Brasil-África: Não adianta seguir caminho
por 4 anos e ficar 8 ou 12 anos distante, diz especialista
Acontece até hoje, 15,
na cidade de São Paulo, a 12ª edição do Fórum Brasil-África, que terá como tema
central o investimento em infraestrutura para o desenvolvimento sustentável no
Brasil e na África. Para especialista ouvido pela Sputnik, em sua reaproximação
com a África, o Brasil precisa de continuidade nos programas adotados.
A ideia do evento é
estimular parcerias e novas oportunidades de negócios entre parceiros do
Brasil, da África e de outras geografias.
Entre os palestrantes
estão o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o
assessor-chefe da Assessoria Especial do Presidente da República do Brasil,
Celso Amorim.
A expectativa para o
encontro, segundo o presidente do Fórum Brasil-África, João Bosco, é que possam
ser identificadas oportunidades para necessidades de infraestrutura que existem
nessas duas regiões.
Bosco contou também
que o encontro pensa a infraestrutura de uma forma mais ampla. "Nós
teremos no evento discussão sobre inteligência artificial, PPPs [parcerias
público-privadas], agricultura, energias renováveis. Os ambientes são propícios
para também falarmos sobre mineração e financiamento de projetos", lista
ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil.
O presidente ressalta
também que o fórum entende que as infraestruturas são peculiares a cada região,
a cada país.
"Não dá para nós
pensarmos que o que falta ainda fazer no Brasil é a mesma necessidade que ainda
precisa ser resolvida em Botsuana, na Zâmbia ou no Marrocos. […] A África é um
continente muito diverso. Nós temos 54 nações que têm algumas semelhanças, mas
muitas diferenças."
Embora o fórum tenha o
nome de "Brasil-África" e a gênese do Instituto Brasil África seja
essas duas regiões, Bosco afirma que não é possível falar de Brasil e África
tendo apenas esses dois nomes no fórum, ou seja, é preciso expandir a participação
e contar com a presença de outros parceiros interessados em investir e
colaborar com as partes.
"Nós vamos ter
nacionalidades diferentes. Nós temos uma ação, por exemplo, com o porto de Las
Palmas, o instituto vai assinar dentro da programação um acordo com a
Autoridade Portuária de Las Palmas para que naquela região, nas Canárias, nós
desenvolvamos um hub de transbordo de cargas, de equipamentos que usam, que vão
usar essa tecnologia, tecnologia do porto, como um grande ativo, para empresas
brasileiras, africanas e europeias", comenta.
Além disso, o
presidente do instituto confirmou a presença de delegações dos Emirados Árabes,
da China e da Rússia. Entre os países africanos, 34 das 54 nações estarão
representadas no encontro em São Paulo, que começa nesta segunda-feira (14).
Em relação a acordos e
parcerias fechados no âmbito do fórum, Bosco destaca a gênese de uma operação
que envolveu agentes públicos do Ceará e uma empresa angolana, que tinha como
intuito trazer um cabo submarino de Luanda até Fortaleza.
Ele chama a atenção
também para a empresa de aeroportos da África do Sul, a ACSA, que administrou o
aeroporto de São Paulo. O presidente lembra também da inauguração do voo da
Royal Air Maroc, que foi anunciado durante o Fórum Brasil-África. "Do mesmo
jeito, eu estive no voo inaugural da Ethiopian Airlines, quando fez a primeira
ligação de Adis Abeba para São Paulo, parando no Togo."
Para Bosco, falar em
laços entre Brasil e o continente africano significa demonstrar raízes
intrínsecas às regiões.
"Nós temos uma
história que não pode ser descartada. Ao contrário, precisa ser apresentada de
forma muito direta, objetiva, clara, transparente. Durante as ações que o
Instituto Brasil África realiza, não apenas o Fórum Brasil-África, mas também
outras iniciativas, nós sempre entendemos que aquilo que nós vivemos aqui no
Brasil está muito ligado às experiências tradicionais africanas",
sintetiza.
·
Brasil e África no âmbito das relações
exteriores
O Brasil atualmente
vive um processo de reconstrução dos laços no âmbito das relações
internacionais com o continente africano, conforme explica Anselmo Otávio,
professor de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp).
