sábado, 12 de outubro de 2024

Risco de trombose é maior a partir dos 50 anos, alerta especialista

No domingo (13), é reconhecido o Dia Mundial da Trombose, data que visa conscientizar a população sobre a importância de prevenir a doença. Segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), mais de 489 mil brasileiros foram internados para o tratamento de tromboses venosas entre janeiro de 2012 e agosto de 2023.

De acordo com o Ministério da Saúde, a trombose ocorre quando há formação de um coágulo sanguíneo em uma ou mais veias grandes das pernas e das coxas. Esse coágulo bloqueia o fluxo de sangue, causando inchaço e dor na região.

Segundo os especialistas, existem diversos fatores de risco para trombose, sendo a idade um dos principais. “A partir de 50 anos aumenta exponencialmente o risco de trombose em relação à idade”, diz Annichino. Segundo a especialista, por conta do aumento da expectativa de vida da população, a incidência de trombose vem aumentando.

Além disso, segundo Wolosker, há três situações principais que podem aumentar as chances de eventos trombóticos. “São eles: estase. Quer dizer, o sangue parado, o indivíduo que está parado, sentado muitas horas, em um avião, por exemplo. Depois, lesão ou trauma e, por último, status de hipercoagulabilidade. São pessoas que estão com alguma doença, como neoplasia, ou que têm condições do próprio organismo aumentam as chances de ter trombose”, afirma.

A trombose também ocorre com mais frequência em pessoas em tratamento de algumas doenças específicas, como câncer, ou pacientes que passaram por cirurgia ou estão em internação. “Quando os médicos falam: ‘você foi operado, sai andando’, é para andar mesmo, porque a imobilização não é uma boa coisa”, explica Wolosker, ressaltando, inclusive, a importância da atividade física para a prevenção.

Um dos fatores de risco mais conhecidos para a trombose é o uso de pílula anticoncepcional. Isso é um dos aspectos que fazem com que a incidência de trombose seja maior em mulheres do que em homens. Porém, nem todas as mulheres têm risco aumentado de eventos trombóticos relacionados ao método contraceptivo.

“O que é importante em relação à contracepção é a história da mulher que vai começar a utilizar. Tem que ver se ela tem a história familiar ou a história dela mesmo de já ter tido uma trombose, para a gente contraindicar o uso do anticoncepcional. Vale a pena fazer estudos genéticos para toda mulher que vai usar um contraceptivo? Não tem indicação”, afirma Annichino.

•        Quais são os sintomas de trombose?

Os sintomas de trombose podem variar de acordo com o tipo da condição. No caso da trombose venosa profunda, o sintoma clássico é a dor intensa. Além disso, a perna pode apresentar inchaço e tom azulado. A dificuldade para por o pé no chão também é um sinal de alerta.

“Infelizmente, não são todos os casos assim. Há pacientes que não têm sintoma nenhum, o que torna o quadro eventualmente muito mais grave”, afirma o cirurgião vascular.

Uma das principais complicações da trombose venosa profunda é a embolia pulmonar. “A gente fez um estudo em que a gente pegou cem pacientes que tinham trombose venosa profunda, estavam no pronto socorro, e a gente fez tomografia de tórax em todos eles, apesar de eles não terem sintoma pulmonar nenhum e nem alteração cardíaca. E a gente encontrou 74% de embolia pulmonar”, relata.

Já no caso da trombose arterial, a formação do coágulo acontece em uma artéria. Nesses casos, podem ocorrer sintomas relacionados ao infarto e ao acidente vascular cerebral (AVC).

“Se ocorrer no coração, é o sintoma do infarto. Se for no sistema nervoso central, é um AVC. A pessoa pode ter uma crise convulsiva, diminuição de força, alteração de sensibilidade…”, explica Annichino.

Neste caso, a dor também é intensa, mas a pele pálida. “O indivíduo tem que voar para o hospital, porque geralmente ele vai ter quatro horas para ser tratado, porque senão é gangrena ou morte, é gravíssimo.”, diz Wolosker. O tratamento, em geral, é feito com repouso e o uso de anticoagulantes.

•        Relação entre vacina de Covid-19 e trombose

No programa, os especialistas também explicaram a relação das vacinas contra Covid-19 e a trombose. Atualmente, há estudos que comprovam que a doença pode ser uma doença trombótica, ao mesmo tempo em que algumas vacinas podem aumentar o risco de formação de coágulos. Mesmo assim, eles recomendam fortemente a vacinação. “O risco de não vacinar, ter a doença e ter trombose é muito maior do que vacinar”, afirma Annichino.

Wolosker acrescenta: “[As complicações] são reais. Só que, estatisticamente, essas complicações são muito pouco prováveis. Se você está com uma baita dor de cabeça, você vai tomar o remédio, e provavelmente não vai acontecer nada. Só que em algum lugar do mundo, alguma pessoa vai tomar essa medicação e vai ter algum problema. Então, é custo ‘versus’ efetividade. Acho que não tem nem discussão sobre isso, tem que tomar a vacina.”

•        Internações provocadas por trombose venosa profunda aumentam no país

Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), com dados do Ministério da Saúde obtidos de janeiro de 2012 a agosto de 2023, revela dados preocupantes: mais de 489 mil brasileiros foram hospitalizados devido a trombose venosa no período. No último ano do levantamento, a média diária de internações superou a marca de 165 pacientes, um recorde para o período analisado.

De acordo com especialistas ouvidos pela Agência Einstein, esses valores tendem a continuar subindo. As causas para a elevação dessa enfermidade — que é provocada pela formação de um coágulo no interior de uma veia, podendo dificultar ou até mesmo obstruir o retorno do sangue ao coração — estão cada vez mais presentes no dia a dia. O envelhecimento da população, por exemplo, é uma delas. “Quanto mais avançada a idade, maiores são os riscos”, diz o cirurgião vascular e endovascular Henrique Lamego Jr., coordenador de relacionamento com o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.

Os médicos explicam que o sedentarismo é outro importante fator de risco, especialmente para as pessoas que passam muito tempo sentadas. “Hoje consideramos o ficar sentado o nosso novo cigarro, pois o corpo do ser humano foi desenhado para estar em movimento e o imobilismo favorece o surgimento de muitas doenças, entre elas a trombose”, afirma a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e do American College of Lifestyle Medicine.

Isso acontece porque os músculos da panturrilha são uma ajuda essencial para bombear o sangue das pernas de volta ao coração e, quando a pessoa fica muito tempo parada, eles não trabalham como deveriam. O uso de hormônios, que muitas vezes acontece indiscriminadamente, a obesidade, o tabagismo, as varizes e o histórico familiar são outras causas da doença.

Para quem trabalha sentado ou precisa passar horas na mesma posição, a especialista recomenda levantar a cada hora e andar por cinco minutos. “Movimentar as pernas, se espreguiçar, usar meias elásticas de compressão e beber bastante água, que melhora a fluidez do sangue, também ajuda bastante”, acrescenta. “Deixe o copo com água um pouco distante, o suficiente para fazer você se levantar da cadeira para pegar, mas não para se esquecer de beber”, orienta a cirurgiã vascular.

<><> Aumento de casos pós-pandemia

A Covid-19 também tem participação nesse cenário, já que estudos revelaram que em casos mais sérios ela pode desencadear a doença trombótica. “Nos últimos anos, tivemos o aumento expressivo do número de tromboses provocadas pelo coronavírus. Hoje sabemos que o índice do problema em um portador de Covid-19 chega a 16% e pode se manifestar até em pacientes assintomáticos”, afirma a especialista. Além disso, a pandemia fez com que muitas pessoas ficassem internadas por muito tempo e elevou o sedentarismo.

Outro ponto que fez diferença na época foi o aumento do conhecimento da população sobre a trombose venosa profunda. “Houve uma grande e maciça divulgação sobre a enfermidade pela mídia, o que fez com que muitas pessoas desconfiassem dos sintomas que estavam sentindo e procurassem os hospitais para diagnóstico e tratamento”, conta o angiologista e cirurgião vascular Armando Lobato, presidente da SBACV nacional.

<><> O diagnóstico precoce é muito importante

Dor e inchaço na perna afetada, muitas vezes começando da panturrilha, vermelhidão ou calor na pele, veias inchadas e visíveis e dor e sensibilidade ao toque são indícios da presença da trombose venosa profunda. O tratamento inclui medicamentos anticoagulantes, que ajudam na diminuição da viscosidade do sangue e na dissolução do coágulo. Também é indicada uma terapia anticoagulante para prevenir a formação de novos coágulos.

Procurar ajuda médica o mais rápido possível diante dos primeiros sinais da enfermidade é muito importante. “O diagnóstico precoce minimiza os riscos de complicações, como a migração do coágulo para as artérias do pulmão, o que pode provocar poucos sintomas, caso o trombo seja pequeno, ou desencadear a hipertensão pulmonar, quando a pressão arterial dos pulmões e no lado direito do coração é mais elevada do que o normal”, afirma o angiologista Lobato.

“A constatação precoce do quadro também evita ou diminui o risco da ocorrência de tromboembolismo pulmonar, quadro que pode ser muito grave e acontece quando o coágulo que se desprendeu e foi até os pulmões bloqueia a passagem do sangue em um dos vasos do órgão, causando a morte progressiva do local afetado e desencadeando tosse, falta de ar e dor ao respirar, o que pode até levar à morte”, acrescenta o médico do Einstein.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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