terça-feira, 15 de outubro de 2024

Tratamento contra câncer traz riscos para gravidez? Entenda

A influenciadora Isabel Veloso, 18, revelou nesta terça-feira (8) detalhes da evolução do seu câncer. Em vídeo publicado no seu perfil do Instagram, ela contou que o tumor voltou a crescer e que decidiu voltar a realizar quimioterapia para tratá-lo. Grávida de 20 semanas, a jovem contou, ainda, que seu quadro de saúde não traz riscos para sua gestação.

Veloso trata um linfoma de Hodgkin desde os 15 anos. Em março deste ano, ela revelou que havia recebido poucos meses de vida por parte dos médicos. No entanto, em agosto, ela contou que deixou de ser uma paciente terminal e que está em cuidados paliativos. No mesmo mês, ela anunciou sua gravidez, fruto do relacionamento com o marido Lucas Borbas.

Segundo Christine Marques Ferreira, diretora médica nacional da Linha Obstétrica da Hapvida NotreDame Intermédica, os riscos do tratamento oncológico durante a gravidez podem variar bastante, dependendo de alguns fatores, incluindo a idade gestacional da paciente.

“Por exemplo, no primeiro trimestre, os principais riscos incluem aborto espontâneo, teratogênese e malformações fetais, já que essa é uma fase determinante de embriogênese”, afirma a obstetra à CNN.

Segundo a American Cancer Society, se o linfoma de Hodgkin precisar ser tratado durante uma gravidez, o tratamento é adiado até depois do primeiro trimestre, se possível. Isso porque os riscos para o bebê são menores após os primeiros três meses. Geralmente, o tratamento desse tipo de câncer é feito com quimioterapia.

“Nos trimestres seguintes, especificamente no segundo e no terceiro, podemos observar riscos como restrição do crescimento e sofrimento fetal. No entanto, é importante ressaltar que alguns tipos de quimioterapia podem ser administrados com segurança nessas fases, sempre levando em consideração o estado de saúde da mãe e do bebê”, afirma Ferreira.

Nos casos em que o câncer é diagnosticado durante a segunda metade da gravidez e não está causando complicações graves de saúde, a mulher pode esperar o nascimento do bebê para iniciar o tratamento. Em alguns cenários, o parto pode ser induzido algumas semanas antes e o tratamento é iniciado imediatamente.

Ainda segundo a sociedade americana, geralmente, a radioterapia não é administrada durante a gravidez, devido a preocupações sobre os possíveis efeitos a longo prazo no feto. Da mesma forma, alguns exames de imagem que usam radiação — como tomografias computadorizadas, PET scans e raio-X, devem ser evitados sempre que possível.

Além disso, de acordo com Daniel Gimenes, oncologista da Oncoclínicas São Paulo, não há evidências que relacionem malformações congênitas nos bebês a efeitos de tratamentos contra o câncer previamente realizados pelas mães.

“Atualmente, não é incomum tratarmos mulheres que ficaram gestantes durante o tratamento, ou descobriram o câncer estando grávidas. É claro que não podemos nos iludir, cada caso é único e para cada mulher há possibilidades diferentes, que devem ser avaliadas cuidadosamente, entendendo todos os aspectos que tangem a segurança para a mãe e o bebê”, afirma.

“A nossa abordagem sempre se baseia na avaliação cuidadosa dos riscos e dos benefícios, levando em conta o tipo de câncer e o tratamento indicado. Em alguns casos, conseguimos optar por terapias que minimizam os efeitos adversos, permitindo que a gestante continue sua gravidez de maneira saudável”, acrescenta Ferreira.

•        Tratamento contra o câncer é impeditivo para quem ainda deseja engravidar?

Segundo o especialista, existem alguns tratamentos oncológicos que, no caso de mulheres que ainda desejam ter filhos, podem afetar a fertilidade, provocando sintomas como menopausa precoce e dificultando as chances de gravidez.

“O diagnóstico de um tumor gera sempre aquele pessimismo inicial. Mas, atualmente, não é incomum tratarmos mulheres que ficaram gestantes durante o tratamento, ou descobriram o câncer estando grávidas. É claro que não podemos nos iludir, cada caso é único e para cada mulher há possibilidades diferentes, que devem ser avaliadas cuidadosamente, entendendo todos os aspectos que tangem a segurança para a mãe e o bebê. Mas o câncer não deve ser entendido como fator que impossibilita a maternidade”, afirma.

Gimenes explica que 10% das mulheres com menos de 30 anos vão ter infertilidade após o tratamento do tumor. Já acima dos 40 anos, o problema pode afetar cerca de um terço das pacientes. No entanto, existem formas de preservar a fertilidade.

Uma delas é a criopreservação de embriões, que consiste na conservação de células por meio de processo de resfriamento e manutenção a cerca de 190°C negativos. Essas condições inibem a atividade metabólica e as células ficam em estado de suspensão de suas reações químicas. “O princípio básico da criopreservação é o de manutenção da viabilidade e da função celular após o descongelamento. Neste método, há a criopreservação de embriões”, explica Gimenes.

O método citado, popularmente chamado de congelamento de embrião, tem se tornado um aliado para as mulheres diagnosticadas com câncer, mas que desejam ser mães após o tratamento.

Outro caso é a criopreservação de ovócitos, que darão origem ao óvulo feminino. A técnica, conforme explica a especialista, tem a vantagem de eliminar a necessidade de um parceiro ou sêmen de doador, o que promove a autonomia reprodutiva feminina.

 

•        Maioria das mulheres jovens consegue engravidar após câncer de mama

A maioria das mulheres jovens diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial tem grandes chances de engravidar após o tratamento da doença, sugere um estudo apresentado no último congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), realizado em junho nos Estados Unidos. Das pacientes avaliadas, 73% conseguiram engravidar e 65% deram à luz um bebê vivo.

De acordo com especialistas, esse é o primeiro estudo com mais de dez anos de acompanhamento que avalia a fertilidade em pacientes com menos de 40 anos com doença não metastática.

“A maioria dos estudos anteriores levavam em consideração um follow up mais curto e não tinham foco tão específico para a parte gestacional”, analisa a oncologista Patrícia Taranto, do Hospital Israelita Albert Einstein. “A pesquisa traz um cenário esperançoso para essas pacientes jovens com câncer de mama em estágio inicial, pois os achados sugerem que é possível conciliar o cuidado com a saúde e o desejo de gestar.”

O tratamento desse tumor impacta a fertilidade porque a quimioterapia pode levar a uma supressão da função ovariana, com indução de menopausa precoce. Nos tumores chamados receptores hormonais positivos, a terapia para reduzir os níveis dos hormônios que “alimentam” a doença também é capaz de causar a falência dos ovários.

No entanto, há meios de reduzir esse risco, conciliando o tratamento para câncer de mama com medicamentos para proteger a função ovariana. Outro importante aliado é o aconselhamento de fertilidade, com congelamento de óvulos ou embriões.

O estudo avaliou dados de 1.213 mulheres diagnosticadas com tumores de mama não metastáticos entre os anos de 2006 e 2016. Nesse período, 197 tentaram engravidar, e a maioria conseguiu. Apenas 28% tinham feito tratamentos para preservar a fertilidade e as chances de gestação foram maiores para esse grupo e aquelas mais jovens.

“É possível engravidar sem fazer a preservação de fertilidade”, explica Taranto. “Mas com o congelamento prévio de óvulos ou embriões as chances aumentam caso haja problemas de indução de menopausa precoce por conta do tratamento.”

Por isso, os autores reforçam a importância de maior acesso a essas informações e a serviços para preservação e orientação sobre a fertilidade. “É importante que essas pacientes tenham acesso tanto ao apoio emocional quanto às orientações logo no início do diagnóstico para poderem se prevenir antes de começar o tratamento e se programar sobre a possibilidade de congelamento de óvulos ou embriões, independentemente do tipo de tumor, para uma possível gestação futura.”

Vale lembrar que os procedimentos para preservação de fertilidade não aumentam o risco de recidiva do tumor nem impactam na agressividade da doença. Hoje, dá para fazê-los de forma mais rápida para não atrasar o tratamento da doença.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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