"As relações do
Brasil com a África durante Lula 1 e Lula 2 foram muito intensas, depois perdem
força. Durante o governo Bolsonaro elas perdem mais força ainda, e voltam
agora", argumenta o especialista sobre o momento entre as partes.
Ele destaca, nesse
âmbito, algumas iniciativas que indicam essa retomada, como a defesa incisiva
do Brasil da entrada da União Africana no G20.
Além disso, ele
destaca projetos educacionais, como o PEC-G e o PEC-PG, voltados para a
graduação e a pós-graduação, respectivamente, e que permitem a estudantes do
continente africano estudar no Brasil, como um elo forte entre Brasil e África.
"Tirando o âmbito
educacional, a gente ainda percebe que o Brasil busca agora ter um interesse
maior em reconstruir essa maior parceria com o continente africano no âmbito
econômico", acrescenta, destacando iniciativas para encontrar novos mercados.
O hiato citado pelo
especialista gerou uma perda de espaço do Brasil no continente africano, região
de grande disputa entre potências emergentes e potências tradicionais pelas
oportunidades que oferece.
Para Otávio, o Brasil,
no que diz respeito a investimentos em infraestrutura, já não pode competir com
a força da China no continente, mas pode atuar em campos diplomáticos, em
programas de apoio ao combate à fome e à pobreza no continente.
Ao mesmo tempo,
segundo ele, o Brasil pode fazer com que esse combate "se torne algo
dentro do sistema internacional, dentro da governança global", podendo,
assim, conseguir "ganhar um maior engajamento de países africanos também
para os objetivos brasileiros".
Entretanto, para obter
sucesso nas parcerias sugeridas, o analista defende que haja continuidade nos
programas adotados.
"Não adianta
seguir um caminho por quatro anos e ficar oito anos ou 12 anos distante de um
continente porque ele passa por transformações. […] É preciso ter uma política
contínua dentro de um continente que cada vez mais ganha relevância no âmbito global",
orienta Otávio.
¨ Brasil perdeu espaço na África e Lula não conseguiu retomar
política para o continente, diz analista
Ao invés de formular a
política estratégica para o continente, Itamaraty segue regulando o número de
diplomatas colocados em embaixadas na África. Analistas relatam como o impacto
da Operação Lava Jato e desconhecimento deixaram o Brasil atrás de Rússia,
China e Turquia no continente africano.
Política brasileira
para a África deixa a desejar com ausência de vertentes claras e reduções de
pessoal do Itamaraty locado nas embaixadas, avaliaram especialistas ouvidos
pela Sputnik Brasil. A falta de engajamento brasileiro contrasta não só com as
promessas do governo Lula 3, mas também com a atividade intensa de outras
potências no continente africano.
Alegando a necessidade
de colocar mais diplomatas em Brasília para atender às demandas da presidência
brasileira do G20, o Itamaraty esvaziou embaixadas já mal equipadas na África,
no primeiro semestre de 2024. A redução deve ser mantida em 2025, quando o
Brasil sediará a COP30 e a assumirá a liderança do BRICS, relatou a Folha de
São Paulo.
As relações
brasileiras com o continente tampouco se favorecem do recente escândalo gerado
pela abordagem policial violenta de filhos de diplomatas africanos no Rio de
Janeiro, no início de julho. O Ministério das Relações Exteriores teve que
pedir satisfações às autoridades fluminenses e pedir desculpas formais aos
embaixadores de Burkina Faso e Gabão, recebidos no Palácio do Itamaraty pelo
chefe do Cerimonial do Itamaraty, embaixador Mauro Furlan.
O ministro das
Relações Exteriores de Lula, Mauro Vieira, pareceu tentar aplacar as críticas
ao realizar visita oficial ao Togo, em meados de julho passado. Na ocasião, as
autoridades togolesas comemoraram a primeira visita de um chanceler brasileiro
em 50 anos. Vieira seguiu viagem para a Cúpula de Ministros da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) em São Tomé e Príncipe, reiterando o apoio
do país à organização que seu chefe Lula ajudou a refundar.
O engajamento de Mauro
Vieira pode ser insuficiente diante da deterioração da presença brasileira na
África na última década. Para o pesquisador sênior em Governança e Diplomacia
Africana no Instituto Sul Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA) Gustavo
de Carvalho, "a África é, coletivamente, secundária ou mesmo terciária
para o Brasil".
