Argentina: a Universidade encara Milei
Nas paredes de uma
universidade nacional, um grafite diz: “as redes não são as ruas”. A inscrição
é acompanhada por um estêncil de uma imagem que se tornou icônica por ter sido
a primeira reação ao veto do Congresso Nacional na quarta-feira, 9 de outubro:
um youtuber libertário (um certo Fran Fijap) foge e se esconde aterrorizado em
uma loja de empanadas depois que as pessoas que estavam lá repudiaram suas
provocações contra universidades e estudantes.
“As redes não são as
ruas” poderia, então, significar duas coisas. De um ponto de vista mais
literal, que a “coragem” dos chamados “libertários” de atacar e difamar a
educação pública nas redes sociais contrasta com uma rua que, de acordo com
pesquisas recentes, rejeita os comentários de Milei sobre as
universidades. Essa pesquisa mostra que 76% rejeitam a
afirmação de que “os pobres não chegam às universidades públicas”. O que é
interessante é que quase 60% dos que votaram em Milei também rejeitam essa
ideia. Ao mesmo tempo, de acordo com seus próprios dados, 73% dos entrevistados
têm uma imagem positiva da universidade pública.
Por outro lado, em um
sentido talvez mais amplo, a frase significa que o que está mudando na
situação política nacional e no clima social está nas ruas. Que a imagem de uma
“juventude que virou à direita” está começando a ser eclipsada pelo ressurgimento
do movimento estudantil.
Os cartões postais que
refletem essa mudança vêm das mais de 100 assembleias e aproximadamente 80
aulas públicas que ocorreram em quase 30 universidades públicas em todo o país
nos últimos dias. A enorme rebelião universitária está sacudindo diferentes cidades
do país.
Na quarta-feira, horas
após o veto no Congresso, os grupos de WhatsApp das universidades já estavam
explodindo com mensagens: “Che, acabaram de tomar a universidade de La
Matanza”, “sim, e agora Avellaneda”, “Na UBA estão convocando uma assembleia”,
“também uma assembleia interprofissional em Jujuy”, “aqui na universidade de
Comahue haverá uma assembleia intercampi”. As mensagens, vídeos e fotos não
apenas congestionaram os telefones celulares, mas também chegaram como
uma cruz ao queixo do governo, que nem sequer teve tempo de
“comemorar” seu triunfo pírrico no Congresso. Ele havia escolhido o inimigo
errado.
No dia seguinte, a
greve dos professores e funcionários não docentes foi avassaladora. As
universidades não funcionaram e o dia foi atravessado pela preparação dos dias
seguintes, que teve seu epicentro na segunda e terça-feira desta semana, onde,
como em um “efeito dominó”, assembleias, tomadas de posse e aulas públicas se
espalharam por todos os cantos do país. Somente na província de Buenos Aires,
26 faculdades foram ocupadas e 12 na CABA. Mas o movimento abrange todo o país,
em Córdoba, Santa Fé, Tucumán, Catamarca, Chubut, Jujuy, La Pampa, Neuquén, Río
Negro, Salta, San Juan, San Luis a Santa Cruz e Tierra del Fuego. Não há nenhum
canto do país onde essa rebelião não tenha abalado a comunidade educacional. A
Universidade de Buenos Aires (UBA) foi um dos epicentros do conflito,
juntamente com várias faculdades da Universidade Nacional de La Plata, bem como
várias outras universidades em Córdoba, Tucumán, na região metropolitana de
Buenos Aires e no interior da província de Buenos Aires, como Mar del Plata,
Tandil e Bahía Blanca.
As ações continuaram
durante a semana, demonstrando que o fenômeno tem poucos precedentes. Entre
alguns dos destaques da semana, na quarta-feira, 16, em La Plata, ocorreu
uma mobilização maciça de mais de 30 mil pessoas em defesa da educação universitária e contra as medidas de
austeridade de Milei. Foi uma marcha universitária com características
históricas, após uma semana de assembleias e ocupações em 14 das 17 faculdades
da UNLP. Enquanto isso, em Tucumán, ocorreu uma grande mobilização
universitária, organizada pela Interfacultades com base em mandatos de
assembleias de base, pelas ruas da cidade. Foi uma resposta contundente à
atitude arrogante da polícia do governador Jaldo, que no dia anterior tentou
expulsar uma palestra pública em frente à Faculdade de Filosofia e Letras.
