quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Entenda a origem do nome “Povo de Israel” e como age o bando, com 'ladrões', empresários' e 'laranjas'

De acordo com a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ), a facção Povo de Israel (PVI), alvo da Operação 13 Aldeias, deflagrada nesta terça-feira (22/10), surgiu há 20 anos após um conflito entre grupos rivais no presídio de Água Santa (RJ).

Hoje, a organização criminosa, que tem base no Presídio Nelson Hungria (Bangu 7), conta com 18 mil integrantes, sendo que a maioria está encarcerada em uma das 13 unidades prisionais do Rio de Janeiro, chamadas pela facção de “aldeias”. Estima-se que esse número representa 42% do efetivo prisional do estado.

Uma das principais ações do PVI é o golpe do falso sequestro quando, de dentro de uma cela, o preso liga para números aleatórios e finge ser um parente de quem atendeu. O bandido passa a exigir um resgate para liberar a falsa vítima.

O inquérito mostra que há divisão de tarefas e funções dentro da organização. Aqueles chamados de “empresários” são os presos responsáveis por obter os celulares que serão usados dentro da cadeia. Os apelidados de “ladrão” são os responsáveis por fazer as ligações para as vítimas, simulando vozes de parentes que estariam sequestrados.

A polícia estima que a quadrilha movimentou quase R$ 70 milhões em dois anos. A investigação, que durou 10 meses, identificou, ainda, esquema de lavagem de dinheiro por meio de laranjas e empresas fantasmas que abasteciam a quadrilha.

O grupo teria ramificações no Espírito Santo e em São Paulo, onde integrantes são responsáveis por movimentar os valores em contas bancárias. Ainda segundo a polícia, o Povo de Israel não tem relação com o Complexo de Israel, conjunto de favelas na zona norte do Rio que é dominado pelo Terceiro Comando Puro, a 2ª maior facção do tráfico do Rio, atrás apenas do Comando Vermelho.

·        Operação 13 Aldeias

A Polícia Civil do Rio de Janeiro deu início, nesta terça-feira (22/10), à Operação 13 Aldeias, tendo como alvo a PVI, que, de dentro de presídios, faz centenas de vítimas, todos os dias, com golpes via celular, principalmente ao aplicar o do falso sequestro.

Outro golpe explorado pelo PVI é o da falsa taxa, quando presos ligam para estabelecimentos comerciais e se passam por traficantes da região ao cobrar dívidas e ameaçar lojistas com supostas retaliações.

·        Origem do nome

O nome da facção teria surgido durante uma rebelião no presídio Ary Franco, em Água Santa, em 2004.

Fontes ligadas à investigação contam que a facção pode ter sido batizada durante essa rebelião: um dos presos teria aberto uma Bíblia exatamente em um versículo que falava sobre o "Povo de Israel". A informação não é confirmada oficialmente.

·        Desprezo de outras facções e origem do nome

De acordo com as investigações da DAS, a organização criminosa surgiu entre 2003 e 2004 através de um grupo de presos sem facção, os chamados neutros, que são detentos renegados por outras facções por serem, muitas vezes, estupradores e pedófilos.

Eles buscaram se isolar dos grupos já existentes nas cadeias para se estruturar entre si. Houve, então, um pedido para a transferência de todos eles para o presídio Hélio Gomes, em Magé, na Baixada Fluminense.

A demanda não foi atendida, e o grupo fez a rebelião no presídio Ary Franco, em Água Santa, há 20 anos. Oito presos morreram.

·        Expansão e base

Ao longo dos últimos 20 anos, o grupo se multiplicou. Segundo investigações, atualmente, a influência do grupo chega a 42% do total de presos do sistema no Rio de Janeiro.

"Verifica-se um expressivo efetivo de internos que a cúpula desse grupo criminoso teria arregimentado durante os últimos anos", diz um trecho de um relatório da Polícia Civil sobre a facção.

·        Áreas de atuação

As investigações apontam que a base central da organização é o presídio Nelson Hungria, no Complexo De Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Outros vários complexos penitenciários do RJ têm atuação da quadrlha.

Fora das cadeias, já se sabe que a quadrilha já tem ramificações no Espírito Santo e em São Paulo, com pessoas que recebem o dinheiro das extorsões em contas bancárias.

·        Investimento para contrabando em presídios

O mesmo relatório diz que o grupo estaria investindo altas quantias para enviar remessas de drogas para o interior de unidades prisionais do Rio, contando com a corrupção de agentes públicos, inclusive policiais penais.

A Seap afirmou que está trabalhando para diminuir o poder do grupo dentro das unidades prisionais, e que uma licitação será finalizada em novembro para construir bloqueadores de sinal de celular nos presídios.

·        Quem são os chefes da facção

Chefes do Povo de Israel já encarcerados foram alvos da ação desta terça. São eles: Marcelo Oliveira, o Tomate, preso por homicídio e estupro; Avelino Gonçalves Lima, o Alvinho; Ricardo Martins, o Da Lua; e Jailson Barbosa, o Nem.

Avelino, que também responde como Alvinho ou Vilão, estaria no topo da hierarquia. Ele foi condenado a 46 anos de prisão por homicídio, roubo e estupro.

"Alvinho" foi preso pela primeira vez em 1999. Em 2007, teve decisão favorável para saidinha temporária, mas não retornou ao presídio. Só foi recapturado dois anos depois.

Em junho do ano passado, ele foi transferido para o sistema penitenciário federal. Após dois meses, no entanto, retornou ao Rio, para o complexo de Gericinó.

