Bandeira do bolsonarismo: apoio a Israel em
meio a guerra deixou de ser um cabo eleitoral no Brasil?
Há pouco mais de um
ano, a guerra promovida por Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza entrava como
mais um elemento na já extrema polarização do mundo. De um lado, apoiadores das
ações israelenses, enquanto outros denunciavam o genocídio contra palestinos. E
no bolsonarismo não podia ser diferente: defender Tel Aviv.
Em meio à multidão
vestida de verde e amarelo, algumas bandeiras chamavam a atenção nos atos
bolsonaristas que tomaram conta do país nos últimos anos: as de Israel. Das
motociatas às celebrações do 7 de Setembro que, com o tempo, foram se
esvaziando, a demonstração de apoio ao país judeu se fortalecia ainda mais após
o ataque promovido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. No outro espectro
político brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
eram iniciados discursos mais fortes contra os bombardeios israelenses à Faixa
de Gaza, que passaram a ser taxados como genocídio contra a população
palestina.
Após comparar, no
início do ano, as ações militares israelenses no Oriente Médio ao Holocausto
nazista, Lula chegou a ser considerado por Israel persona non grata, o que, na
prática, significa que o petista não era mais bem-vindo no país. No Congresso
Nacional, deputados bolsonaristas reagiram com ameaças até de um pedido de
impeachment, enquanto o embaixador israelense Daniel Zonshine se encontrava em
Brasília (DF) com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Meses depois, o
assunto praticamente desapareceu da pauta política brasileira, inclusive no
palanque, mesmo com a repetição da fórmula similar à que Tel Aviv aplicou em
Gaza no Líbano desde o fim de setembro e a possibilidade cada vez maior de uma
guerra total na região. Esse fenômeno demonstra que o apoio a Israel deixou de
ser um cabo eleitoral para o bolsonarismo, mesmo em um período em que milhões
de brasileiros vão às urnas?
O cientista político e
presidente do Instituto Cultiva, Rudá Ricci, explica à Sputnik Brasil que um
dos motivos desse "sumiço" são justamente as eleições municipais.
"É um período em que são tratados temas mais locais e pautas cotidianas dos
brasileiros. Mesmo quando você polariza, o discurso não passa pela política
internacional [como ocorre nas eleições gerais]. Raramente aconteceu de um
pleito municipal ter algum tema da agenda global. Além disso, quem ganhou a
eleição no Brasil foi o centrão, movido pelo clientelismo, que nada mais é do
que tratar de questões do dia a dia, como asfalto, hospital, iluminação. Isso
não deixa espaço para entrar nessa pauta de guerra", enfatiza.
Neste momento,
acrescenta Ricci, o bolsonarismo também está mais voltado para assuntos como a
limitação dos Poderes do Supremo Tribunal Federal (STF) e os embates com o
ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo bloqueio da rede social X
(antigo Twitter) por mais de um mês no Brasil.
"Agora, isso
significa que vai sumir do mapa? Não, porque, como eu falei, Israel é uma
espécie de ícone [para o bolsonarismo]. Mas também há várias sinalizações de
que Israel passou a gerar um certo incômodo, principalmente por conta das suas
ações desumanas. Além disso, há um isolamento internacional, em especial na ONU
[Organização das Nações Unidas], na medida em que o governo de Israel vai
transformando muitas autoridades em persona non grata, inclusive o
secretário-geral da ONU [António Guterres]. Então pode ser um problema aqui no
Brasil ficar defendendo", diz.
