Sobreviventes dos bombardeios israelenses
enfrentam uma nova catástrofe: epidemias, amputações e fome
“Enquanto o norte
da Faixa de Gaza está sujeito a uma nova campanha de massacres e fome
forçada, os médicos que trabalham em outros lugares de Gaza dizem que
uma ameaça mais silenciosa está se espalhando pelo território: as doenças
crônicas e as infecções”. A reflexão é de Murtaza Hussain, em artigo originalmente publicado
por Drop Site News e reproduzido por Voces
del Mundo, com tradução do Cepat.
Murtaza Hussain é
jornalista especializado em questões de segurança nacional e política externa.
Seus artigos são publicados na CNN, BBC, MSNBC e outras
mídias
<><> Eis o
artigo.
Enquanto o norte
da Faixa de Gaza está sujeito a uma nova campanha de massacres e fome
forçada, os médicos que trabalham em outros lugares de Gaza dizem que
uma ameaça mais silenciosa está se espalhando pelo território: as doenças
crônicas e as infecções.
Um ano após o início
do conflito, os ataques contra a população civil do território continuaram a se
intensificar, incluindo os bombardeios contra hospitais e escolas no norte, que
causaram um número impressionante de vítimas civis. Enquanto as clínicas no
norte foram sobrecarregadas por lesões traumáticas provocadas por bombardeios
aéreos e outros ataques, as instalações médicas em outras partes da Faixa
de Gaza que não são atualmente alvo desta campanha registraram um declínio
relativo deste tipo de lesões, disseram médicos em Gaza ao Drop
Site News.
Em meio a esta
calmaria nos casos de trauma em outras partes da Faixa de Gaza, as
autoridades médicas estão percebendo claramente o impacto das doenças e da
subnutrição na população palestina, à medida que os pacientes ficam
desesperados para ter acesso aos poucos equipamentos de saúde que ainda
funcionam no território.
“Estamos enfrentando
as consequências sanitárias de toda uma população que não tem acesso a
tratamento médico regular há mais de um ano, e na qual centenas de milhares de
pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas para viver em barracas
superlotadas, sem saneamento ou acesso a água potável”, disse Nabil Rana, cirurgião vascular da Carolina do
Norte que está atualmente em missão médica voluntária no Hospital Nasser, na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza. “Vemos a
chegada de um grande número de pessoas com graves complicações derivadas de
doenças e infecções facilmente tratáveis. Está chegando a um ponto em que é
aterrador”.
A guerra assistiu a
ataques diretos não só a equipamentos médicos, mas também a bombas de água,
estações de tratamento de águas residuais e poços, o que tornou a água potável
um bem escasso para os habitantes de Gaza. Em julho, apareceram imagens de
vídeo de soldados israelenses destruindo uma instalação de bombeamento de água
na cidade de Rafah, um dos muitos ataques documentados e intencionais à
infraestrutura hídrica no território.
Khalid Mortaga, um
cidadão americano de 22 anos que permanece preso com sua família na cidade
de Deir al-Balah, no centro de Gaza, disse que ele e seus familiares
sofreram de doenças crônicas de pele, hepatite e outras doenças em consequência
de se verem obrigados a usar água contaminada.
“No dia 1º de outubro
fui diagnosticado com hepatite. Nos dez dias seguintes fiquei na cama a maior
parte do tempo. Meu rosto ficou pálido e meus olhos ficaram amarelos,
disse Mortaga. Muitas pessoas ao nosso redor em Deir
al-Balah também sofrem desta doença, mas os problemas de saúde mais comuns
que a maioria das pessoas sofre são doenças de pele resultantes da água salgada
e suja que usamos para beber e tomar banho”.
Mortaga compartilhou
fotos com o Drop Site News de erupções cutâneas e outras doenças de
pele que ele e sua família sofrem atualmente. “Muitas pessoas procuram remédios
e não encontram, disse. Minha mãe foi ao dermatologista e ele receitou um
remédio, mas ela não o encontrou. Meu pai também tem sinusite crônica e não
consegue encontrar o spray que costuma usar”. Ele e sua família ainda têm a
esperança de que o Departamento de Estado os ajude na evacuação.
