possível”, ressaltou.

Ainda segundo a reportagem, o chanceler também mencionou a importância de realizar reuniões na plataforma Amigos da Paz para incluir novos participantes. Segundo ele, durante uma reunião em Nova York, foi anunciado que vários países do Sul Global demonstraram interesse em aderir à iniciativa, com pelo menos 12 países já se juntando à proposta. “Leva tempo para novos membros da associação aderirem e uma reunião de plataforma ser organizada”, enfatizou.

Além disso, o Brasil está preparado para apresentar sua proposta sobre a plataforma Amigos da Paz relacionada à situação na Ucrânia durante encontros bilaterais no âmbito do BRICS. “Estamos prontos para apresentar o esboço geral da proposta a qualquer um que nos procure para reuniões bilaterais”, concluiu Mauro Vieira.

A cúpula do BRICS, que teve início nesta terça-feira(22), em Kazan, na Rússia, é um dos maiores eventos de política externa já realizados no país e reunirá 36 nações, incluindo 22 chefes de Estado e seis organizações internacionais.

<><> Mauro Vieira lamenta que Milei tenha decidido não aderir ao Brics

O Brasil lamenta que o novo governo da Argentina, comandado pelo presidente Javier Milei, tenha decidido não aceitar o convite para integrar o BRICS, disse o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, em entrevista à agência Sputnik.

Em dezembro, o presidente argentino Javier Milei recusou oficialmente o convite para que seu país se tornasse membro do BRICS, por meio de cartas enviadas ao presidente russo Vladimir Putin e ao presidente chinês Xi Jinping.

"Lamentamos que o novo governo da Argentina tenha optado por não aceitar o convite para ingressar no grupo", disse Vieira.

¨      Xi Jinping afirma que Brics impulsiona a "multipolaridade justa"

O presidente chinês Xi Jinping afirmou nesta terça-feira (22) que o Brics é um fator estruturante na formação de uma multipolaridade justa.

"O Brics atua como um fator estruturante na formação de uma multipolaridade justa, ordenada e de uma globalização econômica intensiva e acessível ao público," disse Xi durante um encontro com o presidente russo Vladimir Putin em Cazã, na Rússia, à margem da cúpula do BRICS, acrescentando que a China valoriza altamente o trabalho da Rússia durante sua presidência no Brics. As declarações foram citadas pela agência Sputnik. 

<><> Ucrânia

Putin e Xi trocaram opiniões sobre a Ucrânia e a situação internacional durante a reunião, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, nesta terça-feira.

"Houve uma troca de opiniões tanto sobre a Ucrânia quanto, em geral, sobre a situação internacional", disse Peskov ao jornalista russo Pavel Zarubin, à margem da cúpula do Brics, acrescentando que as conversas foram francas e construtivas.

Os líderes dedicaram muito tempo à discussão sobre a situação em torno da Ucrânia, disse Peskov, acrescentando que Putin e Xi observaram uma convergência significativa de posições e abordagens em relação aos eventos no mundo.

Putin e Xi também abordaram suas relações com o Ocidente, em meio às investidas contra os interesses de seus países, concluiu Peskov.

¨      Apoio de parte do Sul Global à Rússia preocupa o Ocidente

O analista de internacional Lourival Sant’Anna expressou preocupação com o apoio de parte do chamado Sul Global à Rússia, durante sua participação no programa CNN Prime Time desta terça-feira (22).

Segundo Sant’Anna, essa aproximação é motivo de apreensão para o Ocidente, principalmente porque envolve questões fundamentais de soberania nacional.

O especialista destacou que o isolamento da Rússia foi uma consequência direta da invasão da Ucrânia. No entanto, a presença de diversos países na recente Cúpula dos Brics realizada em Kazan, uma cidade histórica no Tartaristão russo, demonstra uma mudança nesse cenário.

<><> Contradições na formação do bloco

Sant’Anna apontou contradições na formação do bloco liderado pela China, questionando os critérios de inclusão e exclusão de países.

“Eu não consegui entender o critério de excluir a Venezuela, porque se for o critério das democracias, o bloco é liderado por uma ditadura, a China”, observou o analista.

Ele também mencionou que países como Rússia, Turquia, Vietnã e Cuba, que integram o grupo, são considerados regimes autoritários.

A presença desses países ao lado de nações como Nigéria levanta questões sobre os princípios que norteiam essa aliança.

<><> Impacto nas relações internacionais

O encontro de Vladimir Putin com o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi visto por Sant’Anna como uma oportunidade de propaganda para o regime russo.

Embora reconheça que Guterres tem a obrigação de se encontrar com líderes de países membros da ONU, o analista ressaltou que essas imagens são utilizadas pela mídia controlada pelo governo russo para fortalecer sua narrativa.

Sant’Anna concluiu que a adesão de países a este encontro, apesar das ações controversas da Rússia, China e Irã em relação a seus vizinhos, deixa as democracias ocidentais perplexas.

 

Fonte: Brasil 247/Agencia Brasil/CNN Brasil

 

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