Crise esquecida, guerra mata milhares e
gera fome no Sudão
Os confrontos entre as
Forças Armadas Sudanesas (SAF) e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido
(RSF) no Sudão se intensificaram mais uma vez, em meio a um conflito que já matou dezenas de milhares de pessoas.
A escalada mais
recente ocorreu em Cartum, a capital do país, onde as SAF lançaram uma grande
ofensiva para retomar áreas controladas pelas RSF. De acordo com as chamadas
salas de resposta de emergência locais, iniciativas lideradas por civis que
foram indicadas para o Prêmio
Nobel da Paz de 2024, confrontos recentes mataram
dezenas de pessoas nos mercados de Cartum.
Desde abril de 2023, o
Exército sudanês e as RSF estão envolvidos em uma guerra civil que mergulhou o Sudão em uma crise humanitária. O conflito surgiu de uma disputa de poder entre o chefe do
Exército, Abdel Fattah al-Burhan, e o líder da RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, que
dividiam o poder após um golpe militar em 2021.
Pelo menos 20
mil pessoas foram mortas, embora esse total seja provavelmente muito
maior, já que os combates em andamento e o colapso do sistema de saúde tornaram
impossível atualizar ou verificar o número de vítimas.
De acordo com as Nações
Unidas, a guerra também provocou a maior crise de
deslocamento do mundo, com mais de 11 milhões de pessoas forçadas a deixarem
seus locais de moradia e se deslocando para campos de refugiados e países
vizinhos. No início de outubro, a fome e o surto de doenças como a cólera
agravaram ainda mais uma situação já desesperadora, alertou a ONU.
<><> Situação
catastrófica em El Fasher
Bombardeios em
mercados também ocorreram próximo a El Fasher, uma cidade na região de Darfur,
no oeste do Sudão, considerada de grande importância e que também é alvo de
disputas entre as forças rivais desde o início da guerra civil.
"Nos últimos 10
dias, os bombardeios ficaram mais intensos", afirmou à DW Salah Adam, um
dos moradores do campo de refugiados de Abu Shouk e membro ativo da sala de
resposta a emergências.
Adam disse que os
ataques aéreos das RSF atingiram um mercado que ele visitou na segunda-feira
para comprar alguns mantimentos, onde três pessoas foram mortas e outras 10
ficaram feridas.
"Você não
conseguiria imaginar como nossa situação é catastrófica", disse Adam.
"Não há organizações que forneçam suporte ou ajuda. Somos as únicas
pessoas trabalhando no local e simplesmente não temos o suficiente."
As pessoas sofrem de
fome, ferimentos e doenças, contou. "Todos os dias, vejo crianças
morrendo. Esses são os momentos mais difíceis."
De acordo com a
agência de notícias Reuters, as organizações humanitárias internacionais se
tornam cada vez mais alvos dos saqueadores das RSF. Michelle D'Arcy, diretora
para o Sudão da ONG Norwegian People's Aid, ressaltou que o acesso à ajuda
humanitária é apenas um dos muitos desafios.
"As respostas
humanitárias lideradas localmente, como as salas de resposta a emergências e as
cozinhas comunitárias, precisam de proteção, pois continuam a enfrentar ameaças
e insegurança ao operar em zonas de conflito", afirmou à DW.
<><> Crise
esquecida
Mais recentemente, o
chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, soou o alarme sobre aumento das
pesadas consequências para os civis no campo de refugiados de Abu Shouk, em El
Fasher, e de Zamzam, nas proximidades.
"As pessoas
nesses campos correm sério risco de ataques retaliatórios [das RSF] com base em
sua identidade tribal, seja ela verdadeira ou percebida", afirmou Türk.
Ele acrescentou que milícias armadas alinhadas com a SAF dentro dos campos de
refugiados se tornaram um alvo importante para os soldados das RSF.
No futuro próximo, a
situação humanitária deve piorar no campo de Zamzam, que abriga pelo menos 80
mil pessoas.
Nesta semana, A
ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF)
suspendeu seu trabalho depois que as RSF obstruíram o envio de assistência e as
SAF bloquearam sistematicamente a ajuda para áreas fora de seu controle,
explicou a coordenadora da MSF no Sudão, Claire San Filippo.
