quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Guerras, clima, covid e dívidas travam esforços antipobreza

Um relatório do Banco Mundial divulgado nesta terça-feira (15/10) afirma que, prevalecendo as tendências atuais, o mundo levará mais de três décadas para melhorar as condições de vida de quase 700 milhões que vivem em situação de pobreza extrema no mundo.

No relatório Pobreza, prosperidade e planeta 2024, o Banco Mundial avalia que os grandes revezes dos últimos anos – guerras, crise climática, endividamento e a pandemia de covid-19 – tornaram inatingíveis as metas das Nações Unidas de pôr fim à pobreza extrema até 2030. É considerado em pobreza extrema quem vive com menos de 2,15 dólares (R$ 12,14) por dia.

A taxa de pobreza global caiu de 38% em 1990, para 8,5% em 2024, em grande parte devido ao rápido crescimento econômico na China, Por outro lado, , a taxa de progresso está estagnada desde 2019. A expectativa é que até 2030 esse dado diminua apenas modestamente, para 7,3%.

A pobreza extrema permaneceu concentrada em países com crescimento econômico historicamente baixo e altos níveis de fragilidade, muitos dos quais na África Subsaariana.

<><> "Década perdida"

"A redução da pobreza global diminuiu até quase parar, com o período entre 2020 e 2030 prestes a se tornar uma década perdida", revela o relatório.

O diretor-gerente chefe do Banco Mundial, Axel van Trotsenburg, observou que, após décadas de progresso, o mundo enfrenta "graves retrocessos na luta contra a pobreza global, devido aos desafios interligados que incluem crescimento econômico lento, pandemia, dívida alta, conflitos e fragilidade, e choques climáticos."

"Precisamos de um manual de desenvolvimento fundamentalmente novo, se quisermos realmente melhorar a vida e os meios de subsistência humana e proteger nosso planeta", disse Trotsenburg.

De acordo com o estudo, seria necessário mais de um século para o mundo atingir o objetivo ainda mais ambicioso de aumentar as rendas para mais de 6,85 dólares por dia, considerados como o limite de pobreza para países de renda média alta como Brasil, Argentina e China, cuja renda per capita está entre 4.466 e 13.845 dólares por ano.

Quase a metade da população mundial – 3,5 bilhões ou 44% – vive com menos de 6,85 dólares por dia. Segundo o relatório, o contingente nesse patamar de pobreza pouco mudou desde 1990, em razão do crescimento populacional.

<><> Redução da desigualdade estagnada

Pobreza, prosperidade e planeta 2024 ressalta que também houve poucos avanços em termos de redução da desigualdade. Ao mesmo tempo que o número de países com diferenças particularmente grandes entre ricos e pobres havia diminuído de 66 para 49 na última década, dos habitantes de países com alto nível de desigualdade permaneceu inalterada, em 22%. A maior parte de deles estão na América Latina, Caribe e África Subsaariana.

"Quase uma em cada cinco pessoas no mundo está propensa a enfrentar um impacto climático grave em sua vida, do qual teria dificuldade para se recuperar. Na África Subsaariana, quase todos os expostos a eventos climáticos extremos estarão sob risco de sofrer perdas de bem-estar devido a sua vulnerabilidade", afirma o Banco Mundial.

Além disso: "A futura redução da pobreza demanda um crescimento econômico menos intensivo em termos de emissões de carbono do que no passado."

•        400 mil crianças viviam sem teto na Europa em 2023

Em torno de 400 mil crianças viviam sem teto na União Europeia (UE) e no Reino Unido em 2023, afirma um relatório sobre a exclusão residencial na Europa elaborado pela Fundação Abbé Pierre e pela Federação Europeia de Associações Nacionais que Trabalham com Desabrigados (Feantsa).

O estudo apresentado nesta quinta-feira (19/09) alerta que, no ano passado, "quase 14,5 milhões de crianças na Europa viviam em moradias com goteiras, umidade ou mofo", sendo que cerca de um em cada quatro menores morava em habitações superlotadas.

Quase um quinto da população menor de 18 anos da UE – de 15,6 milhões de jovens – vivia abaixo da linha da pobreza.

