quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A direita é maior que Bolsonaro

A eleição de 2024 consolidou a inclinação do País à centro-direita e o enfraquecimento da esquerda. Eis o quadro mais amplo e nítido do que emergiu das urnas no dia 6 passado. Mas cabe refinar a análise. Essa direita que saiu fortalecida do pleito mostrou ser muito maior do que Jair Bolsonaro, alguém que até pouco tempo atrás era tratado como o líder incontornável de todo esse campo político. A esquerda, por outro lado, provou ser muito menor do que Lula da Silva. Há décadas, o petista é o centro de gravidade do chamado “campo progressista” e sufoca o surgimento de lideranças que ameacem seu protagonismo. Somado a isso, o apego a ideias emboloradas é tão ou mais responsável pela debacle da esquerda quanto a egolatria do presidente da República.

Comecemos pela direita. O triunfo político do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi determinante para a chegada de Ricardo Nunes (MDB) ao segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, é a evidência mais vistosa de que a direita não depende mais de uma associação explícita à figura de Jair Bolsonaro para conquistar votos. A bem da verdade, Nunes chegou ao segundo turno a despeito de Bolsonaro e da toxicidade que vem a reboque da aproximação com o ex-presidente. Mais bem dito: a dubiedade de Bolsonaro, que ora manifestava apoio mais direto a Ricardo Nunes, ora acenava para o delinquente Pablo Marçal (PRTB) ao longo da campanha, favoreceu o prefeito da capital paulista.

Bolsonaro ainda é capaz de mobilizar milhões de eleitores e, sobretudo, obter sucesso em sua empreitada familiar de distribuir a prole por Parlamentos País afora, mantendo a política como o principal meio de enriquecimento de seu clã. Um movimento como o bolsonarismo, afinal, não acaba de um dia para o outro. Dito isso, Bolsonaro já não representa, nem remotamente, aquela onda avassaladora que tomou o País de assalto em 2018. A rigor, já na eleição de 2020, quando ele era o presidente da República, seu desempenho como cabo eleitoral já dava sinais de fraqueza. Basta dizer que, dos 13 candidatos a prefeito que foram apoiados explicitamente por Bolsonaro em suas lives naquele ano, 11 foram derrotados.

O ex-presidente é incapaz de oferecer aquilo que em política é tratado como um ativo valiosíssimo: perspectiva de poder. Não há nada no horizonte conhecido que indique que Bolsonaro aparecerá na urna em 2026, por mais que ele acredite nisso, o que está mais para delírio do que para cenário. Bolsonaro, hoje, é só um retrato na parede. E essa é uma excelente notícia para a democracia brasileira. Afinal, com Bolsonaro fora do páreo eleitoral, a direita, enfim, pôde se livrar de seu sequestrador. Nesse sentido, não surpreende a vitória expressiva de candidatos a prefeito vinculados a uma direita mais civilizada e democrática, mais pragmática e menos ideológica, na primeira eleição após Bolsonaro ter sido condenado à inelegibilidade.

No campo oposto, está claro que, à falta de Lula da Silva, o PT – que por seus próprios méritos é incontestavelmente o grande partido de esquerda do Brasil há bastante tempo – caminhará a passos largos para se tornar um partido de nicho, se tanto. A despeito do fato de Lula da Silva ter voltado à Presidência, o PT conseguiu a proeza de, dois anos depois, eleger menos prefeitos do que o PSDB, um partido que, como se vê, está em decomposição a céu aberto. A partir de 1.º de janeiro de 2025, 274 cidades do País serão governadas por tucanos, ante as 260 que serão administradas por petistas.

A direita se diversificou nesta eleição e conquistou uma certa independência de Jair Bolsonaro. A esquerda encolheu e provou que segue totalmente dependente de Lula da Silva e nem assim consegue obter vitórias expressivas em disputas para cargos do Poder Executivo. A explicação para esse fenômeno, digamos assim, é muito simples: quem já foi governado pela esquerda, sobretudo pelo PT, quer distância de governos de esquerda.

•        Marçal queria desgastar a liderança de Bolsonaro na direita e não queria ganhar as eleições, diz Eduardo Bolsonaro

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou em uma live na última segunda-feira (15) que o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), queria desgastar a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), informa o Metrópoles. O parlamentar questionou a intenção do ex-coach de ganhar as eleições, e a publicação de um laudo médico falso que associava Guilherme Boulos (Psol) ao uso de cocaína seria a prova de que ele não queria vencer o pleito.

“Será que o Marçal queria ganhar a eleição? É óbvio que aquilo [a divulgação de um laudo falso sobre o uso de cocaína por Guilherme Boulos] seria um tiro no pé. Eu acho que a missão dele é desgastar o Bolsonaro. Pra mim, ele não queria ganhar a eleição. Ele está esperando uma condenação para se pintar ainda mais de antissistema e vender curso pra caramba”, disse.

Eduardo Bolsonaro também acusou Marçal de fazer uso de robôs para aumentar seu engajamento nas redes sociais. “Uma publicação minha falando do Marçal é apenas a 20ª em visualizações no Instagram, mas tem o dobro de comentários que a segunda mais comentada. Eram perfis sem foto, privados, com poucas publicações, o que dá a entender que eram perfis fakes. Eram comentários genéricos, que caberiam em qualquer vídeo”, criticou.

No entanto, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro disse que Marçal não pode ser menosprezado e admitiu a possibilidade de “analisar” as estratégias dele. “Não vou fechar os olhos para a realidade, tem muita gente que é fã do cara. Ele é coach, está na pista há um bom tempo. De fato, foi uma entrada muito grande nas redes sociais. Precisamos analisar. Se for válido no jogo, vamos fazer igual. O que não podemos fazer igual é fraudar laudo”, afirmou.

•        Bolsonaro faz campanha contra Hugo Motta na Câmara e abre espaço para um "Marçal" para a sucessão de Lira

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu se envolver na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e está fazendo campanha contra o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), um dos postulantes à sucessão de Arthur Lira (PP-AL), informa o G1. Bolsonaro tem compartilhado reportagens em que o pai de Motta afirma que o parlamentar “não daria trabalho” ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No entanto, o PL, partido do ex-presidente, já sinalizou que vai apoiar o candidato de Lira, que é Hugo Motta. O parlamentar também deve receber o apoio do PT, mesmo que o partido de Lula seja cortejado por Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antônio Brito (PSD-BA). Os dois deputados fazem parte de um bloco formado por PSD e União Brasil para bater de frente com o bloco de Lira.

Parlamentares afirmam que o comportamento de Bolsonaro nas eleições da Câmara fragiliza a liderança de Arthur Lira e pode permitir o surgimento de um novo “Marçal” na eleição, ou seja, um candidato extremista que seja apoiado pelos aliados do ex-presidente. Um dos candidatos a esse posto é o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), que costuma fazer gestos para a extrema-direita e para a ala bolsonarista. Ainda que um partido apoie determinado candidato, o voto é secreto.

 

•        Presidente do PL aposta na vitória em 2026 e minimiza pesquisas eleitorais

Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), mostrou confiança em uma vitória nas eleições de 2026, apesar de pesquisas recentes indicarem a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial. Costa Neto afirmou que os resultados atuais não refletem o cenário futuro e destacou o bom desempenho do partido nas eleições municipais deste ano.

Segundo uma pesquisa da Quaest, o presidente Lula aparece como favorito para 2026, com o empresário Marçal em segundo lugar. Entre os eleitores que votaram em Jair Bolsonaro em 2022, a preferência se divide entre Marçal e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que tem resistido à ideia de se candidatar à presidência.

Valdemar confiante no retorno de Bolsonaro

Valdemar Costa Neto também comentou sobre as possíveis dificuldades que Marçal pode enfrentar, destacando sua falta de experiência política, apesar de considerar o empresário inteligente. “Ninguém é especialista em tudo, será complicado para ele”, afirmou.

O presidente do PL ainda acredita na possibilidade de Jair Bolsonaro concorrer novamente em 2026, apesar de sua inelegibilidade determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Valdemar mantém a esperança de que a decisão possa ser revertida até a próxima eleição, embora o Supremo Tribunal Federal (STF) considere essa chance remota.

Caso Bolsonaro continue impedido de disputar, Costa Neto mencionou outros nomes dentro do PL que podem ser considerados, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, embora apareça entre os possíveis candidatos, reafirma que seu foco está na reeleição ao governo estadual.

 

•        A política como empreendimento familiar. Por Carlos Carvalho

Terminado o primeiro turno das eleições 2024, ainda não consegui tirar da minha memória a imagem do adesivo do candidato de extrema direita grudado no carrinho do vendedor de milho verde às portas da minha seção de votação. Além disso, e da inundação de santinhos emporcalhando a cidade, outra coisa que chamou minha atenção no último dia 06/10 foi o semblante triste da maioria dos eleitores que passaram por mim. Na ida, pareciam caminhar para o patíbulo com o desestímulo tatuado na cara. Na volta, o ar de “missão cumprida” triste e desolador.

Nos dias posteriores à votação, a mídia foi responsável por trazer os detalhes do pleito que elegeu uma diversidade de candidatos e candidatas, bem como a ratificação da manutenção do modus operandi das capitanias hereditárias, que ainda se mantém de forma selvagem na sociedade contemporânea. Em nível nacional, vimos o ex-presidente brasileiro assistir ao seu rebento mais jovem ser eleito vereador em Balneário Camboriú (SC). O primeiro emprego a gente nunca esquece! Assim, o ex-mandatário, esculachado em recente entrevista por aquele poderoso empresário da fé, tem filhos em quase todos os cargos políticos da República, com exceção da garotinha que ainda é menor de idade e não pode concorrer nas eleições deste ano. Mas como o tempo passa rápido, em breve ela estará na luta em defesa de Deus, pátria e família. E se eles chegaram lá, qualquer coach sabe, é porque mereceram. É porque se esforçaram. Ressalte-se que nenhum candidato da extrema direita reclamou das urnas eletrônicas, pois o mimimi só existe quando não se é eleito. Enfim, a hipocrisia!Li também que um deputado cearense conseguiu eleger um irmão prefeito e a própria filha como vice. Infelizmente, sua excelência não conseguiu eleger nem a namorada nem o outro irmão. Notícias desse tipo abasteceram os jornais nos dias seguintes às eleições, e foi por intermédio delas que também ficamos sabendo que um ex-prefeito de uma cidade a 24 quilômetros de Fortaleza, além de fazer seu sucessor, conseguiu que seu filho não apenas se reelegesse na cidade vizinha, a 32 quilômetros da capital, mas que sua nora também fosse eleita vereadora em Fortaleza. Não é preciso ser um gênio em estatísticas para perceber que a política brasileira se tornou um rentável, e cada vez mais próspero, empreendimento familiar, com membros da mesma família sendo eleitos prefeitos e vereadores em diferentes cidades. Quem não foi eleito agora não deve desanimar, pois 2026 já bate à porta. Imagino que se uma árvore genealógica fosse esboçada para que compreendêssemos como se dão tais relações de parentesco no espaço cordial da política brasileira, provavelmente teríamos uma árvore tão grande e complexa como aquela da família Buendía, que nos ajuda a entender quem é quem na narrativa Cem anos de solidão. Contudo, não foram esses “novatos” que transformaram a res publica (“coisa pública”, “coisa do povo”) em coisa privada. Basta uma olhada nas administrações antigas e recentes do país, para ver como isso se dá em Pernambuco, Bahia e em uma infinidade de cidades Brasil afora. Mudando de pau pra cacete, o que as notícias não disseram é que um novo elemento parece ter sido decisivo para as campanhas de muitos candidatos: o crime organizado. As chamadas facções podem ter eleito sua bancada. Uma bancada que ainda não ousa dizer seu nome, mas que já sussurra no breu das tocas da política brasileira.

Entre os disparates, absurdos e surpresas das eleições do dia 06/10, também aconteceram “coincidências”. No Ceará, por exemplo, em uma cidade a 221 quilômetros de Fortaleza, que já foi considerada uma das mais violenta do país, só houve um candidato a prefeito que, claro, se reelegeu. Dez pessoas se candidataram às nove vagas à Câmara Municipal. A população votou e elegeu nove delas, enquanto uma ficou na suplência. Todas as pessoas que concorreram às eleições na cidade em questão são do mesmo partido político. Oh, glória! Mas de tão surreal que é, contando quase ninguém acredita. E nesse caldeirão da política brasileira, o fanatismo religioso se tornou um ingrediente cada vez mais recorrente. E assim, de olho no rebanho que ora para pneu e procura alienígenas com celulares na cabeça, o candidato, derrotado nas eleições à Prefeitura de São Paulo, bradou: “Deus me chamou para ser presidente do Brasil”. Senhoras e senhores, é o abismo que nos olha! E enquanto vejo como as democracias morrem, penso: o que Gabriel García Márquez faria com tudo isso?

 

¨      Bolsonaro confirma Tarcísio como candidato da extrema direita para 2026

Jair Bolsonaro (PL) revelou a aliados que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o principal nome do campo da extrema direita para as eleições presidenciais de 2026. Interlocutores e aliados ouvidos pelo jornal O Globo, porém, destacam que, embora Bolsonaro reconheça a preferência por Tarcísio, o ex-mandatário tem enfatizado que, caso o governador deseje disputar a Presidência da República, precisará "ir até ele" para obter o seu aval.

Segundo esses interlocutores, o posicionamento visa reafirmar a influência do ex-mandatário sobre o cenário político, mesmo após ser declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao afirmar que Tarcísio deve buscar uma aliança com o PL, Bolsonaro não só descarta outros possíveis candidatos, como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), como também demonstra sua intenção de manter o controle sobre os rumos da direita e extrema direita nas próximas eleições.

Ainda segundo a reportagem, Bolsonaro também já admite a possibilidade de apoiar Tarcísio mesmo que ele não se filie ao PL, quebrando a expectativa anterior de que a mudança de partido seria uma condição para sua candidatura. Tarcísio havia expressado interesse em se filiar ao PL após as eleições municipais, mas, segundo fontes próximas, sua posição mudou, influenciada pelos conflitos internos dentro do partido e pelo fortalecimento do deputado Hugo Motta (Republicanos) na Câmara dos Deputados.

Por outro lado, a relação entre Tarcísio e a direita bolsonarista já é considerada suficientemente sólida, segundo as partes envolvidas, para que sua candidatura possa ocorrer mesmo sem a filiação ao PL. Entre as expectativas, há a crença de que o Republicanos poderia abrir mão do ministério que detém no governo Lula para unir forças com os bolsonaristas na montagem de uma chapa mais próxima das eleições.

Vale lembrar que Bolsonaro foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à inelegibilidade em decorrência de abuso de poder político, relacionado a declarações sobre as urnas eletrônicas. Com isso, ele não poderá concorrer a cargos públicos até 2030, o que faz com que outros nomes da direita busquem espaço, embora o apoio de Bolsonaro seja considerado fundamental neste processo. 

Enquanto isso, outros possíveis candidatos ligados à direita, como Ronaldo Caiado e Romeu Zema, estão em baixa no radar de Bolsonaro. Caiado, que havia manifestado interesse em concorrer à presidência com o respaldo de Bolsonaro, tem sido alvo de críticas constantes do ex-mandatário, especialmente em suas tentativas de reeleger o prefeito de Goiânia, Fred Rodrigues (PL).

Bolsonaro não poupou palavras ao se referir a Caiado, chamando-o de "covarde" devido às medidas restritivas implementadas durante a pandemia de Covid-19 e referindo-se a ele como “rosnador” em eventos recentes, afirmando que ele não "honra a própria palavra". Em relação a Zema, Bolsonaro expressou descontentamento com suas alianças, o que também contribuiu para seu afastamento. 

 

Fonte: FolhaPress/Pardal Tech/Brasil 247

 

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