Reunir números exatos
sobre o impacto total das doenças em Gaza é quase impossível devido
às restrições à entrada no território e ao colapso do sistema de saúde durante
a guerra. No entanto, os relatórios dos profissionais da área da saúde que ainda
trabalham em Gaza pintam um quadro sombrio e constante de uma
população que sucumbe à devastação da doença.
Na
segunda-feira, Mohammed Aghaalkurdi, um trabalhador humanitário que
atua em Khan Younis, publicou um artigo de opinião no The New York
Times em que avalia a catástrofe que o sistema de saúde de Gaza enfrenta. “As tubulações de água que
abastecem a área foram cortadas, o esgoto inunda as ruas e as pessoas não têm
outra escolha senão viver em tendas devido às constantes evacuações e
bombardeios. Muitos se viram forçados a usar água do mar contaminada com esgoto
bruto para fazerem a higiene e lavar roupa. Quase não há sabão ou detergente
para comprar, escreveu. Agora, diariamente, os postos de saúde da nossa equipe
no sul de Gaza tratam cerca de 180 crianças com doenças cutâneas
eruptivas, como impetigo e varicela”.
Antes da
guerra, Gaza já estava entre os locais mais densamente povoados do
planeta. Agora, grande parte da população foi forçada a se refugiar numa série
de chamadas “zonas seguras”, incluindo uma área ao longo da costa conhecida
como Mawasi, explicou Rana. Embora o nível de mortes e deslocamentos
no território tenha dificultado a obtenção de números exatos da população, é
possível que até 1,9 milhão de palestinos estejam concentrados nestas zonas
seguras. A densidade populacional de Mawasi é estimada em mais de
30.000 pessoas por quilômetro quadrado. “Toda a área está abarrotada de tendas
e acampamentos. É algo incomensurável. Existem barracas até onde a vista
alcança e não há banheiros nem acesso a água potável”, acrescentou Rana.
Nestas condições,
doenças transmissíveis como meningite, hepatite A, infecções gastrointestinais,
sarna e varicela se propagam em grande velocidade. No início deste ano também
surgiram relatos de poliomielite em Gaza, o que levou a uma breve pausa na
luta para administrar vacinas de emergência e prevenir uma maior disseminação
da doença.
“Estamos atendendo
pessoas com graves complicações decorrentes de coisas que poderiam ter sido
facilmente evitadas, incluindo muitos diabéticos que ficaram gravemente doentes
devido à falta de nutrição adequada, diz Rana. Pequenos ferimentos muitas vezes
não são tratados, o que leva à gangrena e a uma alta taxa de amputações
parciais de mãos e pés. Ultimamente fazemos mais amputações por ferimentos
infectados e em diabéticos do que por lesões traumáticas”.
Embora o número de
mortos em combate estimado pelo Ministério da Saúde de Gaza tenha
ultrapassado os 40.000 desde o início da guerra, os relatórios médicos sugerem
que o número real de mortes provocadas pela guerra já é provavelmente muito
maior devido à destruição deliberada do sistema de abastecimento de água,
esgoto e dos equipamentos de saúde.
O Ministério da
Saúde não inclui mortes por doenças e outras causas indiretas derivadas da
guerra no seu número de mortos. No entanto, um estudo publicado em julho na
revista médica britânica The Lancet estima que o “excesso de mortes”
provocado pela destruição dos equipamentos de saúde e de outras infraestruturas
civis pode já ter ultrapassado os 186 mil desde o início da guerra, um número
que os autores estimam entre 7% e 9% da população total do território antes da
guerra.
Avaliar a extensão da
perda é ainda mais difícil, uma vez que apenas uma fração da população
de Gaza tem acesso a cuidados médicos neste momento. “A grande
maioria da população vive nestes acampamentos inacessíveis. Provavelmente não
estamos capturando nem uma fração do número de infartos e de acidentes
vasculares cerebrais que estão ocorrendo, disse Rana. Estamos vendo tantos
casos de meningite no hospital que está virando uma verdadeira epidemia.
