sábado, 12 de outubro de 2024

71,8% dos idosos podem receber remédios com riscos à saúde durante internação

Um estudo inédito, realizado no Hospital Sírio-Libanês, mostrou que 71,8% dos pacientes idosos receberam um alerta para o uso de medicamentos potencialmente inapropriados enquanto estavam internados. Também conhecidos pela sigla PIMs, esses medicamentos podem trazer algum risco para os pacientes, como maior permanência no hospital e maior risco de eventos adversos.

“O uso desses medicamentos, por exemplo, pode agravar o quadro clínico e aumentar os custos para o sistema de saúde”, afirma Pedro Curiati, médico geriatra do Núcleo de Medicina Avançada do Hospital Sírio-Libanês e responsável pelo estudo.

Para o trabalho, foram analisadas 15 mil internações de pessoas com 60 anos ou mais, utilizando um sistema de suporte à decisão clínica integrado ao prontuário eletrônico dos pacientes. Esse sistema utiliza inteligência artificial (IA) para gerar alerta sobre a segurança e o uso correto de medicamentos durante a internação do paciente.

Ao longo da pesquisa, foram avaliados os alertas relacionados aos PIMs para idosos e sua associação com os riscos de agravamento do quadro de saúde dos pacientes internados. O foco do estudo foi entender se os alertas gerados identificavam pacientes com maior risco e como isso estava relacionado às suas evoluções clínicas.

Os resultados apontaram que 71,8% deles apresentaram pelo menos um alerta de uso de PIMs. “Pacientes cujas prescrições acionaram esses alertas tendem a ter internações mais prolongadas, incluindo complicações, além de mais eventos adversos, como quedas, confusão mental e até morte”, explica Curiati.

Segundo o especialista, a taxa alta de alerta pode estar relacionada ao fato de pacientes idosos terem a concomitância de doenças de maior gravidade, mas também pode estar associada a uma estadia no hospital mais prolongada e mais complicada.

•        Quais são os medicamentos potencialmente inapropriados para idosos?

Segundo Curiati, medicamentos potencialmente inapropriados para idosos são aqueles cuja relação entre benefício e potencial de risco são menos favoráveis para essa faixa etária. Em outras palavras, são remédios cujos efeitos colaterais podem ser mais graves e recorrentes do que os benefícios que podem oferecer a pessoas acima dos 65 anos.

“O idoso é mais suscetível a eventos adversos e efeitos nocivos de medicamentos por vários motivos que são inerentes ao envelhecimento“, afirma o geriatra. “Existem vários critérios para definir quais são esses medicamentos, mas o sistema que utilizamos no hospital se baseia em um banco de informações bastante abrangente e que sinaliza o médico de forma automática e gera conscientização sobre medicamentos que devem ser evitados para alguns pacientes”, completa.

De acordo com o especialista, diversos medicamentos para diferentes tipos de tratamento têm o potencial de gerar algum risco ao paciente. Geralmente, esse risco está associado a alguma predisposição ou comorbidade pré-existente no paciente, mas também pode surgir devido ao risco de interação medicamentosa — quando dois medicamentos são usados juntos e podem ter seus efeitos alterados no organismo.

“Segundo nosso estudo, um dos medicamentos potencialmente inapropriados mais comuns é o omeprazol e outros remédios da mesma família. Esse tipo de remédio atua diminuindo a acidez do estômago e ele é muito importante e necessário para pessoas com alto risco de sangramento estomacal, por exemplo”, afirma Curiati. “Apesar de ter indicações muito bem definidas nessas situações, é muito comum as pessoas usarem esse remédio sem indicação ou por um período prolongado. Esse uso reduz a acidez do estômago, muda o pH da região, o que pode afetar a absorção de nutrientes, como a vitamina B12, cuja falta está associada à demência”, exemplifica.

Outro risco associado ao uso inapropriado do omeprazol em pacientes internados é o favorecimento de complicações como broncoaspiração, podendo favorecer o risco de pneumonia. “A pessoa por ter uma acidez menor no estômago pode favorecer a proliferação de algumas bactérias na parte alta do aparelho digestivo. Ao, eventualmente, ter um refluxo, a comida pode voltar para o canal errado e atingir o pulmão, aumentando o risco de pneumonia hospitalar”, explica o geriatra.

O especialista também cita medicamentos hipnóticos, como as chamadas “drogas Z” (zolpidem, zaleplona e zopiclone, por exemplo) e os benzodiazepínicos (temazepam, rivotril, entre outros), entre os potencialmente inapropriados. “Eu costumo dizer que eles são ‘extintores de incêndio’. Então, eles são ótimos quando você precisa lidar com uma crise, já que agem rápido, mas o uso prolongado está associado à dependência. Tem bastante evidência crescente de que aumenta o risco de demências, como a doença de Alzheimer. Também aumenta o risco de quedas. Mas tudo isso vai depender da forma como o medicamento está sendo usado e se o uso é prolongado ou persistente”, afirma.

Na opinião de Curiati, o estudo evidencia a necessidade dos sistemas de saúde se adaptarem e modernizarem seus processos de atendimento aos idosos. Segundo o especialista, o cuidado com pessoas acima de 65 anos possui particularidades que não se aplicam a pacientes mais jovens e os médicos devem estar cientes e capacitados para isso.

 

•        Quais os riscos de contrair HIV por transplante de órgãos? Médico tira dúvidas

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) investiga a infecção de pacientes com HIV após receber órgãos transplantados no Rio de Janeiro.

De acordo com reportagem veiculada inicialmente pela BandNews FM, seis pessoas contraíram a doença após passarem pelo procedimento. O caso foi confirmado pela CNN. Dois doadores teriam feito exame de sangue em um laboratório privado na Baixada Fluminense e os resultados apresentaram falso negativo.

Segundo Rubens Pereira, infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade de Franca (Unifran), o risco de transmissão de HIV por meio de transplante de órgãos é extremamente raro. “Esses casos que estão sendo documentados no Brasil agora são os primeiros. Esperamos que não ocorram mais”, afirma.

O especialista explica que todos os doadores de órgãos, sejam vivos ou falecidos, devem ser submetidos a exames antes de a doação ser feita. Um dos testes realizados nesse período é o anti-HIV, para detectar a presença do vírus causador das Aids. “No entanto, excepcionalmente, esses testes podem falhar. Por isso, desejavelmente, mais de um teste deve ser feito para garantir que não há HIV”, explica.

Segundo o infectologista, um resultado falso negativo pode ocorrer devido a erro laboratorial ou devido à chamada “janela imunológica” — período de tempo entre a exposição a um agente infeccioso e a produção de anticorpos suficientes para serem detectados por testes. Nesse último caso, uma pessoa pode estar infectada por HIV, mas essa infecção ainda não ser detectável pelos exames, mas já possui capacidade de transmissão. A janela imunológica do HIV costuma ser de 2 a 3 semanas. No entanto, segundo Pereira, esses casos são raros.

<><> Por que pessoas com HIV não devem doar órgãos, nem sangue?

De acordo com a Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), pacientes portadores de HIV/Aids são absolutamente restringidos à doação de órgãos, assim como pessoas com infecções ativas. Além disso, de acordo com a Fundação Pró-Sangue, de São Paulo, o HIV/Aids é um dos principais impedimentos definitivos para a doação de sangue.

“Pacientes portadores de HIV não podem doar sangue, nem órgãos e nem tecidos. Isso acontece porque, mesmo se a carga viral do paciente for zero, indetectável, ainda assim ele pode transmitir o vírus para o receptor”, afirma Pereira. “Jamais nós podemos dar sequência em uma doação de órgãos quando o paciente doador for soropositivo”, ressalta.

Nos casos em que ocorrer a transmissão de HIV por meio da doação de órgãos ou de sangue, o paciente receptor deverá iniciar imediatamente o tratamento pós-exposição.

De acordo com o Ministério da Saúde, a profilaxia pós-exposição é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV e consiste no uso de medicamentos ou imunobiológicos para reduzir o risco de adquirir essas infecções.

Além disso, o tratamento da infecção pode ser feito através de medicamentos antirretrovirais, que ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. Segundo a pasta, o uso regular desses fármacos é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções.

Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os medicamentos antirretrovirais a todas as pessoas vivendo com HIV que necessitam de tratamento.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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