·        Quais são os crimes cometidos pela facção ?

Os golpes investigados pela polícia são:

  • Falso sequestro: de dentro de uma cela, o preso liga para números aleatórios e finge ser um parente mantido refém por bandidos. Quando a vítima morde a isca, outro detento assume a chamada e passa a exigir um resgate.
  • Falsa taxa: os encarcerados ligam para estabelecimentos comerciais e se passam por traficantes da região. Falam que há dívidas e ameaçam o lojista com supostas retaliações.

<><> Divisão de funções

Segundo a Polícia Civil, o inquérito mostra que há uma clara divisão de tarefas e funções dentro da organização.

  • São chamados de “empresários” os presos responsáveis por obter o celular que será usado dentro da cadeia.
  • O apelido de “ladrão” é para aquele que faz as ligações para as vítimas, simulando vozes de parentes que estariam supostamente em poder da quadrilha.
  • Tem também os “laranjas”, aliados fora das prisões que recebem o dinheiro obtido nos crimes.

Foi descoberto que a quadrilha já tem ramificações no Espírito Santo e em São Paulo, com pessoas que recebem o dinheiro das extorsões em contas bancárias.

·        O que diz a Seap

A Secretaria de Administração Penitenciária se manifestou com a seguinte nota:

"A Seap informa que tem intensificado o combate à prática de atividades criminosas no interior do sistema prisional, seja por meio do recrudescimento das ações para impedir a entrada e remover das unidades prisionais aparelhos celulares e drogas, seja através de operações de Inteligência para desarticular a atuação dessas quadrilhas.

Dentro dessa diretriz, nos últimos dois anos, a Seap realizou um monitoramento minucioso em 13 unidades prisionais de presos de perfil neutro, onde atua a facção autointitulada Povo de Israel, o que resultou num relatório com um raio-x inédito da atividade desse grupo, documento este enviado para o Ministério Público, para a Promotora de Investigação Penal Núcleo territorial Bangu e Campo Grande, Elisa Fraga, e para a Polícia Civil, possibilitando assim a referida investigação da Delegacia Antissequestro (DAS). Entre os policiais penais investigados pela DAS, dois deles estão respondendo a processos administrativos da Corregedoria da Seap, sendo que um deles já está preso.

Para por fim à prática criminosa deste e de outros grupos dentro do sistema prisional, a Seap deu início em 2023 a um processo licitatório, que se encontra em fase final, para a aquisição de bloqueadores de aparelhos celulares para unidades prisionais do Complexo Penitenciário de Gericinó, cujo edital será publicado daqui a 15 dias.

A tecnologia dos bloqueadores que serão adquiridos por meio do edital foi definida pela Seap a partir de um estudo técnico criterioso, desenvolvido ao longo do último ano, na busca por uma solução técnica capaz de bloquear apenas o sinal do presídio nos quais forem instalados, sem interferir no sinal das comunidades do entorno do complexo.

É importante destacar que, além do monitoramento, a Seap tem intensificado as ações de combate da atuação desse grupo, que teve como resultado, nos últimos dois anos, na apreensão de 6.921 celulares nas 13 unidades de atuação do Povo de Israel. Também vale ressaltar que a Seap também reforçou o combate à ação de servidores da secretaria envolvidos em atividades ilícitas, tendo detido, entre 2022 e 2024, 50 policiais penais, o que resultou em 13 demissões".

 

¨      Justiça afasta policiais penais por suspeita de ligação com Povo de Israel

A Justiça do Rio decidiu afastar dos cargos cinco policiais penais acusados de favorecer a atuação da facção Povo de Israel dentro de presídios do Rio de Janeiro.

A 3ª Vara Especializada em Organizações Criminosas também pediu que a Delegacia Antissequestro investigue um possível vazamento da operação realizada nesta terça-feira (22).

De acordo com as investigações, os cinco policiais penais receberam R$ 437 mil em transações suspeitas. Segundo a decisão judicial, os pagamentos foram realizados diretamente por investigados presos ou seus operadores financeiros para os seguintes agentes:

  • Fábio Ferraz Sodré (recebeu R$ 54 mil)
  • Bruno Henrique Rodrigues Baldi (recebeu R$ 192 mil)
  • Plínio Brum Almada (recebeu R$ 52 mil)
  • João Paulo De Souza Nascimento (recebeu R$ 39 mil)
  • Anderson Vieira de Souza (recebeu R$ 100 mil)

Por conta da livre circulação dos guardas dentro do sistema prisional, onde poderiam entrar em contato com outros colegas, o juiz determinou a suspensão da função pública dos cinco policiais penais.

Na decisão, ele também proibiu o contato com outros colegas e a entrada dos policiais em qualquer estabelecimento do sistema penitenciário do Rio de Janeiro.

Ao todo, segundo as investigações, a quadrilha inteira movimentou R$ 70 milhões em dois anos.

O juiz Alexandre Abrahão alegou que dias antes da operação desta terça-feira (22), advogados entraram em contato com a Vara Criminal pedindo para ser habilitados no processo da investigação que resultou na ação policial, batizada de 13 aldeias.

O nome da operação em um dos pedidos, segundo ele, chamou atenção, já que o processo estava em sigilo.

"O que há de concreto é que de alguma forma os investigados souberam do conteúdo investigatório; seja no todo; seja em parte, o que é gravíssimo e serve, o que há de concreto é que de alguma forma os investigados souberam do e penetração do grupo investigado."

 

Fonte: g1

 

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