"Não acredito que
o Brasil tenha uma política africana no momento. Desde o início do novo governo
Lula, vemos que a volta da retórica sobre a África não se consolidou
materialmente", disse Carvalho à Sputnik Brasil. "A retórica
brasileira é sempre muito sofisticada, mas o discurso por si só não avança uma
política."
O analista aponta para
o número reduzido de diplomatas locados em embaixadas ao redor do continente,
inclusive em países com comunidade brasileira significativa, como Angola. Dados
publicados nesta segunda-feira (29) pelo MRE apontam para 39.600 brasileiros na
África, sendo 25 mil destes residentes em Angola, seguida por África do Sul,
com 3.600 expatriados e Moçambique, com 3.250.
"A embaixada de
Angola está com capacidade extremamente reduzida, principalmente se
considerarmos a sua importância histórica para o Brasil", disse Carvalho.
"Mas o número absoluto de diplomatas trabalhando em uma embaixada me
preocupa menos do que a ausência de um papel estratégico para elas."
De acordo com a
revista IstoÉ, a Embaixada do Brasil na capital angolana Luanda conta
atualmente com quatro diplomatas, enquanto a embaixada da China conta com 25, a
russa com 14 e a dos EUA com nove funcionários.
"Mesmo que o
governo tivesse empenhado, o espaço que o Brasil tem hoje para atuar na África
é menor do que aquele que tínhamos nos primeiros mandatos de Lula",
considerou Carvalho. "Naquela época, o Brasil estava em posição similar à
da China em vários aspectos, inclusive na inserção comercial. Atualmente, a
China é muito mais atuante, e o Brasil não se encontra nem entre os principais
dez parceiros comerciais da África."
De acordo com o
Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a corrente comercial
Brasil-África recuou de 7% em 2007 para somente 3,5% em 2023. O comércio
brasileiro com o continente africano atualmente é de cerca de R$ 13,2 bilhões,
o que, apesar de não ser uma cifra irrelevante, fica bastante aquém do
potencial, acredita Carvalho.
"Infelizmente, as
empresas brasileiras já não mostram o interesse em expandir suas atividades
para a África da mesma maneira que víamos durante os primeiros governos de
Lula, com destaque para as construtoras", lamentou Carvalho.
"Realmente, a retirada das construtoras quebrou um grande pilar da
política externa brasileira para a África."
<><> Saída
a jato de empresas brasileiras
O advogado
sul-africano e consultor de direito internacional da Organização dos Advogados
do Brasil (OAB) Emile Myburgh, que participou diretamente da
internacionalização de empresas no continente africano durante os primeiros
governos Lula, relatou a ascensão e queda do capital brasileiro na África.
"Na época, nosso
escritório de advocacia recebeu na África do Sul empresas como a Marcopolo
[setor automotivo], Odebrecht, Camargo Corrêa [setor de engenharia], JBS [setor
frigorífico] e inúmeras outras de menor porte", disse Myburgh à Sputnik Brasil.
"Esse movimento se deu em grande parte por iniciativa do presidente Lula,
que incentivava o capital brasileiro a se internacionalizar e investir na
África."
O advogado relata os
efeitos adversos da Operação Lava Jato sobre a presença brasileira na África do
Sul, que atualmente "se reduz a algumas poucas empresas de pequeno
porte", disse o advogado.
"A Camargo Corrêa
fechou as portas, a Odebrecht teve que suspender as atividades por um bom tempo
e o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] fechou sua
filial em Joanesburgo", lamentou o sul-africano. "A realidade é que
eu fechei a maioria das empresas brasileiras que abri aqui."
O advogado rejeita a
narrativa difundida no Brasil de que a política de Lula para a África
consistia, basicamente, "no envio de dinheiro brasileiro para ditadores
africanos". "Posso dizer em primeira mão que eu vi os contratos, e
nenhum centavo saía do Brasil. Quem assumia os riscos eram os bancos locais, e
os recursos investidos pelo Brasil eram revertidos para os produtores
brasileiros", relatou.
"A Operação Lava
Jato teve um impacto desnecessariamente negativo [para a política brasileira na
África]. Ela levou a uma redução lamentável no volume de negócios",
declarou Myburgh. "Na minha opinião, vai levar décadas para o Brasil recuperar
o prestígio econômico que tinha, não apenas na África, mas no mundo."