Calcular a taxa de propagação de doenças infecciosas neste momento é
simplesmente impossível”.
É provável que as
condições atuais agravem a crise. “Tem resíduos por todo lado, lixo por todo
lado, tem esgoto nas ruas por onde as pessoas andam; tudo isso é calculado para
provocar doenças infecciosas em massa. Não há água limpa para beber. Já vi literalmente
crianças bebendo esgoto da rua, esse é o nível de desespero,
acrescentou Rana. Todos estão desnutridos, todos estão imunocomprometidos,
e estas são as pessoas que sobreviveram aos bombardeios”.
A ideia de usar a
doença como arma contra os habitantes de Gaza tornou-se pública em
novembro passado, quando Giora Eiland, um influente general aposentado do exército israelense e
conselheiro do ministro da Defesa Yoav Gallant, começou a defender o uso da fome, das doenças
e da privação de água como ferramentas de guerra.
Em
novembro, Eiland escreveu um artigo na edição hebraica
do Yedioth Ahronoth em que encorajava Israel a
infligir sofrimento à população por estes meios. “A comunidade internacional
nos alerta para um grave desastre humanitário e graves epidemias. Não devemos
fugir disto. Em última análise, epidemias graves no sul
de Gaza deixarão a vitória mais próxima e reduzirão as baixas entre
os soldados israelenses”, escreveu Eiland. Sobre o possível impacto desta
estratégia na população civil, acrescentou: “Quem são as mulheres ‘pobres’
de Gaza? Todas são mães, irmãs ou esposas de assassinos do Hamas”.
O artigo
de Eiland foi posteriormente respaldado pelo influente ministro
das Finanças israelense de extrema-direita, Bezalel Smotrich, que o compartilhou nas redes sociais e
declarou que “concordava com cada palavra”.
Eiland é também o
arquiteto de uma proposta conhecida como “Plano dos Generais”, que promove o
uso da fome para esvaziar o norte de Gaza da sua população e
transformar o território numa “zona militar fechada”, uma estratégia que,
aparentemente, Israel está considerando implantar na parte norte do território.
O conselheiro do
ministro da Defesa israelense e ex-presidente do Conselho de
Segurança Nacional elogiou publicamente a destruição do abastecimento de
água como uma ferramenta para infligir sofrimento coletivo aos palestinos.
“Israel, pelo que entendi, cortou o fornecimento de água a Gaza”,
disse Eiland numa entrevista em hebraico no ano passado. “Mas há
muitos poços em Gaza, que contêm água que tratam localmente, pois
originalmente contêm sal. Se a falta de energia em Gaza fizer com que
parem de bombear água, tudo bem. Caso contrário, teremos de atacar estas
estações de tratamento de água para criar uma situação de sede e fome
em Gaza, e criar assim uma crise econômica e humanitária sem precedentes”.
O plano
de Eiland de utilizar a água, as doenças e a subnutrição como armas
de guerra parece ter sido implementado em Gaza, e a população civil está
sucumbindo em massa à devastação das doenças. Como resultado destas medidas, e
com a guerra em andamento, o número final de mortos em Gaza pode
acabar ultrapassando até mesmo as estimativas mais sombrias que estão agora
sendo feitas por pesquisadores médicos.
“Não é necessário
lançar uma única bomba e é possível exterminar uma população inteira
simplesmente destruindo completamente as suas instalações e infraestruturas
desta forma, disse Rana. Essa será a causa da grande maioria das mortes no
final desta guerra”.
¨ “Gaza e suas vidas indignas: somos todos ‘recrutados’”, diz com
Judith Butler
Há gritos que podemos
ouvir. Outros, que não. Mortos que lamentamos e muitos, a maioria, que
ignoramos. A guerra distingue as vidas que contam daquelas que não contam, a
dor dos outros pela qual sentimos empatia daquela que ignoramos, o “nós” contra
o “eles”.
<><> Eis a
entrevista.
·
Butler, em Regimi di guerra,
você escreve: “A guerra é uma lógica de precarização de algumas vidas em
detrimento de outras, ela polariza em um nós e um eles a radical igualdade
humana, ou seja, a vulnerabilidade da existência”. Quando esse processo começa?