"Agora, 5
mil crianças desnutridas, incluindo 2.900 crianças gravemente desnutridas,
ficaram sem apoio", disse Filippo.
"As Forças
Armadas Sudanesas ainda não estão permitindo o acesso de ajuda crucial às áreas
controladas pelas Forças de Apoio Rápido, que continuam a saquear os
suprimentos e ajuda que conseguiram chegar a alguns civis em suas áreas de
controle", relatou Mohamed Osman, pesquisador do Sudão da ONG Human Rights
Watch.
Em sua opinião,
também não há atenção internacional suficiente. "Esta é definitivamente uma crise esquecida", disse
Osman à DW.
<><> Frentes
de batalha pouco claras
Hager Ali, que realiza
pesquisas sobre o Sudão no Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais
(Giga), disse à DW que a situação se torna cada vez mais complicada. Ele contou
que quando a guerra começou, há 18 meses, era uma luta de poder clara entre as
Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido.
"Desde então, a
divisão entre facções se tornou uma tendência particularmente
preocupante", disse Ali. "A anteriormente definida frente de batalha
entre as SAF e as RSF agora se despedaçou sobre muitas questões e
objetivos."
"As SAF e as RSF
tiveram que recrutar e terceirizar, incluindo muitas outras facções em um
curto espaço de tempo, com capacidade limitada para treinar recrutas. As RSF
recrutaram de maneira particularmente rápida, o que quer dizer que os combatentes
provavelmente nunca passaram por treinamento real. Isso enfraquece
substancialmente a cadeia de comando, especialmente se as facções questionam a
autoridade local das RSF."
Ali disse que em uma
guerra travada em tantas frentes em um país tão vasto, está cada vez mais
difícil supervisionar quem está realmente fazendo o quê; quem está aderindo às
ordens e quem não está. Há sinais de que nem as RSF ou as SAF estejam mais no
controle total de suas próprias tropas no país.
"Tudo isso ocorre
em meio ao desafio de realmente se governar os territórios que estão sob
controle das duas forças", acrescentou Ali.
A falta de ajuda, a
queda no apoio e os combates contínuos estão desesperando Salah Adam,
membro ativo da sala de resposta a emergências. "Estou pedindo às
organizações humanitárias e ativistas de direitos humanos que tomem medidas
imediatas e salvem o povo de El Fasher", afirmou à DW.
Ele acrescentou que,
se nada mudar, já está cansado o suficiente para desistir de vez de ter
esperança.
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O Sudão continua em guerra
As vítimas são civis,
afectadas por bombardeamentos como o que atingiu um mercado a sul de Cartum no
domingo, 13 de outubro, provocando, pelo menos, 23 mortos e 40 feridos. O
massacre é atribuído a um bombardeamento efectuado por aviões das SAF que utilizam
a arma aérea para tentar dominar as forças das RSF que se encontram barricadas
nalguns redutos bem defendidos da capital. As intenções do Exército de invadir
estas posições são sérias, como se pode deduzir das fotografias divulgadas pelo
Sudan Tribune de camiões blindados acabados de receber pelas SAF, estruturados
como verdadeiras mini-forças ambulantes destinadas a enfrentar os atiradores
furtivos escondidos nos telhados. Equipados com blindagem pesada e câmaras de
360º, os carros blindados têm a missão de proteger o avançamento dos soldados
regulares de uma das maiores armadilhas encontradas no combate urbano:
atiradores armados com espingarda de precisão ou lança-foguetes anti-tanque. A
outra grande armadilha são as minas e os engenhos artesanais.
A guerra esquecida do
Sudão não é uma guerra religiosa, a maioria dos combatentes partilha a mesma fé
muçulmana, mas há incidentes que envolvem minorias cristãs. Como aconteceu no
início de outubro, quando um grupo de crentes pertencentes à Igreja cristã do
Sudão Al Iziba foi capturado por membros dos serviços secretos militares das
SAF em Cartum Norte.
De acordo com Osama
Saeed Musa Koudi, presidente da União da Juventude Cristã Sudanesa, citado pelo
diário online Altaghyeer, os detidos foram presos em grupos entre 2 e 7 de
outubro e incluem 16 homens, 25 mulheres e 54 crianças. Todos originários dos Montes
Nuba, são acusados de ser apoiantes das RSF, apenas porque permaneceram nas
zonas de Cartum ocupadas pelas RSF, pela simples razão de não terem
possibilidade de partir para outro local.
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Guerra civil ameaça aniquilar patrimônio
cultural do Sudão
De kalashnikovs em
punho e fazendo um V da vitória com os dedos, soldados das milícias sudanesas
posam diante das ruínas da antiga cidade de Naga, num vídeo das redes sociais.
Situada 200
quilômetros a nordeste da capital do Sudão, Cartum, a pouca distância das
margens do rio Nilo, numa área outrora considerada berço da civilização, Naga
foi fundada por volta de 250 a.C., como residência do rei de Meroé, e ostentava
diversos templos e palácios.
Três templos foram
escavados e restaurados desde a década de 1990 por arqueólogos, inclusive uma
equipe do Museu de Arte Egípcia de Munique. Ocultos sob as ruínas, ainda estão
outros 50 templos, palácios e edifícios administrativos, assim como necrópoles
contendo centenas de sepulturas.
Agora, porém, o local declarado
patrimônio mundial pela Unesco está envolvido em mais uma guerra civil sudanesa: desde
abril de 2023, generais rivais voltaram a lutar pelo poder no país rico em
recursos, porém desesperadamente pobre. O líder
de facto, Abdel Fattah al-Burhan, e o exército sob seu controle se confrontam
com a milícia Forças de Apoio Rápido, de seu antigo vice, Mohamed Hamdan Daglo.
Figuras como o
presidente americano, Joe Biden, têm apelado repetidamente – e até agora, sem
sucesso – para que as partes do conflito negociem um fim da guerra. "A
situação é realmente ruim", avalia o diretor do Museu de Arte Egípcia de
Munique, Arnulf Schlüter.
Ele não sabe dizer se
o projeto arqueológico de Naga jamais será retomado: "A maior parte dos
empregados da escavação fugiu, as instalações foram invadidas e os pneus dos
veículos, roubados. O sítio de antiguidades está indefeso."
<><> Museus
sob ameaça
Em vários locais do
Sudão, museus e objetos históricos estão sendo destruídos, em meio a uma severa
crise humanitária, com mais de 10 milhões de habitantes deslocados, e a
metade da população de 50 milhões passando fome.
Em 12 de setembro, a
organização cultural das Nações Unidas, Unesco, declarou: "Esta ameaça à
cultura parece ter alcançado um nível sem precedentes, com relatos de saque de
museus, sítios de patrimônio e arqueológicos, e coleções particulares."
Perante essa guerra,
Schlüter está extremamente preocupado com o futuro de Naga – apesar do
significado dos três templos escavados e dos planos esboçados pelo astro inglês
da arquitetura David Chipperfield para construção de um museu no local:
"Não sabemos o que eles estão fazendo", comenta o diretor do museu
muniquense sobre os administradores de Naga, "falta informação
confiável".
Devido ao conflito, o
serviço de antiguidades sudanês, responsável pela curatela dos sítios de
patrimônio mundial, perdeu diversos documentos: "Os escritórios deles em
Cartum foram saqueados", relata Schlüter, frisando que um cadastro central
de antiguidades acabara de ser criado. Ele teme que a história da nação esteja
sendo aniquilada: "Mesmo se a paz retornasse imediatamente, teríamos que
começar do zero."
Em meio à imensa
destruição da infraestrutura civil, soldados também assaltaram e destruíram
museus, muitas vezes tentando vender antiguidades no mercado de arte
internacional. Entre outros, foi saqueado o Museu Nacional do Sudão, situado em
Cartum, cujas importantes coleções de antiguidades, estátuas e arqueológicas
haviam sido restauradas recentemente pela Unesco e o governo italiano.
A Unesco está
advertindo investidores do mercado de arte para não adquirirem artefatos
culturais do Sudão, já que "toda venda ou realocação desses itens
resultaria no desaparecimento de parte da identidade cultural sudanesa,
ameaçando a recuperação do país".
<><> Agentes
culturais tomam distância do Sudão
A professora da
Universidade de Münster Angelika Lohwasser, egiptóloga especializada em
arqueologia sudanesa, confirma que "a situação nas zonas de guerra é
dramática" e que os bens culturais "estão sob ameaça".
Em setembro, como uma
das organizadoras da Conferência de Estudos Meroíticos, ela estudou fotos e
relatórios dos danos aos sítios culturais do país africano. O icônico souq (mercado
ao ar livre) de Omdurman, na margem do Nilo oposta a Cartum, também foi
completamente incendiado.
Em Cartum, o Instituto
Goethe está abandonado há vários meses: devido à sua proximidade em relação ao
palácio presidencial, ele se encontra em plena zona de combate. Grande parte do
pessoal deixou o país no início da crise militar, em 2023. Segundo a diretoria
do Instituto Goethe em Berlim, a importante instituição cultural alemã criou no
Cairo, capital do Egito, programas relevantes para o Sudão.
O conflito também
afeta o setor de viagens culturais do país. Frank Grafenstein dirige a agência
que mantém por encomenda do governo o website Visit Sudan, e organiza viagens
para jornalistas e agentes turísticos. Embora o site ainda exista, o diretor todos
os contatos com o país devastado pela guerra. "Eu desaconselho de viajar
para o Sudão", alerta Grafenstein.
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Estupro é usado como arma de guerra no
Sudão
Halima (nome alterado)
viveu em vários campos para pessoas deslocadas desde
que se lembra. Toda vez que ela acreditava que tinha encontrado um lugar
seguro, outro ataque acontecia, fazendo-a se deslocar inúmeras vezes.
As lembranças da vida
sob estresse constante não a deixam dormir, diz ela à DW.
Em junho de 2023,
as Forças de Apoio Rápido (FAR) – grupo
paramilitar formado principalmente por milicianos da Janjawid, conhecidos
por combater grupos étnicos insurgentes em nome do Exército – atacaram a
área onde Halima vivia com a família em El Geneina, a capital de Darfur Ocidental.
Ela ouviu os
milicianos chegarem em suas motocicletas. "Eles me encontraram em meu
quarto", relata. "Quatro deles me ameaçaram com armas. Um deles me
estrangulou e me estuprou."
Halima sofreu
vários ferimentos, mas conseguiu escapar ao cruzar a fronteira com o
Chade. Lá ela se sentiu segura, mas não conseguiu encontrar a ajuda médica
de que tanto precisava depois da violência que passou.
Muitas mulheres e
crianças refugiadas no Chade falaram sobre o assunto, e os relatos de violência
sexual dentro dos acampamentos também têm aumentado.
<><>
Violência étnica e de gênero
A maioria das pessoas
que fugiu da fronteira de um Sudão devastado pela guerra está agora
em campos no leste do Chade, em lugares como Adre.
Halima é uma delas.
Ela acredita que a FAR a estuprou principalmente por ela pertencer ao
grupo étnico Massalit, que era maioria da cidade de El Geneina até ser
atacado brutalmente no ano passado.
Outra jovem do
acampamento, Hadija (nome alterado), tem a mesma impressão de Halima.
Ela se lembra de como
seu agressor perguntou a que etnia ela pertencia. "Eu não disse que era
Massalit, eu disse que pertencia aos Fur."
Ele ameaçou matá-la se
ela fosse Massalit, acrescentando que os Massalit jamais seriam donos de
qualquer terra no Sudão no futuro.
Hawa (nome alterado)
sobreviveu a um ataque semelhante em junho de 2023.
Ela conta à DW
que um integrante da FAR entrou na casa dela e atirou em seu primo de 20 anos.
Em seguida, ela ouviu a mãe e a tia serem espancadas.
"Eu
apanhei também, com um chicote, uma vara. Depois, ele me jogou na cama e
me estuprou".
Hawa só conseguiu
encontrar um hospital dias depois. Ela precisou tomar pontos
após o ataque e ainda sente dor ao caminhar.
<><> Human
Rights Watch alerta para possível genocídio
As histórias de
mulheres que sobreviveram à violência são documentadas pela ONG
internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch. A
entidade alerta que o que acontece com o povo Massalit em Darfur
Ocidental pode ser um genocídio.
Procurada, A FAR não
quis se pronunciar.
<><> A
maior crise de deslocamento do mundo
Em um relatório sobre
violência baseada em gênero publicado no final de 2023, a Agência da
ONU para Refugiados (Acnur) informou que
mulheres e meninas no Sudão tiveram de suportar o peso das consequências do
conflito no país, incluindo um aumento "alarmante" nos casos de
violência sexual.