A Romênia foi o país com a maior taxa de risco de pobreza ou de exclusão social entre os menores de idade, com 39%, seguida da Espanha (34,5%) e da Bulgária (33,9%). Os países que registraram as menores taxas foram a Holanda (14,3%), Finlândia (13,8%), e Eslovênia (10,7%).

A Fundação Abbé Pierre e a Feantsa estimam que, em 2023, 1.286.691 pessoas na UE e no Reino Unido viviam na rua, em abrigos noturnos ou alojamentos temporários.

<><> Precariedade e a pobreza energética

O relatório também destaca a relação entre a precariedade e a pobreza energética nos países da UE. O índice de preços de energia aumentou de 105,4 pontos em janeiro de 2021 para 158,1 em dezembro de 2023, o que representa um aumento de 50%, segundo dados da agência europeia de estatísticas Eurostat utilizados na análise.

Entre 2021 e 2023, os preços de eletricidade e gás aumentaram 35,8% e 61,3%, respectivamente, assim como os preços dos combustíveis líquidos (71,2%) e sólidos (73%).

A consequência da alta nos preços de energia é que um em cada dez domicílios – e mais de um em cada cinco, no caso das moradias mais pobres – se encontrava no ano passado em situação de pobreza energética.

Espanha e Portugal (20,8%) encabeçam a lista de domicílios que tiveram dificuldades econômicas para aquecer no inverno ou refrigerar adequadamente durante a temporada de verão, seguidos da Bulgária (20,7%) e da Lituânia (20%).

O aumento dos custos com moradia também teve forte impacto na população. Entre 2020 e 2023, essas despesas subiram em média 16,6% na UE. Os países mais atingidos foram Hungria (52,5%), Lituânia (51,7%) e Estônia (48,9%), sendo que a Finlândia foi a única nação europeia a registrar queda (0,2%).

Os menores aumentos nos custos de moradia foram registrados no Chipre (2,1%), Alemanha (7,6%) e Itália (7,9%).

<><> Racismo e pobreza na Alemanha

Que o racismo é difundido na Alemanha, não se discute. Mas quais são as consequências para os afetados? O Centro Alemão de Pesquisa em Integração e Migração (DeZIM), sediado em Berlim, abordou a questão no estudo intitulado Limites da igualdade: racismo e risco de pobreza.

As sociólogas Zerrin Salikutluk e Klara Podkowik basearam-se em dados do Monitor Nacional para Discriminação e Racismo (NaDiRa), uma consulta representativa recorrente sobre experiências quotidianas de racismo, financiada desde 2020 pelo Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão).

"Nas estatísticas oficiais ou nos relatórios do governo sobre pobreza e riqueza, os dados costumam ser divididos segundo se há origem migratória ou cidadania alemã", explica Salikutluk. "O que até agora não pudemos determinar, é como realmente estão indo aqueles que são afetados pelo racismo."

<><> Discriminação quotidiana na Alemanha

As pesquisadoras identificaram discriminação no sistema educacional, nos mercados de trabalho e imobiliário, e no setor de saúde. Estudos anteriores haviam demonstrado que imigrantes ou seus descendentes em geral são discriminados quando procuram emprego, o que eleva o risco de terem que viver abaixo da linha da pobreza. Na Alemanha, risco de pobreza significa uma renda mensal de menos de 60% da média estatística, que em 2023 era de 1.310 euros (R$ 7.160).

Dos consultados para a pesquisa do DeZIM, 5% dos alemães sem origem migratória, empregados em regime integral, se declararam abaixo da linha da pobreza. No entanto, essa cifra sobe para 20%, em média, entre os participantes negros, muçulmanos ou asiáticos.

Nem mesmo uma alta formação universitária ou treinamento profissional protegem contra um resvalo na pobreza: para quem sofre de discriminação racista, esse risco é de duas a sete vezes maior do que entre os cidadãos alemães sem origens estrangeiras.

<><> Risco de pobreza máximo entre refugiados

A ameaça é especialmente grave para os muçulmanos do sexo masculino, com uma taxa de 33%. A socióloga Salikutluk atribui o fato ao alto número de refugiados com esse perfil que chegaram ao país desde 2013.

Cerca de 20% dos participantes muçulmanos provém da Síria e do Afeganistão, países seriamente afetados por guerras e pobreza, "e já sabemos que refugiados estão sob risco maior de pobreza, devido a seu acesso limitado ao mercado de trabalho".

Contudo, é alvo de discriminação mesmo quem tem origens estrangeiras mas vive na Alemanha há muitos anos, ou nasceu no país, ou tem cidadania alemã. A pesquisadora recorda experimentos em que os mesmos documentos de candidatura para um emprego foram submetidos sob nomes diferentes. O resultado: "indivíduos com um sobrenome que soe turco, por exemplo, têm menos chances de ser convidados para uma entrevista de seleção."

•        Como reduzir a taxa de pobreza entre os refugiados?

Na opinião de Zerrin Salikutluk, as constatações da enquete evidenciam a necessidade de medidas direcionadas para combater a pobreza e promover igualdade de oportunidades para os grupos desfavorecidos. Um passo nesse sentido seria a Alemanha reconhecer as qualificações educacionais e profissionais adquiridas no exterior.

"Isso ia acelerar a entrada dos refugiados e outros imigrantes no mercado de trabalho alemão e dar acesso a profissões adequadas para os trabalhadores qualificados que adquiriram suas credenciais no exterior", recomenda o estudo.

Para acelerar a integração ao mercado, as sociólogas pleiteiam acesso mais rápido a cursos de idioma e integração. Sua conclusão é que a única forma de reverter a taxa de pobreza entre os refugiados seria garantir que possam financiar sua subsistência com os ganhos do próprio trabalho.

 

¨      Crise migratória no Haiti: o drama de um povo sem refúgio

Haiti, com uma população estimada de 11,4 milhões, vive uma das crises mais profundas de sua história recente. Há mais de uma década, o país caribenho enfrenta uma combinação de problemas estruturais: pobreza extremaviolência de gangues, instabilidade política e economia em colapso. Esses fatores criaram uma situação desesperadora para milhões de haitianos, que começaram a buscar refúgio em massa em outros países desde o devastador terremoto de 2010.

êxodo haitiano se acelerou nos últimos anos, com centenas de milhares fugindo não só para os Estados Unidos, mas também para outros países da América Latina, como Brasil, Chile e México, em busca de melhores oportunidades.

Mais de 700 mil, metade deles menores de idade, estão atualmente deslocados internamente no Haiti, de acordo com um novo relatório divulgado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Segundo estimativas da OIM, em 2020 mais de 1,7 milhão de haitianos estavam vivendo no exterior, o que representa 15,6% da população do país.

Os dados mais recentes, de 2022, da American Community Survey (ACS), a maior pesquisa domiciliar americana, indicam que quase 731 mil imigrantes haitianos viviam nos Estados Unidos –16% do total de 4,6 milhões de imigrantes caribenhos.

<><> Resposta da República Dominicana

Há décadas, a República Dominicana, com que o Haiti compartilha uma ilha e uma fronteira de 391 quilômetros, tem sido a principal receptora de migrantes haitianos. De acordo com dados do Banco Mundial, estima-se a presença de 500 mil a 1 milhão de haitianos no país vizinho, muitos em situação irregular. Esse número inclui migrantes recentes e descendentes de haitianos, alguns dos quais enfrentam dificuldades para regularizar sua situação migratória.

Desde 2021, as autoridades têm fechado o cerco, e em 2023 chegaram a deportar mais de 175 mil haitianos. Essas medidas geraram críticas dentro e fora do país, especialmente após relatos de violações de direitos humanos, com alegações de deportações de indivíduos nascidos na República Dominicana ou que tinham documentação migratória válida.

Recentemente, o presidente dominicano Luis Abinader anunciou que daria continuidade à construção de um muro na fronteira com o Haiti, como parte de uma estratégia de controle de imigração ilegal. A construção da barreira, que deve cobrir cerca de 164 quilômetros da fronteira de 391 quilômetros, começou em 2022 e é uma das medidas mais controversas implementadas até agora. Embora as autoridades dominicanas argumentem que o muro melhorará a segurança e reduzirá o contrabando, organizações internacionais alertam que ele pode piorar a situação humanitária dos migrantes haitianos.

<><> Desafios sociais e humanitários para a América Latina

A América Latina se tornou um refúgio importante para milhares de haitianos. Países como Brasil e Chile receberam um grande número deles após o terremoto de 2010, oferecendo oportunidades de trabalho em seus setores de construção e serviços.

De acordo com dados da OIM, no Chile a população haitiana cresceu de 1.649 em 2014 (0,4% do total da população estrangeira) para quase 183 mil em dezembro de 2020 (12,5% do total estrangeiro). Atualmente, os haitianos são a terceira maior nacionalidade migrante no Chile, atrás apenas de venezuelanos e peruanos.

No Brasil, cidadãos haitianos aumentaram exponencialmente sua participação no mercado de trabalho formal, passando de 815 em 2011 para mais de 30 mil em 2015, com crescimento também impulsionado pela demanda de mão de obra destinada à construção de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014. No entanto, esse número caiu quase pela metade, para 15,7 mil em 2019.

A situação nesses países também mudou, com suas economias afetadas pela pandemia de covid-19 e uma crescente rejeição social aos migrantes. No Brasil, muitos haitianos enfrentam discriminação e condições de trabalho precárias, o que forçou alguns a seguirem migrando para o México ou Estados Unidos.

<><> Desafio humanitário sem precedentes

A perspectiva para os migrantes haitianos continua sombria. Em meio a uma situação caótica e diante de uma comunidade internacional que, embora preocupada, tem demonstrado pouca capacidade de intervenção, as opções dos haitianos são cada vez mais limitadas.

O muro na fronteira entre o Haiti e a República Dominicana, longe de ser uma solução definitiva, pode se tornar um símbolo do fracasso regional em lidar com as causas fundamentais da crise haitiana.

 

•        Dívida pública global pode ultrapassar US$ 100 trilhões até o fim de 2024, diz FMI

A dívida pública global deve ultrapassar US$ 100 trilhões até o fim do ano e crescer perto do produto interno bruto (PIB) global até 2030, disse o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta terça-feira (15), pedindo às economias endividadas por um aperto fiscal.

"A dívida pública global é muito alta. Espera-se que exceda US$ 100 trilhões [cerca de R$ 559,6 trilhões] — 93% do PIB global — em 2024 e continue aumentando até o fim da década — aproximando-se de 100% do PIB até 2030", calculou o FMI em seu novo relatório Monitoramento Fiscal de outubro.

As projeções de dívida em risco para os próximos três anos em economias avançadas diminuíram ligeiramente desde o pico da pandemia de COVID-19 para 134%, enquanto em economias emergentes e em desenvolvimento aumentaram para 88% do PIB, segundo o relatório.

Embora o principal fator por trás da diferença na previsão entre grupos de países sejam as condições financeiras, ela também é motivada por um nível inicial mais alto de dívida em economias avançadas e grandes déficits primários em "economias sistemicamente importantes", como China e Estados Unidos, disse o FMI.

Em um "cenário extremamente adverso", a dívida global em risco é projetada para ser quase 20 pontos percentuais do PIB, maior do que a previsão de base, atingindo 115% do PIB em 2025, disse a agência financeira da ONU.

O FMI pediu aos países nos quais a dívida está projetada para continuar crescendo para apertar as políticas fiscais e diminuir a dívida, aproveitando as condições atuais, pois a inflação está desacelerando e os bancos centrais devem flexibilizar a política monetária. Isso se aplica particularmente ao Brasil, França, Itália, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos, de acordo com o relatório.

¨      'Hiroshima econômica': Empresário indica qual é o maior erro cometido pelo governo dos EUA

O fundador dos sites de compartilhamento de arquivos Megaupload e Mega e empresário alemão-finlandês Kim Schmitz, também conhecido como Kim Dotcom, considera que a transformação do dólar americano em arma é o maior erro cometido pelos EUA.

"A transformação do dólar dos EUA em uma arma será lembrada como o maior erro já cometido pelo governo dos EUA", escreveu Schmitz na rede social X.

Ele acrescentou que a desdolarização global transformaria a dívida dos EUA em uma "Hiroshima econômica". Neste sentido, o empresário apelou ao afastamento de ativos em dólares estadunidenses e "passar para o ouro e criptomoedas".

Anteriormente Kim Dotcom apelava para a cessação do uso de dólares para "reiniciar os EUA" e "liberar os americanos". Ele também afirmou que a aspiração do BRICS para a desdolarização no mundo deve ser apoiada.

 

Fonte: DW Brasil/Sputnik Brasil

 

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