A guerra não
é uma coisa única e não existe uma lógica única para todos os conflitos. Há
confrontos em que o vencedor lamenta o derrotado com formas rituais. Hoje, no
entanto, aos derrotados nem sequer é reconhecida a dignidade do luto, como se
não fossem seres vivos. Pensamos na guerra como um evento separado das questões
sociais, mas se olharmos para os curdos ou para os palestinos, veremos como a desigualdade social e política culmina em
formas de violência que comprometem a própria vida daqueles povos.
·
Gaza é o ponto mais extremo desse discurso?
O argumento do governo
israelense e de parte da população é baseado na “culpa coletiva”. Ou seja,
todos os palestinos devem pagar pelo que alguns deles fizeram: tendo votado
no Hamas,
que cometeu atrocidades e crimes de guerra, foram eles que provocaram a
resposta violenta das IDF. “Eles morrem por culpa deles”. Um argumento
imoral porque desconhece a destruição maciça do exército israelense em Gaza, primeiro, a ponto de fazer com que se fale em violência
genocida, e em Beirute agora.
·
Parece que somos cada vez mais indiferentes
aos mais de 40.000 mortos palestinos. Como é possível? E por que para falar
disso é sempre necessário começar relembrando as vítimas de 7 de outubro?
Os ataques de 7 de outubro foram um crime contra a humanidade e devem ser condenados.
Mas a condenação e a compreensão histórica não são contraditórias, e essa
história não começa em 7 de outubro. Começar tudo a partir daí é explicar a
violência de Israel como retaliação ou autodefesa. Não nos perguntamos a que
o Hamas reage, qual é sua história, seus objetivos, as relações com o
restante dos palestinos. Quando nos é pedido para condenar
o Hamas no início de uma conversa, se quer congelar o ponto de
partida da história.
·
Sua leitura do 7 de outubro lhe rendeu
muitas críticas...
Se eu continuasse em
meu luto como judia, sem ver a devastação pela qual Gaza está
passando, eu estaria estreitando minha visão e falharia na leitura do quadro.
Minha resposta ao 7 de outubro foi lamentar a perda de judeus
israelenses (que irritou alguns de meus amigos palestinos) e a insistência na
igual dignidade de luto pelas vidas palestinas (que incomodou muitos
sionistas).
Não me encaixo
no esquema belicista. E a agressão em Gaza não tem nada a ver com a
vocação judaica pela justiça na qual fui criada. O esquema belicista
gostaria de um “nós” contra um “eles”.
·
Uma divisão que é reforçada na guerra. Um
grupo de pessoas é representado por um único ponto de vista. E quando aquela
multidão se esgota em uma única figura, ela se torna um fantasma: não é mais
uma vida humana, mas a encarnação de uma ameaça a ser destruída. Assim
normalizamos a morte dos “outros”?
Até certo ponto, sim.
Perguntemo-nos por que nossa indignação é reservada aos civis israelenses,
embora muitos condenem a morte de palestinos inocentes, inclusive crianças, e
por isso saem às ruas para protestar. A guerra restringe o campo das nossas
emoções, ativando algumas e atenuando outras. O jornalismo embutido e as mídias
nos mostram o horror, parece que o tocamos e sentimos, mas é uma sequência de
imagens que não nos faz entender e analisar o que está acontecendo e por quê. É
por isso, escrevo, que a guerra se empenha em minar uma democracia razoável. É
por isso que temos de ser capazes de entender a guerra plenamente, registrá-la
com nossos sentidos e fazer com que a dor e a raiva nos levem a questionar,
aberta e coletivamente, aquela destruição, para avaliar se ela é justificável
ou não.
·
Você afirma que a guerra seria uma
encenação.
Eu certamente não acho
que seja uma farsa, muito pelo contrário! Mas quando um fotógrafo ou uma
agência de notícias narra, sempre enquadra. Mesmo que se esforcem para ser
neutros. Selecionar um fato em detrimento de outro, seu ângulo, são todos atos
de interpretação. O enquadramento participa ativamente de uma estratégia de
contenção, impondo o que será considerado realidade para nós, leitores ou
espectadores.