Muitas das pessoas que
buscam asilo em outros lugares dizem que sofreram ou testemunharam assédio,
sequestro, estupro, agressão sexual, exploração sexual e outras formas de
violência durante suas jornadas em busca de segurança.
Há mais de um ano, as
Forças Armadas do Sudão têm lutado contra a FAR em uma batalha brutal pelo
controle do país.
O conflito forçou
milhões de pessoas a fugirem de suas casas desde abril de 2023, elevando o
número de pessoas deslocadas para cerca de 12 milhões até junho de 2024.
O Comitê Internacional
de Resgate (IRC) informa que mais de 2 milhões de pessoas buscaram refúgio em
países vizinhos desde o início do conflito. Mas a grande maioria delas
permanece no Sudão – mais de 10 milhões de pessoas, o equivalente à
praticamente a população inteira do Rio Grande do Sul. Trata-se da maior crise
de deslocamento do mundo.
As organizações de
ajuda humanitária destacam que há uma enorme escassez de financiamento para
lidar com a crise no Sudão e em toda a região.
<><>
Dificuldades na entrega de assistência humanitária expõem mulheres e criança a
ainda mais violência
Abdirahman Ali,
diretor nacional da ONG CARE International para o Sudão, confirma o rápido
aumento da taxa de violência de gênero relatada em todo o país, especialmente
nas áreas que testemunham maior violência, como Darfur, Cartum e o
estado de Al Jazirah.
Segundo ele, a
violência contra meninas e mulheres continua, principalmente nos campos de
refugiados, e está sendo exacerbada por dificuldades na entrega emergencial de
alimentos, água e assistência médica.
O maior desafio,
afirma Ali, é transportar suprimentos de saúde e nutrição através da fronteira
do Chade com o Sudão para os deslocados internos.
"Há muitas áreas
onde não podemos acessar ou mesmo prestar assistência devido ao conflito em
curso e às restrições que impedem trabalhadores humanitários de chegar às
pessoas necessitadas", relata.
De acordo com o IRC,
90% das pessoas que cruzam as fronteiras da região em busca de segurança são
mulheres e crianças. Uma em cada cinco dessas crianças pequenas sofre
desnutrição aguda.
O apoio psicológico às
pessoas afetadas pela violência de gênero também é difícil de obter,
diz Ali: "Há vários deslocamentos. Comunidades e refugiados se
mudam de um local para outro, o que dificulta os esforços para
fornecer apoio contínuo à população."
<><> Fuga
para Chade e para outros lugares
Antes do início do
conflito, o Sudão já passava por uma grave crise humanitária causada pela
instabilidade política de longo prazo e pelas pressões econômicas no país.
A guerra apenas
agravou essas condições, deixando quase 25 milhões de pessoas – mais da metade
da população do Sudão – em situação de necessidade, de acordo com o IRC.
Mais de 600 mil
pessoas cruzaram a fronteira com o Chade, que já abrigava 400 mil refugiados
sudaneses antes da eclosão do conflito, em abril de 2023.
É por isso que o IRC
também expandiu os serviços de apoio para os refugiados sudaneses nos países
vizinhos além do Chade, incluindo Uganda, Etiópia e Sudão do Sul.
<><>
Direito humanitário internacional ignorado
Abdirahman Ali, da
CARE International, exige que as partes envolvidas no conflito cumpram suas
obrigações de acordo com o direito humanitário internacional para proteger
as populações civis e a infraestrutura.
Para que a situação
dos direitos humanos melhore, explica, os trabalhadores humanitários que
prestam assistência também precisam receber garantias.
"É necessário que
as partes em conflito se dirijam à mesa de negociações e garantam que essa
crise seja interrompida", diz ele. "Ela está causando um
sofrimento humano indescritível ao povo do Sudão".
Apesar do trauma, Hawa
e Halima esperam voltar às suas vidas anteriores; Hawa sonha em concluir seus
estudos em economia para trabalhar "como contadora ou administradora de
empresas".
Halima também quer
retomar os estudos. "Se a situação melhorar, quero ir para a
universidade", conta. "Sou parteira, mas quero me tornar
médica".
Fonte: DW Brasil/Vatican
News
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