Prova disso é o vídeo
divulgado por Bolsonaro, em que desejou feliz ano-novo judaico a Israel no
início de outubro: o ex-presidente pediu "paz para o mundo" e não
citou ou defendeu a guerra promovida por Tel Aviv. Aliado a isso, o então líder
do movimento que leva seu sobrenome, inclusive, vê surgir "duas grandes
pedras no caminho" para manter sua liderança, como Pablo Marçal (PRTB)
que, por pouco, não foi para o segundo turno em São Paulo, e o governador do
estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
"Bolsonaro saiu
menor nessa eleição municipal […]. Do campo bolsonarista, quem se saiu muito
bem foi o próprio Tarcísio e o [deputado federal] Nikolas Ferreira, que ajudou
a eleger mais de 20 prefeitos em Minas Gerais e até o vereador mais votado em
Belo Horizonte. Talvez a pauta internacional seja o que resta para o
ex-presidente se diferenciar e aparecer, tentando galvanizar os apoiadores
dele. Mas ele saiu bem machucado desse pleito. Inclusive, é por isso que o
Silas Malafaia foi para o ataque", defende.
• Qual a ligação entre Israel e o
bolsonarismo?
O doutor em ciências
sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas)
Robson Sávio Reis Souza lembra que a aproximação entre Israel e os segmentos
políticos, como o bolsonarismo, é um fenômeno que ocorre há alguns anos em todo
o mundo.
"É uma ligação
com o sionismo, que é uma corrente do judaísmo que defende a ideia de um Estado
a partir de certa leitura bíblica, com um país até maior do que atual,
abrangendo toda a Palestina e parte do Líbano. Essa linha de pensamento
articula com setores muito fortes do campo do pentecostalismo evangélico,
principalmente de base estadunidense, onde também é muito forte a influência do
judaísmo. Também acontece em setores do catolicismo, que chamamos de
fundamentalistas ultraconservadores. A ideia que articula esses dois grupos
religiosos é em torno de um projeto de poder", argumenta. E entre a
principal base eleitoral de Bolsonaro estão os evangélicos.
Como o Brasil é de
ampla maioria cristã e com forte presença de religiões evangélicas, esse
discurso caiu como uma luva também na política, aponta Souza.
"Está cada vez
mais claro que o [Benjamin] Netanyahu trabalha nessa perspectiva de se manter
no poder sem nenhum limite bélico. Isso tem feito com que haja reposicionamento
de setores da imprensa internacional, sem aquele apoio tão explícito e incondicional
ao avanço da guerra. Enquanto havia um discurso somente de defesa do Estado de
Israel, havia quase uma unanimidade nos setores conservadores mais à direita. É
muito importante, que fique bem claro, que essa articulação do sionismo não se
dá na direita de um modo geral, mas na extrema-direita", acrescenta.
Apesar das eleições
municipais serem pautadas pelas questões mais locais, diversas candidaturas
usaram a bandeira de Israel como um dos motes, mesmo que em número não tão
expressivo quanto antes. Além disso, o especialista lembra da discussão entre
Marçal e o candidato do PSOL a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos, quando
o ex-coach "evocou o Antigo Testamento". Para a disputa presidencial
em 2026, Robson Sávio acredita que a temática israelense e sua atuação no
Oriente Médio terá um peso muito forte nas campanhas.
"Certamente essa
questão virá à tona nas eleições de 2026. Ela está um pouco incubada neste
momento, até porque a pauta municipal tem um pouco de diferença, mas certamente
voltará com muita força […]. Em relação à postura de segmentos da esquerda [de
defesa da população palestina], é importante lembrar que o Estado de Israel foi
criado em 1947, e a ONU também previa a criação da Palestina. Desde então,
Israel tem ocupado cada vez mais territórios palestinos, desrespeitando as
resoluções da ONU que pedem a desocupação, até que esse ato terrorista do Hamas
deflagrou a guerra que foi muito oportuna para Benjamin Netanyahu. Ele é uma
figura da extrema-direita e buscou controlar o Judiciário de Israel. Por conta
disso, estava muito enfraquecido. Porém, a guerra deu a ele uma oportunidade de
retomar o poder", finaliza.
• Confederação líbano-brasileira diz que,
alvo de Israel, Líbano virou a nova Faixa de Gaza
Atacado pelas forças
de Israel há quase duas semanas, o território libanês é a nova Faixa de Gaza.