Vamos pensar
no governo israelense. Dizem-nos que os civis estão sendo mortos porque
o Hamas está escondido entre eles: portanto, deveríamos acreditar que
eles seriam danos colaterais ou que, ao fornecer abrigo ao inimigo, estão
participando da guerra. Mas há notícias que derrubam esse quadro de
interpretação: aqueles civis são atacados diretamente, em suas casas, escolas,
abrigos.
·
São os Estados, as mídias ou as redes
sociais que impõem os enquadramentos?
Pelo menos em
condições de ausência de censura de parte do estado, há muitos atores que,
mesmo por meio de um celular, criam enquadramentos, muitas vezes
contraditórios. Portanto, devemos nos perguntar não apenas quais são as
notícias de Gaza, mas também por meio de quais enquadramentos as
recebemos. Criaremos nossa própria ideia, sem que ela nos seja ditada.
No entanto, aqueles
que discordam de uma determinada ideia são criminalizados e deslegitimados...
·
Nesse estado de violência, estou preocupado
tanto com a liberdade de imprensa quanto com a liberdade acadêmica. Muito
depende do tipo de nacionalismo que os esforços bélicos constroem e consolidam.
A ideia de nação não admite migrantes, refugiados, ativistas LGBTQIA+,
opositores: todos são ameaças ao Estado e ao seu sucesso na guerra. Somos todos
recrutados?
Talvez precisemos nos
tornar mais conscientes de como ocorre o recrutamento. As pessoas querem saber
imediatamente “de que lado você está”. Podemos até querer assumir uma posição
fora do dualismo nós-eles ou contra a guerra como tal: em ambos os casos, nos
dirão que estamos do outro lado, ou seja, com o inimigo. Como judia, se eu não
apoiar o Hamas - e eu não apoio - sou definida de sionista.
Mas se eu criticar o sionismo em sua forma atual, pertenço
ao Hamas! Essas duas acusações se encaixam naquela lógica de guerra à qual
me oponho. Nosso esforço deve ser o de desenvolver quadros interpretativos que
vão além: o objetivo é um mundo não violento no qual coabitem igualdade e
liberdade para todos.
·
A guerra é “masculina”?
Não, há uma
masculinidade beligerante em certas formas agressivas de autodefesa e de
sadismo. E também há mulheres que adotam essa lógica. Mas existem mulheres,
homens e pessoas de outro gênero unidos contra a guerra: para mim, são a
esperança.
·
O resultado das eleições nos EUA afetará o
fim da guerra na Ucrânia e em Gaza?
Sim, afetará o envio
de armas. Trump é um protecionista que não gosta de gastar dinheiro em guerras
distantes: se ele vencer, abandonará Kiev e buscará um acordo que
favoreça Moscou. Mas não deixará de apoiar Israel. Quanto a Kamala Harris, estamos esperando para ver até que ponto ela romperá
com Biden.
·
As esquerdas globais parecem estar em um
dilema em relação a Gaza, enquanto que sobre a Ucrânia adotaram, com o apoio a
Kiev, a lógica da escalada...
Eu não saberia dizer
quem ou o que define a esquerda global hoje. Mas vejo algumas grandes
mobilizações em prol da Palestina e apelos pelo fim da violência na Ucrânia. Se se quer derrotar o nacionalismo e o autoritarismo, é para
os protestos transnacionais que devemos olhar. Lembremos que Bolsonaro e Trump foram tirados pelo voto popular e que a
esquerda está crescendo na França, embora tenha sido destituída do poder
pela autocracia neoliberal de Macron.
·
O feminismo pode desempenhar um papel?
Deveria ser a
vanguarda. Na Rússia, há associações feministas como a Women in
Black e a Code Pink que estão lutando pela paz na Ucrânia.
Opor-se à guerra significa, ao mesmo tempo, lutar pela igualdade, pela
liberdade e pelo fim da catástrofe climática, para substituir os gastos
militares em favor de gastos com educação, moradia e meio ambiente. O feminismo gera os valores mais importantes para qualquer mobilização
contra a guerra.
Fonte: IHU
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