Nesta quinta-feira, após um dia importante de aulas públicas e assembleias,
milhares de estudantes e professores se reuniram na Reitoria para se
mobilizarem até a Casa do Governo. Na CABA, na quarta-feira, protestos de rua
foram realizados paralelamente em diferentes partes da cidade, perto das
faculdades, que acabaram convergindo com a marcha para a Plaza Pizzurno,
convocada durante a noite, com pouca preparação, pelas lideranças sindicais e
estudantis do radicalismo e do peronismo. Nesta quinta-feira, o dia foi marcado
por uma ampla greve nacional que, mais uma vez, foi fortemente sentida em todo
o país, convocada pela Frente Nacional de Sindicatos Universitários, por 24
horas e sem atendimento nas universidades, enquanto em muitas faculdades
continuaram as paralisações, aulas públicas e assembleias.
Como demonstramos em
todo o país: só confiamos em nossa própria força!
Esse grande ator
social, que estava relativamente adormecido nos últimos anos (pelo menos desde
2018 e com a pandemia, que desnaturalizou a sociabilidade nas universidades),
ressurgiu. Muitas lideranças estudantis, sindicais e reitorias apostaram em
barrar o veto do governo contando com o Congresso e desmobilizando a comunidade
educacional. Pediram que ficássemos em casa e confiássemos nas autoridades e no
Congresso (que traiu repetidamente as maiorias populares, a começar pelos
aposentados). Por exemplo, no dia em que o veto foi votado, não houve greve,
nem assembleias, nem convocações para enfrentá-lo.
Esse cenário de dureza
nos ataques do governo e o desenvolvimento de uma vontade de enfrentá-lo por
parte de um amplo setor estudantil deixaram em crise a estratégia das
burocracias de “esperar e confiar”. O peronismo, dividido por suas feridas
internas abertas em brasa, sempre por trás e buscando se reorganizar, longe de
apostar na organização a partir de baixo, chegou ao ponto de propor, como disse
explicitamente Máximo Kirchner, que é necessário esperar até 2025. Agora eles
querem fazer com que toda essa luta gire em torno do orçamento de 2025,
depositando sua confiança no Congresso, deixando de lado a urgência da
universidade e a luta contra os efeitos do veto sobre a situação salarial dos
professores e não professores.
Por sua vez, grupos
libertários, setores do radicalismo e da direita começaram a se manifestar nas
últimas semanas, buscando desacreditar as paralisações e ações, acusando os
organizadores de serem “violentos” e de se oporem à realização das aulas. A Universidade de Quilmes foi
um exemplo disso, com um grupo de liberais que chegou ao ponto de jogar spray
de pimenta em uma assembleia.
Em lugares como a
Universidade Nacional de Rio Cuarto ou faculdades como a de Direito da
Universidade Nacional de Córdoba, nas assembleias, a “Franja” militou
fortemente para evitar o debate de medidas de força, como as manifestações e
outras, com o discurso de que isso é um “crime”. Ao contrário das falácias dos
liberais que se opunham à possibilidade de fazer cursos com as paralisações,
estas eram paralisações ativas com aulas públicas que se multiplicavam em cada
faculdade. As mobilizações também expressaram apoio maciço à luta universitária
e exploraram as redes sociais. Estamos apostando em continuar a desenvolver
aulas públicas curriculares e assembleias para continuar a massificar a luta e
as tomadas de posse. Não queremos que eles comecem a inviabilizar a luta com
ações decididas burocraticamente de cima para baixo, ou “institucionalizando”
nossa demanda. Queremos continuar a massificar nossa luta e fortalecer a
organização de baixo para cima.
Mas a realidade mata a
história: esses dias mostraram que há uma vanguarda que está começando a
se organizar com apoio de massa, que entrou em cena nas faculdades de todo o
país. A enorme chama que estava se formando de baixo para cima impôs um maior
radicalismo nas ações, demonstrando que só podemos contar com nossa força
organizada de baixo para cima com assembleias, ações e aulas públicas. Uma nova
geração de estudantes (que não vivenciou grandes conflitos universitários)
passou a ter uma intensa atividade política em que todos os dias, em suas
faculdades, “desobedeciam” as autoridades, deliberavam e agiam politicamente.
A partir dos setores
de esquerda e militantes do movimento estudantil, sabemos que a luta é agora e
que as universidades podem ser um grande catalisador político-social para o
mal-estar que está se acumulando em toda a sociedade com o governo de austeridade
de Milei. O movimento estudantil está emergindo como um sujeito político-social
com o potencial de mudar a dinâmica da luta de classes nacional e de ter um
impacto sobre os setores do movimento dos trabalhadores.
Razões profundas para
lutar. Uma universidade ampliada, mas baseada em classes
“Chame a peruca do
Milei/ para que ele possa ver/ que essas pessoas não mudam de ideia, elas lutam
e lutam pela educação”. A extensão da universidade e a luta estudantil estão
entrelaçadas com sua realidade atual. No início da década de 1990, ou na década
de 1970, em outras épocas em que o movimento estudantil atuava como sujeito
político, a extensão das universidades era muito menor. Parte da mobilização
maciça de hoje em dia pode ser explicada pelo peso específico da universidade
na Argentina. De 1989 até hoje, foram criadas 32 universidades nacionais (sem
contar as do setor privado), e isso inclui todas as regiões: nordeste,
noroeste, centro, interior da província de Buenos Aires e Patagônia. O número
de alunos vem aumentando nas últimas décadas e se expandiu social e
geograficamente para as áreas periféricas das grandes cidades, pois setores que
décadas atrás nem sonhavam em chegar à universidade agora fazem parte dela.
Isso pode ser visto nos cartazes, intervenções e mensagens que chegam das
manifestações respondendo a Milei. Uma publicação no Twitter dizia: “Minha mãe
é enfermeira. Meu velho pedreiro corta grama ou qualquer outro trabalho que ele
possa fazer. Enquanto estudava tive muitos empregos precários: construção,
operadora, call center. Eu não sabia que ele era milionário. Universidade dos
trabalhadores, quem não gosta que se ferre!”. Para dar um exemplo, na
Universidade Nacional de La Matanza, onde, de acordo com as autoridades, há 75
mil estudantes, incluindo o ingresso, 80% são estudantes universitários de
primeira geração em suas famílias. Esse número de estudantes universitários de
primeira geração se repete em cidades como José C. Paz, onde chega a 75%; em
Florencio Varela, 76%; e em Lanús, 70%.
O aumento da população
com ensino superior e universitário de 1970 a 2021 foi de 275 mil, 1,2% da população, para 3,7
milhões, 8,1% da população. O grande salto ocorreu em meados dos anos 90 e tem
a ver com a criação de novas universidades, especialmente nos subúrbios de
Buenos Aires. O movimento estudantil excede em muito as clássicas “classes
médias”. Para estabelecer uma comparação, no país existem 557 estudantes por 10
mil habitantes, enquanto no Brasil são 408 e no Chile, 355. Essa expansão,
claro, não ocorreu sem contradições. Na Argentina são menos os que conseguem o
diploma. Embora a luta do movimento estudantil tenha conseguido defender
geralmente a educação pública quando quiseram privatizá-la, ela também se
tornou precária, o que significa que hoje apenas 25% dos estudantes, 1 em cada
4, conseguem cursá-la.
Isso, por sua vez, é
combinado com uma contradição estrutural da universidade (uma tendência global
que continuou a se aprofundar e já foi apontada por Juan Carlos Portantiero na
década de 1970) entre a expansão da renda e a incapacidade do capitalismo de
absorver níveis mais altos de “mão de obra qualificada”. A ilusão de um setor
da sociedade de que a universidade funciona como um veículo para a “ascensão
social” encontra contradições com os níveis crescentes de precariedade
entre os jovens. Assim como falamos dos “trabalhadores pobres” (em referência
àqueles que, apesar de receberem um salário, não cobrem a cesta básica de
bens), podemos falar de “estudantes universitários precários”: jovens com
diplomas que não conseguem emprego, ou os que conseguem são precários. As
tendências do capitalismo de aumentar a precariedade em todos os níveis se
chocam com as expectativas de um amplo setor que busca obter diplomas para
melhorar sua situação.
Como dissemos em abril
deste ano, após a marcha universitária, o fato de que nos últimos 50 anos a
possibilidade de acesso ao ensino superior se expandiu tem consequências
políticas contraditórias. Por um lado, há essa ilusão de “ascensão social” que
busca ser usada como forma de contenção das críticas ao sistema social que
condena os jovens a ainda terem empregos precários. Mas, por outro lado, ela
também tem seu caráter explosivo, pois pode se tornar uma força motriz para
centenas de milhares, como foi demonstrado na marcha do dia 23 e novamente em
outubro, que consideram o acesso ao ensino superior como um direito.
