Lula pede a criação de um sistema de
pagamento além do dólar
O presidente do Brasil
Lula da Silva, discursando na reunião dos líderes de Estados na 16ª Cúpula do
BRICS em Kazan em formato amplo por videoconferência, tocou um espectro de
questões globais desde a mudança do clima até a chegada a um mundo multipolar.
Na primeira parte de
seu discurso Lula agradeceu aos membros do BRICS pelo apoio que prestaram à
presidência do Brasil no Grupo dos 20 (G20) e ressaltou a importância de fazer
aderir o maior número possível de países à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
<><>
Abordagem às mudanças climáticas
As políticas sociais
que os países do BRICS já implementaram podem servir de exemplo para o resto do
mundo, disse o presidente.
O presidente
brasileiro disse que o BRICS é um ator incontornável na questão das mudanças
climáticas. Ele afirmou que não há dúvidas que a situação atual com o clima é
um resultado das atividades dos países ricos que está afligindo todos hoje em
dia.
"É preciso ir
além dos 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos e fornecer medidas de
monitoramento dos compromissos assumidos", declarou.
Lula enfatizou que os
países em desenvolvimento devem desempenhar seu papel na limitação do aumento
da temperatura global a um grau e meio.
<><>
Política do Brasil na sua presidência do BRICS
O Brasil pretende
seguir a linha do bloco em lutar por um mundo multipolar e por relações menos
assimétricas entre os países durante sua presidência em 2025.
O lema da presidência
brasileira será: "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma
Governança mais Inclusiva e Sustentável".
Lula afirmou que o
plano vai abordar os problemas de acesso à medicina e desenvolvimento da
inteligência artificial (IA), acrescentando que os governos precisam reforçar
suas capacidades tecnológicas.
O presidente admitiu a
importância dos países-membros da associação no crescimento econômico global
nas últimas décadas.
"Juntos, somos
mais de 3,6 bilhões de pessoas, que integram mercados dinâmicos com elevada
mobilidade social. Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de
compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do
grafite. Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações
ricas", destacou.
Ele indicou que as
importações do Brasil para os Estados-membros do BRICS aumentaram 12 vezes
desde 2003, enquanto o grupo representa quase um terço de todas as importações
brasileiras.
Lula também notou que
o Novo Banco de Desenvolvimento, liderado por Dilma Rousseff, contribuiu muito
durante seus dez anos de existência para projetos dos países participantes.
À situação em que os
países em desenvolvimento alimentam financeiramente o mundo desenvolvido Lula
chamou de "um Plano Marshall às avessas", se referindo ao plano
desenvolvido pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial para ajudar a
Europa ocidental a recuperar suas economias arruinadas.
"As iniciativas e
instituições do BRICS rompem com essa lógica."
Tocando a questão de
desdolarização nos pagamentos internacionais e dentro do BRICS, o presidente
brasileiro opinou que o objetivo principal é refletir a ordem multipolar que
querem alcançar no sistema financeiro global.
Segundo ele, essa
questão precisa de ser abordada cautelosamente, mas já não pode ser mais
adiada.
<><>
Solução de crises mundiais
Lula apelou para não
dividirem o mundo em países amigos e inimigos, sublinhando que os países mais
vulneráveis, que estão enfrentando problemas de saúde, economia e alimentação,
não querem enfrentar esse cenário mundial.
"No momento em
que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é
fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos
comuns", concluiu.
<><>
Cúpula como culminação da presidência russa no BRICS
O BRICS é uma
associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS
em 1º de janeiro de 2024. Em 2025, a presidência vai passar da Rússia para o
Brasil.
O ano começou com a
entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e
África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes
Unidos e Arábia Saudita.
A 16ª Cúpula do BRICS
em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações
internacionais, iniciou em 22 de outubro.
A cúpula é o evento
final da presidência russa na associação, e é realizada sob o lema de
fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a
segurança.
<><>
Putin chama Estados-membros soberanos do BRICS de países com o mesmo pensamento
O presidente russo,
Vladimir Putin, falando em uma reunião da 16ª Cúpula do BRICS em Kazan em
formato restrito, declarou que há uma mudança radical no mundo multipolar e
chamou os Estados-membros soberanos do BRICS de países que compartilham mesmo
pensamento.
O líder russo observou
que todos os Estados-membros do BRICS defendem a igualdade, a boa vizinhança e
o respeito mútuo, o estabelecimento de altos ideais de amizade e harmonia, a
prosperidade e o bem-estar universais.
Segundo Putin, os
países do BRICS contribuem para uma influência positiva à segurança global e
para a resolução dos problemas agudos mundiais.
"Seria justo
dizer que o BRICS inclui países soberanos e com ideias semelhantes,
representando diferentes continentes, modelos de desenvolvimento, religiões,
civilizações e culturas distintas", disse.
A estratégia do BRICS,
de atender às necessidades da maior parte da comunidade mundial, é importante
no momento atual em que "o mundo está passando por mudanças realmente
dramáticas", destacou o presidente russo.
E a vantagem do BRICS,
neste contexto, é o enorme potencial político, econômico, científico e
demográfico dos países-participantes.
Putin disse que,
durante sua presidência do BRICS, a Rússia tem como objetivo consolidar o
prestígio da associação no cenário mundial.
"Temos nos
esforçado para fortalecer o prestígio do BRICS, para aumentar seu papel nos
assuntos mundiais e para tratar de questões globais e regionais urgentes",
afirmou.
Ele indicou que muito
está sendo feito para garantir a integração tranquila e mais completa possível
dos novos países participantes no trabalho da associação.
Aqui, o presidente
Putin expressou a ideia de formar uma lista de países parceiros do BRICS, um
assunto que já foi discutido na cúpula do BRICS em Joanesburgo, e a fixar na
declaração final da cúpula de Kazan.
"Não há dúvida de
que seria errado ignorar o interesse sem precedentes dos países do Sul e do
Leste Global em fortalecer os contatos com o BRICS. Mais de 30 países já
expressaram esse desejo de uma forma ou de outra. Ao mesmo tempo, é necessário
encontrar um equilíbrio e evitar que o BRICS reduza sua eficácia",
ressaltou.
<><>
Cúpula como culminação da presidência russa no BRICS
O BRICS é uma
associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS
em 1º de janeiro de 2024. Em 2025, a presidência vai passar da Rússia para o
Brasil.
O ano começou com a
entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e
África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes
Unidos e Arábia Saudita.
A 16ª Cúpula do BRICS
em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações
internacionais, iniciou em 22 de outubro.
A cúpula é o evento
final da presidência russa na associação, e é realizada sob o lema de
fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a
segurança.
¨
Declaração dos BRICS
apoia reforma na ONU e discute desenvolvimento
Os líderes dos países
que integram o BRICS apoiam uma reforma abrangente da Organização das Nações
Unidas (ONU), incluindo o Conselho de Segurança, para que suas atividades sejam
mais democráticas, representativas e eficazes.
Tal posicionamento
integra a Declaração da Cúpula de Kazan, que se encerra amanhã na Rússia, que
contém 134 tópicos listados ao longo de 43 páginas tratando de temas como o
desenvolvimento adicional do grupo, posição sobre questões globais, sanções e
solução de crises regionais.
Em linhas gerais, os
líderes do bloco mostram apoio à reforma da ONU, enfatizando a necessidade de a
organização se posicionar na gestão global da inteligência artificial.
Como destaca a agência russa Tass, os países também se mostraram contrários às sanções unilaterais motivadas
politicamente por conta do impacto no desenvolvimento de outros países – vale
lembrar que Estados Unidos e Europa estabeleceram uma série de sanções contra a Rússia por conta da guerra na Ucrânia.
<><>
Aumento da
violência
Segundo o documento,
os líderes do BRICS expressaram preocupação sobre “o aumento da violência e os
conflitos armados contínuos em diferentes partes do mundo, incluindo aqueles
que têm impacto significativo em níveis regionais e internacionais”.
Sobre os confrontos no
Oriente Médio, os integrantes do bloco mostraram preocupação com a escalada em
andamento na região, incluindo os ataques cometidos por Israel contra a
embaixada do Irã em Damasco.
A explosão de
equipamentos de comunicação no Líbano também foi condenada pelos países do
bloco, que apoiaram o estabelecimento do Estado soberano da Palestina dentro
das fronteiras internacionalmente reconhecidas de 1967 e sua admissão à ONU.
<><>
Questões econômicas
Com relação à
economia, os países do BRICS defenderam a reforma das instituições de Bretton
Woods, “aumentando a contribuição dos países em desenvolvimento para a economia
mundial”.
Segundo o documento,
os integrantes do grupo também concordam com um sistema de comércio
multilateral aberto e justo com um papel central para a Organização Mundial do
Comércio (OMC), fornecendo um regime especial para os países em
desenvolvimento.
“Os países do BRICS
concordaram em discutir e estudar a possibilidade de estabelecer um sistema de
liquidação e depósito transfronteiriço independente do BRICS Clear”, destacou o
texto – o que pode ser uma alternativa ao SWIFT adotado no Ocidente, e no qual
os bancos russos estão proibidos de atuar.