É o que avaliou, nesta
sexta-feira (11), o presidente da Confederação Nacional das Entidades
Líbano-Brasileiras (Confelibra), Rogério Hanna Bassil, durante entrevista na
sede da Liga Libanesa do Brasil.
"É verdade que o
Líbano se tornou a Faixa de Gaza nestes últimos dez dias. A Faixa de Gaza está
destruída. Em Beirute, a mesma coisa. Toneladas de bombas caem no sul do
Líbano", afirmou.
Segundo a Confelibra,
desde o início da guerra, mais de 2 mil pessoas foram mortas no Líbano, mais de
10 mil ficaram feridas e 1,5 milhão saíram do sul do país, que faz fronteira
com Israel, para se refugiar no norte. A infraestrutura do país foi severamente
danificada, com hospitais lutando para atender à crescente demanda, e escolas e
locais religiosos se transformando em abrigos.
"Condenamos a
invasão de Israel no Líbano. Acho que Israel exagerou demais, esse genocídio
que está cometendo contra o povo libanês, um povo tranquilo. Atacam lugares
para ferir onde eventualmente podem existir soldados do Hezbollah. Para matar
um ou alguns membros do Hezbollah, acabam com um quarteirão. Faço um apelo para
que assinem um cessar-fogo", complementou Bassil.
Israel e o Oriente
Médio
Desde 1º de outubro,
Israel vem conduzindo uma operação terrestre contra as forças do movimento
Hezbollah no sul do Líbano e continua o bombardeio aéreo do país.
Mais de 2 mil pessoas
já foram mortas, incluindo líderes do movimento, e mais de 1 milhão se tornaram
refugiadas.
Apesar das perdas,
inclusive de comandantes, o Hezbollah está lutando em terra e continua a
disparar foguetes contra o território israelense.
O Ministério das
Relações Exteriores da Rússia conclamou as partes a cessarem as hostilidades.
De acordo com a
posição de Moscou, um acordo só é possível com base na fórmula aprovada pelo
Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), com o estabelecimento de um
Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, tendo Jerusalém Oriental como
sua capital.
• 'É um sistema genocida': Nicarágua rompe
relações com Israel
O governo nicaraguense
anunciou, nesta sexta-feira (11), o rompimento de relações com o governo do
premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
Segundo a gestão de
Nicarágua, as ações de Israel no Líbano são frutos de "um sistema
genocida".
A vice-presidente da
Nicarágua, Rosario Murillo, informou que foi o próprio presidente, Daniel
Ortega, quem deu a ordem de romper os laços com Tel Aviv ao considerar que o
país judeu está cometendo um genocídio em Gaza.
"Condenamos o
fascismo, o repudiamos e nos unimos aos povos combatentes", disse a
vice-presidente, que questionou também o papel das organizações internacionais
que garantem a paz.
"Qual é a
utilidade então dessas chamadas organizações internacionais que condenam
aqueles que não se subordinam? Nós não nos subordinamos aos imperialistas da
terra, e eles veem o fascismo e a intenção de exterminar os povos combatentes,
os lutadores pela justiça, pela verdade, pelos direitos", disse ela
durante transmissão pelo Canal 4, da Nicarágua.
<><> Israel
e o Oriente Médio
Desde 1º de outubro,
Israel vem conduzindo uma operação terrestre contra as forças do movimento
Hezbollah no sul do Líbano e continua o bombardeio aéreo do país.
Mais de 2 mil pessoas
já foram mortas, incluindo líderes do movimento, e mais de 1 milhão de pessoas
se tornaram refugiadas.
Apesar das perdas,
inclusive de comandantes, o Hezbollah está lutando em terra e continua a
disparar foguetes contra o território israelense.
O Ministério das
Relações Exteriores da Rússia conclamou as partes a cessarem as hostilidades.
De acordo com a
posição de Moscou, um acordo só é possível com base na fórmula aprovada pelo
Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), com o
estabelecimento de um Estado palestino dentro das fronteiras de 1967, tendo
Jerusalém Oriental como sua capital.
Fonte: Sputnik Brasil
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