Essa situação só é
exacerbada em um momento de crise como o atual e de ajustes como o que a Milei
está realizando. Se acrescentarmos a isso o fato de que nas casas dos
estudantes universitários certamente há um aposentado que recebe o salário
mínimo, um pai ou uma mãe que teme perder o emprego ou um parente que não
recebe salário há meses, entenderemos que o que ressoa nesse conflito são os
ecos de uma situação social que não pode ser tolerada. Nosso compromisso com
uma verdadeira universidade a serviço dos trabalhadores e do povo é produzir
conteúdo para questionar a sociedade de classes, produzir de acordo com as
necessidades sociais, para que os filhos dos trabalhadores possam realmente
entrar e permanecer.
Defendemos
consistentemente a universidade pública diante dos ataques do governo, o que
significa lutar por um orçamento maior, contra a precariedade da universidade e
por salários docentes e não docentes. Isso nos leva a questionar o plano global
que o FMI e os grandes patrões têm (e que o peronismo com o governo de Alberto
validou), propondo que esse dinheiro seja destinado à educação, à saúde, à
moradia, e não ao pagamento da dívida ilegal e ilegítima.
Mas, ao mesmo tempo,
questionamos a universidade atual, pois ela não pode ser separada de seu
caráter de classe, que é o caráter de classe da sociedade na qual está
inserida. Transformar a universidade atual implica estabelecer uma crítica e um
plano de ação contra a sociedade de classes que sustenta os aspectos mais
reacionários da instituição universitária, como forma de pensar em uma produção
de conhecimento liberada dos obstáculos que o capitalismo impõe para seu
verdadeiro desenvolvimento. Além disso, do nosso ponto de vista, implica
colocar as ideias do marxismo na ofensiva contra a reação ideológica que
apresenta esse sistema como a única alternativa possível ou contra as variantes
que argumentam que devemos fazer um “capitalismo mais humano”, questões que
estamos discutindo, no calor das ações da luta, nas Jornadas por um Futuro Comunista.
Ou seja, essa crítica
implica lutar por uma universidade a serviço dos trabalhadores e das grandes
maiorias, onde ser universitário não seja um privilégio nem uma forma de
diferenciação social. Questionamos o fato de que nossa educação é projetada de
acordo com as necessidades do “mercado”, para maximizar os lucros capitalistas,
e que há acordos entre universidades e grandes empresas e empregadores (da
Monsanto à Shell, da Bayer à Chevron). Essa é a política elitista que o governo
quer aprofundar para as universidades.
·
Sempre com a mesma pedra
O movimento estudantil
tem sido historicamente um ator importante na vida política argentina. Desde a
Reforma Universitária de 1918 (que teve ecos latino-americanos, influenciando
uma geração que incluía José Carlos Mariátegui, Antonio Mella, entre outros),
os estudantes atuaram como um reflexo de algumas das contradições pelas quais a
sociedade estava passando. O Cordobazo e os “azos” em geral (Rosariazo,
Tucumanazo, Mendozado etc.) confirmaram essa ideia, deixando-nos com a imagem
de uma geração que fez da “unidade estudantil-trabalhista” uma bandeira de luta
que permaneceu gravada nas tradições combativas do movimento estudantil. Talvez
seja por isso que hoje, nas passeatas, eles continuam cantando “universidade
dos trabalhadores e quem não gostar que se foda”.