¨
O desafio de criar a
moeda do BRICS. Por Luís Nassif
O BRICS e o banco do
BRICS são duas ótimas oportunidades de parceria para o Brasil. Mesmo porque, a
geopolítica da China é a da colaboração e da integração de mercados. E o
desmanche da ONU criou um enorme vácuo para mediação e apoio ao
desenvolvimento.
Mas a moeda do BRICS
ainda é um sonho distante.
A ideia da moeda
surgiu depois que os Estados Unidos passaram a utilizar o Swift (o sistema de
comunicação de transação em dólares) para retaliar adversários políticos. A
partir daí, criou uma instabilidade insolúvel.
A primeira proposta do
BRICS foi criar sistemas alternativos de comércio, que não exigissem pagamento
em dólares. Trata-se de um desafio, já que o comércio entre países não é
equilibrado. Assim, haverá países com saldos e déficits em relação a seus
parceiros comerciais.
O dilema exige ou uma
moeda comum – como o euro – ou uma moeda referência – como o DES (Direito
Especial de Saque), do FMI.
Segundo a Bloomberg, a Rússia
propõe uma rede de bancos comerciais que possam conduzir as transações em
moedas locais, assim como o estabelecimento de ligações diretas entre bancos
centrais. Essas propostas estão contidas em um relatório preparado pelo
Ministério das Finanças da Rússia, o Banco da Rússia e a consultoria Yakoc
& Partners, de Moscou.
O trabalho recomenda
que o sistema multi-moeda precisará “proteger seus participantes de quaisquer
pressões externas, como sanções extraterritoriais”. Propõe também a
criação de centros para comércio mútuo de commodities, como petróleo, gás
natural, grãos e ouro.
A rigor, a única
unanimidade é sobre o uso do sistema de blockchain para custodiar as moedas.
Para tanto, está sendo estudado o uso do sistema DLT (Tecnologia de
Contabilidade Distribuída). Será muito mais eficiente que o Swift – que é
apenas uma rede de comunicação de transações em dólares.
Segundo definição
corrente, “a tecnologia de razão distribuída (DLT) é a infraestrutura
tecnológica e os protocolos que permitem acesso simultâneo, validação e
atualização de registros em um banco de dados em rede. DLT é a tecnologia a
partir da qual os blockchains são criados, e a infraestrutura permite que os
usuários visualizem quaisquer alterações e quem as fez, reduz a necessidade de
auditar dados, garante que os dados sejam confiáveis e fornece acesso apenas
para aqueles que precisam”.
O blockchain assegura
o controle sobre as transações, mas não resolve o ponto central da moeda de
referência. Quando foi firmado o acordo de Bretton Woods, o novo sistema
internacional baseava-se em moedas de referência, como propôs John Maynard
Keynes, em 1944. A moeda seria utilizada apenas para as transações comerciais,
mas cada país conservaria sua própria moeda. A moeda-chave passou a ser o
dólar, mas amarrado à cotação do ouro. O dólar passou a ser utilizado como
reserva de valor, servindo de referência para a compra de produtos de qualquer
país.
Essa preponderância do dólar permitiu a criação de muitos
instrumentos financeiros, proporcionando maior
liquidez e menor risco e custo de conversão. Falta esse instrumento ao BRICS,
uma moeda que funcionasse no bloco da mesma forma que o dólar no Swift. E, sem
essa moeda, não haverá desdolarização da economia mundial.
Obviamente, haverá que
enfrentar a reação dos Estados Unidos. Como dono da moeda universal, o dólar, o
poder de emissão de moeda dá uma vantagem enorme ao país.
Membro do grupo que
está estudando a nova ordem mundial, Paulo Nogueira Baptista Jr propõe a criação do que ele denominou e NMR. Seria uma moeda digital,
análoga às que estão sendo criadas pelos bancos centrais de vários países.
Sua proposta é dos
países participantes constituirem um banco emissoir, a NAMR (Nova Autoridade
Monetária de Reserva), responsável por criar as NMRs e emitir títulos
referenciados na nova moeda, as NTRs – que seriam integralmente garantido pelos
tesouros nacionais dos países participantes.
O primeiro passo seria
a criação de uma unidade de conta, uma cesta de moedas em que o peso dos países
corresponderia à sua participação no PIB do grupo – poroposta apresentada há
tempos por economistas russos. A vantagem é que os NMRs poderiam ser criadas
por um grupo restrito de países, aguardando a adesão posterior dos demais.
Fonte: Sputnik
Brasil/Jornal GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário