segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Bandeira do bolsonarismo: apoio a Israel em meio a guerra deixou de ser um cabo eleitoral no Brasil?

Há pouco mais de um ano, a guerra promovida por Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza entrava como mais um elemento na já extrema polarização do mundo. De um lado, apoiadores das ações israelenses, enquanto outros denunciavam o genocídio contra palestinos. E no bolsonarismo não podia ser diferente: defender Tel Aviv.

Em meio à multidão vestida de verde e amarelo, algumas bandeiras chamavam a atenção nos atos bolsonaristas que tomaram conta do país nos últimos anos: as de Israel. Das motociatas às celebrações do 7 de Setembro que, com o tempo, foram se esvaziando, a demonstração de apoio ao país judeu se fortalecia ainda mais após o ataque promovido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. No outro espectro político brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eram iniciados discursos mais fortes contra os bombardeios israelenses à Faixa de Gaza, que passaram a ser taxados como genocídio contra a população palestina.

Após comparar, no início do ano, as ações militares israelenses no Oriente Médio ao Holocausto nazista, Lula chegou a ser considerado por Israel persona non grata, o que, na prática, significa que o petista não era mais bem-vindo no país. No Congresso Nacional, deputados bolsonaristas reagiram com ameaças até de um pedido de impeachment, enquanto o embaixador israelense Daniel Zonshine se encontrava em Brasília (DF) com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Meses depois, o assunto praticamente desapareceu da pauta política brasileira, inclusive no palanque, mesmo com a repetição da fórmula similar à que Tel Aviv aplicou em Gaza no Líbano desde o fim de setembro e a possibilidade cada vez maior de uma guerra total na região. Esse fenômeno demonstra que o apoio a Israel deixou de ser um cabo eleitoral para o bolsonarismo, mesmo em um período em que milhões de brasileiros vão às urnas?

O cientista político e presidente do Instituto Cultiva, Rudá Ricci, explica à Sputnik Brasil que um dos motivos desse "sumiço" são justamente as eleições municipais. "É um período em que são tratados temas mais locais e pautas cotidianas dos brasileiros. Mesmo quando você polariza, o discurso não passa pela política internacional [como ocorre nas eleições gerais]. Raramente aconteceu de um pleito municipal ter algum tema da agenda global. Além disso, quem ganhou a eleição no Brasil foi o centrão, movido pelo clientelismo, que nada mais é do que tratar de questões do dia a dia, como asfalto, hospital, iluminação. Isso não deixa espaço para entrar nessa pauta de guerra", enfatiza.

Neste momento, acrescenta Ricci, o bolsonarismo também está mais voltado para assuntos como a limitação dos Poderes do Supremo Tribunal Federal (STF) e os embates com o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo bloqueio da rede social X (antigo Twitter) por mais de um mês no Brasil.

"Agora, isso significa que vai sumir do mapa? Não, porque, como eu falei, Israel é uma espécie de ícone [para o bolsonarismo]. Mas também há várias sinalizações de que Israel passou a gerar um certo incômodo, principalmente por conta das suas ações desumanas. Além disso, há um isolamento internacional, em especial na ONU [Organização das Nações Unidas], na medida em que o governo de Israel vai transformando muitas autoridades em persona non grata, inclusive o secretário-geral da ONU [António Guterres]. Então pode ser um problema aqui no Brasil ficar defendendo", diz.

Prova disso é o vídeo divulgado por Bolsonaro, em que desejou feliz ano-novo judaico a Israel no início de outubro: o ex-presidente pediu "paz para o mundo" e não citou ou defendeu a guerra promovida por Tel Aviv. Aliado a isso, o então líder do movimento que leva seu sobrenome, inclusive, vê surgir "duas grandes pedras no caminho" para manter sua liderança, como Pablo Marçal (PRTB) que, por pouco, não foi para o segundo turno em São Paulo, e o governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

"Bolsonaro saiu menor nessa eleição municipal […]. Do campo bolsonarista, quem se saiu muito bem foi o próprio Tarcísio e o [deputado federal] Nikolas Ferreira, que ajudou a eleger mais de 20 prefeitos em Minas Gerais e até o vereador mais votado em Belo Horizonte. Talvez a pauta internacional seja o que resta para o ex-presidente se diferenciar e aparecer, tentando galvanizar os apoiadores dele. Mas ele saiu bem machucado desse pleito. Inclusive, é por isso que o Silas Malafaia foi para o ataque", defende.

•        Qual a ligação entre Israel e o bolsonarismo?

O doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Robson Sávio Reis Souza lembra que a aproximação entre Israel e os segmentos políticos, como o bolsonarismo, é um fenômeno que ocorre há alguns anos em todo o mundo.

"É uma ligação com o sionismo, que é uma corrente do judaísmo que defende a ideia de um Estado a partir de certa leitura bíblica, com um país até maior do que atual, abrangendo toda a Palestina e parte do Líbano. Essa linha de pensamento articula com setores muito fortes do campo do pentecostalismo evangélico, principalmente de base estadunidense, onde também é muito forte a influência do judaísmo. Também acontece em setores do catolicismo, que chamamos de fundamentalistas ultraconservadores. A ideia que articula esses dois grupos religiosos é em torno de um projeto de poder", argumenta. E entre a principal base eleitoral de Bolsonaro estão os evangélicos.

Como o Brasil é de ampla maioria cristã e com forte presença de religiões evangélicas, esse discurso caiu como uma luva também na política, aponta Souza.