Essa é, em parte, a
disputa atual. O governo quer reeditar o velho desejo neoliberal (que vem de
governos anteriores) de ajustar, empobrecer e degradar ainda mais as
universidades públicas, tendo como objetivo estratégico (embora saiba que não
pode avançar nessa direção) a introdução de mensalidades. Esse era o espírito
da LES menemista, votada em 1995 sob as coordenadas do Banco Mundial, e que
nenhum governo posterior revogou. Mas, assim como agora, o governo do caudilho
de La Rioja enfrentou o movimento estudantil que, com assembleias, bloqueios no
Congresso e ações em massa, conseguiu pôr fim a alguns dos elementos mais
regressivos dessa lei. Portanto, embora o menemismo tenha conseguido aprovar a
LES, seus resultados foram reacionários, mas limitados. A tarifação e a
privatização – os objetivos máximos – não puderam ser impostas, mas houve
progresso com a comercialização, abrindo as portas para acordos com empresas,
laboratórios e até mesmo fazendo parte do extrativismo com a mineração. Além de
tornar os currículos mais voltados para os negócios, o conteúdo também foi
reduzido para aumentar o número de cursos de pós-graduação pagos. A maior
autarquia econômico-financeira negociada com o CIN fez com que os reitores
radicais e peronistas tivessem mais poder enquanto aplicavam “autoajustes”, com
maior precariedade e baixos salários para professores e funcionários das
universidades. A ideia de gerar “seus próprios recursos” para pagar esse
déficit foi outra maneira de as empresas terem voz ativa.
Hoje, as atuais
medidas de austeridade buscam avançar ainda mais com esse plano por meio de um
corte brutal no orçamento. De acordo com um relatório do Observatorio de
Argentinos por la Educación (OAE), a queda no orçamento da educação entre 2024
e 2023 será de 40%. Isso só aprofunda a situação já crítica pela qual a
educação pública estava passando durante o governo da Frente de Todos, no qual
foram feitos cortes severos nos gastos com educação para garantir o pagamento
de dívidas, principalmente com o FMI.
Nesse sentido, a luta
por mais recursos às universidades não pode ser separada da luta contra o
orçamento de 2025 a serviço do FMI. Como explica este artigo, 9% do orçamento estipulado é destinado ao
pagamento de juros da dívida com especuladores e organizações internacionais,
mais de US$ 10 bilhões. Isso é mais de duas vezes e meia o que vai para a
educação universitária. E 40% a mais do que o orçamento da Saúde. Na Saúde, o
que é destinado a quase todos os hospitais e institutos é reduzido em mais de
15%, demonstrando a ofensiva do governo sobre este setor, cujos trabalhadores
têm resistido com grande coragem, como os do hospital Bonaparte, que com ações
os protestos de rua e a coordenação com outros setores, como os trabalhadores
do Hospital Garrahan, conseguiram evitar o encerramento do único hospital da
CABA dedicado à saúde mental e às dependências, sem dúvida uma questão vital
para a juventude.
Portanto, como o
ataque de Milei é um ataque conjunto, a resposta deve ser coordenada e de baixo
para cima. As diferentes medidas devem se concentrar na necessidade de ampliar
e fortalecer a luta, com faculdades abertas, aulas públicas, deliberação e organização.
Alguns setores buscam canalizar a luta para o parlamento e tirá-la das ruas,
tentando deslegitimar os processos democráticos de luta e o método do
assembleísmo. Mas não podemos ter nenhuma confiança nos legisladores radicais e
peronistas que negociaram a lei de bases, o veto dos aposentados e o veto ao
próprio financiamento das universidades.
Não queremos lutar por
mais orçamento para a universidade às custas de outros setores. Ao lutarmos por
uma universidade a serviço da grande maioria, também queremos uma universidade
onde os filhos dos trabalhadores possam ingressar. A luta por outra universidade
faz parte da luta por outra sociedade. A universidade não é uma ilha que pode
se salvar, enquanto houver aposentados famintos, jovens desempregados,
trabalhadores da saúde demitidos ou 60% das crianças vivendo na pobreza.
Acreditamos que o movimento atual deve aspirar a deter os ataques do governo,
mas também a fortalecer uma aliança entre trabalhadores e estudantes, retomando
suas melhores tradições históricas, como a do Cordobazo, para mudar essa
realidade em suas raízes. Eles não podem nos dividir. Com a força da rebelião
universitária, nós, trabalhadores e aposentados, temos que enfrentar em unidade
todo o ajuste orçamentário.
·
Continuar nas ruas, em unidade e por todas
as nossas reivindicações
Como temos dito, o
movimento atual avançará na medida em que puder continuar a se organizar a
partir de baixo, massificando as ações e medidas de luta, coordenando-se com
outros setores e, mais uma vez, saindo em massa às ruas para que o forte apoio
à nossa luta se expresse em todo o país. As manifestações, palestras públicas e
outras medidas de luta estão sendo desenvolvidas contra o veto de Milei e
contra o ataque à universidade pública. É por isso que, como ponto de partida,
estamos lutando por um orçamento maior para a universidade e por um aumento nos
salários de professores e não professores. Temos que recuperar o que foi
perdido devido à inflação, e nenhum professor deve estar abaixo da linha da
pobreza, e temos que aumentar o número de professores ad honorem e
contratados. Nós, estudantes, também temos que incorporar nossas reivindicações
históricas, como o tíquete educacional, que está se tornando urgente diante das
tarifas de transporte que nos impedem de sustentar os cursos e as bolsas de
estudo abrangentes para podermos estudar, contra o esvaziamento do sistema de
bolsas proposto pelo governo.
Como nossos
companheiros da Juventude do PTS têm levantado em todo o país (muitos deles,
como Luca Bonfante, tornaram-se verdadeiros porta-vozes de suas assembleias,
aparecendo em dezenas de meios de comunicação, a ponto de Patricia Bullrich
sair para atacar os “troskos”), para nós já foi demonstrado nos últimos meses
que não podemos ter nenhuma confiança no Congresso. O parlamento é um ninho de
ratos antidemocrático (onde uma minoria pode superar a maioria) onde Milei
conseguiu aprovar seus vetos, com o apoio do PRO de direita (partido do
ex-presidente Mauricio Macri) e de deputados radicais, peronistas e de partidos
provinciais.
Também não confiamos
nas autoridades universitárias que, depois da grande mobilização do 2 de
outubro, tiveram a política de esperar, esvaziar as ruas e confiar no
Congresso. A universidade também funciona de forma antidemocrática, sendo os
seus órgãos de governo profundamente antidemocráticos: a representação dos
professores é ponderada entre aqueles com estabilidade e aqueles que não o são
(considerados sob a figura de “licenciados”, escondendo o facto de serem
trabalhadores docentes na maioria dos casos). Por exemplo, na UBA apenas 10%
dos professores votam no corpo docente (cerca de 2.500 num total de mais de 28
mil professores inscritos). É por isso que a luta em defesa da universidade não
é alheia à luta pela democratização: maioria estudantil, corpo docente único,
voz e voto para os não docentes. Só assim poderemos começar a questioná-la de
forma abrangente e na unidade de toda a comunidade educativa.
Por último, mas não
menos importante, assim como não confiamos em nenhum deles, também nos cansamos
de centros [acadêmicos] que desmobilizam e não organizam a luta. Os centros
geridos pela Faixa Roxa e pelo Peronismo, que durante anos reproduziram a lógica
dos “shopping centers” onde a liderança política está associada à prestação de
“serviços” (fotocópias, um bar, que nada mais são do que remendos para a
precariedade do vida universitária) não são úteis para a luta, como já
demonstraram. Temos que revolucionar estas organizações, encarregando as
assembleias, as comissões de base, ou os órgãos de delegados dependendo da
localização. Temos que coordenar entre as faculdades e com outros setores para
massificar e ampliar a luta.
Nestas semanas
queremos continuar a desenvolver assembleias e aulas públicas em todas as
faculdades para continuar massificando e ampliando a nossa luta. Neste sentido,
será importante o dia de aulas públicas convocado para a próxima terça-feira
por diversas assembleias e pela Associação Sindical dos Professores na Plaza de
Mayo. Ao mesmo tempo, temos que desenvolver órgãos inter-docentes para nos
unirmos e coordenarmos entre todos os setores que temos lutado em cada lugar,
que funcionam a partir dos mandatos básicos das assembleias docentes, e
assembleias inter-claustros para unir as nossas lutas com as dos professores e
não docentes. Queremos defender a nossa organização desenvolvida a partir de
baixo, para que não procurem canalizar a nossa luta “de cima”, tendo as
assembleias como instâncias de deliberação e resolução. Com a exigência de uma
nova marcha educativa nacional até a Plaza de Mayo que se repita em todo o país
para mais uma vez mostrar nossa força nas ruas!
O movimento estudantil
está mostrando o caminho. Vamos redobrar a organização para que o potencial de
que falamos no início se materialize numa grande força social de estudantes,
trabalhadores, reformados e outros setores oprimidos para acabar com o ajustamento
de Milei e do FMI.
Fonte: Por Gabriel
Piro e Juliana Yantorno, no La Esquerda Diario - Tradução: Glauco Faria em
Outras Palavras
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