Além da fragilidade
doméstica do atual governo, que não garante a Lula o mesmo poder de convencer o
capital nacional a voltar para a África, a falta de conhecimento mútuo continua
sendo um obstáculo para relações mais próximas.
"Eu vejo que as
percepções equivocadas dos brasileiros sobre a África e vice-versa continuam as
mesmas. Atuo nesse ramo há 25 anos, e ouço hoje a mesma ignorância que ouvia há
25 anos atrás", disse Myburgh.
Segundo ele, enquanto
"na África as pessoas acham que um homem de negócios brasileiro só estará
interessado em tráfico de entorpecentes", no Brasil acham que africanos só
se engajam no contrabando de pedras preciosas.
África no centro da
competição global
Essa falta de
conhecimento mútuo não ajuda o Brasil a competir pela influência no continente
africano, que atualmente é considerado área de expansão prioritária por grandes
e médias potências, como Rússia, China e Turquia.
"A África sabe
que está no centro de uma competição geopolítica global e, por isso, tem
demandas muito mais complexas", explicou o pesquisador do SAIIA Carvalho.
"Não é só chegar aqui como uma agência de cooperação, ou com algum
dinheiro. Os africanos têm a expectativa de construir parcerias muito mais
profundas."
O analista nota uma
certa "decepção" das partes africanas em relação ao Brasil, que teria
prometido muito no passado, mas entregado pouco. Apesar disso, há "um
sentimento claro de simpatia" por partes das lideranças africanas, o que garante
"condições para crescer", caso Brasília tenha real interesse.
"O Brasil não é
parte do pensamento geoestratégico africano no momento. Por isso, cabe ao
Brasil se perguntar se, de fato, tem interesse em realizar parcerias no
continente. Com a presença de muitos atores internacionais, o Brasil deve
calcular se dispõe dos recursos necessários para competir na África",
concluiu o especialista.
¨ Brasil ainda não acordou para enorme potencial nas relações com
a África, avaliam especialistas
País com a maior
população negra fora da África, o Brasil sediou a Conferência da Diáspora
Africana nas Américas, em Salvador (BA), em parceria com a União Africana e o
Togo. O evento reuniu sociedade civil, acadêmicos e governos de mais de 50
países que debateram estratégias para fortalecer as raízes africanas no mundo.
Esta foi a primeira
vez que o evento ocorreu fora do continente africano e representou um passo
importante por parte do governo brasileiro na reaproximação com países do
continente, após um vácuo criado no governo anterior, segundo especialistas
ouvidos.
O presidente e
fundador do Instituto Brasil África, João Bosco Monte, que participou da
conferência, avaliou, no entanto, que apesar dos esforços brasileiros para
reatar laços e parcerias com países africanos, ainda faltam políticas
consistentes para diminuir distâncias e entraves:
"Foi um momento,
nos quatro anos do anterior governo, em que tivemos um distanciamento quase que
natural pela agenda internacional, pela falta de agenda internacional que o
governo anterior teve […]. Então, se a gente não reposicionar o Brasil de forma
objetiva, a gente não terá condição de reparar o dano ou recuperar o tempo que
perdemos", opinou.
Monte, que também é
professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), com pós-doutorado em relações
internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), lembrou que o ex-presidente
Jair Bolsonaro não visitou a África em seus quatro anos de mandato.
"Quando você tem
um hiato tão grande nas relações de um país importante como o Brasil com o
continente com quem muitos querem falar, nós precisamos entender como é que o
tempo vai ajudar a reparar. Enquanto nós falamos hoje, agora, neste momento, o governo
chinês convidou mais uma vez os presidentes africanos para uma reunião
governamental. E isso é feito ao longo dos últimos oito anos", ponderou.
Na opinião do
professor, não apenas o governo brasileiro, como também integrantes de
entidades, do setor privado e a sociedade civil brasileira devem ser
protagonistas no fortalecimento das relações com os diversos ambientes do
continente africano.
Matilde Ribeiro,
ex-ministra da extinta Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
nos mandatos anteriores do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também
esteve no evento e conversou com o Mundioka. Para ela, que é doutora em serviço
social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professora
de pedagogia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira (Unilab), o Brasil ainda não logrou políticas e estratégias
consistentes e permanentes em relação às relações comerciais, culturais e
econômicas com a África.
"O Brasil vem se
relacionando com o continente africano desde o período nefasto da escravização,
porém de maneira não muito sistemática e também descontinuada. E isso não ajuda
a manter intercâmbios e manter relações efetivas, sejam culturais, acadêmicas,
políticas. A coisa fica sempre começando. Então eu considero que é muito
importante que tenham programas, ações planejadas para serem efetivas e
continuadas. […] não são firmados acordos e projetos que tenham continuidade,
eles são muito pontuais."
O presidente do
Instituto Brasil África defendeu que o momento é de reconhecer os ativos que
África e Brasil têm em comum, de transferência de tecnologia, de identificação
de parcerias governamentais e entre companhias. Investir nesse conhecimento,
segundo ele, ajuda a entender as diferentes Áfricas do continente, com 54
nações, geografias, costumes e histórias diversas.
Uma das carências
fundamentais das políticas públicas brasileiras no tocante à África, segundo os
especialistas, tem relação com a produção e disseminação contínua e em larga
escala da história e da cultura africana. O resultado é o apagamento histórico causado
pelo processo de colonização eurocêntrico e o racismo estrutural da sociedade.
"Fala-se pouco de
África. De 20 anos para cá, fala-se um pouco mais, inclusive por força da Lei
nº 10.639, que obriga o ensino da história e cultura africana e
afro-brasileira. Isso tem feito diferença no ensino em todos os níveis."
A implementação da
lei, no entanto, deixa muito a desejar, pois a capacitação dos educadores é
feita de maneira pontual e sem incremento por parte dos órgãos públicos,
criticou a professora da Unilab.
Ela comentou ainda que
no Brasil a valorização da cultura, da ancestralidade e da historicidade
afro-brasileira e africana fica refém dos governantes de turno.
"Depende muito da
visão dos dirigentes, das instituições, depende muito de conjunturas políticas.
Por outro lado, temos que admitir que a nossa musicalidade é negra, a nossa
forma de agir enquanto grupo social traz muito dos aprendizados africanos. É
uma questão de admitir, de reconhecer e de colocar isso na pauta de maneira
valorizada. Isso não acontece de maneira mágica, isso tem que acontecer a
partir de decisões políticas e de estímulos legais e programáticos", disse
ela.
<><> Brasil
e África: nem tudo é só lamento
Apesar dos desafios e
retrocessos, os últimos dois anos têm sinalizado uma mudança de postura em
relação à África por parte do Brasil, com a realização de fóruns, acordos
comerciais e visitas de Estado, ressaltaram os entrevistados.
"Não estamos
parados, estáticos, no meio do apagamento histórico não. Existe uma mobilidade,
existe uma busca. Minha crítica é apenas que essa busca já existente tem que
ser mais célere e mais consciente, respaldada por leis e por ações políticas. É
muito importante que ocorram atividades oficiais e, também, combinando com o
processo de organização da sociedade civil", frisou Matilde Ribeiro.
Para Monte, apesar de
o Brasil ter menor poder de atrair parceiros que outros países, em termos de
investimento, seu diferencial é ter um instrumento natural de afinidade com a
África:
"Costumo dizer
que tem uma resposta tropicalizada que o Brasil dá, que esses países [grandes
potências] não conseguem oferecer", comentou.
Essa afinidade,
ressaltou, engloba realidades históricas parecidas de colonização e escravidão,
desigualdades sociais e desafios similares. Logo, envolve relações de empatia e
solidariedade.
Ele mencionou a
transferência de tecnologia em diversos setores como instrumento relevante de
soft power, "que ignoramos, e entendo que nós perdemos tempo".
"A transferência
de tecnologia pode acontecer de forma solidária, mas as empresas de um lado e
outro precisam conversar para que no final quem produz aqui no Brasil possa
eventualmente produzir no outro espaço africano, sozinho ou em parceria com nacionais
desses países."
Monte citou ainda
potenciais parcerias comerciais, como a venda de aviões da empresa brasileira
Embraer e a troca de conhecimento sobre o desenvolvimento dos diferentes modais
de produção de energias renováveis, produção de medicamentos, entre outros.
Fonte: Sputnik Brasil
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