"Está cada vez mais claro que o [Benjamin] Netanyahu trabalha nessa perspectiva de se manter no poder sem nenhum limite bélico. Isso tem feito com que haja reposicionamento de setores da imprensa internacional, sem aquele apoio tão explícito e incondicional ao avanço da guerra. Enquanto havia um discurso somente de defesa do Estado de Israel, havia quase uma unanimidade nos setores conservadores mais à direita. É muito importante, que fique bem claro, que essa articulação do sionismo não se dá na direita de um modo geral, mas na extrema-direita", acrescenta.

Apesar das eleições municipais serem pautadas pelas questões mais locais, diversas candidaturas usaram a bandeira de Israel como um dos motes, mesmo que em número não tão expressivo quanto antes. Além disso, o especialista lembra da discussão entre Marçal e o candidato do PSOL a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos, quando o ex-coach "evocou o Antigo Testamento". Para a disputa presidencial em 2026, Robson Sávio acredita que a temática israelense e sua atuação no Oriente Médio terá um peso muito forte nas campanhas.

"Certamente essa questão virá à tona nas eleições de 2026. Ela está um pouco incubada neste momento, até porque a pauta municipal tem um pouco de diferença, mas certamente voltará com muita força […]. Em relação à postura de segmentos da esquerda [de defesa da população palestina], é importante lembrar que o Estado de Israel foi criado em 1947, e a ONU também previa a criação da Palestina. Desde então, Israel tem ocupado cada vez mais territórios palestinos, desrespeitando as resoluções da ONU que pedem a desocupação, até que esse ato terrorista do Hamas deflagrou a guerra que foi muito oportuna para Benjamin Netanyahu. Ele é uma figura da extrema-direita e buscou controlar o Judiciário de Israel. Por conta disso, estava muito enfraquecido. Porém, a guerra deu a ele uma oportunidade de retomar o poder", finaliza.

•        Confederação líbano-brasileira diz que, alvo de Israel, Líbano virou a nova Faixa de Gaza

Atacado pelas forças de Israel há quase duas semanas, o território libanês é a nova Faixa de Gaza.

É o que avaliou, nesta sexta-feira (11), o presidente da Confederação Nacional das Entidades Líbano-Brasileiras (Confelibra), Rogério Hanna Bassil, durante entrevista na sede da Liga Libanesa do Brasil.

"É verdade que o Líbano se tornou a Faixa de Gaza nestes últimos dez dias. A Faixa de Gaza está destruída. Em Beirute, a mesma coisa. Toneladas de bombas caem no sul do Líbano", afirmou.

Segundo a Confelibra, desde o início da guerra, mais de 2 mil pessoas foram mortas no Líbano, mais de 10 mil ficaram feridas e 1,5 milhão saíram do sul do país, que faz fronteira com Israel, para se refugiar no norte. A infraestrutura do país foi severamente danificada, com hospitais lutando para atender à crescente demanda, e escolas e locais religiosos se transformando em abrigos.

"Condenamos a invasão de Israel no Líbano. Acho que Israel exagerou demais, esse genocídio que está cometendo contra o povo libanês, um povo tranquilo. Atacam lugares para ferir onde eventualmente podem existir soldados do Hezbollah. Para matar um ou alguns membros do Hezbollah, acabam com um quarteirão. Faço um apelo para que assinem um cessar-fogo", complementou Bassil.

Israel e o Oriente Médio

Desde 1º de outubro, Israel vem conduzindo uma operação terrestre contra as forças do movimento Hezbollah no sul do Líbano e continua o bombardeio aéreo do país.

Mais de 2 mil pessoas já foram mortas, incluindo líderes do movimento, e mais de 1 milhão se tornaram refugiadas.

Apesar das perdas, inclusive de comandantes, o Hezbollah está lutando em terra e continua a disparar foguetes contra o território israelense.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia conclamou as partes a cessarem as hostilidades.

De acordo com a posição de Moscou, um acordo só é possível com base na fórmula aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), com o estabelecimento de um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, tendo Jerusalém Oriental como sua capital.

 

•        'É um sistema genocida': Nicarágua rompe relações com Israel

O governo nicaraguense anunciou, nesta sexta-feira (11), o rompimento de relações com o governo do premiê israelense, Benjamin Netanyahu.

Segundo a gestão de Nicarágua, as ações de Israel no Líbano são frutos de "um sistema genocida".

A vice-presidente da Nicarágua, Rosario Murillo, informou que foi o próprio presidente, Daniel Ortega, quem deu a ordem de romper os laços com Tel Aviv ao considerar que o país judeu está cometendo um genocídio em Gaza.

"Condenamos o fascismo, o repudiamos e nos unimos aos povos combatentes", disse a vice-presidente, que questionou também o papel das organizações internacionais que garantem a paz.

"Qual é a utilidade então dessas chamadas organizações internacionais que condenam aqueles que não se subordinam? Nós não nos subordinamos aos imperialistas da terra, e eles veem o fascismo e a intenção de exterminar os povos combatentes, os lutadores pela justiça, pela verdade, pelos direitos", disse ela durante transmissão pelo Canal 4, da Nicarágua.

<><> Israel e o Oriente Médio

Desde 1º de outubro, Israel vem conduzindo uma operação terrestre contra as forças do movimento Hezbollah no sul do Líbano e continua o bombardeio aéreo do país.

Mais de 2 mil pessoas já foram mortas, incluindo líderes do movimento, e mais de 1 milhão de pessoas se tornaram refugiadas.

Apesar das perdas, inclusive de comandantes, o Hezbollah está lutando em terra e continua a disparar foguetes contra o território israelense.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia conclamou as partes a cessarem as hostilidades.

De acordo com a posição de Moscou, um acordo só é possível com base na fórmula aprovada pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), com o estabelecimento de um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, tendo Jerusalém Oriental como sua capital.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: